`A G:.D:.G:.A:.D:.U:. |
R:.L:. CASA REAL DOS PEDREIROS LIVRES DA LUSITANIA |
RITO ESCOCES RECTIFICADO |
A ORIENTE DE SINTRA |
OS TEMPLÁRIOS NA FORMAÇÃO
E EXPANSÃO DE PORTUGAL
Neste contexto, cabe sem
duvida um papel de relevo aos Templários.
Oficialmente, trata-se de uma
ordem religiosa militar, instituída em Jerusalém no ano de 1118, perto do lugar
onde estivera o Templo de Salomão, o grande sábio ancestral dos monarcas
hebreus. Os primeiros anos após a tomada de Jerusalém pelos cavaleiros cristãos,
foram de uma certa incerteza relativamente a sua posse. Isto explica a formação
de Ordens religiosas militares para a defesa desta conquista, tão importante
para a cristandade de
então e para a
protecção dos seus peregrinos. 0 grupo inicial era pouco numeroso e só ganhou um
certo peso quando, em 1127, o Rei cristão de Jerusalém, Balduino 11, pouco antes
libertado do cativeiro muçulmano, resolver escrever ao ABADE DE CLARAVAL, o
cisterciense SAO BER- NARDO, para que este redigisse a regra desta ordem.
Chamaram-se primeiro CAVALELROS POBRES DE CRISTO e depois CAVALEIROS DO TEMPLO.
Em Janeiro do ano seguinte, no Concilio de Troyes, com a presença de São
Bernardo e de diversos dos fundadores da Ordem do Templo, recebeu esta milícia,
a pedido do Papa HONORIO 11 e do Patriarca de Jerusalém, o habito branco e a
regra. A introdução da Ordem na Península Ibérica foi quase de imediato. Duas
circunstancias favoreceram o seu forte estabelecimento em terras mais tarde
portuguesas: as investidas aos mouros da Península, pelas sucessivas campanhas
da reconquista cristã (uma repetição no Ocidente do que então se passava no
Próximo Oriente) e a proximidade geográfica em relação aos grandes centros que
então enviavam os seus guerreiros para libertar o Santo Sepulcro.
O grande génio
político do século Xll foi sem duvida São Bernardo. O surgimento de uma Europa
Cristã como ainda hoje de certa forma se apresenta, deve-se em primeiro lugar a
este pensador que tomou nas mãos as rédeas para libertar estas terras do perigo
do Islão.
No séc. VII surgiu
Maomé, mais um dos tantos profetas saídos do Próximo Oriente. Seguindo a linha
religiosa tradicional do Deus único (já propagandeada pelos hebreus e seus
descendentes, os cristãos), acabou por expulsar cultos pagãos ainda enraizados,
limpando o seu mundo com a arma na mão e assumindo-se como profeta de Allah. A
sua hedgira de Meca a Medina no ano 622 da era crista, tornou-se um marco de
mudança. A adesão em massa causada pelas interpretações do seu livro sagrado – O
ALCORAO – acabou por varrer não só o Médio Oriente, como também a costa
norte-africana, chegando até aos países nórdicos, através da Península Ibérica,
invadida em 711. O perigo da queda do cristianismo estava iminente. A invasão
muçulmana conseguiu ser detida nas batalhas de Touros e Poitiers mas receava-se
que um ataque efectuado pelos árabes aos países cristãos simultaneamente pelo
Ocidente e pelo Oriente, acabasse por submeter toda a cristandade. São Bernardo
resolveu então atacar o Islão ao mesmo tempo em três frentes. Criou a ORDEM
TEUTONICA em 1143 (então chamada: ORDO SAIUCTAE MARIAE TEUTONICARUM) para que
esta expandisse o cristianismo em direcção ao Oriente, formando uma verdadeira
barreira contra todos os perigos oriundos da Ásia e do Próximo Oriente. Ajudou
na criação da ORDEM DO TEMPLO, para que esta libertasse a zona costeira da
Península Ibérica dos árabes que atacavam as embarcações dos peregrinos que por
ai passavam para poderem entrar no Mediterrâneo. E apelou ao mesmo tempo para
uma Grande Cruzada que libertasse o Santo Sepulcro em Jerusalém. Com a criação
das duas ordens religiosas militares acabou por atacar os muçulmanos nos seus
flancos mais avançados que, uma vez unidos, teriam mesmo
acabado com o mundo cristão. Nesta tarefa criaram-se países novos: Portugal a
Ocidente e os países Báltico e a Prússia a Oriente.
A verdadeira razão da escolha
de Jerusalém não foi a da libertação do Santo Sepulcro: um século após Cristo,
já ninguém sabia qual a sua localização. Inventara-se um local que se mostrava
aos peregrinos e do qual ninguém ousava duvidar. O que levou São Bernardo a
apelar à Grande Cruzada, foi a sua vontade de atacar o Islão bem no seu coração,
para que ele, em aflição, e em defesa dos seus próprios lugares sagrados,
tivesse que recolher as suas forças militares que invadiam os países cristãos.
Tais lugares eram e são, em sequência de importância: MECA, MEDINA e JERUSALEM.
Meca e Medina situam-se no interior da Península Arábica, com acesso marítimo
mais próximo no Mar Vermelho, o que obrigava a circum-navegar o continente
africano, uma tarefa então ainda por descobrir. Outra forma de chegar ao Mar
Vermelho era atravessando o Sinai, mas isso retiraria qualquer valor ao elemento
estratégico da surpresa.
Tornou-se assim óbvio que o
alvo escolhido por São Bernardo fosse a cidade de Jerusalém, que por ficar perto
do Mediterrâneo era de fácil acesso e possibilitava um ataque inesperado. Essa
escolha, por outro lado, acordaria muito mais fervor e aceitação lógica no meio
cristão, pois seria uma gloria dar a vida por tal causa.
Vimos assim que o aparecimento
da Nação Portuguesa não se deve exclusivamente à vontade do filho do Conde D.
Henrique, o Borgonhês, que se meteu na conquista destas terras, declarando-as
suas em pleno acto de rebeldia contra o Reino de Leão, ao qual então ainda devia
vassalagem. O esforço de D. Afonso Henriques e a sua conquista de Lisboa (a
sétima conquista cristã dessa cidade), bem podiam ter sido em vão ou ter passado
relativamente despercebidos na História, se não tivesse havido, simultaneamente,
o projecto de São Bernardo que viu com bom agrado o nascimento de Portugal, a
primeira Nação Nova da Europa por ele sonhada e séculos depois concretizada.
Este doutor de Cister para ca se deslocou, dando conselhos ao jovem Rei e
instalando a sua Ordem em todo o pais.
Sabemos da vinda dos
Templários ás terras da antiga Lusitânia já em II26, recebendo em doação os
terrenos da Fonte Arcada, por Dona Teresa, mãe de Afonso D. Henriques, sendo seu
mestre GUILHERME RICARDO. Dona Teresa também lhes doara o castelo de Soure como
primeiro fasto da Ordem. A investida mourisca contra este posto avançado dos
cristãos de Coimbra no ano de I144, foi o grande baptismo de guerra dos
cavaleiros templários que então já haviam transformado esta velha ruína numa
fortaleza. Dizia-se que na convicção templária: «A MORTE ERA, DE FEITO, MAIS
BELA QUE A VIDA COMPRADA COM A COBARDIA».
É precisamente este o sentido
da divisa ainda hoje utilizada pelos
açoreanos,
que a inscreveram no seu brasão, citando a celebre frase de Ciprião de
Figueiredo que se negou a entregar os Açores
ao poder espanhol,
preferindo morrer a favor de D. António Prior do Cráto, o último monarca da
ímpar dinastia de Aviz: «MAIS VALE MORRER LIVRES DO QUE EM PAZ SUJEITOS». Será
simples coincidência de convicção, ou serão mesmo os Açores um dos últimos
refúgios da mente templária ? Estes cavaleiros nórdicos e os seus aderentes
lusos, ajudaram de tal forma nas conquistas de Lisboa, de Santarém, de Silves e
de tantas outras terras, que não é exagero o afirmar-se que Portugal foi, em
parte substancial, formado com a ajuda desta nobre ordem religiosa militar e dos
outros cavaleiros nórdicos. O único estrangeiro ainda hoje venerado da tomada de
Lisboa foi o cavaleiro Henrique de Bona. Camões fala-nos dele e dos milagres da
palmeira plantada na sua campa. A bula papal que estabelece a construção da
Igreja de São Vicente de Fora, menciona que a mesma será erigida em cima dos
corpos dos cavaleiros germânicos caídos na conquista da cidade.
Até a tomada de Lisboa pelo
Duque de Alba, em 1580, manteve-se o costume de que as paradas militares
lisboetas fossem lideradas pela guarnição do Castelo de São Jorge, guarnição
essa composta de elementos germânicos ou seus descendentes, em honra de tantos
dos seus que tombaram para que se libertasse Lisboa dos mouros.
Portugal é um pais templário
e, como tal; cumpriu a primeira das suas razões de existência que foi permitir a
fácil passagem das armadas cristãs em direcção ao Mediterrâneo. Mas o que tem
isso a ver com a época dos Descobrimentos?
Para aprofundarmos
esta questão, temos primeiro de saber quem e que esteve por trás dos
Descobrimentos Portugueses. Todos os grandes especialistas da história da
navegação em era cristã, estão de acordo em que se deve internacionalmente
imenso aos navegadores que saíram dos portos portugueses. A grande maioria das
outras nações bebeu dos conhecimentos obtidos pelos navegadores portugueses e
com eles aprendeu a arte de navegar no mar alto. Quanto mais se estudam os
heróicos navegadores de outras origens mais se confirma a origem portuguesa de
grande parte dos seus conhecimentos. E quem é que estava por trás desta
gigantesca tarefa universal ?
Seria fácil de mais atribuir
tudo ao génio do grande Homem que, sem duvida, foi o Infante D. Henrique. Mas
mesmo ele é só um dos muitos cavaleiros numa longa corrente de iniciados.
Coube-lhe um lugar de destaque, porque viveu numa época fértil em
possibilidades, que ele soube avaliar e executar, deixando planos que ainda
regeram as directrizes da navegação portuguesa séculos após o seu
desaparecimento. Muitas vezes podemos ler que o Infante D. Henrique foi Mestre
da Ordem de Cristo, que lhe deu muito dinheiro que ele aplicou na sua ideia de
descobrir o mundo. Essa versão porém, não corresponde a realidade. Nem o Infante
foi Mestre da Ordem nem a ideia foi dele. Ele governava as finanças da Ordem,
facto que lhe deu um lugar de grande destaque e uma certa possibilidade
monetária. Todavia, esta nunca chegou para solucionar as pesadas tarefas que
faltavam cumprir. O Infante utilizou assim também os seus próprios meios,
esforçando-se ilimitadamente na preparação do terreno para que Portugal semeasse
e cumprisse a segunda razão da sua existência: a da propagação da fé cristã por
todo o planeta.
Tal como as altas
torres das catedrais góticas, esses dedos gigantes de uma humanidade crente
apontados em direcção ao céu, também a actuação deste filho do Mestre de Aviz se
assemelhava a um grande dedo, atravessando o espaço e o tempo, para indicar um
caminho a evolução de toda a humanidade. Para os seres decadentes do nosso
século, que tudo avaliam pela lógica da conveniência financeira, tendo
substituído Deus pelo dinheiro, é de todo impossível compreender a mentalidade
dos arquitectos templários que delinearam os planos para a construção das
grandes catedrais góticas, que lavaram meio milénio e mais para serem
contempladas.
Quem e que hoje se
lembraria construir algo que possa ainda ter utilidade daqui a meio seculo ?
