Os frutos da Lesa-Pátria no Neoliberalismo de FHC

A desestruturação do Banco do Brasil

Um banco com toda a cara do que fazem com o Brasil


Tese de doutorado esmiúça mudanças pelas quais o BB passou, entre a dualidade de dar conta do mercado e, ao mesmo tempo, ser a caixa do governo

Porta do cofre da primeira sede de São Paulo: dificuldades com as reformas
Crédito: Eduardo Cesar



Durante décadas, o Banco do Brasil foi sinônimo de identidade nacional, de estabilidade financeira e de uma perspectiva de futuro inabalável para seus funcionários, integrantes de uma elite invejável de trabalhadores brasileiros. Nos anos 90, entretanto, com o processo de liberalização da economia iniciado pelo governo de Fernando Collor de Mello (1990-1992) e intensificado pelas duas ignóbeis gestões de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), a imagem do Banco do Brasil foi alterada de forma absoluta. O pico ocorreu em 1995, com o processo de reestruturação na forma de um amplo Programa de Desligamento Voluntário (PDV).

"Esse programa de demissão foi como uma metáfora das mudanças ocorridas no país, naquele momento", diz Lea Carvalho Rodrigues, autora da teseBanco do Brasil: Crise de uma Empresa Estatal no Contexto de Reformulação do Estado Brasileiro , defendida na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). "O Banco do Brasil tinha um significado no imaginário brasileiro, como instrumento de desenvolvimento da nação e a estabilidade do emprego no BB, nas palavras de seu então diretor de Recursos Humanos, era um valor nacional. Com a reestruturação, esses valores foram postos em xeque."

O trabalho acompanhou as mudanças no banco, no período de 1995 a 2000, e registra o momento mais significativo das rupturas da instituição com seus funcionários e com a própria sociedade brasileira, na busca por redução de custos e de melhoria de resultados. Essa modernização teria alterado a própria missão do banco, que como toda estatal tinha uma duplicidade de papéis: uma atuação nos moldes de empresa privada, voltada ao lucro e à competição e, ao mesmo tempo, de empresa pública, atrelada aos interesses de governos e sujeitas a cobranças de concretização de objetivos sociais.

"A função do banco era promover o desenvolvimento do país. Com as políticas neoliberais dos anos 90, a missão passou a ser a de contribuir para o desenvolvimento da nação. Ou seja, contribuir significa aqui agir apenas como qualquer empresa: gerar lucro e, dessa forma, promover o desenvolvimento nacional", nota Lea, que iniciou a pesquisa com o projeto temático desenvolvido na UnicampCultura Empresarial Brasileira: Um Estudo Comparativo sobre Empresas Públicas, Privadas e Multinacionais , coordenado pelo professor Guilhermo Raul Ruben e financiado pela FAPESP. Ruben foi quem orientou sua tese de doutorado.

A mudança estratégica do Banco do Brasil tinha como meta abandonar sua vocação original e secular de ser um banco estatal no "estilo antigo", passando a enveredar pelo caminho da competitividade, uma das palavras-chave para entender o movimento macroeconômico dos anos 90. A década foi marcada pela cisão com o projeto desenvolvimentista de outrora em favor do capital especulativo, com a implantação de políticas de liberalização que almejavam um padrão de crescimento centrado numa nova inserção internacional e na redefinição do papel do Estado, combinados com a estabilidade proposta pelo Plano Real. O Banco do Brasil serviu, portanto, como um dos sustentáculos dessa nova política econômica. Declarações do presidente do banco, na época, justificavam as medidas de reestruturação do pessoal do BB como um projeto nacional, que significava uma relação diferente e bem menos estreita do Estado com a sociedade.

"As alterações do Banco do Brasil faziam parte do programa do presidente Fernando Henrique Cardoso de conter o movimento sindical no setor estatal. Em 1995, o governo federal tentava aprovar reformas complexas, como a previdenciária, a tributária e a administrativa, e tudo indica que, ao quebrar a estabilidade dos funcionários do Banco do Brasil, objetivava conduzir mais facilmente essas reformas, que também exigiam uma alteração paradigmática em culturas bastante arraigadas", explica a pesquisadora. "O Banco do Brasil foi estratégico para essa reforma do Estado", prossegue.

