
Tenho-te
porque não te possuo...
Também são minhas as
estrelas inalcançáveis
e é minha a noite com
seus dedos indefinidos,
são meus os acenos das
magnólias de fevereiro
e a sua fragrância em
março dissipada...

Tenho-te
porque estremeces no
poema das horas
e na cadência e decadência
dos meus versos...
Porque és tinta
vibrante dos poentes,
água dos oceanos
insubmissos
e do orvalho tremulo dos
meus olhos...

Também
são meus os acordes da
criação,
os delírios do piano de
Keith Jarrett.
A árvore que puseram
diante da minha janela
com um presente de
gorjeios,
a música safira do teu
sorriso
e a promessa sempre
adiada dos teus lábios...

Tenho-te
fugaz como a concórdia
universal,
como ao abraço do vento
e das searas,
como ao roçar da asa
dos instantes,
como ao ardil estético
da aranha,
como a cor da minha inútil
esperança...

Tenho-te
água brotando da pedra
jamais tocada pela
avidez dos meus
lábios...
és-me cristalino e
tenho-te ao dispor
como tenho a lua e as
estrelas.
E pois que te quero
assim nunca te
possuirei,
mas serás meu para
sempre...
E o mesmo é dizer para
nunca mais!
Fernanda
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