Tudo o que vemos ser construído à nossa volta, faz parte da miopia geral da
nossa geração. Cimento e betão armado não aguentam um século sequer. Os nossos
netos terão que deitar abaixo tudo o que hoje se constrói (incluindo o monstro
de Belém). Do nosso século só sobrará o plástico. Os arquitectos medievais no
entanto, planeavam em escalas longínquas. Ao iniciar as obras, sabiam
perfeitamente que nem eles, nem os seus filhos ou netos poderiam assistir a
inauguração delas. Mas isto não os fazia parar. A cidade de Ulm iniciou a
construção de uma catedral cuja torre tem cerca de duzentos metros de altura.
Ora, na época não havia sequer um milhar e meio de habitantes em toda a cidade.
Foram precisos setecentos anos para completar a obra, que ainda hoje se mantém
intacta e pronta para durar outro tanto. E hoje já se deitam abaixo os primeiros
arranha-céus construídos após a 2 Guerra Mundial. A construção das catedrais
góticas, bem como das fortalezas da mesma época, não previa o pagamento da
mão-de-obra. Os habitantes ofereciam-se voluntariamente para executar esta
tarefa.
A Ordem de Cristo
encabeçava não só o pensamento gótico da população, como todas as três Ordens
Religiosas Militares no contexto da expansão marítima portuguesa.
Havia a ORDEM DE
SANTIAGO, fundada no Reino de Leão da qual se separou a comenda portuguesa, com
no séc. XII, e a sede no Convento de Santos em Lisboa. Na reconquista de
Mertola, ofereceu-se esta fortaleza como primeira sede da Ordem
portuguesa de Santiago, passando-a mais tarde para Palmela. Foi D. Dinis que, em
1290, conseguiu uma bula papal que separava reconhecidamente a parte portuguesa
desta ordem da castelhana/leonina. Um dos seus mais destacados grão-mestres foi
o Infante D. João, chamado o Príncipe Perfeito, mais tarde D. João II, Rei de
Portugal. Diversos dos grandes navegadores foram cavaleiros desta Ordem. Havia
ainda a ORDEM DE AVIZ, fundada em 1147 por D. Afonso Henriques, com sede em
Coimbra e mais tarde em Évora. Tendo tido ligações fartíssimas com a Ordem de
Calatrava (castelhana), também se conseguiu desligar oficialmente da mesma por
intervenção de D. Dinis. O seu principal mestre foi D. João, fundador da
Dinastia de Aviz, de longe a mais importante, que acabou por levar a sua cruz
aos mais distantes confins do mundo.
E havia a ORDEM DE
CRISTO. Esta nasceu como golpe poli- tico de grande inteligência, lançado por D.
Dinis. A Ordem do Templo foi a que mais depressa cresceu entre todas as
diferentes ordens religiosas militares, surgidas para defesa dos caminhos dos
peregrinos a Terra Santa. Embora exigindo a desistência dos bens materiais aos
seus membros, permitia a utilização de dinheiro e de atitudes comerciais
benéficas à própria Ordem, que assim acumulou bens e terras de dimensões
invejadas por muitos. Foram os templários que estabeleceram uma vida financeira
duma envergadura como nunca houvera. Emprestavam dinheiro sem juros, cobrando
somente percentagens cambiais na conversão duma moeda para outra. Também emitiam
notas de credito, o que permitia que alguém fizesse um deposito algures num
porto do Mar do Norte, viajasse despreocupadamente por não ter que defender a
sua arquinha de ouro dos assaltos, e pudesse levantar o seu dinheiro mediante a
apresentação de um pergaminho, em qualquer porto mediterranico ou instalação
templária que havia aos milhares. A inveja do Rei de França, Filipe o Belo,
aliada a fraqueza papal de Clemente V, então sob o controlo francês em Avignon,
e com medo de ser assassinado como o seu antecessor, acabou por juntar os
poderes do Estado com os da Igreja, contra
os poderes do Espirito
da Ordem do Templo. Em 1307, foram presos todos os templários franceses que se
puderam encontrar. Muitos saíram pelo porto templário no noroeste francês, não
se sabe para onde. O Papa ordenou também a extinção da secção lusitana da Ordem
do Templo em 1311, mas esta imposição não foi bem aceite por D. Dinis, que
ordenou o levantamento de um processo para se averiguar o grau de culpabilidade
atribuível aos templários na Península Ibérica. O processo teve lugar em
Salamanca e todos os templários portugueses saíram ilibados.
O Papa ordenou ao Rei
de Portugal a entrega dos bens dos templários a um seu representante. Mas D.
Dinis recusou-se a esta entrega, explicando que todas as terras pertencentes aos
templários tinham sido oferecidas como morgadios do Rei com a obrigatoriedade da
sua devolução e impossibilidade de venda ou entrega a outrem. Chegou-se então a
um acordo, no qual se estabelecia que D. Dinis entregaria estes bens a uma nova
ordem religiosa militar portuguesa, que se havia de criar para este efeito e a
qual se daria o nome de Ordem de Cristo. Esta nasceu assim em 14 de Agosto de
1318, sendo reconfirmada pela bula papal de João XXII, de 14 de Março de 1319. O
que D. Dinis não comunicou aos representantes papais, foi que havia englobado os
antigos cavaleiros lusos da Ordem do Templo nesta nova Ordem de Cristo,
oferecendo-lhes até a vila de Castro Marim. A Ordem de Cristo tornou-se assim a
herdeira directa, tanto dos bens como dos conhecimentos e das tarefas da antiga
Ordem do Templo.
Foi tal o peso dessas três
ordens religiosas militares portuguesas nos séculos seguintes, que nos atrevemos
a afirmar que a evolução dos contactos entre muitas das civilizações deste
planeta, não seria possível da forma harmoniosa como o foi, sem elas e sem a sua
orientação filosofica.
Não foi por acaso que os
grandes navegadores portugueses do séc. XVI e XVI eram membros destas ordens e
que as suas embarcações levavam a CRUZ DA ORDEM DE CRISTO nas suas velas. A
expansão do mundo português não foi o resultado ocasional de aventureiros que se
laçaram à procura e conquista de novas rotas marítimas, para enriquecerem
rapidamente e de qualquer maneira. Na historia escrita por mãos portuguesas não
houve a aniquilação sistemática de povos, religiões ou culturas, como a extinção
dos Aztecas no México, dos Incas no Peru e dos Guanches nas Canárias, por
exemplo. Com a Ordem do Cristo foi tudo diferente. A expansão portuguesa não foi
sempre pacifica, mas podemos ver como uma pequena nação pode escrever paginas
significativas na evolução da humanidade, sem impor o extermínio) de populações.
No séc. XVI, Portugal
obteve a sua riqueza sobretudo no
comércio das
especiarias, onde se trocavam as mercadorias de um continente pelas de outro,
reduzindo a longa lista dos intermediários e fazendo os chamados «NEGOCIOS DA
CHINA .
Se o nascimento de
Portugal se deveu em grande parte a ajuda da Ordem do Templo, mais tarde
expandiu-se pela orientação e organização da Ordem de Cristo.
Houve assim o mesmo
pensamento, que não só ajudou na construção de uma Europa Cristã, como na
abertura das portas do mundo nos séculos XV e XVI. Foram cavaleiros iniciados
que navegaram por todos os mares e levantaram padrões com os SIMBOLOS da CRUZ DE
CRISTO, da CRUZ DE AVIZ e da CRUZ DAS QUINAS, circundada pelo escudo dos
castelos.
O que a conquista do espaço
representa para a nossa geração, representou a conquista dos mares para os
nossos antepassados.
A Portugal coube um
dos papeis de maior relevo, destacando-se entre muitas outras nações por uma
conduta Ética e moral que demonstrava por parte dos seus governantes o amplo
conhecimento de que havia missões por cumprir. Como nenhuma vitória vale mais do
que o caminho através do qual ela é conseguida, notou-se uma preocupação em
guiar gerações de navegadores portugueses por uma ROTA LIMPA. Casos houve,
como a substituirão e prisão por ordem regia, de um português que resolveu
saquear e queimar os templos no caminho de Malaca. Os seus feitos teriam
recebido aplausos noutras nações, mas não na portuguesa.
O saque nunca foi o conselho
dado aos navegadores, mas sim o comercio ou a aliança militar. Os portugueses
quinhentistas foram uma espécie de reencarnação dos antigos fenícios. Equipados
com bons navios, conhecimentos náuticos, muita coragem e mercadorias para
trocar, fizeram-se ao mar. alto na esperança de algum dia voltarem enriquecidos
com conhecimentos e mercadorias raras, que depois poderiam vender a bom preço,
nos leilões que se efectuavam no Terreiro do Paço ou na Casa da Índia. Os
capitães dos navios das outras nações expansionistas do sec. XVI diziam aos
povos por eles visitados que eram portadores da fé única e verdadeira, impondo o
pagamento de tributos para a sua acção missionaria. Quando esse pagamento não se
efectuava com a rapidez ou nas quantidades desejadas, acabavam por confiscar
todo o ouro ao seu alcance. Partiam os ídolos locais a martelada, e
derretiam-nos caso fossem em ouro. Arrancavam os colares, as pulseiras e os
anéis, cortando dedos e cabeças, na fúria da busca do maldito metal, acabando
por aniquilar civilizações inteiras e esquecendo-se totalmente do verdadeiro
sentido do cristianismo. Tinham por missão o saque imediato e a transferencia
deste para as cortes dos seus reis, onde as barras eram refundidas e cunhadas em
moedas do estado. A fé era apenas uma desculpa para se receber a benção papal. O
roubo indiscriminado e a submissão das populações para lhes impor o pagamento de
futuros tributos, foram as molas reais as suas acções. Houveram excepções
honradas, mas o quadro geral tem de ser classificado como altamente negativo.
Também houveram
excepções negativas entre os portugueses, mas a orientação da Ordem de Cristo
que supervisava toda a expansão marítima, imprimiu uma vontade férrea a
actuação portuguesa liderada por cavaleiros iniciados, vivos exemplos de uma
interpretação da fé bem diferente e da missão que lhes estava destinada. Assim,
temos de considerar es grande parte dos navegadores portugueses como meio
cientistas e meio comerciantes, tal como outrora já os fenícios tinham sido.
EM DEMANDA DO REINO DO PRESTE JOAO
Curiosamente usou-se
em terras da antiga Lusitânia uma escrita hoje chamada de ibérica, com fortes
influencias e traços fenícios. Também se sabe que os Fenícios não só apareciam
na costa lusitana, como até se estabeleceram nos seus portos, com feitorias
armadas para servirem de locais de troca de mercadorias. Precisamente o que os
navegadores portugueses mais tarde acabaram por fazer. De onde vem estas
profundas convicções éticas que acompanharam os Lusitanos de todas as eras? Que
Fé é esta que leva homens a investir fortunas em planos cuja execução necessita
de séculos? Como figura central que nos possa dar luz sobre estas questões,
destaca-se um homem: o INFANTE DOM HENRIQUE. Qual foi o recado que ele deu aos
seus navegadores ? : TRAZEI-ME NOTICIAS DO REINO DO PRESTE JOAO Estas palavras
são a chave para a demanda do lendário REINO CRISTÃO EM AFRICA. Mas será.
possível que um homem impar como o Infante D. Henrique enviasse embarcações
caras e homens altamente qualificados, para verificarem simplesmente a
veracidade de uma velha lenda? Terá sido só curiosidade sua, ou será que esta
pergunta conhecida por todos, mas incompreendida por muitos, não esconde a porta
de acesso a uma razão tão forte como desconhecida, que nos oferece uma luz bem
diferente sobre os motivos e a orientação dos nossos descobrimentos? A figura
lendária do Preste-João, personificada num soberano poderoso e cristão, reinando
entre terras de infiéis e com quem as monarquias ocidentais ambicionavam
aliar-se, para combater a invasão islâmica durante a Idade Media, baseava-se
numa realidade histórica bem concreta.
