FALÁCIAS NÃO-FORMAIS
O estudo das falácias está voltado para a identificação de erros no
raciocínio ou na argumentação.
Mais especificamente naqueles raciocínios ou argumentos que, embora
incorretos, podem ser psicologicamente persuasivos.
Falácias não-formais são aquelas que não são identificadas com a
utilização de padrões para validação de inferências.
As falácias não-formais podem ser divididas em falácias de relevância
e falácias de ambigüidade.
FALÁCIAS DE RELEVÂNCIA
Raciocínios cujas premissas são logicamente irrelevantes para as suas
conclusões. Portanto são incapazes de estabelecer a verdade dessas conclusões.
1-
RECURSO À
FORÇA (Argumentum
ad Baculum).
Usar a força ou ameaça de força para provocar a
aceitação de uma conclusão.
Exemplo:
Todos os deputados governistas devem ser a favor da aprovação das reformas, pois, caso contrário, serão expulsos do partido.
2-
RECURSO À
OFENSA (Argumentum
ad Hominem).
Derrubar ou refutar a verdade de uma afirmação
através da colocação de que quem
afirma não é uma pessoa honrada ou de bom caráter.
Exemplo:
O que o ACM diz é mentira, pois ele fraudou diversas vezes as votações no Congresso Nacional.
3-
RECURSO À
CIRCUNSTÂNCIA (Argumentum
ad Hominem).
Impor uma verdade em função da posição política,
religiosa, sexual, profissional etc, de quem está sendo contestado.
Exemplo:
O que o ACM diz é mentira, pois ele fraudou diversas votações no Congresso Nacional.
4-
RECURSO À
IGNORÂNCIA (Argumentum
ad Ignorantiam).
Provar que uma proposição é verdadeira simplesmente
porque ainda não se provou sua falsidade.
Exemplo 1:
Existem fantasmas porque ainda não se provou a existência deles.
Exemplo 2:
Todo
homem é inocente até que se prove o contrário. (válido nos tribunais)
5-
APELO À
PIEDADE (Argumentum
ad Misericordiam).
Apelar à piedade e compaixão para que um argumento
seja aceito como válido.
Exemplo 1:
Ele pode estacionar sobre a calçada porque é paraplégico.
Exemplo 2:
Ele pode ingressar numa faculdade com notas inferiores às dos outros porque é negro.
6-
APELO À
POPULARIDADE (Argumentum
ad Populum).
Tentativa de ganhar a concordância popular
despertando paixões e entusiasmos da multidão com o uso de elementos que atraem
o interesse da maioria.
Exemplo 1:
Contratar um cantor famoso, e sabidamente consumidor contumaz de cerveja, para protagonizar anúncios de lançamento de uma nova marca da bebida.
Exemplo 2:
O uso, por um político, do argumento de que vai ser um bom governante porque aumentará o salário mínimo.
7-
APELO À
AUTORIDADE (Argumentum
ad Verecundiam).
Concluir sobre uma proposição porque foi dita por uma
pessoa considerada autoridade no assunto.
Exemplo:
Depoimento de um perito em um julgamento.
8-
ACIDENTE
Aplicar uma regra geral a um caso particular, cujas circunstâncias
acidentais a tornam inaplicável.
Exemplo 1:
Os apontadores do jogo do bicho se encontram sempre nas vias públicas de grande movimento, sentados, e de bloco de anotações em punho. Aquele homem sentado em frente ao bar está escrevendo em um bloco e, portanto deve ser detido por contravenção.
Exemplo 2:
Aquele deputado estava presente à convenção daquele partido que apóia as reformas do governo, logo ele não pode ser digno de confiança por parte dos que são contra essas novas medidas.
9-
ACIDENTE
CONVERTIDO
Com base na observância de um caso isolado ou
particular, querer que todos os casos de mesmo tipo sejam tratados de mesmo
modo.
