Sigmund Freud
Introdução
Sigmund Freud, foi um médico austríaco conhecido por ser o fundador da psicanálise - um método de investigação da mente humana, um conjunto de teorias sobre o funcionamento da vida mental. O método psicanalítico de Freud, enfatizava a importância do inconsciente para a compreensão de comportamentos anormais e a importância da primeira infância (sexualidade infantil), na formação da personalidade. Esses elementos novos, e controversos, introduzidos por Freud na psicologia, causaram e causam ainda hoje, críticas e rejeições por parte de psicólogos e psiquiatras que advogam uma abordagem da "ciência pura" (cientistas de laboratório). Todavia, os que defendem a importância da psicologia prática (aplicada ao comportamento), apoiam as idéias de Freud. De qualquer modo, a influência da psicanálise se faz sentir, hoje, nas obras de muitos escritores, nas ciências humanas, no próprio estilo de vida e nos costumes do século XX, inclusive na liberdade com que se discute os problemas sexuais. E, ainda, ao tornar possível uma compreensão maior da infância, a psicanálise permitiu que pais e professores buscassem práticas mais adequadas na educação das crianças, melhorando a interação entre elas e os adultos que lhes são significativos.Vamos, então, percorrer, neste texto, o caminho de Freud para a realização da Psicanálise: um caminho intimamente ligado com sua própria vida. Freud é chamado "Pai da Psicanálise".
A Biografia de Sigmund Freud (1856 - 1939)
Sigismund Schlomo Freud, nasceu em 6 de maio de 1856, na pequena vila Morávia de Freiberg. Primeiro de oito filhos do segundo casamento de Jacob Kallamon Freud (41 anos), com Amália (21 anos). Seus pais eram judeus e Freud ingressou no pacto judaico - foi circuncidado - em 13 de maio de 1856. Sigismund abreviará seu nome para Sigmund em 1877. Sua família o chamará pelo diminutivo Sigi. Os dois filhos do primeiro casamento de Jacob, Emanuel e Philipp, eram seus vizinhos. Freud lembrará de John, seu sobrinho, filho de Emanuel, como o "companheiro de suas estrepolias" e bem como das brincadeiras cruéis que faziam com Pauline, irmã de John. A educação de Sigmund é dada com ajuda de uma ama, cujo nome é Nannie e a quem Sigmund realmente adora. Ela ensina-lhe hábitos higiênicos, empregando termos grosseiros, alternando com ele estímulos erógenos e maus tratos. Sigismund sabe-se, é a criança querida de sua mãe. Em 1859, os Freud partem para Leipzig. Na viagem de trem, á noite, Sigismund se assusta com os bicos de gás iluminados que lhe evocam as "alma que queimam no inferno", das quais lhe falava Nannie. Deste incidente então, provém sua fobia por viagens de trem. No ano seguinte mudam-se para um bairro pobre de Viena tradicionalmente habitado por judeus, com os dois filhos, Sigismund e Anna um filho, Julius, morrera em Freiberg, em 1858, aos sete meses. Sigismund tem sentimentos de culpa pela morte deseja desse "rival". Entre 1860 e 1866, Freud foi "presenteado" com o nascimento de quatro irmãs - Rose, Marie, Adolfine e Pauline- e com o nascimento de seu irmão caçula Alexander.