Após o Concílio de Niceia, no
ano de 325, e com mais forca após o de Éfeso, deu-se a perseguição aos cristãos
que não se queriam submeter á nova hierarquia eclesiástica instalada em Roma.
Nomeadamente, os gnómicos, os arianos e os nestorianos, viram-se perseguidos,
massacrados ou expulsos do Império Romano, que na sua «PAZ ROMANA» e uma vez
abraçado o cristianismo como religião não só permitida mas até oficial, acabou
por negar o direito à existência a outras interpretações das mensagens deixadas
pelos discípulos de Jesus. As legiões romanas marchavam, já não na perseguição
dos cristãos em geral, para lhes impor o reconhecimento do Imperador como
divindade máxima de todo o Império, mas agora para perseguir os «maus cristãos»,
por ordem dos «bons cristãos». Bons, eram os que se submetiam a nova hierarquia.
Maus, os que se atreviam a possuir outra opinião. Em três séculos de
perseguições lançadas pelos imperadores romanos aos cristãos, morreram algumas
dezenas de milhar de seguidores da mensagem do Nazareno. No primeiro século da
oficialização do cristianismo como religião do Império Romano, morreram muitas
centenas de milhar de cristãos por ordem de outros cristãos. A luta pelo poder
total tinha-se apoderado da chefia em Roma. Incompreensão e injustiça reinaram
por toda a parte e muitos tiveram de fugir para o deserto ou para regiões
longínquas para poderem sobreviver na sua fé.
Consta que um destes cristãos
fugidos tenha conseguido formar um reino de esplendor, força e harmonia
sobrevivendo a todas as investidas dos seus vizinhos. Tratava-se do REINO DO
PRESTE JOÃO. Não se sabia bem onde ele se situava. Dizia-se que era na Índia,
mas chamava-se então Índia a tudo o que se situava ao oriente do Mediterrâneo.
Também se dizia que era um REINO CRISTAO EM AFRlCA, ao sul do Egipto, onde se
mantinha a versão inicial do cristianismo, tal como havia sido pregado pelos
discípulos de Jesus, antes da introdução de uma hierarquia pelo Imperador de
Roma.
Os relatos dos peregrinos que
século após século visitavam a Terra Santa, já no primeiro milénio após o
nascimento de Jesus Cristo, indicavam a existência de cristãos no Egipto, na
zona de ALEXANDRIA. Davam-Ihes o nome de COPTAS, por falarem a língua copta, uma
reminiscência da língua e cultura dos antigos egípcios, aniquilados pelas
invasões nómadas. Também se sabia de outros núcleos de cristaos coptas na região
de Assuão, bem no sul do Egipto, e falava-se de um imenso REINO CRISTÃO COPTA na
ETIOPIA, também chamada a ABISSINIA. Esta não tinha um Rei, mas sim um Rei sobre
Reis, ou seja, um Imperador, ao qual se dava o titulo de NEGUS. Tudo leva a crer
que, se existisse ainda um REINO DO PRESTE JOÃO, este teria que ser a Etiópia e
o seu Negus o próprio Preste João. O facto de que haviam passado muitos séculos,
desde que pela primeira vez se tinha ouvido falar do Preste João, e
naturalmente, o facto de que ele já não se encontrava entre os vivos, não teve
peso nenhum nesta importante questão. A Fé não se explica pela razão e havia
algo transcendente que empurrava a Ordem de Cristo na busca deste reino cristão
em África. Nunca nos foi revelado ao certo o que era. As razões oficiais da
hipótese de uma aliança contra possíveis inimigos, também não é a mais correcta.
Primeiro, porque os portugueses faziam e cumpriam as suas alianças em toda a
parte, independentemente da fé dos seus parceiros. Em segundo lugar, porque o
Papa decerto não veria com bons olhos uma aliança portuguesa com o Reino Copta,
visto este nunca ter aceite a cadeira de São Pedro em Roma como o trono de todas
as igrejas cristãs.
Mas o que era afinal este
lendário Reino da Etiópia no fim da Idade Media? Se olharmos para a cartografia,
tanto a quatrocentista, como a quinhentista e a seiscentista, ainda poderemos
verificar com espanto que então se imaginava um reino com dimensões bem
diferentes das que hoje lhe atribuímos. Não só o território do Egipto ate
Moçambique se chamava Etiópia, incluindo grandes partes do Congo e das regiões
vizinhas, como até se deu o nome de MAR DA ETIOPIA ao Atlântico Sul. Parece que
realmente se esperava um reino gigante. Mas terá sido esta a razão que
levou o Infante D. Henrique a ordenar aos seus navegadores (que em vida do
Infante pouco tinham passado da Guiné) que lhe trouxessem notícias do Reino do
Preste João?
Tudo leva a crer que devem
ter havido outra razões bem mais profundas, mas menos acessíveis.
Que forma de Cristianismo e
que existia neste Reino do Preste João? Sabemos que era o cristianismo copta, o
único que sobreviveu as perseguições do tempo inicial e que se manteve distante
e isolado, permanecendo por isso mais perto do cristianismo inicial, não
estatal. Sabemos que o cristianismo copta e os seus conventos escondidos no meio
das montanhas e em oásis do deserto foram refugio para diversas seitas cristãs
nos séculos das grandes perseguições de cristãos por cristãos. No Concílio de
Niceia, os representantes das muitas igrejas cristãs, que então se reuniam pela
primeira vez para elegerem os dirigentes da Igreja de Roma, que assumiu a chefia
para toda a cristandade, foram aconselhados a fazerem-se acompanhar dos seus
exemplares das sagradas escrituras, que lhes tinham sido deixados pelos
discípulos de Cristo. Pretendia-se comparar as mesmas, para evitar que alguém
espalhasse interpretações contraditórias. Convinha o estabelecimento de uma
versão comum para todos os cristãos. Escusado será dizer que a maioria dos rolos
foram queimados. Deve-se ao esforço de quarenta anos de estudo de alguns destes
rolos, efectuado então por São Jerónimo, o aparecimento da VULGATA que ainda
hoje é a nossa Bíblia, obviamente após respectiva revisão feita pela nova
hierarquia eclesiástica. Dos livros que formavam o Velho Testamento retirou-se e
baniu-se o livro de Enoch, o filho de Matusalém, e do Novo Testamento tirou-se o
Evangelho de São Tomé. A posse, leitura ou divulgação deste evangelho era
interdita e punida de forma exemplar.
Entre os gnósticos,
arianos e nestorianos que se tinham refugiado em lugares remotos, encontravam-se
diversos membros destacados do mundo cientifico de então. Levaram consigo os
seus rolos e acabaram por ter discípulos secretos, que continuaram a divulgar a
mensagem de Cristo na sua versão original. Para se ter acesso a estes
conhecimentos tinha de se ser escolhido e iniciado, visto o simples conhecimento
e a sua divulgação serem perigosos e punidos com a morte. Grande parte dos mais
antigos rolos ainda hoje existentes que nos falam da vida de Jesus, foram
encontrados em mosteiros coptas de muito difícil acesso. Os outros exemplares
conhecidos descobriram-se no Egipto e em grutas do Mar Morto, ou seja todos eles
na mesma área do globo, não sobrando nada anterior ao século v em nenhuma outra
parte do mundo cristão.
O CRISTIANISMO ARIANO
Na fuga às
perseguições, também surgiram na Europa cristãos arianos, seguidores de Arius de
Alexandria e da sua interpretação da fé cristã.
Como a sua convicção era
profunda e partilhavam da desconfiança de muitos dos povos limítrofes do Império
Romano em relação ao poder central de Roma, foi-lhes fácil actuar como
missionários desta nova fé, mas na sua versão não submetida a Roma. Espalhou-se
assim o cristianismo ariano pela península Ibérica e a Gália, onde se baptizou
Giserico, o Rei dos Vândalos. Este povo tinha vindo das costas do Mar Báltico,
acabando por se dirigir primeiro em direcção aos Alpes, mas seguindo depois para
o ocidente, entrando na Galia. As suas lutas contra os Hunos tinham sido tão
sangrentas que preferiram ocupar a Gália, que era já então uma província romana.
Aqui, um general romano viu-se forçado a combater uma das tribos vândalas,
prender parte da mesma e expulsa-la para as Ilhas Britânicas. Os Vândalos
acabaram então por se reunir e eleger um Rei que se comprometesse a descobrir
uma nova terra e a combater Roma se necessário fosse.
Este Rei foi Giserico.
Eleito em 427, entrou com o seu povo na Península Ibérica em 428, atravessando o
estreito de Gibraltar com dezoito mil guerreiros no ano de 429, para tentar
conquistar Cartago, na altura a segunda mais importante cidade do Império
Romano. Como as suas forças não eram suficientes, acabou por voltar a Península
juntando-se com os Béticos, os Alanos e os Lusitanos e formando um novo exercito
então de cinquenta mil homens, com os quais fez um cerco a Cartago durante anos,
acabando por tomar a cidade do ano de 439.
Hoje fica-nos um sabor
negativo na boca, quando utilizamos o nome dos Vândalos. Mas isto nada tem a ver
com este povo que já se extinguiu ha mais de um milénio. O termo «vandalismo»
surgiu pela primeira vez num dicionário francês do século XVIII. Alguém escolheu
o nome de um povo que já não se podia defender. Os Vândalos devem ter sido tão
bons ou tão maus como a maioria dos outros povos então em migração pela Europa.
O que justifica a sua classificação tão negativa é apenas a fonte histórica que
nos fala acerca da sua existência, e que nos foi deixada precisamente pelo seu
maior inimigo: a Igreja de Roma e de Bizancio. Giserico converteu-se ao
cristianismo ariano e acabou por se tornar o seu maior defensor. Curiosamente,
apareceu precisamente em Lisboa um jarro de baptizado cristão-ariano do século v
que, tudo leva a crer, poderá ter bastante a ver com Giserico, tratando-se até
possivelmente do seu próprio jarro de baptizado, ou de alguém que lhe estivesse
muito ligado. O jarro mostra o símbolo da CRUZ CRISTÃ na forma chamada celta,
utilizada também pelos Visigodos e mais tarde pelos Templários, como também pela
igreja copta. Uma inscrição à sua volta, ainda hoje bem legível, mostra-nos que
se deseja a GISERICO E SEUS SUCESSORES ETERNA VIDA. O aparecimento deste jarro
de baptizado em Lisboa, e interessante mas não totalmente inesperado:
historiadores irlandeses mantêm o conhecimento de que a cristianização da sua
ilha começou por missionários cristãos arianos vândalos, vindos de Lisboa. A
conversão dos irlandeses e escoceses ao cristianismo bizantino, mais tarde
católico, deu-se posteriormente. Foram no entanto estes monges irlandeses que
assumiram a cristianização da maior parte dos povos germânicos.
Os Lusitanos, Vândalos,
Visigodos e tantos outros, acabaram por se tornar cristãos, mas independentes da
hierarquia de Roma. Com a ajuda dos Lusitanos, Giserico construiu uma grande
armada, acabando por tomar as Baleares, Córsega, Sardenha, Sicília e a Ilha de
Malta. Até chegou a enviar um navio às Canárias, as Ilhas Afortunadas de então,
que possuíam uma população Guanche, da qual ninguém sabe ao certo a origem.
