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A G:.D:.G:.A:.D:.U:.
R:.L:. CASA REAL DOS PEDREIROS LIVRES DA LUSITANIA
O Poema Régius
Compilado de diversos trechos p/ Irm tsmaia

O texto é de autoria desconhecida.
Apresenta-se na forma de um manuscrito de 794 versos de tradições remotas e uma série de lendas, dentre elas a da chegada da Fraternidade à Inglaterra nos tempos do rei Athelstan. (1) Escrito em língua medieval do Sudoeste da Inglaterra e citações em latim eclesiástico.

Manuscrito em pergaminho de pele de cordeiro, em 33 folhas gravadas com letras góticas.
O Poema Regius data de 1390, sendo o mais autêntico documento da Maçonaria Operativa.
É conhecido também por Manuscritos de Halliwell, em homenagem ao Ir:. James Orchard Halliwell, que o descobriu na Real Biblioteca do Bristh Museum em 1839.
Dividido em nove partes:

I. História lendária do Ofício de Construtor, cujas origens estariam na Geometria de Euclides ( 2 ); trazido à Inglaterra sob o rei Athelstan (925-940), Este teria convocado uma Assembleia de Mestres do Ofício, senhores e notáveis, com o objectivo de elaborar os estatutos da Corporação;
II. Os estatutos, divididos em quinze artigos;
III. Quinze pontos complementares aos estatutos;
IV. Outras disposições referentes ao Ofício: decisão de reunir a intervalos regulares uma Grande Assembleia dos pedreiros da construção;
V. Lenda do martírio dos Quatuor Coronati, santos patronos do ofício;
VI. Narrativa do episódio bíblico da Torre de Babel, segundo Génesis 11,1-9 e Flávio Josefo - Antiguidades Judaicas 1,4.
VII. Exposição sobre as Sete Artes Liberais, definidas e instituídas por Euclides para proporcionar aos futuros construtores uma instrução completa;
VIII. Exortação à assiduidade à missa e à estrita observância do culto religioso católico;
IX. Um tratado de boas maneiras a serem observadas em sociedade.
O que mais caracteriza o Manuscrito um leitmotiv que perpassa por todo o poema é a apresentação do Ofício de Construtor como uma actividade nobre, ligada à realeza e à aristocracia.
Por isso se atribui à Maçonaria o título de Arte Real.
Segundo o pesquisador maçónico francês contemporâneo Patrick Négrier, vários temas apresentados no "Regius" com essa intenção se inspiram, entre outras fontes, na História dos Reis da Bretanha de Geoffroy de Mommouth que faleceu em 1155, cujo propósito era justificar, através de antecedentes nobiliárquicos inatacáveis. Todos conhecidos, pela legitimidade histórica e política dos Bretões.
Essa preocupação com o enobrecimento da Arquitectura já se acha presente nos primeiros versos do poema, como veremos a seguir:
"Hic incipiunt constituciones artis
Gemetriae secundum Eucyldem"
"Aqui principiam as Constituições da Arte da Geometria, segundo Euclides")
Aquele que deseja boa leitura e que busca
conhecimento pode encontrar num velho livro escrito
Sobre grandes senhores e gentis damas
Que tinham muitos filhos mui sábios.
Mas não dispunham de renda para mantê-los.
Nem na cidade, nem nos campos ou nos bosques.
Reuniram-se em conselho, por causa deles,
Para decidir, em benefício de seus filhos,
Como eles poderiam melhor ganhar a vida
sem grande desconforto, cuidado ou angústia,
Sem contar a multidão de filhos
Que viriam depois deles virarem cinzas.
Mandaram procurar grandes clérigos
Que para isso lhes ensinassem bons ofícios:
"Nós lhes rogamos, por amor a Nosso Senhor,
Que nossos filhos façam bons trabalhos
De forma a bem poderem ganhar a vida
Com facilidade, e também com toda a honestidade e segurança".
Nessa época, graças à boa geometria,
Este honesto ofício da boa maçonaria
Foi organizada, elaborada em seu método
E concebido pelos clérigos reunidos.
Em virtude das súplicas dos conceberam a geometria,
Dando-lhe o nome de maçonaria,
Para fazer o mais honesto dos ofícios.
Esses filhos dos senhores foram ao clérigo
Para aprender o ofício da geometria
No qual ele se mostrou pleno de cuidado.