O início da vida em Viena - onde Freud se instala e fica- é um período negro para Sigismund pois tem que enfrentar a pobreza, o nascimento dos irmãos, as mudanças freqüentes de residências, e a perda de sua vida livre e feliz no campo. Seu pai não era uma pessoa que facilitasse as coisas. Ele era um pequeno comerciante de lãs sem recursos suficientes para enfrentar o mundo industrializado à sua volta. Era, no entanto, amável, generoso e convicto dos dotes excepcionais do filho Sigismund. Essa expectativa em torno de Freud desenvolveria sua autoconfiança, mas por ser considerado um privilegiado eram-lhe exigidas responsabilidades, "À sua inteligência, foi dada uma tarefa da qual nunca recuou, até que, 40 anos mais tarde, encontrou a solução de uma forma, que tornou seu nome imortal". (Kupfer 1989, 17). Os sentimentos de Freud em relação a seu pai, no entanto, eram intrincados. Duas passagens se fazem importantes: A primeira, por volta de 1864, quando Sigismund urina voluntariamente no quarto dos pais e diante deles. Ao repreendê-lo, seu pai diz: "Não se fará nada deste menino". Esta maldição freqüentará por muito tempo os sonhos de Freud, estimulando assim sua ambição. A segunda é quando, durante um passeio seu pai lhe conta que, quando rapaz, dando uma volta pelas ruas de Freiberg, um cristão lhe havia arrancando o gorro da cabeça, atirou no estrume e gritou: "Judeu, fora da calçada" e ele saíra da calçada e apanhara o gorro. Contou isso para mostrar ao filho que a vida havia melhorado para os judeus na Áustria. Sigismund, porém, decepcionou-se com o pai, pois deste esperava atitudes heróicas e o considerava um "homem grande e forte". Freud recebe as primeiras lições de sua mãe, e depois de seu pai. Cabe dizer aqui que sua mãe foi provavelmente entre todas as mulheres com que Freud conviveu, a mais importante; A influência que exerceu sobre sua vida interior foi sólida e decisiva. Ela exercia mesmo um poder sobre Freud. "Durante toda a sua vida de analista, ele reconheceu a importância crucial da mãe para o desenvolvimento da criança" (Gay 1997, 458), porém afirma, sempre, que para ele, a mulher era um continente inexplorado Mulher, O Continente Negro (Gay 1997, 454). Aos 9 anos (1865), ingressa no liceu municipal, onde recebe um ensino, cujos os fundamentos eram as Humanidades (latim, grego, literatura alemã, línguas, matemática e ciências naturais).
Forma-se em 1873 e depois ingressa na Universidade de Viena, no curso de medicina. É partidário da "Filosofia da natureza" embora atraído pelas teorias de Darwin. Em 1872, apaixona-se pela primeira vez por Gisela Fluss. A família de Freud vivia na penúria, ajudada por seus avós maternos, mas para dar ao jovem Sigismund uma educação completa os pais não pouparam sacrifícios. Apesar de habitarem um pequeno apartamento, comparado ao tamanho da família, para Freud foi destinado um pequeno cômodo para seu uso exclusivo. As únicas despesas extraordinárias da família, são reservadas aos estudos de Sigismund e suas necessidades, ou vontades sempre prevaleciam. A educação foi ferramenta fundamental para Fruem, pois representava a possibilidade de ascensão social, a possibilidade de fazer parte do círculo de vienenses cultos e realizar sua ambição: acrescentar algo novo ao conhecimento humano. Em 1876, Freud começa suas primeiras pesquisas no Instituto de Anatomia comparada do Professor Karl Klaus. Daí decide-se tornar um cientista natural, desistindo assim da Faculdade de Direito. Neste mesmo ano, ingressa como aluno pesquisador no Instituto de Filosofia do Professor Ernst Brücke. Por sua influência, Freud abandona a "filosofia da natureza" e passa a dedicar-se a um materialismo cientifico e positivista, que visa a reduzir o ser vivo a mecanismos físico-psiquicos. Brücke, primeiro mestre de Freud, juntamente com Jacob, convence Freud a abandonar a carreira de pesquisa pura. Saindo então do laboratório, e já formado em medicina (1881) Freud ingressa no Hospital Geral de Viena.