Roma enviou a sua esquadra, a
maior, sob o ponto de vista do numero de embarcações, de que se tem
conhecimento. Foram mais de mil velas que apareceram em frente a Tunis, e quase
todas foram metidas a pique. A esquadra vândala era menor, mas melhor. Em
seguida, Giserico tomou a Líbia, aparecendo então em frente a costa italiana,
saqueando a cidade de Roma no ano de 455. Os romanos tremeram, temendo que o
Vândalo fizesse de Roma a sua nova capital. Mas narram as lendas que ele
considerou Roma tão corrupta e degenerada que não queria que nem um cão seu
vivesse nesta cidade. Poupou as igrejas e voltou a Cartago, a verdadeira capital
do seu vasto Império, onde reinou durante cinquenta anos, acabando por morrer
pacificamente de avançada idade, mas não sem antes afundar também a esquadra
bizantina. O seu Império foi dos maiores e mais rapidamente erigidos. Grande
parta do Mediterrâneo lhe pertencia. Por esta razão, ainda hoje se podem
encontrar mapas antigos que dão o nome de «MAR DOS VANDALOS» ao Mediterrâneo, ao
qual os romanos chamavam «MARE NOSTRUM». O que dividia tanto o cristianismo
bizantino do ariano ao ponto de se guerrearem até a morte?... Um Rei visigodo da
Lusitânia, chegou a matar o seu próprio filho por esta razão. A razão oficial,
que refere as diferenças e interpretações da Divindade de Cristo, não deve ter
sido a mais importante. Os cristãos arianos não possuíam hierarquia
eclesiástica. Tinham fé profunda em Deus e aproximavam-se Dele através da
oração. Esta tanto podia ser feira em casa, como a cavalo, como numa floresta,
numa embarcação ou na praia. Consideravam Deus omnipotente e omnipresente e
pediam a Sua ajuda através da oração carregada de Fé. Obtinham assim ajuda e
convicção em qualquer parte ou circunstância.
Ora, quem entra directamente
em contacto com Deus pode não ver a necessidade da existência de uma hierarquia
intermediária entre Deus e os homens. Surgiu assim o perigo das hierarquias
então existentes perderam o reconhecimento da sua
importância, jurisdição e
aceitação. Organizações gigantes lutaram pela sua sobrevivência. Roma e Bizâncio
combinaram os seus esforços para acabar com este perigo de vez. Era uma luta de
morte sem tréguas, que nada tinha a ver com a mensagem de Cristo. Um século mais
tarde, um general bizantino acabou por prender o último Rei Vândalo e seu povo.
Aplicou-se então uma das sentenças mais barbaras imagináveis. Todos os homens
validos foram sentenciados ao serviço militar vitalício na cavalaria bizantina,
tendo sido enviados para as campanhas da Rússia. Os restantes, eram degolados.
Todas as mulheres vândalas foram obrigadas a casarem com negros do Império de
Bizâncio. nomeadamente com Nubios e Sudaneses. Ainda hoje se podem encontrar no
sul do Egipto e no Sudão pessoas loiras e com olhos azuis, descendentes destes
casamentos forçados, através dos quais se conseguiu aniquilar um povo numa só
geração.
O cristianismo ariano
manteve-se no entanto, de forma escondida (obviamente sem este nome), na antiga
Lusitânia. Quando D. Afonso Henriques fez a sua reconquista cristã encontrou uma
população moçárabe, o que significa uma convivência harmoniosa entre muçulmanos,
hebreus e cristãos. Muitos devem estranhar quando descobrem que uma das
primeiras acções deste primeiro Rei de Portugal, após a tomada de Lisboa, foi o
degolamento do Bispo Cristão de Lisboa, Gilbert de Hastings. Podia-se pensar que
D. Afonso Henriques receberia o Bispo Cristão de Lisboa de braços abertos e que
este se sentisse libertado, mas não foi o caso. O relatório de um dos cruzados
nórdicos que participaram na tomada de Lisboa, até nos fala do «milagre de
Lisboa». Muitos dos habitantes corriam das suas casas e antes de serem abatidos,
ajoelhavam-se e faziam o SINAL DA CRUZ. Considerava-se isso urna
conversão de mouros nos últimos instantes, mas na realidade eram cristãos que se
estavam a abater. Portugal necessitava o reconhecimento como nova nação
soberana, independente de Leão, e o Papa permitia a existência de hebreus,
porque podiam ser converti- dos e também a de maometanos, que se podiam
igualmente
baptizar. O que não se
permitia, de modo nenhum, era a existência de cristãos convictos que não se
submetiam à hierarquia de Roma. A escolha pode ter sido difícil, mas D. Afonso
Henriques teve de optar. Não cumpriu o pagamento exigido pelo papa, o que ainda
causou fricções com os seus herdeiros e os representantes da Santa Sé, mas
acabou com o que restava do cristianismo ariano em Lisboa.
Terá mesmo acabado?... Não
terão sido precisamente os templários, que embora sendo uma força de elite
directamente sob as ordens papais, mais do que uma vez demonstraram que nada
tinham que ver, com a hierarquia da Santa Sé ?... Não ficou demonstrado nos
processos feitos aos templários que estes seguiam uma interpretação do
cristianismo diferente da que oficialmente estava então em vigor? Cada resposta
que se encontra parece levantar diversas novas perguntas. O que tinha tudo isto
a ver com o Infante Dom Henrique e a sua demanda pelo Reino do Preste João? Como
e que poderia interessar a Portugal ligar-se de forma tão clara a uma potência
já então do Terceiro Mundo, que pouco passava de um estado tribal, com remotas
origens religiosas paralelas? Que contactos é que existiam entre a Corte de
Lisboa e a de Lalibela?
Já no reinado de D. Afonso V
tinham surgido emissários do Negus da Abissínia. No único livro atribuído a este
monarca iniciado português, escrito sobre uma temática alquimica, este menciona
que recebeu os seus conhecimentos dos seus dois professores de Alexandria. Esta
cidade copta pode muito possivelmente ter tido uma ligação de grande importância
para a evolução da história de Portugal, sem que nós nunca nos tenha-mos dado
conta disso.
Existe um túmulo
romano em São Miguel de Odrinhas, perto de Sintra, com uma inscrição que nos
indica que a personagem em questão era GUARDA DO TEMPLO DE ALEXANDRIA.
Esta cidade criada por
Alexandre, o Grande, no delta do Nilo, onde colocou uma colónia de elite grega
estabelecendo o REINO PTOLOMAICO, entrou na História universal sobretudo pela
importância da sua famosa biblioteca. Alexandre da Macedónia, aluno de
Aristóteles, tinha expandido o MUNDO GREGO em direcção ao oriente, chegando até
ao Ganges, e em direcção ao sul, controlando o Nilo. Uma das suas invulgares
orientações políticas foi a de juntar todos os grandes cérebros dos países que
ocupava, na sua biblioteca de ALEXANDRIA, para que estudassem acerca das nossas
origens e transmitissem as conclusões a alunos de elite. Alexandre o Grande,
também deu ordens para que os seus generais casassem com as filhas dos soberanos
dos países conquistados, mantendo assim uma ligação familiar com os seus
habitantes. Este seu gesto foi sempre considerado estranho. No entanto,
repetiu-se séculos mais tarde nas directrizes de AFONSO ALBUQUERQUE, que
oferecia casa de graça, uma ajuda financeira, isenção de impostos e outras
regalias, aos seus capitães e navegadores que casassem com as filhas dos
soberanos indígenas. O conquistador de GOA podia ter tomado essa iniciativa em
cumprimento de ordens recebidas do seu Rei D. Manuel I, mas também é possível
que ele mesmo, como homem iniciado em profundos conhecimentos do passado,
tomasse esta decisão. Do Rei D. José ainda existe o alvará de 4 de Abril de
1755, um dos mais inteligentes que jamais se fizeram no sentido de boa política
para um relacionamento harmonioso entre populações de origens muito diferentes.
Diz, nomeadamente: «EU EL REY faço saber aos que este meu Alvará de Ley virem,
que considerando o quanto convém, que os meus Reais domínios da América se
povoem, e que para este fim pode concorrer muito a comunicação com os Índios,
por meio de casamentos: Sou servido declarar, que os meus Vassalos deste Reino,
e da América, que casarem com as Índias dela, não ficam com infâmia alguma,
antes se farão dignos da minha Real atenção, e que nas terras, em que se
estabeleceram, serão preferidos para aqueles lugares, e ocupações, que couberem
na graduação das suas pessoas, e que seus filhos, e descendentes serão hábeis, e
capazes de qualquer emprego, honra, ou Dignidade, que necessitem de dispensa
alguma, em razão destas alianças que Desde Alexandre o Grande, não houveram
outros monarcas europeus, a não ser os portugueses, que encorajassem o casamento
inter-racial. Coube a D. José de Portugal a honra de mostrar a todos os
restantes monarcas europeus que, para a sua política, não existiam «tabus» neste
campo.
As mas línguas europeias do
século XVI, já tinham afirmado que Deus criara o branco, o castanho, o amarelo,
o preto e o vermelho e que os Portugueses tinham criado o mestiço. Em
Portugal chamava-se a isso a política da «cama». Os resultados foram altamente
benéficos para as boas ligações entre os portugueses e muitos dos outros povos
por eles encontrados. Registamos a curiosa coincidência entre o procedimento
verificado na política expansionista de Alexandre Magno, e a dos Reis de
Portugal muitos séculos depois. Obviamente, traia-se de uma simples
coincidência, porque nada nos indica que possa ter havido uma ligação entre as
formas de pensar de monarcas afastados uns dos outros por quase dois milénios.
Ou será que houve?
A ORDEM DE CRISTO, HERDEIRA
DA TRADIÇÃO ESOTÉRICA
Os Reis de Portugal
devem ter sabido da grande biblioteca de Alexandria e do fogo que a consumiu (48
a.C. ), bem como dos esforços de alguns dos seus bibliotecários, que tentaram
salvar pelo menos alguns dos rolos mais preciosos (constava ter havido cerca de
setecentos mil ao todo), enviando-os divididos em duas caravanas, seguindo uma
pela borda do Mediterrâneo e entrando a outra nos desertos do sul. A Ordem de
Cristo também possuía copias do famoso CLAUDIUS PTOLEMAEUS, o cartógrafo de
Alexandria do segundo século da era cristã. Os seus mapas foram copiados durante
um milénio e meio, mostrando o mundo conhecido na época romana, desde as
Canárias até à célebre ilha TAPROBANA, ao sul da Índia, da qual Luís de Camões
nos fala no primeiro verso dos Lusíadas. Ir alem da Taprobana, era uma espécie
de viagem para além do fim do mundo. Quem a conseguiu realizar foram os
portugueses.
Os interesses do
Infante D. Henrique e dos outros membros da Ordem de Cristo, em conhecimentos
cartográficos e relatos de viagens, chegaram a ser compartilhados pelo seu
irmão, D. Pedro. Este Infante de Portugal, fez uma viagem pelas cortes da
Europa, onde em dada altura, num jantar de boa disposição com os Doges de
Veneza, mencionou o interesse nesta matéria. Recebeu então uma arca com mapas e
um diário de uns irmãos venezianos, que um século antes tinham voltado das suas
grandes viagens à Ásia, relatando historias inacreditáveis. Chegaram assim a
Portugal, o Diário de Marco Polo e muitas das suas anotações e dos seus mapas.
Este diário publicou-se anos depois, na mesma altura, na Alemanha e em Portugal,
O que é compreensível visto as principais tipografias portuguesas de então se
encontrarem ainda em mãos alemãs – que as tinham introduzido em Portugal –, e
que mantinham ligações profundas com as suas cidades de origem, possibilitando
desta forma o acesso ao precioso manuscrito, ao qual em Veneza ninguém ligou.
