O meu último poema



O meu último poema
será, certamente incerto;
terá a nitidez da sombra
ao adormecer num verso.

Desmedidamente métrico,
quebrará palavras.
Será mudo...
Será tudo...
Será todo reticências
no silêncio mais secreto.

E, também, será eterno
o meu último poema.
Furiosamente terno.
Será doce na amargura,
tendo toda a desventura
do seu fim, ou seu reverso.

Sendo parte e unidade,
não terá sequer verdade:
será sempre a mesma incógnita
por destino ou vaidade.

O meu último poema
virá simplesmente assim:
lentamente, verso a verso...
Dolorosamente inverso
de cada verso e de si.

E, por fim, o meu poema
-- o meu último poema --
não terá fim nem começo,
se o escrevo, o desconheço.

-- O meu último poema
me escreveu antes de mim.

Fernanda Kato