SAN


Acho que ele queria fazer de mim uma bonequinha para mostrar para sua fam�lia.
Aos 15 anos de idade eu j� era sua noiva de alian�a - �amos nos casar quando eu completasse 19. Seu tio era padre no interior de S�o Paulo e iria fazer o nosso casamento.
Estava tudo perfeito, aparentemente.
S� que eu sentia uma insatisfa��o total. N�o entendia o que faltava naquela rela��o. Fui descobrindo aos poucos o que se passava em meu interior.
Quando a gente � nova, n�o conhece muito bem o que est� em nosso subconsciente. Agimos conforme as emo��es, n�o analisamos nada. Por isso fica muito dif�cil compreendermos nossos sentimentos.
Eu ia pelo instinto. E ele era bem selvagem naquela �poca. N�o me sentia completa com aquele relacionamento e buscava em aventuras algo que me fizesse ter sensa��es mais fortes.
San era muito rom�ntico, poeta - estudava Letras e Pedagogia. Viv�amos sentados nos bancos das pra�as, nos parques com ele recitando versos. Era muito lindo. Um loiro alto, olhos verdes, nariz pequeno, boca bem carnuda. Dava gosto beijar aquela boca.
Mas faltava alguma coisa. E eu, crian�a de tudo, n�o descobria o que era.
Ele sempre viajava nos finais de semana. Dizia que �a visitar sua fam�lia no interior. Eu, costumava freq�entar um Mingau Dan�ante no clube Palmeiras, onde era s�cia e tinha um monte de namoradinhos de baile; s� para "ficar" um dia.
Eu era t�o pervertida que nos finais de semana, quando San viajava, ia com minhas amiguinhas � casa de um professor de matem�tica de uma delas, para fazer bagun�a: todo mundo n�, dan�ando, comendo e bebendo. Ele era um ped�filo (naquela �poca eu nem sabia o que � isso). Reunia um grupinho de meninas (muitas eram suas alunas) e fic�vamos seu apartamento em Pinheiros, zuando mesmo. Indo uma a uma em seu quarto, dar uns "amassos", porque ainda �ramos "virgens". Vejam que absurdo esse professor de matem�tica!
Mas, voltando ao noivo, teve um dia que resolv� transar com ele. E foi bom. (Daquele jeito que adolescente transa - quando ainda n�o sabe muito bem). Mas eu notava que ele tinha um corpo bem feminino; uma cintura fina, um quadril enorme, os ombros estreitos. De costas, parecia uma mulher. E com cabelos compridos, ent�o...
Mesmo depois de come�armos a transar direto, eu continuava achando que faltava alguma coisa. E faltava mesmo: a sinceridade.
Aconteceu uma coisa que s� o "acaso" pode explicar.
Em um final de semana em que o San disse que ia viajar, meu irm�o foi passear no centro da cidade - naquela �poca o centro de S�o Paulo era lindo aos s�bados a noite. E eis que de repente, ele encontrou-o na Av. S�o Jo�o com a Av. Ipiranga, todo de vermelho, parecendo uma mulher, com um frasco de perfume em uma das m�os. L� parado. Procurando o qu�?
Naquele tempo era muito comum os homossexuais se reunirem nesta esquina, muito famosa em S�o Paulo. Tinha tamb�m muitos travestis.
Era uma atra��o tur�stica ir olhar os travestis da S�o Jo�o com a Ipiranga.
E vejam s� quem estava l�!
Imagina a cabe�a da noivinha de alian�a com 15 anos de idade como ficou.
Quando meu irm�o chegou em casa contando, eu n�o pensei duas vezes: esperei ele chegar, e desmanchei o noivado. Joguei a alian�a fora, e nunca mais quis ver sua cara.
Agora fico pensando que indigna��o foi essa! Talvez tivesse raz�o porque tinha sido enganada. Mas ele era bissexual. O que tinha de mal? Eu tamb�m tinha meus casos com meninas. Inclusive na casa daquele professor de matem�tica. Acho que foi uma atitude de "fora para dentro". Quem ficou indignado foi o meu irm�o, e eu entrei na "viagem" dele.
At� agora penso que ainda gosto do San. E ele, depois de 20 anos reapareceu em minha vida e a transformou - em dois momentos muito importantes. Em um deles, eu deixei o carinha com quem estava morando, quando o encontrei em uma avenida e sub� em seu carro - chorando por causa daquela rela��o neur�tica, olhei para ele e descobr� que n�o tinha sentido ficar naquele "filme" que estava vivendo. Acredito que seja porque a minha hist�ria com ele tenha sido muito mais importante.
Mesmo assim, nunca mais ficamos juntos. Soube que ele se casou com uma mulher e mora no interior de S�o Paulo.