Ainda uma vez mais...

Perdão!

 

Mas o que tens? Não me conheces?
porque de mim afastas teu rosto?
Pois tanto pôde o desgosto
transformar o rosto meu?
Sei a aflição quanto pode,
sei quanto ela desfigura,
olha-me bem que sou eu!

Nenhuma voz me diriges!...
Julgas-te acaso ofendido
deste meu amor carente...
Já não me queres mais — bem sei;
mas lembre-se daquelas  pessoas
sem coração, que se meteram
entre nós, e que venceram.
Mal sabes quanto lutei.

Eu me enganei, agora  vejo;
nadam meus olhos em pranto,
arfa-te o peito de orgulho, e no entanto
nem me podes encarar.
Erro foi, mas não foi crime.
Não te esqueci, eu te juro,
sacrifiquei meu futuro,
vida e glória por te amar!

Agüentei tudo...tudo,e na miséria
dum martírio prolongado,
lento, cruel, disfarçado,
que eu nem a ti confiei,
por medo de perder-te.
“Seu descaso é obra minha.”
Negou-me a sorte mesquinha...
Perdoa, que me enganei!

Tantos encantos dizias ter-me,
tanta ilusão me afagava,
de noite, quando acordava,
de dia em sonhos talvez!
Tudo isso agora onde parou?
Onde está a  ilusão dos meus sonhos?
Tantos projetos risonhos,
tudo esse engano desfez!

Enganei-me!... — Horrendo caos,
nessas palavras se encerra,
quando do engano quem erra
não pode voltar atrás!
Amarga ilusão! reflete:
só tentei proteger-te por te amar,
mártir quis ser, cuidei  para teu conforto...
E uma louca fui, nada mais!

És de outra agora, e pra sempre!
Eu a mísero desterro
volto, chorando o meu erro,
quase descrendo dos céus!
Dói mais a mim, pois me encontro
em tanto sofrimento e dor,
que a expressão deste amor
será um crime ante Deus!

Dói a  mim, que te imploro
Perdão, a teus pés curvada;
Perdão!... de não ter ousado
viver contente e feliz!
Perdão da minha miséria,
da dor que instalou-se em meu peito,
do mal que te hei feito,
e também do mal que me fiz!

Adeus,  que parto agora;
negou-me  tua palavra,
negou-me até teu perdão,
E agora estou sepultada entre os meus;
Negou-me nesta hora extrema,
na minha despedida,
ouvir-te a voz, comovida,
soluçar um breve Adeus!

Lerás porém algum dia,
meus versos d’alma arrancados
de amargo pranto, banhado
com sangue, escritos do meu coração.
Sei que nada te comoves,
que a minha dor  não te apieda,
que  não chorarás, nem de saudade,
nem de amor, — nem de compaixão!

 

 

Fernanda Kato