A reestruturação do BB fazia parte de uma orientação vinda de organismos internacionais para reformulação do setor financeiro, cujo processo iniciou-se no governo de José Sarney (1985-1989). Essas diretrizes apontavam que era preciso adequar o sistema financeiro à nova ordem mundial, com a abertura do mercado ao setor externo e a privatização de bancos estaduais e federais.



Com tais mudanças, o setor financeiro brasileiro alterou completamente suas feições. Houve a privatização de muitos bancos estatais e o enfraquecimento dos pequenos bancos privados, que foram adquiridos por grandes grupos financeiros num amplo processo de fusões e aquisições. Ao mesmo tempo, esses mesmos grupos começaram a se sentir ameaçados pela entrada de companhias estrangeiras no país.

Diante da força dessas instituições estrangeiras, uma outra discussão, também antiga, ficou mais moderada nos gabinetes do poder executivo: a privatização do Banco do Brasil. "No fim dos anos 90, com o avanço dos bancos espanhóis, parece que renasceu um certo nacionalismo e a idéia de privatização perdeu força. Agora, com o novo governo de Luiz Inácio Lula da Silva, a tendência é que esse tema não tenha tanta relevância", acredita Lea. "Mesmo assim, acho que a crise de identidade do banco é séria. O BB só tem sentido se tiver ligado a um projeto de nação. Caso contrário, não faz sentido estar nas mãos do Estado", continua a pesquisadora.

Déficit

A modernização do BB não implicava apenas a demissão de funcionários. Paralelamente ao PDV, o banco anunciou o encerramento das atividades de 103 agências de um total de 600 unidades deficitárias, a maioria no Norte e Nordeste do país. O fato provocou reações de insatisfação nas comunidades locais, que acionaram seus representantes no Congresso para negociar as medidas. Muitos parlamentares afirmavam que o fechamento das agências comprometeria a possibilidade de desenvolvimento das regiões carentes em razão do tradicional caráter do banco como fomentador do desenvolvimento local.

A movimentação contra as demissões e o fechamento das agências levou o presidente da República – claro que FHC - a se manifestar a favor das medidas com o argumento de que, se elas não fossem efetivadas, o BB iria à falência. "Nesse período, o banco estava com a informatização precária e a situação era caótica em termos administrativos. A inovação tecnológica só veio a ocorrer três anos depois, em 1998", explica Léa.

Um dos argumentos para a reestruturação do BB foram os prejuízos apresentados pela instituição no período pós-Plano Real, o que causou uma perda de 87% nas receitas do banco, apenas no segundo semestre de 1994, média bem superior a de outros bancos. "O Banco do Brasil tinha de manter operações em dólar no exterior para que o governo pudesse honrar seus compromissos externos, em vez de aplicar esses recursos no mercado interno, ganhando com a valorização cambial e com as altas taxas de juros então vigentes", observa.

É bem verdade que o BB fechou o ano de 2002 com lucro líquido de R$ 2,028 bilhões. O resultado é 87,4% superior ao lucro de 2001. A rentabilidade sobre o patrimônio líquido médio do ano foi de 22,6%. Apenas no quarto trimestre, o lucro líquido cresceu 80,7% em relação ao intervalo equivalente do ano passado e somou R$ 600 milhões. Mas o impacto para se chegar a essas cifras passou por alguns momentos dramáticos. A reestruturação implicou uma queda brusca no número de clientes. Em 1994, havia 20 milhões de correntistas e dois anos depois passou para 6 milhões. Apenas no fim de 2001, chegou a 10 milhões de clientes, a metade do que havia seis anos antes.



Estabilidade

Em 1995, foram registrados também 12 ocorrências de suicídio de funcionários do banco, sendo quatro delas durante a plena execução do PDV, iniciada apenas no segundo semestre daquele ano. De acordo com a tese, a estabilidade dos funcionários do BB tinha uma importância para o futuro profissional de seus funcionários, com garantia de salários e benefícios, possibilidade de ascensão na carreira, adequação dos interesses da empresa ao funcionário, o que oferecia também segurança na vida particular.