Este grave erro teve como consequência drástica (para os venezianos) a abertura
de Lisboa como novo PORTO DA EUROPA para o Oriente, e o eventual esquecimento da
antiga porta que tinha sido Veneza. Mas os conhecimentos científicos do
Infante D. Henrique para se lançar à grande obra que lhe coube, não
vinham só de Marco Polo ou de Claudius Ptolemaeus, mas também da própria Ordem
de Cristo, como herdeira da Ordem do Templo.
Na mais antiga descrição dos
feitos dos Templários em Jerusalém (uma carta escrita poucos anos após a tomada
da cidade) menciona-se que os Templários residiam no local do antigo TEMPLO DE
SALOMAO. Também se diz que tinham estábulos subterrâneos cavados na rocha, onde
cabiam cinco mil cavalos e onde guardavam os seus 2200. Estas referencias
levantam perguntas e teorias de interpretação.
Para já, é curioso
verificar-se que esta Ordem Religiosa Militar profundamente cristã, optasse por
utilizar um nome ligado ao mais sábio dos Reis hebraicos e ao seu Templo, quando
no século XII se culpavam os judeus de terem crucificado Jesus Cristo. Mais
estranho se torna verificar a sistemática utilização por estes cavaleiros
cristãos do nome de um templo que comprovadamente tinha sido destruído pelo
exercito romano, no ano 70 da era cristã.
Também dá vontade de
pensar por que razão alguém se lembraria de construir estábulos subterrâneos
cavados na rocha, coisa que nunca se fez, simplesmente porque não faz sentido.
Além disso, não há lógica no facto de se construir lugares para mais do dobro do
numero de cavalos que se possui. Surge então a teoria de que talvez os
Templários tivessem encontrado salas já existentes. Salas subterrâneas que não
foram destruídas pelo grande fogo do ano 70. O fogo arde para cima. Se o Templo
de Salomão tinha salas subterrâneas, o que e bem provável, estas podem ter-se
salvo, bem como parte do seu conteúdo.
O Rei Salomão era chamado o
Sábio, porque tinha muitos conhecimentos. Ter sabedoria, ou acesso a ela, podia
incluir a hipótese de que tivesse uma biblioteca subterrânea por baixo do seu
Templo. Se os Templários tivessem encontrado estas salas e as utilizassem para
os seus cavalos, já se tornaria mais compreensível a observação do viajante na
sua carta. Mas tudo isso, por enquanto, é apenas uma possibilidade teórica.
Há no entanto um dado
comprovativo nesta direcção. Em 1296, os Templários transportaram a sua
biblioteca de Jerusalém para a ilha de Chipre, a fim de a salvar do perigo da
queda da Cidade Santa, que de facto se veio a verificar. Fala-se assim, já no
século XIII, de uma significativa biblioteca templária existente em Jerusalém...
Como é que a obtiveram?... E mais ainda, numa região onde nem sequer havia
monges que copiassem ou escrevessem documentos deste género que se pudessem
juntar para formar uma biblioteca, visto estarem todos mais empenhados em
lutarem pela sobrevivência diária nas campanhas contra os muçulmanos, e na busca
de paz espiritual através do retiro ou da satisfação de conseguir ajudar os
peregrinos! A hipótese de os Templários terem encontrado salas subterrâneas com
velhos rolos e de alguns deles se dedicarem ao estudo dos mesmos, aumenta mais
ainda, quando se descobre a continuação da preocupação destes monges-guerreiros
na sua ilha de Chipre, sobre o destino que haviam de dar a esta biblioteca.
Decidiram então construir uma TORRE própria para este efeito. A escolha para a
sua localização foi Paris, na altura o principal centro templário em solo
europeu. Levou anos a construção desta torre. Tinha dimensões de verdadeira
fortaleza, mas possuía também amplas salas de leitura. Não se sabe ao certo se a
biblioteca alguma vez chegou a entrar nesta torre. Sabe-se que já não estava em
Chipre, quando esta ilha foi tomada pelos muçulmanos. Sabe-se também que a torre
foi confiscada por Filipe o Belo em 1307, mas que nada nela se encontrou.
Olhando para o tempo então necessário para a sua construção é bem possível que
ainda nem sequer estivesse pronta. Dizia-se que os Templários possuíam grandes
riquezas e por isso se procurou ouro ou prata. Nunca ninguém as achou. Sabe-se
hoje que os Templários de facto possuíam muita prata e eram os principais
responsáveis do grande investimento que então se verificou tanto na Europa como
em toda a área do Mediterrâneo, lançando avolumadas quantias de moedas daquele
metal no mercado financeiro internacional. A origem desta prata, que desde a
época romana até ao ano mil era quase tão escassa como o ouro, até hoje não foi
esclarecida.
A verdadeira fortuna dos
Templários, no entanto, eram os seus conhecimentos, e estes, muito provavelmente
vinham da sua biblioteca, a qual não se sabe de onde veio nem para onde foi. Um
facto indiscutível, foi que a torce especialmente construída pelos Templários
para a defesa desta biblioteca, acabou mais tarde por escrever outra pagina
significativa e pouco esperada na Historia. Trata-se da Torre da Bastilha,
transformada pelo governo francês desde longa data em prisão, na qual, em 1789,
se encontrava uma escassa dúzia de bêbados, ladrões e maus pagadores e que
acabou por ser o símbolo de uma revolução organizada pela maçonaria, que
derrubou a ordem até então estabelecida. Conquistou-se a Bastilha, desmontou-se
a mesma a procura do ouro dos Templários, que se esperava encontrar nos seus
muros, decapitaram-se dezenas de milhar de pessoas numa orgia de sangue. Quando
rolou a cabeça de Luís XVI, um grito surgiu do povo «Vingança para a morte de
Jacques de Molay!». Este tinha sido o último grão-mestre da Ordem Templária, que
acabou por ser queimado vivo por ordem de Filipe o Belo, não longe da torre,
numa ilha do rio Sena em Paris.
Os Templários
acreditavam no renascimento, porque mantiveram o conhecimento da divisão de
corpo, alma e espirito. Por isso, viam na morte apenas a destruição do seu corpo
físico, facto que pode ser aborrecido e até inconveniente, mas que nunca
significaria o seu fim. Consta que Jacques de Molay tenha dito, na fogueira, que
chamaria o Papa Clemente V e o Rei Filipe o Belo, para o acompanharem na morte
em pouco tempo. De facto, tanto um como o outro morreram logo a seguir. Mas não
consta que o ultimo grão-mestre dos Templários tenha lançado do alguma maldição
futura, que possa ter alguma relação com o triste destino da família real
francesa do século XVIII.
Se olharmos para o mapa do
Mediterrâneo do sec. XIV, e se tentarmos colocar-nos no lugar de um chefe
templário, na ilha de Chipre, que tenha que decidir para onde há-de levar esta
preciosa biblioteca, veremos apenas uma saída possível: PORTUGAL... A Palestina
e toda a costa norte-africana encontravam-se em mãos muçulmanas, como aliás
também a costa mediterrânica ibérica. A França estava em mãos de Filipe o
Belo, que acabava de sentenciar os Templários à morte. A Itália, a Grécia e o
Império Bizantino também não se encontravam em mãos favoráveis aos Templários. O
único porto amigável mais próximo era a costa portuguesa, com o seu Rei D.
Dinis, que tinha acabado de arrancar a Ordem Militar de Aviz à de Calatrava, a
de Santiago, situada em Palmela, à sua congénere castelhana, e que então já
demonstrara que não se submeteria às formas da ordem de extinção que o Papa
tinha imposto à Ordem do Templo, em todos os países da cristandade.
Temos de admitir que existe
uma conclusão lógica que nos leva a crer que tenha sido possível a biblioteca
templária de Jerusalém ter vindo, via Chipre, para Portugal, mas não podemos
afirmar isso com certeza, visto não haver mais provas. Em Portugal, seria
natural que a biblioteca fosse levada para Tomar, passando da Ordem do Templo
para a de Cristo e assim para as mãos do Infante D. Henrique.
O celebre Convento de Cristo
de Tomar tem sido, ao longo dos séculos muitas vezes visitado por historiadores
e estudiosos estrangeiros que se dedicaram a historia dos Templários e que
sozinhos acabaram por chegar a mesma conclusão, perguntando-se, sempre em vão,
por esta misteriosa biblioteca.
A Rainha Isabel I da
Inglaterra chegou a dar carta branca ao seu grande navegador (e pirata) Sir
Francis Drake, para este tomar Sagres na busca dos famosos portulanos
portugueses. Estes documentos tinham uma enorme importância. Tanto Drake como
Raleigh podiam guardar para eles parte substancial dos saques que efectuavam.
Porem, os portulanos que caíssem nas suas mãos tinham de ser entregues ao
Almirantado. Mapas e relatos de viagens ofereciam conhecimentos, e estes podiam
ser bem mais preciosos de que baús carregados de cruzados de prata ou pedras
preciosas.
Se os grandes conhecimentos do
Infante D. Henrique não vinham somente dos mapas e diários de Marco Polo e dos
mapas ptolomaicos de Alexandria, é bem possível que viessem da biblioteca da
Ordem de Cristo, o que permite em parte a hipótese de terem vindo, através dos
Templários, das salas subterrâneas do Templo do Rei Salomão. Mencionou-se já que
a mais importante de todas as bibliotecas conhecidas se devia a Alexandre
o Grande, que a mandou organizar numa espécie de Universidade própria, na sua
cidade de Alexandria. Sabemos que esta ardeu e que somente saíram parte dos
rolos mais preciosos. Uns foram numa caravana, seguindo a borda do Mediterrâneo.
Estando em Alexandria, sabe-se perfeitamente que não fazia sentido seguir em
direcção ao ocidente, porque ai existia apenas um enorme deserto líbio, que
parecia sem fim. Mas em direcção ao oriente passava-se pelo Sinai e entrava-se
na Palestina, e ai havia gente especializada e culta, que sabia guardar
documentos preciosos. Falamos precisamente dos sacerdotes do Templo de Salomão.
Temos
assim uma nova hipótese que tem de ser encarada como possível, mas não
comprovada. Possui no entanto uma certa lógica que se tenham entregue os
salvados de Alexandria a biblioteca de Jerusalém. Isto permite a passagem de
parte dos mesmos para as mãos templárias, seguindo depois o que ainda existisse
para a Ordem de Cristo.
A outra caravana, que seguiu
para o sul deve ter-se perdido no deserto. Nada mais se soube dela. Mas seguindo
de Alexandria para o sul, entra-se nas zonas coptas. Aí existiam muitos retiros
religiosos, entre os quais se sabia haver gente de grande nível cultural, bem
capaz de guardar e estudar velhos rolos de manuscritos em papiro, pergaminho ou
ate tábuas. Temos assim um certo grau de probabilidade de se terem também salvo
parte dos manuscritos desta segunda caravana e que os mesmos passassem depois
para mãos cristãs em terras do Preste João.
O que era que dizia o Infante
D. Henrique aos seus navegadores?: «Trazei-me noticias do Reino do Preste
João!»... Noticias de que? Da importância deste reino? Da sua vontade de formar
uma aliança com Portugal? Ou da existência de alguém neste reino que soubesse
algo sobre documentos ou outras formas de sabedoria recuadas?
Estamos perante uma teoria,
mas que tem muita força. Levantamos aqui a hipótese de os Descobrimentos
portugueses terem sido influenciados pela vontade do Infante D. Henrique, de ter
acesso a documentos que lhe faltavam. Os conhecimentos ancestrais tinham chegado
parcialmente as suas mãos. Faltavam dados importantes. Sabia, ou calculava, onde
poderiam eventualmente ser reencontrados. Mandou os seus homens na busca dos
mesmos.
