Bolor

 

 

 

Tenho um grito
preso na garganta,
e poemas guardados
no fundo da gaveta
entre fitas de seda,
naftalina, pétalas de rosa
secas
e bolor.

Tenho coisas tão antigas
como rabiscos desencontrados,
pedaços de papéis amarelados
e sem data,
números, contas,
colarinhos puídos,
pires rachados.

Tenho, assim, um gosto
de tempo preso nas
entranhas,
e manhãs desbotadas,
e sangue coagulado,
manchas no rosto,
cicatriz e ferrugem
em alguma camisola de linho.

Tenho um carinho
escondido debaixo do colchão,
uma paixão desconhecida,
antiga e inconsciente,
que hoje se faz
presente
depois some
como fumaça
em frente
ao espelho
de solidão.

 

Fernanda