O Brasil, possui tradição nesse produto, exportando- o para
vários países do mundo.
Escrava Isaura, Que Rei Sou Eu?, Pantanal, A Próxima Vítima,
Roque Santeiro são somente alguns exemplos que podemos citar como grandes sucessos de
audiência, e venda.
Usamos os mesmos produtos que os personagens, falamos como eles,
adquirimos como nossa, as gírias novelescas. Esse mundo paralelo entranha-se em nós como
parte do nosso dia-a-dia.
Por que, então, é tão difícil para o ator, fazer o mesmo
sucesso que faz na tela, no palco? Por que o Brasil não possui a mesma tradição para
que os teatros também alcancem "bons índices no Ibope"?
A Clips Brasil foi conversar com um dos atores mais
conceituados na tela e no palco. Em sua meteórica passagem por Campinas, José Mayer
revelou alguns "poréns" da telinha e se disse crente quanto a uma
reformulação social, para melhor. Confira os melhores momentos da nossa conversa com o
ator José Mayer.
Clips Brasil Como são tratados os temas de cunho
ideológico na TV? O ator pode escolher quando e como trabalhar e impor limites ao seu
personagem?
José Mayer Na televisão, somos apenas instrumentos, e
o ator não possui nenhum domínio para demonstrar sua ideologia, ou qualquer que seja. No
teatro já existe essa possibilidade pois podemos escolher a peça que fazemos, então
fica mais clara nossa posição ideológica diante de vários temas. A televisão é um
veículo de massa, abrange muita gente, o ator não tem tempo para parar e pensar sobre
nada. É ir lá e fazer, e vender.
CB - Você disse a palavra venda, como o ator lida com a
questão do Ibope? Vocês se envolvem nessa disputa "sangrenta" pelo melhor
índice de audiência?
Mayer - Na TV, a qualidade não é o compromisso. O
compromisso é com a venda, a sedução e o Ibope. Muitas vezes, o medíocre e o mediano,
vende. Só a qualidade, não. Além do que, ficaria muito chata uma programação somente
cultural. Sou a favor de uma alternância na programação
CB Mas vocês se envolvem nessa disputa? Como fica a
cabeça do ator?
Mayer - Procuro fazer meu trabalho buscando sempre o prazer,
sem me preocupar com questões burocráticas e empresariais. Procuro não me envolver, por
que senão, fica complicada a coisa, e nosso trabalho pode sair prejudicado.
CB Vamos falar um pouco de teatro. Você considera o
preço para assistir a uma boa peça teatral caro? (em média, em Campinas o preço é R$
30,00)
Mayer Considero em partes. É caro quando você analisa
o poder aquisitivo da maioria da população brasileira. Infelizmente, a maioria da
população não possui condições. Mas para mim, que além de atuar, produzo as minhas
peças, o preço é baixo. As despesas são imensas, e temos de correr atrás de vários
patrocínios para custear nosso trabalho. Somente fico chateado quando vejo que um
estádio de futebol, nada contra o futebol, mas os estádios ficam lotados em dias de
clássico. O povo paga o mesmo preço, ou até mais para assistir ao jogo, mas não tem
coragem de dar R$ 20,00, R$ 30,00 num bom espetáculo teatral. É triste para quem é a
favor de programas que unem diversão e cultura, como é o teatro.
CB Então você atribui a elitização do teatro no
Brasil às questões culturais?
Mayer A elitização teatral foge completamente ao
ideal do teatro, que é fazê-lo para o povo. Vivemos ainda as seqüelas do Regime
Militar. Em 1968, quando comecei no teatro, éramos castrados, culturalmente falando. Não
podíamos fazer nada, nem falar, muito menos escrever. Esse déficit cultural se deve à
essa herança que o regime militar nos deixou, que é a desvalorização da cultura.
CB Como vocês atores, lidam com o fato de serem
formadores de opinião?
Mayer Acho muito importante exercer essa visibilidade.
Mas é preciso muita responsabilidade pois lidamos com fatos e histórias, que muitas
vezes não cabem na vida real, é pura ficção, é nosso ideal de vida. É preciso muito
critério para exercer essa visibilidade, pois as pessoas nos têm, muitas vezes como
referências para suas vidas.
CB Alguns autores teatrais dizem que Sheakspear fez
tanto sucesso, e ainda faz, por que ele simplesmente copiava situações, transcrevia-as,
reproduzia-as. Você acredita que há espaço para o inédito tanto no teatro quanto na
TV?
Mayer O homem está sempre se reinventando. Somos
frutos de uma experiência inesgotável. Eu sou otimista quanto ao futuro, e sonho com uma
sociedade com mais riquezas. Acredito que o homem está sempre se reinventando, sim, e
além do mais, sempre se superando, sempre para melhor.