Este infante não foi o
único membro destacado da Ordem de Cristo que terá pensado deste modo. Outros
cavaleiros iniciados devem ter tido acesso aos mesmos conhecimentos. Em 1487
partiram de Portugal AFONSO PAIVA e PERO DA COVILHÃ, mandados por D.
João II ao Oriente com duas tarefas prioritárias: trazer conhecimentos concretos
sobre a rota das especiarias e sobre o REINO DO PRESTE JOÃO. Consta que Afonso
Paiva tenha adoecido em Alexandria e morrido no Cairo, sem ter conseguido chegar
a Etiópia, mas também que os dois viajantes se tenham separado no porto de Adem,
bem em frente ao Reino do Négus. Estes homens tinham sido escolhidos pelos seus
conhecimentos da língua árabe e especialmente preparados para a tarefa. Pero da
Covilhã já tinha cumprido diversos serviços secretos no estrangeiro, tanto em
serviço de D. AFONSO V como de D. JOAO II. Agora, de novo escolhido para difícil
tarefa, acabou por ser o primeiro a chegar a Índia (1489), nove anos antes de
Vasco da Gama. Visitou Calecut, Goa e Ormuz, chegou a ver a Kaaba em Meca,
disfarçado de maometano e acabou por se radicar na Etiópia, recebendo uma
província para governar a seu gosto. Muito bem tratado e respeitado pelo Negus,
foi-lhe negado porém sair deste Reino, formando então família e mandando
noticias ao Rei de Portugal por meio de cartas enviadas por comerciantes
hebraicos. Acabou por morrer no Reino do Preste João deixando descendência.
O Rei D. MANUEL I também se
envolveu de tal modo com o Reino da Abissínia que bem poderia ter mudado a
historia mundial.
Quando Gutenberg inventou a
fundição de caracteres e a sua composição tipográfica, criando assim a arte de
imprimir em meados do século xv, começou uma corrida a estas novas oficinas e
seus mestres. Todos os monarcas queriam ao menos uma oficina impressora. Até
então, os livros eram pacientemente copiados pelas mãos hábeis de monges. A arte
de imprimir permitia agora uma rápida divulgação de conhecimentos, antes não
possível. Estes tinham de ser controlados. Criou-se uma censura previa, sem a
qual nada podia ser impresso.
O controlo desta censura sobre
todas as casas impressoras existentes, estava nas mãos da lgreja.
Surge então o
inesperado envio de uma tipografia completa com maquinaria e seus mestres, por
parte do Rei D. Manuel I de Portugal, ao Negus da Abissínia. Este era copta. Os
coptas ainda mantinham conhecimentos do inicio do cristianismo, assim como da
reencarnação, nomeadamente através do Evangelho de São Tomé, que não deixa
duvidas a este respeito. Portugal era então uma potência militar impar, com
grandes quantidades do mais sofisticado armamento, e capacidade de envio das
suas forcas militares a qualquer parte do mundo. Portugal estava a enriquecer
com o negocio das especiarias. Esta gigante força económica e militar, da qual
se suspeitava há longa data que ainda guardava conhecimentos e directrizes
templárias, ou seja, contrarias ao que Roma então impunha, estava a aliar-se a
única igreja cristã não controlada pela Santa Sé. Portugal parecia querer
assumir no Oriente um lugar de maior relevo do que a IGREJA BIZANTINA, expulsa
de Constantinopla ainda há não muito tempo.
O momento era de aflição. Na
mesma altura vinham noticias de que um abade alemão, a quem se tinham
encomendado estudos científicos sobre a Bíblia, não só a tinha traduzido para a
língua alemã, o que a tornava compreensível para milhões de cristãos da Europa
Central, mas que também tinha criticado diversos aspectos da venda das bulas de
perdão, tão necessárias para o financiamento das grandes construções em Roma. As
diferenças entre a Santa Sé e este tal Martinho Lutero, culminaram na colocação
das suas teses na porta de uma igreja em Wittenburgo, dividindo-se os
leitores em dois grupos: os que estavam a favor da tese – «PRO-TES-TANTES» – e
os que se mantinham contra. A principal questão consistia em saber se o cristão
devia seguir a mensagem de Cristo conforme vinha revelada na Bíblia, ou se devia
seguir Cristo através da hierarquia eclesiástica de então. O resultado disso foi
a Reforma e a contra-reforma. Assim, no inicio do século XVI tudo parecia negro
para a Santa Sé.
Na mesma altura, surge mais
outra noticia. Os portugueses tinham descoberto os Cristãos de São Tomé na Costa
do Malabar. Trata-se de uma seita cristã que se manteve na Índia desde os
primeiros séculos da nossa era e que ainda praticava um culto ligado a um dos
discípulos de Cristo: precisamente São Tomé.
Até tinham um importante local
religioso, onde veneravam os restos mortais deste grande apóstolo. Por cima do
seu sarcófago encontrava-se uma grande laje esculpida com uma cruz,
perfeitamente igual a cruz utilizada pelos Reis portugueses da dinastia de Aviz.
O Rei de Portugal mandou trazer a pedra para Lisboa, para se estudar a mesma na
Sala das Pedras no Paço. Ainda hoje se deve encontrar, por baixo do Terreiro do
Paço.
A ligação entre os portugueses
e o Negus da Abissínia chegou ao ponto do Rei de Portugal planear a reconquista
de Jerusalém, propondo ao Papa esta nova cruzada. Este rejeitou-a,
prontificando-se o Rei D. Manuel I a cumpri-la, sem a ajuda papal ou de qualquer
outra nação europeia. O Negus tinha-se oferecido para ajudar com três mil
cavalos. Afonso de Albuquerque prontificou-se a enviar outros tantos homens. O
perigo de que Portugal e o Reino Copta saíssem como grandes vitoriosos desta
questão, tornou-se evidente. Mas em pouco tempo morre Afonso de Albuquerque, que
queria desviar o leito do Nilo e a quem chamavam LEÃO DOS MARES; morre também o
Negus da Abissínia, a quem chamavam LEÃO DA MONTANHA e que usava como símbolo um
leão de pé, segurando uma cruz.
A MENSAGEM DOS
PERGAMINHOS COPTAS
D. Manuel I enviou
urna importante embaixada para Roma, mas também enviou outra á corte do Negus da
Abissínia. No reinado de D. JOAO III D. CRISTÓVÃO DA GAMA, um filho de D. Vasco
da Gama, foi, com perto de quatrocentos portugueses, acudir ao Reino do Preste
João que estava em grande perigo de passar de vez para a moirama. Lutaram com
bravura, conseguindo restabelecer este Reino Cristão, mas perante a falta de
forças próprias etíopes, acabaram por não aguentar. D. Cristóvão da Gama e
muitos dos seus homens perderam a vida a lutar pela salvação deste reino tão
lendário como místico. Alguns sobreviveram, regressaram à Índia. Outros
embarcaram de volta a para Portugal, demorando-se alguns ainda nos Açores.
Talvez eles tivessem trazido
os rolos de pergaminhos coptas que apareceram nos Açores. Em território
português, de resto, apenas se conhece um manuscrito copia. Trata-se de uma
carta enviada pelo Negus da Abissínia ao Rei D. João III. Os rolos coptas
provenientes dos Açores devem datar da mesma época e também estão escritos em
língua gée, de difícil leitura.
Um, mostra o Arcanjo SÃO
MIGUEL. Este cavaleiro celeste sempre foi de grande importância para Portugal e
toda a sua expansão. O grande arqueólogo português Leite de Vasconcelos
descobriu, já no século passado, que o culto do Deus Lu da antiga LU-SITÂNIA que
os romanos chamavam ENDOVELICUS, e era muitas vezes representado simbolicamente
pela figura do javali, acabou por ser transformando, durante a cristianização,
em culto ao Arcanjo São Miguel. Este, foi patrono de Portugal até ao ano de
1648, quando D. João IV, em desconhecimento das raízes iniciáticas portuguesas,
o fez substituir por Nossa Senhora da Conceição, para conseguir o reconhecimento
papal da dinastia de Bragança como Casa Real Portuguesa.
A porca de Murça e o
pelourinho de Bragança são berrões dedicados ao culto de Endovelicus. Na antiga
Lusitânia utilizaram-se pequenas chapas de bronze, em feitio de javalis, para
enviar mensagens escritas em letra ibérica, parecida com a fenícia, mas também
com a escrita hebraica arcaica, já que ambas tiveram a mesma raiz.
A nossa península chama-se
Ibérica, por causa da invasão de um povo chamado os ÍBEROS ou EBÉROS, que vieram
do norte de África ainda no 2º milénio antes de Cristo. Pouco se sabe acerca da
sua origem, mas presume-se que foram eles que trouxeram a escrita e que tinham
um grau de cultura elevada.
Claudius Ptolemaeus, o
cartografo de Alexandria do 2º século, deixou-nos mapas precioso., dos povos que
ainda então se conheciam. Entre diversos outros povos subjugados a escravatura
pelos faraós egípcios, mostra-nos um que vivia nas costas do Cáucaso, num pais
chamado IBERIA. Sabemos que na revolução que se deu na época de Moisés, no
antigo Egipto, foram libertados muitos povos diferentes então escravizados,
dirigindo-se alguns com Moisés em direcção ao Sinai e outros em direcção ao
Ocidente, para dentro do deserto.
Temos aqui uma hipótese de
interpretação das nossas origens mais remotas, porque e bem possível que os
Iberos que entraram na nossa Península tenham originalmente vindo da lberia no
Cáucaso.
O culto do Deus Endovelicus
porém, tem mais características celtas, com mistura de cultos ancestrais das
culturas dolménicas, das quais descendemos, sem sequer sabermos os seus nomes.
Na cristianização, deu-se o nome de São Miguel às terras dedicadas ao culto de
Endovelicus e construíram-se igrejas e capelas dedicadas a este Arcanjo
Justiceiro, onde outrora se colocavam aras dedicadas ao Deus antigo simbolizado
pelo javali.
Na expansão marítima
portuguesa encontramos altares dedicados a São Miguel pela Ordem de Cristo, em
todas as partes do globo. Na porta de um sacrário da Ordem de Cristo, podemos
observar o símbolo da Cruz na parte exterior e a representação do Arcanjo São
Miguel no interior.
Normalmente, mostra-se sempre
este cavaleiro celeste em luta contra o mal, que costuma estar representado pelo
diabo sob os seus pés. Mas nos rolos coptas dos Açores, estamos perante um São
Miguel de espada desembainhada que não olha para baixo, mas bem para dentro dos
nossos olhos observadores. Podemos interpretar esta posição, como indicação de
que o maI não se encontra por baixo dos seus pés mas dentro de nós, o que nos
leva a pensar. A posição da espada também pode indicar algo. Quando hoje alguém
aponta uma arma contra outra pessoa, já se torna punível. O mesmo acontecia
outrora, quando se desembainhava uma espada. Existem até espadas que usam
inscrições indicadoras de uma Ética própria nesta matéria, como por exemplo:
«NÃO ME SAQUES SEM RAZÃO -- NEM ME EMBAINHES SEM HONRA». Sabendo a importância
da representação de uma espada desembainhada pelo Arcanjo Justiceiro, temos de a
interpretar como indicação de que o juízo está a ser feito e a justiça vai ser
aplicada. Sangue vai correr. O Bem vai vencer.
Noutro dos Rolos
coptas, temos uma tripla simbologia. Começando por baixo, vermos a CRUZ DE SANTO
ANDRÉ. Como este Santo sofreu o seu martírio crucificado nesta posição, dá-se o
seu nome a esta cruz. Encontramos a mesma nas costas de um pendente templário.
Santo André foi um dos apóstolos mais íntimos de Jesus, aos quais foi pregado em
Jerusalém o grande discurso escatológico. André significa FORTISSIMO,
Outro dos símbolos
apresentados e o da árvore da vida, que encontramos em quase todas as antigas
religiões.
