Luz...

Quando eu tinha luz,
tinha o coração nas mãos,
sonhos nos olhos
e bebia da vida a força que ela tirava de mim.
Vivia a intensidade daquilo que eu desejava,
e o meu desejo era maior do que aquilo
que eu poderia viver.
Não havia limites.
Navegava eu como uma errante,
entre sonhos e esperança,
entre noites, e noites ,e noites...

Muitos nascentes ,
com o sol brilhando
como uma aura nos olhos, no corpo,
nas mãos, na boca e nas palavras.
Um dia entardeci
e me dei conta de que não sei o que é sonhar.
Não consigo fechar os olhos
e olhar para dentro de mim,
nem para o centro do mundo.

Existem noites, e noites, e noites,
e apenas noites.
Arrasto minhas sandálias pelos labirintos
da minha lembrança,
vazios e ocos.
Não sei mais o que é ser amada.
Nunca soube.
Nunca saberei.
Anoiteci.

Fernanda Kato

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