Exemplo 1:
Algumas casas que promovem jogos de bingo não estão cumprindo com a legislação em vigor. Torna-se então insustentável a continuação da permissividade da exploração dos jogos de bingo em todo território nacional.
Exemplo 2:
Na esquina da rua onde moro pode-se jogar, a qualquer tempo, no bicho sem qualquer risco de constrangimento legal. Obviamente que isso é uma prova cabal da total observância, que tal modalidade de jogo possui, em relação às leis vigentes no Brasil.
10-
FALSA CAUSA
Tomar como causa de um efeito algo que não seja sua
causa real. Concluir que um acontecimento é causa de outro pelo simples fato de
ter ocorrido anteriormente.
Exemplo 1:
Os estudantes que se formam com menos de 22 anos de idade são mais inteligentes que os outros.
Exemplo 2:
A Ford é a melhor fabricante de automóveis porque foi a pioneira na fabricação em série.
11-
PETIÇÃO DE
PRINCÍPIO
Tentar estabelecer a verdade de uma proposição
apresentando como prova a mesma proposição, sob forma e aspecto igual ou
diferente, sobre a qual se está querendo demonstrar a verdade.
Exemplo 1:
Um banco de automóvel deve ser confortável, pois não pode admitir desconforto a um passageiro ou motorista de um carro.
Exemplo 2:
Todo jornalista deve possuir curso superior, pois não se pode admitir que um profissional da área de comunicação jamais tenha cursado uma faculdade.
12-
PERGUNTA
COMPLEXA
Fazer uma pergunta e nela embutir uma suposta
resposta já dada anteriormente à outra pergunta.
Exemplo 1:
Você acha que esse governo de política recessiva vai conseguir se reeleger?
Exemplo 2:
A falta de transparência do atual governo é fruto da incompetência administrativa do partido governista?
13-
CONCLUSÃO
IRRELEVANTE (Ignoratio Elenchi).
Apresentar uma premissa irrelevante como prova de uma
conclusão.
Exemplo:
A reforma da previdência deve ser aprovada porque o povo precisa ter um sistema previdenciário que o atenda de forma satisfatória.
1- EQUÍVOCO.
Interpretar de forma diferente palavras com mais de
um significado literal.
Exemplo:
O fim de um projeto é a sua perfeição
A morte é o fim da vida
Logo, a morte é a perfeição da vida.
2- ANFIBOLOGIA.
Argumentar com premissas cujas construções
gramaticais são ambíguas.
Exemplo 1:
Aquele casal está brigando por causa do filho.
Exemplo 2:
Sou brasileiro, mas só bebo vinho nacional quando estou em Paris.
3- ÊNFASE.
Alterar o significado de um argumento através da
mudança na ênfase de algumas palavras que o compõem.
Exemplo:
Ênfase1: Os deputados devem parar de roubar o povo.
Ênfase
2: Os
deputados devem parar de roubar o povo.
Na ênfase 1 é insinuado que os deputados não devem parar todas as suas atividades, mas apenas a atividade de roubar o povo.
Na ênfase 2 é insinuado que os deputados podem continuar roubando mas não mais o povo.
4- COMPOSIÇÂO.
Utilizar propriedades ou definições de parte de um
todo para definir ou identificar o próprio todo.
Exemplo 1:
Um partido sem um político famoso também não é famoso.
Exemplo 2:
Uma criança pobre precisa de mais atenção do governo. Então o governo deve gastar com todas as crianças pobres mais do que gasta com as outras.
5- DIVISÃO.
Inverso da falácia de composição: Utilizar
propriedades ou definições de um todo para definir ou identificar parte daquele
todo.
Exemplo 1:
É fácil se encontrar cães nas ruas
Os dobermans são cães
Logo, é fácil se encontrar dobermans nas ruas.
Exemplo 2:
O governo não tem recursos para reajustar os salários daqueles que recebem dos cofres públicos.
Os políticos recebem dos cofres públicos.
Logo, o governo não tem dinheiro para reajustar os salários dos políticos.