Imigrantes encaram baixos salários e falsas promessas
Para um agricultor das lavouras de arroz da Tailândia que ganhava US$ 500 por ano, foi difícil resistir à oferta do recrutador – três anos de trabalho na lavoura na Carolina do Norte que pagaria mais de 30 vezes o que ele ganhava em seu país de origem.
A oferta foi tão convincente que o agricultor, Worawut Khansamrit, deu a fazenda como garantia para pagar ao recrutador US$ 11.000 a fim de se tornar um trabalhador convidado. "A quantia de dinheiro que prometeram foi irrecusável", afirmou Khansamrit, um homem franzino de fala suave, com 40 anos de idade e uma filha de 15, a qual ele sonha em mandar para a faculdade.
No entanto, depois que chegou à Carolina do Norte com mais 30 trabalhadores tailandeses, descobriu que se tratava de um serviço de apenas um mês. Em seguida, foi levado para New Orleans para retirar entulhos de um hotel destruído pelo furacão Katrina – trabalho pelo qual até hoje não foi pago. No início deste mês, ele e outros trabalhadores tailandeses entraram com um processo em âmbito federal alegando terem sido vítimas de tráfico.
A história de Khansamrit traz à tona os abusos que muitos trabalhadores convidados (ou temporários) enfrentam, justamente quando o presidente George W. Bush e diversos congressistas incentivam a expansão do programa de trabalhadores convidados, o que seria incluído em uma revisão das leis de imigração dos EUA.
Todos os anos, 120 mil trabalhadores estrangeiros recebem vistos para realizar trabalho de agricultor ou trabalhos que exigem pouca qualificação, em geral durante três e nove meses. Esses programas inspiraram-se no programa Bracero (trabalhador braçal) da 2ª Guerra Mundial em que centenas de milhares de mexicanos trabalharam em lavouras e estradas, quase sempre em condições deploráveis.
Os especialistas em trabalho explicam que os empregadores abusam dos trabalhadores convidados muito mais do que de outros trabalhadores porque sabem que podem enviá-los de volta ao país de origem caso reclamem de alguma coisa. Eles também sabem que esses trabalhadores não podem procurar outros empregos se estiverem insatisfeitos.
"Eu diria que a imensa maioria de trabalhadores convidados nos EUA sofre abusos na hora de receber o pagamento", afirmou David Griffith, professor do departamento de antropologia da East Carolina University e autor do livro recém lançado "American Guestworkers: Jamaicans and Mexicans in the U.S. Labor Market". "É sobretudo no processo de seleção que eles são enganados".
PROMESSAS NÃO CUMPRIDAS
Os abusos ocorrem de diversas maneiras. Os trabalhadores convidados muitas vezes pagam taxas exorbitantes e não raro são empregados por menos semanas e recebem salários menores do que fora prometido. Muitos empregadores deixam de cumprir o compromisso de pagamento dos custos de transporte.
Os trabalhadores tailandeses, que deveriam receber US$ 16 mil por ano durante três anos, acabaram ganhando um total de apenas US$ 1.400 a US$ 2.400. A maioria dos trabalhadores tailandeses teve os passaportes tomados após a chegada aos EUA, o que os impediu de qualquer tentativa de fugir.
"É abundante a quantidade de abusos no programa, mesmo durante épocas melhores", contou Cindy Hahamovitch, professora de história na College of William and Mary, que está escrevendo um livro sobre trabalhadores temporários. "Jamais haverá fiscais suficientes para verificar todos os campos, contratos e áreas de trabalho".
Durante décadas, produtores agrícolas, empresas de reflorestamento e proprietários de hotéis e restaurantes argumentam a necessidade de trabalhadores convidados, embasando essa afirmação na escassez de norte-americanos dispostos a preencher as vagas nesses setores.
REFREAR O TRATAMENTO ABUSIVO
Em Washington, muitos defensores da expansão do programa de trabalhadores convidados afirmam que desejam reforçar a proteção do trabalhador a fim de refrear o tratamento abusivo.
"A comunidade comercial defende a idéia de que esses trabalhadores temporários devem ter exatamente o mesmo tipo de amparo profissional recebido pelos trabalhadores norte-americanos", disse Randel Johnson, co-diretor da Essential Worker Immigration Coalition, um grupo comercial a favor da expansão do programa de trabalhadores convidados.
"Quando um empregador não consegue encontrar um trabalhador americano para preencher uma vaga de emprego, a economia é favorecida se esse empregador conseguir encontrar outra pessoa".
Pessoas contrárias ao programa, incluindo diversos sindicatos e grupos de imigrantes, dizem que os empregadores supervalorizam a escassez de mão-de-obra para encobrir o interesse em mão-de-obra barata, submissa e temporária vinda de outros países.
Os críticos dizem que não haveria tanta escassez de trabalhadores americanos se os empregadores oferecessem um salário digno para essas vagas. |