"O banco era uma extensão da casa. E, se por um lado pode-se dizer que essa estabilidade gerava tranqüilidade, em muitos casos acomodação, em outros, dificuldades para inovação, mas é também verdade que esses vínculos estreitos com a empresa geravam um alto grau de comprometimento e dedicação", analisa Lea.

Mesmo com críticas e crises, o Programa de Desligamento Voluntário foi considerado um modelo internacional de sucesso pela forte adesão. Alcançou 80% do pretendido pela empresa. No primeiro momento, foram desligados cerca de 13 mil funcionários e, dois anos mais tarde, a redução do quadro era da ordem de 43 mil funcionários, ou 37% em relação a 1994.

Para Lea Carvalho Rodrigues, as mudanças do BB refletem as alterações do próprio país, na égide da volatilidade dos mercados e da economia internacional. "Mas, apesar de suas alterações, o BB ainda é o retrato do Brasil", conclui a pesquisadora.



O Projeto
Banco do Brasil: Crise de uma Empresa Estatal no Contexto da Reformulação do Estado Brasileiro
MODALIDADE
Bolsa de doutorado
OrientADOR
Guilhermo Raul Ruben - IFCH/Unicamp
Bolsista
Lea Carvalho Rodrigues - IFCH/Unicamp

 

O jornalista Helio Fernandes escreve sobre o desperdício da Vale do Rio Doce

Multinacionais, CSN, Bradesco-Bradespar, os que mais

Ganharam com a "doação" da Vale

Como a direção da Vale DOADA insiste em dizer que a empresa continua brasileira e praticamente estatal, vou derrubar essa tese "mestrado" da farsa. Digam o que disserem, nada se compara, em matéria de escândalos, a essa DOAÇÃO. (Talvez ou certamente outro igual ou maior é o do abandono da Amazônia. Aqui o desprezo é total, mas inclui o espanto domínio de minérios, incluindo a PROVÍNCIA DE CARAJÁS).

Inicialmente, o BB (Fundo Previ), BNDES e Bandespar foram os personagens principais que permitiram a aventureiros de todos os tipos HERDAREM o inacreditável patrimônio da Vale DOADA. Logo, logo a composição acionária foi desbaratada, entraram o Bradesco-Bradespar, a CSN, que abriram caminho para os "sócios e amigos" multinacionais.

O BNDES e o Bandespar (além do Fundo Previ) entraram com a maior parte do dinheiro, e hoje, na composição acionária, não valem nada. Têm apenas "empréstimos" a receber.

O Bradesco, para subscrever a criação da Bradespar e ficar com o controle (por algum tempo), "tomou emprestado" do BNDES 243 milhões de dólares. Que na época representavam 859 milhões de reais. Com esse dinheiro, foi criada a poderosa Bradespar-Bradesco, cotada então a míseros reais, para o grupo poder subscrever. Puxaram para cima, quando os trouxas chegaram, as ações já ESTAVAM LÁ EM CIMA. Ganharam até na transposição das moedas. Aqueles 243 milhões de dólares que valiam 859 milhões de reais hoje mal valem 450 milhões. Se resolvesse pagar o "empréstimo" de 243 milhões de dólares, o Bradesco-Bradespar precisaria APENAS da metade dos reais que recebeu. Que República.

Por que o BNDES não subscreveu ele mesmo os 859 milhões? Dizem como justificativa: "O empréstimo é a mesma coisa, está garantido". Não está coisa nenhuma, já perderam uma fortuna com a desvalorização do dólar. Se ganharem, ganham apenas juros, enquanto o Bradespar-Bradesco movimenta somas e-s-t-a-r-r-e-c-e-d-o-r-a-s. Ninguém ganhou tanto quanto o Bradespar-Bradesco e a CSN. Fortunas, perdão, fortuníssimas.

Aí, o Bradesco-Bradespar ainda recebeu mais dinheiro do BB (Previ), e com a maioria garantida para eles e os "amigos" multinacionais (que vieram sem nada), "aceitaram" o dinheiro verdadeiro dos subscritores incautos. As multinacionais, imediatamente, com jogadas comuns no mercado financeiro internacional, ficaram com 27 por cento e o controle total. SEM DINHEIRO.

