Comunidade de Olho na Escola Pública - COEP

22/06/2006 05:58
Japão: educação, “ijime” e a “existência transparente”

Em 03/maio/1998, o jornal Folha de São Paulo publicou a seguinte: " O governo do Japão divulgou na última sexta-feira pesquisa mostrando que um em cada três alunos japoneses já foi vítima de "ijime", a perseguição e violência praticadas por crianças contra crianças.
Segundo a mesma pesquisa, 40% dos pais acham que os professores não protegeram seus filhos, contribuindo indiretamente para que a violência ocorresse. Somente em março, dois estudantes, de 14 e 17 anos, se enforcaram. Eles se justificaram dizendo terem sido vítimas de maus-tratos cometidos por colegas ". ("Violência entre crianças atinge 30% delas", in Folha de São Paulo, 03/05/1998).

O governo japonês, ao invés de responsabilizar escolas e funcionários, optou pelo caminho "mais fácil": propôs mudanças da lei para que menores de 16 anos fossem julgados por juizes criminais...
Há dez anos que o Japão tem baixo crescimento econômico. Isso faz com que aumente a disputa entre os estudantes japoneses. Melhores notas significam melhores escolas e melhores empregos...
Resultado: aumento de adolescentes e jovens nos reformatórios japoneses, sendo que muitos são filhos de brasileiros cujos pais foram trabalhar no Japão.
Hoje, este mesmo governo se vê obrigado a criar políticas públicas para diminuir o aumento crescente de suicídios. Detalhe: uma das principais causas de suicídio é o "ijime".

Os desafios do Século 21 exigem novos conhecimentos e novas tecnologias, os quais somente serão construídos se incentivarmos a criatividade natural das crianças. A Educação é continuada. O ensino deve dar autonomia às crianças e jovens. O objetivo é a diversidade.

O paradoxo japonês é que o sucesso alcançado no século 20 está impedindo as necessárias mudanças para enfrentar o século 21.
Sem mudanças e sem perspectivas, as crianças e os jovens japoneses continuarão a sina da “existência transparente”, assim definida na reportagem da Folha:
" O assassino [14 anos] havia escrito diários com críticas controversas, mas bem fundamentadas, ao sistema educacional japonês. Ele pregava o fim do ensino obrigatório e dizia que seu maior objetivo na vida era se ver livre de sua "existência transparente".
(...)
Demonstrando um conhecimento raro da língua escrita, o menino, cujo nome não foi revelado por questões legais, dizia que o sistema educacional japonês massacrava os indivíduos, uniformizava as personalidades e transformava a vida das pessoas em "existências transparentes". Os crimes que praticou, disse, serviam para recuperar sua individualidade -ainda que para isso tivesse que acabar com a de dois colegas. ”

Este artigo do Movimento Comunidade de Olho na Escola Pública é uma denúncia contra pessoas que querem “vender” modelos educacionais estrangeiros para o Brasil. Muitos destes "modelos" estão entrando em colapso em seus próprios países de origem.

P.S.: O Brasil bem que poderia mostrar ao Japão o que é "criatividade". Já que o "8" é o número da sorte no Japão, o Brasil deveria colocar 8 bolas no fundo da rede da seleção japonesa de futebol.

Postado por: Mauro A. Silva - coordenador do Movimento Comunidade de Olho na Escola Pública

Publicado originalmente no blog Cremilda Dentro da Escola - cremilda.blig.com.br