Trabalha de início em várias especialidades, mas a relação com Meynert, especialista em anatomia do cérebro, destaca-se. A princípio são relações amistosas, porém quando Freud, mais tarde expõe suas idéias sobre as causas da histeria, contrárias as idéias vigentes na Neuropatologia da época, são interrompidas. Meynert foi seu segundo mestre, mas por desavenças teóricas Freud o abandona. Em 1884 Freud destrói todas as suas anotações dos últimos quatorze anos, além de cartas, manuscritos e notas científicas. Entre as cartas, foram poupadas apenas as familiares. Esse gesto seria repetido por ele em 1938, quando se preparava para deixar Viena e seguir para a Inglaterra, porém todo material seria resgatado por Ana Freud, do cesto de lixo. "Freud tinha pouca fé no empreendimento bibliográfico" (Gay, 1997, 13) Por esta época, Freud faz pesquisas sobre a cocaína que por ele é considerada um remédio contra a depressão. Até hoje paira uma dúvida: "Freud era viciado em cocaína e elaborou suas teorias psicanalíticas sob influência desta droga, ou seu emprego da cocaína foi moderado e, ao final, inócuo?"(GAY, 1997, 1S). Por questões práticas - maiores possibilidades de ganhos - Freud escolhe dedicar-se aos estudos das doenças nervosas, ou seja, à Neuropatologia. Em 1885, Freud foi à Paris, interessado em conhecer os trabalhos de Charcot, um nome que "resplandecia ao longe, dentro da Neuropatologia". Isso faz com que entre em cena, o terceiro de seus mestres. Charcot desenvolvia pesquisa sobre hesteria .Freud por esta época, seguiu os cursos "fascinantes" e as autópsias, que o prepararam para adotar a teria da sedação sexual das crianças pelos adultos.
Entretanto os trabalhos franceses de medicina legal se limitavam às conseqüências físicas das sevícias sexuais: Freud inovará, interessando-se pelas conseqüências psicológicas sobre o desenvolvimento da criança e do adolescente e sobre o estabelecimento da neurose adulta. Entusiasma-se com a concepção de histeria de Charcot e com o tratamento hipnótico do qual se torna defensor. Freud se converteu em um advogado de Charcot, continuou a difundir suas idéias mas em sua autobiografia, 40 anos mais tarde, Freud comenta a respeito da obra do mestre francês: "nem tudo o que nos ensinou se mantém de pé..." (Kupfer, 1989, 25). Mais uma vez pode se notar o movimento freudiano de abandono de mestres. Em março de 1886, Freud abre seu consultório, tendo como clientela principal, os neuróticos e usa como tratamento a hipnose. No mesmo ano casa-se com Martha Bernays, de quem estava noivo há quatro anos. Nesse período estava em curso uma amizade, que viria a ser significativa na vida de Freud. Nos anos em que trabalhou no laboratório de Brücke, Freud conheceu Joseph Breuer, fisiologista e médico de sucesso, a quem passou a admirar e que tornou-se seu amigo. Durante anos, compartilharam todo interesse científico, o que seria muito importante para Freud. Porém, o desenvolvimento da Psicanálise viria separar Freud de seu quarto mestre, também por desavenças teóricas. Freud e Breuer escreveram juntos uma obra chamada "Estudos sobre a histeria". No entanto discordavam num ponto: para Freud, a origem, e a causa da histeria eram de natureza sexual e com isso Breuer não concordava. Aos poucos foram se distanciando até não ser mais possível manter a amizade. Em 1887, Freud trava conhecimento com Wilhelm Fliess jovem médico com o qual manterá uma correspondência quase diária por anos. Fliess era um otorrinolaringologista de Berlim, interessado em descobrir a relação entre certas doenças e a sexualidade. Freud ao desenvolver da teoria da Psicanálise viria a ter mais inimigos e menos amigos do que gostaria. Fliess passou a ser o amigo de que Freud precisava, pois ele era ouvinte, confidente, incentivador, companheiro e não se chocava com nada. Talvez o "isolamento de ambos, como médicos subversivos, apenas aumentou a afinidade entre eles" (Gay, 1997, 68). Fliess demonstrava uma sólida compreensão das teorias de Freud e dava-lhe apoio e idéias, inclusive acerca da teoria da sexualidade infantil. De início, as cartas continham idéias e reflexões científicas. Mais tarde, porém, passou a escrever cartas pessoais onde tentava refletir sobre coisas de sua vida à luz das idéias que ele vinha construindo sobre o psiquismo, as quais discutia freqüentemente com Fliess. Dentre elas: a histeria, as obsessões e fobias, neuroses, o fenômeno da transfer6encia, a teoria da sexualidade. Freud, por essa época, andava "atormentado" com sua "Psicologia para neurologistas".