A terceira e talvez a mais
importante representação simbológica neste rolo é a da CRUZ. Não se trata de uma
cruz qualquer, mas sim da CRUZ CELTA, na sua versão copta COM A FLOR AO CENTRO.
A sobreposição da ROSA À CRUZ em todas as suas possíveis variantes, foi sempre
uma indicação de iniciação. Quem junta a rosa à cruz, sabe e transmite que sabe.
Como se vê na cruz de Lutero.
O símbolo da Cruz é tão velho
como o homem. Numa escultura de bronze oriunda da antiga Lusitânia, vemos um
ex-voto de forma humana, de braços abertos a olhar para cima. Um Lusitano em
comunicação com o Divino. Data de cerca de mil anos antes de Cristo.
No antigo Egipto conheciam-se
duas formas de cruz. Uma, chamada o TAU. Este tinha o feitio da última letra do
alfabeto hebraico e encontrou o seu uso na Lusitânia, em forma de báculo ou
bordão, utilizado pelos peregrinos. No túmulo da Rainha Santa Isabel,
introdutora do CULTO DO ESPIRITO SANTO, encontrou-se um bordão desta forma, que
ainda hoje se guarda com o merecido respeito.
A outra cruz egípcia era o
ANKH, uma forma de cruz ansada com uma espécie de argola em cima, fazendo
lembrar o corpo humano. Os egípcios chamavam-lhe a CHAVE DA VIDA. significando
morte e nascimento ao mesmo tempo. Muitas vezes. surge nas representações dos
hieróglifos, ao lado das figuras faraónicas ou até mesmo nas suas mãos,
simbolizando o poder que lhes era dado.
O mundo cristão só se serviu
do símbolo da Cruz a partir do século IV. Antes disso, representavam a sua fé
pelo símbolo dos peixes (o que era compreensível, não tanto pela palavra grega
correspondente que fazia lembrar a palavra Cristo, mas porque estavam a entrar
na era de PIXIS – dos Peixes – e tinham conhecimento disso). Também se serviam
do símbolo da pomba, que ainda hoje se mantém como representação do Paracleto,
sobretudo no Culto do Espirito Santo nos
Açores.
A mais antiga representação do
nome de Cristo foi o símbolo do «X» ou «P X», as primeiras letras do nome de
Cristo em grego. Vemos este símbolo aplicado a um pequeno altar do Deus
Endovelicus. Também o encontramos nuns tijolos Visigodos, junto com o símbolo da
pomba, demonstrando a presença do Espirito Santo.
A utilização da cruz como
símbolo cristão, surgiu já na época da sua oficialização pelo poder de Roma.
Até ao fim do 1º milénio, foi
usada para lembrar aos crentes a sua própria morte.
Mesmo as representações
figurativas nas cruzes do 1º milénio, só mostravam os quatro Evangelistas, a
Virgem, ou Jesus como pregador. As primeiras cruzes do 2º milénio já nos mostram
Cristo na posição de crucificado, mas ainda como homem vivo que nos prega da
cruz. Só então se usou o nome de crucifixo. A ideia de o mostrar em posição de
sofrimento, agonia ou morte, surgiu mais tarde.
Nas igrejas do principio do
2º milénio, já se tinha extinto a divulgação da existência tripartida. O CORPO,
a ALMA e o ESPIRITO passaram a ser dois só. O corpo era controlado pela
hierarquia estatal e a alma pela eclesiástica, desde o nascimento até á morte
(como aliás, ainda hoje sucede). A existência do espirito não teve mais
divulgação, por decisão de um concilio do século x, tal como o reconhecimento da
reencarnação já tinha sido proibido, num concilio do século VII.
Na Idade Média pregava-se o
MEDO DA MORTE e do purgatório. Consciencializaram-se as massas de que se tinham
de portar conforme a conveniência das hierarquias estatais e eclesiásticas,
estabelecidas para se poder viver em paz no corpo na vida terrestre e em paz na
alma na vida celeste. Qualquer divulgação da hipótese de reencarnação era
interdita, porque esta diminuía o medo da morte. A CRUZ CELTA aparece nesta
coluna egípcia, sobreposta e ao lado de um anel de cruzes ankh, as celebres
chaves da vida das quais os faraós se consideravam possuidores.
Quem colocou esta cruz nesta
coluna foram os coptas que utilizaram este antigo local sagrado para o seu novo
culto cristão. Neste culto cristão copta, também se utilizou um estranho
utensílio, simbolizando a passagem da vida para a morte e vice-versa. Quer
dizer, continuou-se a utilizar um objecto do culto egípcio de ISIS,
aplicando-lhe simplesmente a cruz cristã.
Foi esta cruz
celta-copta-cristã, que também já tivemos na Lusitânia durante o primeiro
milénio, e que se generalizou através dos Templários no inicio do segundo
milénio.
Noutro dos rolos coptas dos
Açores, surge-nos outra cruz de feitio diferente. Esta e composta por diversos
círculos.
O CIRCULO sempre teve o
significado de eternidade. Por essa razão, ainda hoje se trocam alianças no
momento do casamento. Também em outras cruzes bizantinas encontra-mos estes
motivos circulares, representados das mais diversas.
A linguagem esotérica
é muitas vezes transmitida pelos símbolos, cujo significado é idêntico, ou pelo
menos parecido, em culturas que estão geográfica e temporalmente bem distantes
umas das outras. Sabemos por exemplo, que os mais antigos cultos conhecidos em
terras da Lusitânia utilizavam conchas nos locais da sua divindade. A concha
manteve-se durante milénios, como símbolo de peregrinação ou da busca para uma
vida nova. A Ordem de Santiago, tanto utilizou os símbolos da Cruz da
FLOR-DE-LIS acabando em espada, como o da VIEIRA, uma concha que se desloca em
eterna peregrinação.
Por vezes também se construíam
os nichos das imagens religiosas em forma de concha. Na arte copta encontramos
das mais antigas representações da concha como portadora da vida. Numa dessas
representações vemos a vida surgindo da concha usando como pendente outro
símbolo, o da ROSA.
A rosa significa o NASCIMENTO.
Tal como as pétalas de um botão ao desabrochar soltam uma bela flor, assim
também a vida saiu da água assumindo-se com todo o seu esplendor.
Na Ásia, ainda hoje se
reza: «0 MANI PADME HUM» – Ó TU, Ó GRANDE, SAÍDO DUMA FLOR-DE-LÓTUS».
Obviamente, referem-se
ao nascimento de Buda. Também no Japão se interpretou Cristo como tendo saído de
uma flor. As cruzes rosacrucianas, introduzidas pelos portugueses em Nagasaki,
foram veneradas pelos convertidos e destruídas pelos seus perseguidores.
Surgiram assim cruzes com a figura de Buda ao centro, em vez da flor,
como espécie de solução de compromisso inventada em época de aflição.
O símbolo da rosa já
surge na Lusitânia, em diversas estelas romanas, chamando a atenção para a nova
vida no Além. Por cautela, os cristãos arianos utilizaram o símbolo da ROSA-CRUZ
de forma disfarçada. Tanto a rosa como a cruz estavam presentes mas a sua
presença somente se revelava ao bom observador.
Existiam cruzes em
ouro, em prata, em marfim, chumbo, bronze ou madeira.
Tudo servia para
representar o casamento da rosa e da cruz, do nascimento e da morte (Tratava-se
de uma ostensiva demonstração da profunda convicção no renascimento.
A cruz representada no
rolo copta é uma destas rosa-cruzes, bem parecida com aquelas utilizadas pelos
cristãos arianos e os Templários.
Se formos ver a
«ASSINATURA EM CRUZ» – termo que ainda hoje se usa –, ou mais especificamente, o
selo rodado da Rainha Teresa, mãe do nosso primeiro Rei (que tantos privilégios
aos Templários deu), podemos reconhecer a cruz sobreposta a uma rosa.
A própria assinatura de D.
Afonso Henriques, no mais antigo documento conhecido, onde o monarca se intitula
REI DE PORTUGAL, ainda antes da tomada de Lisboa, mais não é do que essa mesma
sobreposição, um pouco mais disfarçada, mas bem presente. As estelas portuguesas
da Idade Média, que ainda existem as centenas, espalhadas por todo o pais, usam
essa mesma representação (cruz + rosa).
É preciso que eduquemos os
nossos olhos, para podermos ver algo que, de outra forma, passará sem ser
notado. Mesmo as representações da CRUZ DE CRISTO surgem igualmente sobrepostas
as pétalas da rosa, o que nos mostra indícios que esta Ordem manteve os pontos
de vista defendidos pelos Templários. Muitos dos sinetes medievais portugueses
falam-nos nesta linguagem de símbolos, e neles podemos ver a CRUZ-TEMPLARIA, a
de CRlSTO, a de SANTIAGO, a de AVIZ, e muitas delas sobrepostas à rosa do
nascimento.
Muitos dos cavaleiros
medievais portugueses e os seus descendentes da era dos Descobrimentos, eram
iniciados e portadores de uma Fé profunda, baseada no cristianismo inicial.
Talvez fosse por essa razão
que todos os filhos de D. João III morreram tão cedo. Veja-se o pai de D.
Sebastião, que faleceu um mês e meio antes do nascimento do filho. A mãe de D.
Sebastião, a Princesa Joana, abandonou a corte de Lisboa meses depois de o ter
dado á luz, refugiando-se no Convento das Descalças em Madrid, e deixando esta
frágil criança entregue ao cuidado de dois padres. O resultado, foi o desastre
de Portugal em Alcacer-Quibir, a aniquilação da fidalguia portuguesa e da sua
força militar, da qual este pais nunca se recuperou verdadeiramente. O
cristianismo, na pratica portuguesa, era diferente do que se ensinava então
noutros países. Os Reis de Espanha receberam o titulo papal de DEFENSORES DA FÉ.
Portugal utilizava os seus
próprios títulos, ligados a conquista e ao comercio das costas da África e da
Ásia, mencionando a Etiópia, mas não a Fé. Esta mantinha-se em segredo. Já no
ano de 1318, possivelmente o mais difícil ano da História de Portugal, onde
tanto a Fé, como a RAZÃO DA EXISTÊNCIA e a capacidade de CUMPRIMENTO DA MISSÃO
DE PORTUGAL estavam postas em causa, viu-se quem sabia e sentia mais sobre o
cristianismo. Foi a RAINHA SANTA, a quem foi atribuído o MILAGRE DAS ROSAS (tal
como já. anteriormente havia sido atribuído a sua avó), que surgiu entre o povo,
divulgando o CULTO DO ESPIRITO SANTO, que ainda hoje, com crescente força, se
venera nos Açores, nas comunidades açorianas nas Americas, e em um ou outro
local ligado a historia dos Templários, em Portugal Continental.
O símbolo da POMBA SOBRE O
TEMPLO, junto a. Rosa e a Cruz, encontra-se numa vara quinhentista de JUIZ DO
ESPI- RITO SANTO, levada pelos navegadores as ilhas do meio do Atlântico. Na sua
obra HISTÓRIA SECRETA DE PORTUGAL, António Telmo mostra-nos um dos edifícios
mais sagrados do tempo dos Descobrimentos: a CAPELA DA INICIAÇÃO DOS
NAVEGADORES. Hoje, tudo o que resta deste monumento encontra-se espalhado no
meio do mato. Ignorância?... Incúria?... Alta traição, ou falta de
patriotismo?...
