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Ednilsom Montanhole

Terceiro Milênio

Terceiro Milênio

Mauro Fernando Schmidt

"Nenhum grande aperfeiçoamento
em boa parte da humanidade é
possível sem que haja uma grande
mudança na constituição
fundamental de sua maneira de pensar".
John Stuart Mill.

Finalmente entramos no terceiro milênio, ano 2001, o futuro, tempo mágico, fantasiado, extremamente especulado pelos futurólogos e até mesmo pela própria bíblia.

Tempo também, inevitável para que façamos um balanço da pequena estada do ser humano no Planeta Terra, pequeníssima; já que os extintos dinossauros aqui estiveram por aproximadamente 160 milhões de anos e nós aqui estamos há apenas 6 milhões de anos.

Sem dúvida a espécie humana foi protagonista de grandes realizações, através de notáveis seres humanos, como Einstein para a ciência, Picasso para a pintura, Proust para a literatura, Freud para a psicanálise, Santos Dumont para a aeronáutica, Ford para o automobilismo, Chaplin para o cinema, etc. Também já foi na Lua várias vezes, e em julho de 1997 colocou o robô Sojourner na superfície de Marte; em 23 de fevereiro deste mesmo ano um biólogo escocês apresentou ao mundo a ovelha Dolly, primeiro clone de um mamífero; em 26 de junho de 2000 o presidente norte americano Bill Clinton, junto com o biólogo Francis Collins, anunciou a identificação de 85% dos genes humanos alcançada pelo projeto Genoma, desvendando desta forma o conhecimento da raiz biológica do homem.

Apesar das inúmera realizações científicas e tecnológicas dos seres humanos, aquilo que mais interessa aos psicólogos, ou seja, a qualidade de vida dos indivíduos continua muito ruim, afinal 2/3 (dois terços) da humanidade passa fome e sobrevive na extrema miséria. Apesar da produção de riquezas e alimentos, atualmente, bastarem para que todos os seres humanos vivam com um mínimo de dignidade, isto não ocorre, pois a ciência está apenas confirmando paradoxos e intuições com os quais a humanidade tem com freqüência esbarrado, mas ignoramos com obstinação. Ela nos diz que nossas instituições sociais e os próprios modos de vida violam a natureza. Fragmentamos e congelamos aquilo que deveria ser móvel e dinâmico. Montamos hierarquias de poder artificiais. Competimos quando deveríamos cooperar.

Se lemos o que está manuscrito nas pareces da ciência, veremos a necessidade crítica de mudança – viver com a natureza e não contra ela.

Não existe dúvidas que se houvesse distribuição mais justa, sem tanta acumulação de riquezas, nós seres humanos poderíamos inclusive reduzir drasticamente a jornada de trabalho, dedicando mais tempo ao convívio familiar, ao lazer, às interações intra e inter-individuais prazerosas, de amizade e não de negócios, aos contatos amorosos como namoro, passeios de mãos dadas, sexo, etc. A tecnologia que produz máquinas que substituem milhares de homens como mão-de-obra se bem utilizada, ou seja, sem excluí-los do mercado de trabalho, é excelente para trabalhar por nós e desta forma deixando-nos maior quantidade de tempo disponível. Um raciocínio simples até mesmo simplista aplica-se por exemplo às máquinas agrícolas, como uma grande colheitadeira, que pode realizar o serviço de 100 (cem) homens, o que é um avanço tecnológico incrível, mas pela lógica, no mínimo, esta colheitadeira deveria prover alimento para estes mesmos 100 (cem) homens, e não simplesmente torná-los desempregados, fornecendo todo o lucro gerado com seu trabalho a apenas uma pessoa, o dono da máquina.

Sinceramente, esperamos que neste milênio que se inicia ocorra uma profunda mudança de paradigmas, onde a solidariedade substitua a ganância e o egocentrismo ou seus sinônimos, egoísmo, individualismo. Um paradigma é uma estrutura de pensamento (em grego, "paradigma" tem um significado de "modelo"). Um paradigma é um esquema para a compreensão e a explicação de certos aspectos da realidade.

Uma mudança de paradigma é uma maneira clara e nova de pensar sobre velhos problemas.