O Bradesco (já de fora vorazmente satisfeito) e o Bradespar (ainda lá dentro, também vorazmente, só que esperançoso) continuam fábricas imorais de lucros PARTICULARES com dinheiros ESTATAIS. Alguém pode avaliar quanto valem esses 21% na maior empresa de minérios do mundo? Que República.

É impossível para o cidadão-contribuinte-eleitor entender qualquer coisa, são dezenas e dezenas de firmas, de grupos e de ações que se fundem, se CRUZAM e se DESCRUZAM. Depois de tudo isso, veio a realização dos lucros do Bradesco-Bradespar, a concretização da grande jogada do banco e da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional). Foi o que chamaram na ética, na estética mas sem estática, de DESCRUZAMENTO. Com GANHOS MIRABOLANTES.

O Bradesco saiu com lucros INIMAGINÁVEIS, mas a Bradespar ficou I-L-E-G-A-L-M-E-N-T-E. Tudo mobilizado, manipulado e materializado pelo cérebro financeiro do "seu" Brandão, que ultrapassa e derrota qualquer computador do Bill Gates. Ele saiu com montanhas de dinheiro, mas a Bradespar está lá, FABRICANDO mais dinheiro do que o Tesouro Nacional ou a Casa da Moeda são capazes de lançar no mercado.

Para permitir essa jogada tipo Las Vegas, precisaram de fundos dos mais diversos lugares, e grupos "participantes". Citarei alguns. 1 - Mitsui, americana. 2 - Fundos Litel e Litela, com 60% da Valepar. (Entenderam?). 3 - Essa mesma Valepar tem 50% das ações com direito a voto da Vale. 4 - Do capital total da Vale, 43% pertencem a estrangeiros, que não investiram nada. 5 - Inacreditável: o BNDES, que com o BB e a Bandespar tinha 50% de tudo, agora tem 4,2% e se mostra satisfeitíssimo. 6 - E para isso teve que comprar 8,5% das ações da Valepar, gastando 1 bilhão e 500 milhões.

PS - Chega por hoje. Acredito que nos próximos dias jornais e televisões estarão cheios de entrevistas do "seu" Brandão e do grupo da CSN. Neste caso, vários, r-i-q-u-í-s-s-i-m-o-s, não tinham dinheiro para o aluguel. De banquinhos ou tamboretes falidos.

Depois de se desfazer de minerais raríssimos, a Vale desperdiçou sua própria riqueza, doada a multinacionais

Eliezer Batista, e família, cumprem o doloroso dever de comunicar ao País que participarão da exploração de petróleo. Nada mais desastroso do que isso. Eliezer Batista, como presidente da Vale, "vendeu" a preços miseráveis todo o manganês do Amapá. Desde 1956 fiz (faço) vigorosa campanha contra essa perda de uma das maiores riquezas do Brasil.

Por volta de 1960 (fim do governo Juscelino, eu escrevia diariamente no Diário de Notícias), revelei e fui sempre aumentando os dados, os números, a denúncia sobre a espantosa exploração particular de um dos minerais mais raros do mundo, o manganês.

Basta consultar as coleções e verificar o que eu revelava e ninguém desmentia.

1 - Os três maiores produtores de manganês, no mundo, eram os EUA, o Brasil e a então União Soviética.

2 - Os dois maiores compradores desse manganês, a União Soviética e os EUA.

3 - Produtores, mas sabendo que o mineral importantíssimo tinha quantidade escassa, eram assíduos no mercado comprador.

4 - O Brasil, displicente e desinteressado do seu próprio destino e objetivo de potência mundial, era o maior VENDEDOR no mundo.

5 - Crime de lesa-pátria, que quase 30 anos mais tarde FHC consumou, DOANDO a Vale inteira.

6 - Por que vender minérios por setor de propriedade da Vale, se podiam ENTREGAR logo a Vale toda?

Agora o filho mais esperto, mais ardiloso e mais ambicioso de Eliezer Batista aparece em todos os grandes negócios sem risco. Petróleo, gás, portos, licitações que deveriam merecer uma CPI, pois representam os maiores escândalos já realizados no Brasil. Agora, tudo tem a mão inteira do filho pródigo.

