Abraham Maslow

INTRODUÇÃO

Abraham Maslow é considerado o pai espiritual da Psicologia Humanista, e é provável que tenha feito mais do que ninguém para defender o movimento e conferir-lhe um certo grau de respeitabilidade acadêmica. Desejava compreender as mais elevadas realizações que os seres humanos são capazes de alcançar, razão por que estudou uma pequena amostra das pessoas mais saudáveis psicologicamente que pôde encontrar a fim de determinar de que maneira diferiam das pessoas cuja saúde mental não passava da média. Dedicou-se a tópicos como: criatividade, personalidade sadia, amor e jogo, espontaneidade e crescimento pessoal. Salientou os perigos de uma ciência centrada na técnica e nos meios, onde os verdadeiros problemas são ignorados em favor de técnicas e métodos; é a favor de uma ciência centrada no problema, que se preocupe menos com a tecnologia e seja mais compromissada com uma concepção holística, ou seja, mais completa.

"O organismo humano, afirma Maslow, não é uma coleção de órgãos e funções separados. Quando estudamos um determinado ato ou comportamento, ele deve ser visto como expressão do organismo total e não como entidade separada para ajustar-se às conveniências da metodologia. Não existem sistemas fechados dentro do organismo." Frick (1975: p. 168)

BIOGRAFIA

Dr. Abraham Maslow, educador e psicólogo de renome internacional, nasceu no Brooklyn, New York, a 1º de abril de 1908.Teve uma infância infeliz, seu pai era alcoólatra e desaparecia por longos períodos de tempo. Sua mãe era intensamente supersticiosa, e punia o jovem Maslow pelo mínimo comportamento incorreto, rejeitando-o abertamente em favor de seus dois filhos mais novos. Certa vez, ela matou dois gatos que ele levara para casa batendo-lhes a cabeça contra a parede na frente dele. Ele nunca perdoou sua atitude e seu comportamento para com ele e, quando ela morreu, recusou-se a ir ao funeral. Essas experiências tiveram sobre Maslow um efeito que durou toda a vida. "Todo o impulso da minha filosofia de vida", escreveu ele, "e todas as minha pesquisas e teorias têm suas raízes no ódio e na revolta contra tudo o que ela representava." (Hoffman, 1988, p. 9, citado por Schultz, 1981, p.395

) Por causa do seu físico esquelético e do seu nariz grande, tinha um sentimento de inferioridade desde a infância e caracterizou sua adolescência como um gigantesco complexo de inferioridade, que ele tentou compensar desenvolvendo habilidades atléticas. Como não conseguisse alcançar aceitação e estima no campo atlético, Maslow se voltou para os livros e para o estudo. Nesse campo sua atuação sempre foi excelente. Inscreveu-se na Universidade Cornell onde seu primeiro curso de psicologia foi, segundo ele, "terrível e exangue, nada tendo que ver com as pessoas; por isso dei de ombro e o abandonei." Shultz (1981: p. 395). Maslow transferiu-se para a Universidade de Wisconsin e doutorou-se em 1934. No início era um ardoroso comportamentalista, convencido de que a abordagem mecanicista da ciência natural fornecia respostas para todos os problemas do mundo. Então, uma série de experiências pessoais que foram do nascimento do seu primeiro filho à eclosão da 2ª Guerra Mundial, passando pela exposição a outras abordagens da natureza humana (tais como a filosofia, a psicologia da Gestalt e a psicanálise freudiana), o persuadiram de que o comportamentalismo era demasiado limitado para ter relevância para questões humanas duradouras.

Maslow também sofreu influência de alguns psicólogos europeus que tinham fugido da Alemanha nazista e se instalaram nos EUA: Alfred Adler, Karen Horney, Kurt Koffka e Max Wertheimer. Seus sentimentos de assombro diante de Wertheimer e da antropóloga americana Ruth Benedict o levaram ao seu primeiro estudo das pessoas auto-realizadoras psicologicamente saudáveis. Wertheimer e Benedict foram os modelos de Maslow para a melhor expressão da natureza humana. Trabalhando principalmente na Universidade Brandeis, em Massachusetts, entre 1951 e 1969, desenvolveu e aprimorou sua teoria numa série de livros provocadores. Ele apoiou o movimento dos grupos de sensibilidade e veio a ser um dos mais conhecidos psicólogos dos anos sessenta. Morreu de ataque cardíaco em 8 de junho de 1970.