Não sabemos as razões desta
destruição dum local sagrado das nossas raízes, mas tristemente temos de
registar o facto. Quem terá sido o arquitecto desta capela? – Não o sabemos, mas
logo um nome nos surge: o de BOYTACA, o grande arquitecto, cuja origem se
desconhece. Sabe-se que foi um dos arquitectos que trabalhou no MOSTEIRO DOS
JERONIMOS e também no MOSTEIRO DA BATALHA; que a CASA DO CAPITULO e o CLAUSTRO
DO CONVENTO DE CRISTO DE TOMAR foram da sua autoria e que também trabalhou no
PAÇO DE SINTRA e no CONVENTO DE CRISTO EM SETUBAL bem como em diversas
fortalezas das PRAÇAS PORTUGUESAS EM AFRICA.
Uns diziam que talvez
fosse francês, outros talvez italiano, mas não se sabe ao certo de onde vinha.
Conhecendo o costume desta época de se escrever nomes em anagramas, demo-nos ao
trabalho de recolocar as mesmas letras do seu nome (na forma em que ele
assinava), noutras posições. Para isso, temos de saber que o «Y» equivalia a
dois «i», ou a um «i» e um «j», visto nesta altura se fazer pouca distinção
entre as duas. Verificarmos assim que o anagrama perfeito de BOYTACA é «JACOBITA».
Será que este grande arquitecto que saiu do nada, nos quis deixar uma indicação
de quem se tratava, ou por ordem de quem trabalhava? Parece-nos que sim. Os
JACOBITAS eram cristãos-nestorianos que se tinham refugiado no Reino Copta.
Obedeciam a regras especiais de iniciação e criaram uma élite altamente
especializada de matemáticos, médicos, astrónomos, conhecedores de muitas
línguas (inclusivamente de algumas já então consideradas mortas) e arquitectos.
Com o seu amplo saber, conseguiram obter lugares de destaque nos governos de
muitos países, onde indirectamente espalhavam o cristianismo, pelo bom exemplo
que demonstravam aos membros das respectivas cortes.
Espalharam-se desde a costa
atlântica africana, até aos distantes desertos da Mongólia, ajudando os que
pudessem fazer uso dos seus conhecimentos e fazendo a sua acção missionaria.
Todos estes pormenores
nos mostram uma forte ligação templária nas directrizes dos Descobrimentos
Portugueses. Também verificamos que a ordem do Infante D. Henrique na demanda do
Reino do Preste João, nos oferece uma porta de acesso a conhecimentos, que nos
permitem maior compreensão para muitas paginas da Historia de Portugal.
CONCLUSÃO
A raiz comum no
cristianismo inicial, tanto dos conhecimentos templários, como dos da Ordem de
Cristo e suas ligações a Alexandria e ao Reino Copta, oferecem-nos pistas que
merecem ser seguidas em busca de mais elementos. A linguagem dos símbolos,
presente em toda a arquitectura medieval e renascentista portuguesa, e depois
transportada pelos nossos navegadores até aos mais longínquos confins do mundo,
vai-nos acompanhar na bela tarefa de consciencialização da nossa própria
identidade, do motivo da nossa vinda, da razão da nossa existência e do caminho
que havemos de cumprir. Quando cientistas quinhentistas, defensores da Rosa e da
Cruz, resolveram representar cartograficamente a Europa em forma de VIRGEM,
sendo a Lusitânia a sua coroa e apontando a sua cruz em direcção aos Açores,
deixaram-nos uma pista preciosa, já seguida por Fernando Pessoa, quando
reclamava que FALTA CUMPRIR PORTUGAL.
A chama lusa sobreviveu,
ainda que às escondidas, a anexação da antiga Lusitânia pelo Império Romano.
Renasceu com forca no sec. XII através da Ordem do Templo, criando-se então
Portugal. Expandiu-se no mundo pela mão da Ordem de Cristo e dos seus cavaleiros
iniciados. Aguentou as décadas do domínio castelhano e os séculos de governação
por Reis e Estadistas bem intencionados, mas não conhecedores das tarefas que
ainda se encontravam á nossa frente. Existem razões para acreditar que a chama
lusa sobreviverá a integração deste pais na comunidade que agora se forma, e que
todas as parcelas do mundo lusíada espalhadas pelo globo continuarão a mostrar o
seu carinho pela Pátria-Mãe.
Há algo de belo,
dificilmente explicável, que ainda hoje une homens do interior da floresta
amazónica do Brasil, das praias negras dos Açores, do mato africano e das águas
quentes do Mandovi em Goa. Pode-se mudar a moeda e a bandeira e emitir novos
passaportes, mas não se há-de apagar a chama interior, ateada pela missão dos
Templários e semeada pelos descobridores. Fernando Pessoa, o último cavaleiro
luso da Rosa e da Cruz, deixou-nos indicações sobre a tarefa que Portugal ainda
vai ter de cumprir quando nos diz: «A futura civilização europeia será uma
civilização lusitana» e «Só duas nações, a Grécia passada e Portugal futuro
receberam dos deuses a concessão de serem não só elas mas também todas as
outras».
Sem dúvida criaram-se aqui
duas identidades, ambas consideradas portuguesas. A primeira e a do PORTUGUÊS
IBÉRICO, que sente afinidade e parentesco com o continente europeu. A segunda e
a do PORTUGÊS GLUBAL, que sente carinho para com a sua Pátria-Mãe, mas que se
afirma em qualquer parte do planeta, levando consigo uma INABALÁVEL Fé e o
sentido de uma MISSÃO POR CUMPRIR. Em reconhecimento das dificuldades sofridas
por estas gerações de homens que nos antecederam e em sua homenagem, desejo
terminar esta exposição com um convite à. Meditação sobre as seguintes palavras
de Fernando Pessoa:
Ó MAR SALGADO, QUANTO DO TEU
SAL SÃO LAGRIMAS DE PORTUGAL! POR TE CRUZARMOS, QUANTAS MÃES CHORARAM QUANTOS
FILHOS EM VÃO REZARAM! QUANTAS NOIVAS FICARAM POR CASAR PARA QUE FOSSES NOSSO, Ó
MAR!
VALEU A PENA? TUDO
VALE A PENA SE A ALMA NAO É PEQUENA. QUEM QUER PASSAR ALEM DO BOJADOR TEM QUE
PASSAR ALEM DA DOR. DEUS AO MAR O PERIGO E O ABISMO DEU, MAS NELE E QUE ESPELHOU
0 CÉU.
Lusitinia, 16/4/91
In livro: "A MISSÃO TEMPLÁRIA
NOS DESCOBRIMENTOS"
Autor: Rainer Daehnhardt
Editado por: Edições Nova
Acróple
fim
LUZ SOBRE OS DESCOBRIMENTOS
ENTREVISTA COM RAINER
DAEHNHARDT
NAVEGAÇÕES DESCONHECIDAS ANTES
DO SEC. XV
NOVA ACROPOLE: No seu ponto de vista, quando se iniciou a epopeia marítima dos
Portugueses?
RAINER DAEHNHARDT:
Para compreender o advento dos descobrimentos portugueses, temos de conhecer a
tradição marítima portuguesa e, inclusive, lusitana.
Numa gruta em Cascais
foram descobertos anzóis com cerca de 15.000 anos de antiguidade, pelo que se
concluiu a já existência nessa época de barcos de pesca. Mas é do sec. V d.C.
que temos o primeiro dado importantíssimo sobre a tradição náutica lusitana.
Em 428 d.C. Giserico, rei dos
Vândalos, invade a Península Ibérica e forma, pouco tempo depois, uma armada com
os Lusitanos (os Alanos já se tinham fundido no povo lusitano). Nem os Vândalos
nem os Alanos tinham qualquer tradição naval; Giserico chega à Lusitânia e
poucos anos depois leva uma frota construída graças aos préstimos dos Lusitanos
para o Mediterrâneo.
Não tendo os Vândalos,
nem os Alanos – como e sabido historicamente – conhecimentos da arte de navegar
e de construção naval, podemos concluir que já existia pelo menos no sec. V uma
sabedoria náutica detida pelos Lusitanos.
Significativo e o
facto desta armada dos Vândalos ter provocado humilhantes derrotas às duas
armadas mais fortes do Mediterrâneo, a romana e a bizantina. Estas duas vitórias
da armada luso-vandala foram extraordinárias do ponto de vista histórico, pois
tanto a armada romana como a bizantina – que foram vencidas – tinham largas
centenas de barcos de guerra.
Indubitavelmente
tiram-se duas conclusões deste facto histórico. A primeira, que os Lusitanos
possuíam conhecimentos de construção naval suficientes para, em poucos anos,
poderem lançar ao mar uma armada que iria vencer as duas maiores e melhores
armadas do mundo. A segunda, é que tinham conhecimentos da arte de navegar para
percorrerem todo o Mediterrâneo e, facto curioso, passarem pelas Canárias no
regresso. Tudo isto está historicamente provado, basta ler uma boa história da
saga dos Vândalos.
Resumindo, já no sec.
V d.C., mil anos antes da data oficial das epopeias marítimas, tínhamos uma
navegação saída de Portugal para todo o Mediterrâneo e para as Canárias, alem de
outra para a Irlanda. São pequenos pormenores, mas tem o seu peso.
Na milenar navegação
fenícia existe um facto muito interessante, surpreendente mesmo, mas que eles
utilizavam. Os Fenícios tinham porcos a bordo. Sabe-se que os utilizavam para a
sua alimentação e que os largavam em ilhas, como aliás o faziam com cabras, para
se reproduzirem. Assim, sempre que passavam nessas ilhas iam lá buscar carne
fresca. Mas há algo que também faziam com os porcos, e que, por incrível que
pareça, resulta mesmo. Uma embarcação está distante da costa e, de repente,
aparece um vendaval que a empurra para o alto mar. Fica assim sem ver a costa e
perde toda a orientação, deixando de ter noção donde esta. Desse modo, ou se
orienta pelo Sol, pelas estrelas, ou então, pelo porco! Os Fenícios atiravam o
porco ao mar e este começava imediatamente a nadar em direcção a terra mais
próxima.
Existem coisas muito
estranhas nos animais, para as quais não temos explicação. Os pombos tem uma
capacidade de orientação espantosa; por isso é que efectuam voos de milhares de
Kms, como os pombos-correio. Um camelo no deserto não morre pois anda na
direcção do local mais próximo que tenha água. O porco no mar nada na direcção
da terra mais pr6xima, que pode ser uma ilha ou um continente.
Não há duvida nenhuma
de que os Portugueses já estavam no Brasil muitas décadas antes do seu descobri-
mento oficial efectuado por Pedro Alvares Cabral. E tal não aconteceu por acaso,
por uma armada que, num temporal, sem o saber, navegou até ao Brasil. Os
navegadores lusitanos conheciam perfeitamente quais eram os ventos predominantes
e as correntes nas diferentes épocas do ano.
É interessante saber,
também, que o primeiro tratado que Portugal estabelece com uma nação
estrangeira, tendo como base a navegação, data por volta do ano 1200 e foi
realizado com a Inglaterra.
Esse tratado permitia
aos navios de pesca portugueses pescarem em águas inglesas e aos nossos navios
comer- ciais desembarcaram mercadorias nos portos britânicos. Isto passou-se
dois séculos antes das navegações henriquinas. Este facto mostra-nos que nos
séculos XII, XlII já havia navegação portuguesa em zonas relativamente
longínquas.
Outro dado que considero importante é a navegação realizada no sec. XII, antes da tomada de Lisboa, em 1147, por um grupo de sete moçarabes que viajaram até á Islândia, seguidamente ate aos Açores, de onde partiram para as Canarias, sendo ai presos pelos Guanches. Estes embarcaram-nos para uma viagem muito curta, libertando-os na costa africana. De lá os sete moçarabes regressaram a Lisboa, finalizando a sua aventura. O relato original data do sec. XII, está em árabe e tem uma precisão impressionante.