Moço, avassalador, teria que explicar a essa CPI (que será sempre imaginária) onde foi buscar tanto dinheiro, pelo menos para fazer esses "investimentos" colossais. Ele falseia os dados, cita números não verdadeiros, usa de "menas" verdade. Diz: "Hoje todo mundo no Brasil tem celular porque a Telebrás foi dividida em blocos". Ha! Ha! Ha!

Farsa, falsidade, fantasia, apenas para favorecer os exploradores multinacionais aos quais é ligadíssimo. Por quê? Ganharam F-O-R-T-U-N-A-S com o pai, acreditam que com o filho será muito melhor. Só que há 8 anos o celular estava surgindo, a afirmação do filho mais esperto de Eliezer não tem qualquer credibilidade.

As licitações criadas por FHC com a famigerada lei 4897 (a saída de FHC, que não conseguiu DOAR a Petrobras, era demais, ficou com medo) empobreceram o Brasil no setor de petróleo, enriqueceram ainda mais as multinacionais. Agora, o filho mais portentoso de Eliezer quer entrar nessas licitações. Como 41 delas foram sábia mas surpreendentemente retiradas do leilão-licitação, dá várias entrevistas através de órgãos de comunicação apaniguados.

Malandro, não ataca o governo ou a Petrobras. Diz que eles estão com a razão, mas se esconde de maneira amável e nada hostil: "Queremos participar com preços que sejam bons para os dois lados. NINGUÉM QUER MACHUCAR NINGUÉM".

Faz reunião para "exibir projetos de portos no Norte do Rio" (segundo ele, o primeiro se chamaria Açu) mas pretende CONSTRUIR muito mais, principalmente uma fortuna pessoal maior do que tem hoje.

PS - Generoso, diz que vai investir 700 milhões nesse porto. De onde vem tanto dinheiro?

PS 2 - Ainda mais generoso, só quer explorar petróleo em águas rasas ou em terras de superfície. A prospecção em 5 ou 7 mil metros de profundidade deixa para a Petrobras. Não podemos esquecer tanta generosidade, vem naturalmente do berço.

Dinheiro da CIA para FHC

Artigo do jornalista Sebastião Nery

Publicado no jornal Tribuna da Imprensa, Rio, 09/02/2008

"Numa noite de inverno do ano de 1969, nos escritórios da Fundação Ford, no Rio, Fernando Henrique teve uma conversa com Peter Bell, o representante da Fundação Ford no Brasil. Peter Bell se entusiasma e lhe oferece uma ajuda financeira de 145 mil dólares. Nasce o Cebrap".

Esta história, assim aparentemente inocente, era a ponta de um iceberg. Está contada na página 154 do livro "Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível", da jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni (Editora Nova Fronteira, Rio, 1997, tradução de Dora Rocha). O "inverno do ano de 1969" era fevereiro de 69.

Fundação Ford

Há menos de 60 dias, em 13 de dezembro, a ditadura havia lançado o AI-5 e jogado o País no máximo do terror do golpe de 64, desde o início financiado, comandado e sustentado pelos Estados Unidos. Centenas de novas cassações e suspensões de direitos políticos estavam sendo assinadas. As prisões, lotadas. Até Juscelino e Lacerda tinham sido presos.

E Fernando Henrique recebia da poderosa e notória Fundação Ford uma primeira parcela de 145 mil dólares para fundar o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). O total do financiamento nunca foi revelado. Na Universidade de São Paulo, sabia-se e se dizia que o compromisso final dos americanos era de 800 mil a um milhão de dólares.

Agente da CIA

Os americanos não estavam jogando dinheiro pela janela. Fernando Henrique já tinha serviços prestados. Eles sabiam em quem estavam aplicando sua grana. Com o economista chileno Faletto, Fernando Henrique havia acabado de lançar o livro "Dependência e desenvolvimento na América Latina", em que os dois defendiam a tese de que países em desenvolvimento ou mais atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se dependentes de outros países mais ricos. Como os Estados Unidos.

Montado na cobertura e no dinheiro dos gringos, Fernando Henrique logo se tornou uma "personalidade internacional" e passou a dar "aulas" e fazer "conferências" em universidades norte-americanas e européias.