A Psicologia Humanista e a hierarquia de necessidades

Para a Psicologia Humanista de Maslow, o ser humano caminha para sua auto-realização. Auto-realizar-se é atingir a plenitude de seu ser. Para tornar-se auto-realizadora a pessoa precisa satisfazer as necessidades que estão na escala mais baixa de Hierarquia de Necessidades proposta por Maslow. Essas necessidades são inatas, e cada uma delas tem de ser satisfeita antes que a próxima necessidade da hierarquia surja para nos motivar. Na base da hierarquia encontram-se as necessidades fisiológicas, como a fome e a sede. São as mais prepotentes ou urgentes e, insatisfeitas, podem dominar o indivíduo, mas permanentemente gratificadas não voltam a nos motivar. Em seguida vêm as necessidades de segurança, encontram-se entre nós especialmente nas crianças. Algumas medidas de segurança que os adultos tomam (poupança, seguros etc.) estão relacionadas com elas.

Numa sociedade bem organizada, estas necessidades não devem motivar particularmente o adulto, entram em ação em casos de epidemias, guerras, ondas de crime etc. Satisfeitas as anteriores, aparecem as de domínio e amor que, segundo Maslow, são freqüentemente frustradas na nossa sociedade, tornando-se base de neuroses e casos de psicopatologia. Seguem-se as necessidades de estima, como por exemplo a realização, a aprovação, a competência e o reconhecimento. No topo da hierarquia se encontra a necessidade de auto-realização. Maslow apresenta quinze características da pessoa auto-realizada. Entre elas destacam-se: aceitação de si próprio e dos outros, espontaneidade, necessidade de intimidade, autonomia, interesse social e, sobretudo, o amor autêntico. Maslow disse que essas pessoas não chegam a 1% da população, são livres de neuroses e psicoses e, quase sempre, têm da meia-idade em diante. Algo fundamental da posição de Maslow é a afirmação de que todas as necessidades são inerentes à pessoa humana, que são como "instintóides" e, de forma nenhuma devidas à aprendizagem. Seu método de pesquisa e dados têm sido criticados a partir da alegação de que sua amostra (mais ou menos vinte pessoas) seria muito pequena para permitir generalizações. Além disso seus sujeitos seriam escolhidos segundo seus próprios critérios subjetivos de saúde psicológica. Maslow admitiu que seus estudos não preenchiam os requisitos da pesquisa científica, mas retorquiu que não há outra maneira de estudar a auto-realização, disse que seu programa de pesquisa consistia em estudos pilotos, e permaneceu convencido de que as suas conclusões um dia seriam confirmadas.

O advento da Psicologia Transpessoal

Na década de sessenta, Maslow e outros pesquisadores experimentaram, por caminhos diferentes, um contato com uma dimensão "mais espiritual" do ser humano, ou seja, abordar o ser humano através de uma visão mais completa, mais holística. A escolha do termo Transpessoal é produto de muitos encontros, conferências e discussões feitos por uma comunidade de pesquisadores, e assim em 1967 Maslow faz a apresentação pública do que seria um desdobramento da Psicologia Humanista: a Psicologia Transpessoal ou Quarta Força. "Psicologia Transpessoal é o título dado a uma força emergente no campo da Psicologia, representada por um grupo de psicólogos e profissionais de outras áreas (...) que estão interessados nas potencialidades últimas que não possuem lugar sistemático na teoria behaviorista (1ª Força), na teoria psicanalítica clássica (2ª Força) ou na teoria humanista (3ª Força)" (Sutich, 1978, citado por A Psicologia Transpessoal, 1997, p. 14)

A motivação, a Psicologia Transpessoal e algumas relações com a educação

Grande parte dos problemas da escola têm sua origem nos problemas da motivação: certos desvios da personalidade, casos de desajustamento, o problema da fadiga ou do aborrecimento são alguns dos mais importantes que poderiam ser acrescidos ao da motivação da aprendizagem propriamente dita e que, constantemente, desafiam os conhecimentos dos professores. A Psicologia Transpessoal propõe uma psicopedagogia que procure olhar para as dificuldades psicomotoras, auditivas e visuais do aluno, que busque seu mundo simbólico e afetivo no contexto da família e da comunidade. Propõe uma escola com um núcleo de consciência corporal onde as práticas esportivas incluiriam bioenergética, tai-chi-chuan, yoga, alfabetização emocional, sensibilização para a arte etc. ,ou seja, atividades e disciplinas voltadas à integração mente-corpo-cosmos.


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