Por causa da súplica dos pais, bem como das mães,
Ele os introduziu nesse ofício honesto.
Aquele que melhor aprendia e se mostrava honesto
Também suplantava os companheiros em habilidade.
Caso nesse ofício ele se superasse,
Teria mais direito à honra do que o derradeiro.
O nome desse grande clérigo era Euclides.
Seu nome se difundiu amplamente.
Além disso, esse grande clérigo ordenou ainda
Que aquele que estivesse num grau mais elevado
Deveria instruir o que menos soubesse
Para o aperfeiçoar nesse honesto ofício;
Assim devem eles se instruir mutuamente
E se amarem juntos como irmã e irmão.
Além disso, ordenou ele ainda
Que o mais adiantado fosse chamado mestre;
Para que ele fosse o mais honrado,
Deveria ele assim ser chamado.
Todavia, um maçom jamais deveria querer chamar um outro
No ofício, diante de todos os demais,
De servo ou servidor, mas sim de "meu caro irmão".
Mesmo não sendo ele tão perfeito como um outro,
Cada um por amor deveria chamar o outro de companheiro,
Já que são nascidos de nobre estirpe.
O ofício da maçonaria iniciou-se primeiro
Quando o clérigo Euclides, em sua sabedoria, instituiu
Esse ofício da geometria na terra do Egipto.
No Egipto com vigor ministrou seus ensinamentos
Difundidos em várias terras, por toda parte.
Já nesses versos iniciais do "Regius" afloram numerosos problemas a desafiar a argúcia do historiador. Só podemos abordar, de maneira bastante superficial, três das questões mais importantes:
a- o background socio-económico do texto;
b- Euclides como pai da Maçonaria;
c- as origens egípcias da Arte Real. Do qual não trataremos aqui
a) Os elementos que constituem a base socio-económico da situação podem ser delineados pelos versos iniciais do poema. Descrevem uma situação de crise económico-social em que a Arquitectura teria se desenvolvido para proporcionar meios de subsistência a um excedente populacional.
Para Patrick Négrier trata-se de um reflexo da crise europeia do fim do séc. XIV e início do séc. XV ligada à Guerra dos Cem Anos e à Peste Negra, a qual teria provocado o fechamento dos grandes canteiros de obras de catedrais e o desemprego de muitos trabalhadores do sector.
Nós pelo contrário, veríamos nesses versos um reflexo da situação socio-económico dos séculos XI e XII em que o progresso das técnicas agrícolas e a exploração de novas terras acarretaram o crescimento demográfico e uma corrida às cidades dos excedentes da população rural em busca de colocação nos canteiros de obras.
Esse quadro social que vê nascer a Maçonaria Operativa responsável pela construção das grandes catedrais está admiravelmente descrito nas linhas abaixo extraídas do admirável trabalho do historiador e arquitecto Roland Bechmann Les Racines des Cathédrales:
A explosão demográfica, consequência de uma melhoria indiscutível da condição rural, ligada ao mesmo tempo a uma cessação das invasões e dos conflitos mais danosos aos camponeses, a um período climático favorável e a um progresso das práticas rurais, colocava problemas.
O desbravamento das novas terras, que de resto se defrontou rapidamente com factores limitadores - terras muito difíceis de se trabalhar e insuficientemente férteis e medidas de defesa do capital florestal - não era mais suficiente. O excesso das populações dos campos deveria, portanto encontrar outras saídas.
Para fazer frente à superpopulação, ao desemprego e à miséria que são os seus corolários, as soluções ou as diversões a que em diferentes épocas da história se buscou recurso foram frequentemente a guerra de conquista, o trabalho forçado ou as frentes de trabalho: podemos citar de forma notadamente desordenada: os templos e os grandes trabalhos dos Romanos e dos Incas, as grandes invasões, as guerras napoleónicas, as oficinas nacionais de 1848, os canteiros de obras e as guerras coloniais do século XIX, os trabalhos de saneamento dos Pântanos Pontinos e as guerras coloniais sob o regime fascista, as auto-estradas alemãs e a guerra de expansão pelo Labensraum dos nazistas...
E nessas cidades que às vezes dobravam sua população em menos de cem anos, a construção de habitações, o artesanato e o comércio eram activos.