A natureza humana não é boa nem má, mas aberta a uma transformação e transcendência contínuas. Só precisa descobrir a si mesmo. O novo paradigma vê a humanidade embutida na natureza. Promove a autonomia do indivíduo em uma sociedade descentralizada. Declara que não somos vítimas, nem peões, e nem estamos limitados por condições ou condicionamentos. Herdeiros de riquezas evolucionárias, somos capazes de imaginar, inventar e fazer experiências que até agora apenas vislumbramos. A nova perspectiva respeita a ecologia de todas as coisas: nascimento, morte, aprendizado, saúde, família, trabalho, ciência, espiritualidade, as artes, a comunidade, relacionamentos, política.

Felizmente acreditamos no surgimento de um novo homem. O antigo homem, que existiu até agora, está em seu leito de morte. Ele tem sofrido muito. Ele tem sido condicionado para viver em miséria, em sofrimento, em auto-tortura. A ele foram dadas promessas: notas promissórias de grandes recompensas para depois da morte – quanto mais ele sofre, tortura a si mesmo, é masoquista, destrói sua dignidade, mais ele será recompensado.

Esse era um conceito muito conveniente para o sistema, porque o homem que está pronto para sofrer pode ser facilmente escravizado. O homem que está pronto para sacrificar o hoje por um amanhã desconhecido, já declarou sua inclinação para ser escravizado. O futuro se torna sua escravidão. E por milhares de anos, o homem tem vivido somente em esperanças, em imaginação, em sonhos, em utopias, mas não em realidade. E não existe outra vida do que a vida real, do que a vida que existe neste momento.

O novo homem é uma rebelião, uma revolta, uma revolução contra todos os condicionamentos que podem escravizá-lo, oprimi-lo, explorá-lo, apenas dando a ele esperanças de um céu fictício, assustando-o, chantageando-o com outro fenômeno fictício: o Inferno.

O novo homem contém todo o futuro da humanidade. O velho homem é obrigado a morrer. Ele tem preparado sua própria sepultura. As armas nucleares e todas as medidas de destruição são uma preparação para um suicídio global. O velho homem decidiu morrer. Depende das pessoas inteligentes do mundo desconectar-se do velho homem, antes que ele destrua a todos, desconectar-se das velhas tradições, das velhas religiões, das velhas nações, das velhas ideologias.

O novo homem se importará em aumentar as alegrias da vida, os prazeres da vida, mais flores, mais beleza, mais humanidade, mais compaixão. E nós temos a capacidade e o potencial de fazer deste planeta um paraíso, afinal ao contrário do que muitos pensam, nós não herdamos a Terra dos nossos pais, nós a estamos pegando emprestado dos nossos filhos.

Somente com um novo homem poderemos atravessar o terceiro milênio e ingressar no quarto sem guerra, fome, destruição e tantas injustiças sociais.

O novo indivíduo não terá a falsa idéia de que todos os seres humanos são iguais. Eles não são, eles são únicos, e este conceito é muito superior ao da igualdade. Embora os novos indivíduos não sejam iguais, eles terão iguais oportunidades para desenvolverem seu potencial, seja qual for.

A nova humanidade Terá uma ecologia na qual a natureza não deve ser conquistada, mas vivida e amada. Nós fazemos parte dela. Como podemos conquistá-la? Não haverá nenhuma raça, nenhuma distinção entre nações, entre cores, castas.

O novo homem é uma absoluta necessidade. O velho está morto ou está morrendo, não pode sobreviver por muito tempo. E se nós não gerarmos um novo ser humano, a humanidade desaparecerá da Terra.

Que todos nós deixemos brotar este novo homem que com certeza carregamos dentro de nossa própria essência, e que este momento mágico, o ingresso no terceiro milênio seja um incentivo à reflexão e um campo fértil para a semente desse novo homem.

Um feliz milênio novo para toda a espécie humana!

Mauro Fernando Schmidt – Psicólogo
Pres. do Sindicado dos Psicólogo
no RS (SIPERGS)
Sec. de Mercado de Trabalho da
Federação Nacional dos Psicólogos.(FENAPSI).
e-mail: sipergs@terra.com.br