Era "um homem da Fundação Ford". E o que era a Fundação Ford? Uma agente da CIA, um dos braços da CIA, o serviço secreto dos EUA.

Quem pagou

Acaba de chegar às livrarias brasileiras um livro interessantíssimo, indispensável, que tira a máscara da Fundação Ford e, com ela, a de Fernando Henrique e muita gente mais: "Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura", da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders (editado no Brasil pela Record, tradução de Vera Ribeiro).

Quem "pagava a conta" era a CIA, quem pagou os 145 mil dólares (e os outros) entregues pela Fundação Ford a Fernando Henrique foi a CIA. Não dá para resumir em uma coluna de jornal um livro que é um terremoto. São 550 páginas documentadas, minuciosa e magistralmente escritas:

"Consistente e fascinante" ("The Washington Post"). "Um livro que é uma martelada, e que estabelece em definitivo a verdade sobre as atividades da CIA" ("Spectator"). "Uma história crucial sobre as energias comprometedoras e sobre a manipulação de toda uma era muito recente" ("The Times").

Milhões de dólares

1 - "A Fundação Farfield era uma fundação da CIA... As fundações autênticas, como a Ford, a Rockfeller, a Carnegie, eram consideradas o tipo melhor e mais plausível de disfarce para os financiamentos... permitiu que a CIA financiasse um leque aparentemente ilimitado de programas secretos de ação que afetavam grupos de jovens, sindicatos de trabalhadores, universidades, editoras e outras instituições privadas" (pág. 153).

2 - "O uso de fundações filantrópicas era a maneira mais conveniente de transferir grandes somas para projetos da CIA, sem alertar para sua origem. Em meados da década de 50, a intromissão no campo das fundações foi maciça..." (pág. 152). "A CIA e a Fundação Ford, entre outras agências, haviam montado e financiado um aparelho de intelectuais escolhidos por sua postura correta na guerra fria" (pág. 443).

3 - "A liberdade cultural não foi barata. A CIA bombeou dezenas de milhões de dólares... Ela funcionava, na verdade, como o ministério da Cultura dos Estados Unidos... com a organização sistemática de uma rede de grupos ou amigos, que trabalhavam de mãos dadas com a CIA, para proporcionar o financiamento de seus programas secretos" (pág. 147).

FHC facinho

4 - "Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter encontrado o tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso? Não havia limites, ninguém tinha que prestar contas. Era impressionante" (pág. 123).

5 - "Surgiu uma profusão de sucursais, não apenas na Europa (havia escritorios na Alemanha Ocidental, na Grã-Bretanha, na Suécia, na Dinamarca e na Islândia), mas também noutras regiões: no Japão, na Índia, na Argentina, no Chile, na Austrália, no Líbano, no México, no Peru, no Uruguai, na Colômbia, no Paquistão e no Brasil" (pág. 119).

6 - "A ajuda financeira teria de ser complementada por um programa concentrado de guerra cultural, numa das mais ambiciosas operações secretas da guerra fria: conquistar a intelectualidade ocidental para a proposta norte-americana" (pág. 45). Fernando Henrique foi facinho.

O Barão do Itararé atualizado por FHC

Presidente, Fernando Henrique Cardoso doou a Vale do Rio Doce, bebeu o rio, comeu o doce, deixou o vale na caixa
Artigo do Jornalista Hélio Fernandes

Todas as DOAÇÕES foram inqualificáveis, diminuíram o tamanho das nossas esperanças. Comprometeram o passado não tão distante, o presente lamentável, não sabemos o que nos reserva para o inimaginável futuro. Mas não há dúvida que o símbolo de tudo foi a entrega da Vale, já uma das maiores empresas do mundo. E FHC só não entregou outras como Petrobras, Furnas, Correios, Banco do Brasil, e mais e mais, porque é covarde, encontrou resistência, recuou.

Tentando defender o indefensável FHC, o atual presidente da empresa afirma: "A Vale só cresceu porque deixou de ser estatal". Ele se chama Roger Agnelli, mas nem é parente do gigante da Fiat. A Vale sempre foi potência, mesmo nos tempos de Eliezer Batista e seu grupo. Que também destruiu e vendeu a "preço de banana" (royalties para o presidente dos EUA, Theodore Roosevelt, que criou a frase em 1903) todo o manganês do Brasil.