Mas possivelmente isso não teria sido suficiente para todos esses trabalhadores em busca de empregos se não tivessem sido abertos esses grandes canteiros públicos que foram as catedrais...
O desenvolvimento das cidades e o impulso das trocas intimamente ligado ao mesmo criaram para os trabalhadores das construções novos mercados.
Esses trabalhadores, nas grandes cidades, organizavam-se pouco a pouco em agrupamento de defesa de seus interesses, privilégios e procedimentos as corporações - e em associações de solidariedade trabalhadora mais ou menos secreta, dando origem aos franco-maçons e às associações de companheiros.
b) Euclides coo pai da Maçonaria
Euclides, o pai da Geometria, é aqui apresentado, travestido de clérigo cristão, como o pai da Maçonaria Operativa.
Na medida em que a Geometria era considerada uma das Sete Artes Liberais, disciplinas vistas como dignas de serem estudadas por nobres, ao passo que o ofício do construtor era estigmatizado como um viril trabalho próprio das classes tidas por inferiores, trata-se de um artifício literário destinado a enobrecer a profissão de arquitecto.
O fato de Euclides ter vivido em Alexandria, por sua vez, nos remete ao tema das origens egípcias da Arquitectura
Dos textos, a seguir inferem-se princípios e tradições presentes na Maçonaria Moderna, alguns como Landmarks. Por sua importância para nós Filosóficos, tão ávidos de conhecimentos do período Operativo, vejamos os Versos 57 a 86 do Poema, que se referem aos estatutos formados por 15 artigos e mais os 15 pontos complementares a esses estatutos, pertinentes à boa geometria.
1° Seja o Mestre prestimoso, leal e verdadeiro. Mantenha-se com a rectidão de um juiz. Pague aos seus obreiros o justo e conforme as exigências da manutenção. Não ocupe nenhum obreiro senão no que ele possa fazer e ser útil. Jamais o utilize em seu benefício próprio. Não aceite suborno de ninguém e ainda menos de patrão ou de companheiro.
2° Todo Mestre deve comparecer a Assembleia Geral, desde que avisado com razoável antecedência, salvo por motivo escusável, por doença impeditiva ou por falsa, ou errada informação.
3° O Mestre não deve admitir aprendiz não disposto a preparar-se durante sete anos, a fim de bem aprender o ofício e tornar-se hábil.
4° O Mestre não deve admitir aprendiz sujeito à servidão, para que o seu senhor não venha a reclamá-lo quando quiser. Deve o Mestre procurar aprendiz de boa, livre e honrada estirpe, ou pertencente à nobreza.
5° Que seja o aprendiz de legítima filiação. Seja ele válido e hígido, por não convir ao ofício um aleijado, um coxo, um mutilado ou um homem fisicamente imperfeito, diante de uma profissão destinada a criaturas forte.
6° O Mestre não deve causar qualquer prejuízo ao senhor (proprietário da obra), do qual nada poderá tirar para o aprendiz, nem mesmo o que receber em nome dos companheiros, visto que esses são de maior habilidade. Nem seria razoável que aprendiz recebesse pagamento igual ao dos companheiros. Todavia pode o Mestre comunicar ao aprendiz um aumento de salário conforme a melhoria de trabalho, até alcançar uma boa diária.
7° O Mestre é proibido de auxiliar, por favor ou por medo, a ladrões, assassinos e pessoas de má reputação.
8° Pode o Mestre substituir o obreiro menos habilitado por outro mais competente.
9° Nunca se encarregue o Mestre de qualquer obra que não possa terminá-la e completá-la a tempo, com solidez e fortaleza desde os alicerces, de modo a satisfazer ao proprietário e à Fraternidade.
10° A nenhum Mestre é dado suplantar o outro, sob pena não inferior a dez libras, salvo se o primeiro encarregado for culpado.
11° O Mestre não deve trabalhar à noite, salvo para desenvolver o seu talento.
12° É vedado ao Mestre desmerecer de seu Irmão.
13° Ensine o Mestre o seu aprendiz, bem e completamente.
14° O Mestre não deve admitir aprendiz, a não ser quando se empenhe em obras diversas, sobre as quais deverá instituir o aprendiz.
15° Nunca se permita ao aprendiz proferir ou sustentar mentiras, ou apoiá-las. A ninguém é dado consentimento de mentir ou jurar falsamente.