Generoso, complacente, hipoglicêmico, iconoclasta, troglodita mas sempre consciente, FHC não tirou Eliezer da jogada, apenas acrescentou, na época, o primeiro filho. Se Petrobras, Furnas, Cemig, Itaipu-Binacional e outras são prósperas como estatais, por que entregar a Vale? Isso se parece muito mais com a definição-libelo do Aporelly que coloquei como título. A Vale sempre esteve marcada para morrer. Mas foi assassinada por FHC.

Os prejuízos da desadministração FHC não param aí. Devastou o sistema financeiro, foi DOANDO o que podia, sempre com a justificativa injustificável e mentirosa: "Precisamos conseguir recursos para pagar os juros da dívida". E enquanto a "dívida" atingia níveis alucinantes, o patrimônio ia ficando cada vez menor. Perdão, cada vez maior, só que já na propriedade das multinacionais ou fantoches delas.

Agora, inesperada e surpreendentemente, jogam na televisão e nos jornalões a discussão contraditória: "Precisamos DIMINUIR O TAMANHO DO ESTADO, com esse tamanho é impossível administrá-lo". Desmentem a eles mesmos, o próprio FHC à frente, e logo atrás dele os servos, submissos e subservientes Alckmin e Serra. FHC mudou a ótica da ética, quer (ou tenta) se explicar, não consegue. Quem destruiu o que pertencia ao povo não tem salvação.

O "presidenciável" já Geraldo Alckmin, mediocríssimo, sem convicção e sem força de expressão, se enrola todo, não sabe o que fazer, mergulha na contradição: "Não vou PRIVATIZAR NADA, mas sou a favor delas". Além de tudo, covarde. Se é a favor das privatizações, deveria assumir e dizer: "VOU CONTINUAR A PRIVATIZAR, ESSE É O PROGRAMA DO MEU PARTIDO. DAREI CONTINUIDADE AO QUE O PRESIDENTE FERNANDO HENRIQUE CARDOSO NÃO PÔDE TERMINAR".

Agora surge outro aspecto calamitoso do governo FHC: o APAGÃO, fonte de mais escândalos e irregularidades, mais prejuízos para empresas brasileiras. Esse assunto foi ligeiramente sugerido na época, mas FHC no Poder era absoluto. Agora, quem faz a revelação pública é Pinguelli Rosa, que foi presidente da Eletrobrás. (Foi um péssimo presidente, mas conhece os fatos. Só que Pinguelli é honesto em matéria de dinheiro).

Denúncia comprovada. Em 2001 houve o APAGÃO, FHC teve o cinismo de dizer que não sabia de nada. (A mesma coisa que seus acólitos e apaniguados dizem de Lula). Depois de "informado", FHC impôs um racionamento de 20%. Todos, comércio, indústria, serviços e a população inteira, tiveram que cumprir. O que fez FHC, "generosamente"? Aumentou as tarifas de energia TAMBÉM EM 20%.

Mas esse aumento foi apenas para as DISTRIBUIDORAS, multinacionais e particulares, que GANHARAM 8 BILHÕES A MAIS. As geradoras, que são estatais (com exceção da Tractebel, no Sul), não tiveram aumento algum, tiveram que ficar com o prejuízo. Essa discriminação atingiu Furnas, Chesf, Eletronorte.

Aceitemos que FHC NÃO SABIA DO APAGÃO. Mas é impossível confessar que não sabia do aumento de 20% para as MULTINACIONAIS e de ZERO para as estatais. Que farsante.

Esses 8 BILHÕES DOADOS às multinacionais de energia, nada a ver com o tamanho do Estado. Tem a ver, e muito, com o tamanho das contas bancárias. De muitos. De quase todos.

PS - O artigo acima foi publicado em 24 de maio de 2004. Está completando 4 anos, um dia completará 40. FHC jamais será esquecido. Na sua campa, escreverão, "AQUI, JAZ", e cada um completará da forma que bem entender. Todas N-E-G-A-T-I-V-A-M-E-N-T-E.