Em agosto de 1895, escreve a Fliess dizendo ter conseguido entender a defesa patológica e, com isso, muitos processos psicológicos.(GAY 1997, 90) No ano seguinte, morre seu pai Jacob. Sigmund é profundamente afetado. Nesse ano fala pela primeira vez de noções do aparelho psíquico, de pré consciente, zonas erógenas e possui quase definitivamente a psicologia do sonho. Em 1897, abandona a teoria da sedução e fornece o conceito de "libido". Começa sua auto- análise sistemática, buscando suas recordações de infância. Anuncia a descoberta do complexo de Édipo. Em 1898 fala pela primeira vez da existência de uma sexualidade infantil autônoma, e troca a técnica da concentração pela das associações livres. Em 1899 decide publicar sua auto- análise e, portanto, seu livro sobre os sonhos. Em 1900 trabalha uma teoria da sexualidade e da libido. Analisa seus lapsos, esquecimentos, atos falhos, escolha de números e pseudônimos. Neste ano, publica o livro que lançaria publicamente a Psicanálise- A Interpretação dos Sonhos- (auto análise). Um dos benefícios de sua auto - análise foi desvendar a necessidade que tinha de um "mestre". E foi pela interpretação de um sonho que Freud pode superar de modo definitivo a falta de um mestre. "Não preciso de professores. Cabe ao meu verdadeiro pai me ajudar. Na verdade, não quero ninguém acima de mim. Salvo aquele que me fez" (Kupfer 1989, 28). O ultimo encontro de Freud com Fliess foi em 1900. Os dois brigaram violentamente. Fliess acusa Freud de Ter-lhe "roubado" a idéia da bissexualidade psíquica fundamental de todos os seres humanos. Continuaram a se corresponder, mas cada vez menos. "Fliess havia desempenhado um papel de destaque na pré- história da Psicanálise, mas quando a história da Psicanálise se desenvolveu, após 1900, sua participação foi ínfima" (Gay 1997, 108). Freud em 1901, torna-se professor e organizador de uma instituição voltada à divulgação da Psicanálise e à formação de analistas. Em 1908 esta instituição se transformará na Sociedade Psicanalítica de Viena.
A partir do surgimento da Psicanálise, a vida de Freud passou sem maiores desvios. Em 1902, Freud agrupou em torno de si alguns discípulos, como: O Rank, A Adler, W. Stekel e C.G.Jung. Porém à medida que a instituição analítica se expandia e se organizava, rupturas e cisões aconteciam entre Freud e seus discípulos. Ele se separou de Adler (1911) e O.Rank em (1924). Em 6 de maio de 1906, Freud completou 50 anos. A idéia da velhice parecia oprimi-lo, mas o ritmo de seu trabalho desmentia essa preocupação. Em 1909, foi convidado a fazer uma série de conferências nos EUA, sobre a Psicanálise. Em 1910 fundou a Associação Psicanalítica Internacional. A partir de 1920 aconteceu uma reviravolta importante na teoria freudiana, com a introdução da pulsão de morte e do novo modelo de aparelho psíquico: o ego, o id e o superego. Também a partir desse ano, Freud dedicou-se aos grandes problemas da civilização dentro de uma perspectiva psicanalítica. O primeiro sinal de câncer no maxilar surgiu em 1923, e o obrigou a uma sofrida operação à qual se seguiram outras 32 intervenções. Nesta mesma época morre um de seus netos preferidos. A esses episódios acrescenta-se a guerra . Mesmo acometido da doença, continua a receber pacientes até quase perto de sua morte. Destes alguns se tornaram psicanalistas e contribuíram para a expansão da Psicanálise. De fato, os últimos anos de vida de Freud não foram fáceis, tendo transcorrido esses anos sob o nazismo e os antecedente da II Guerra Mundial. A perseguição imposta aos judeus de Viena não o poupou, embora o seu nome brilhasse como nenhum outro e sua fama já tivesse corrido mundo. Po isso, em 1938, ele se vê obrigado a deixar Viena e mudar-se para Londres. Extraordinário criador de idéias, investigador incansável, sempre tolerante com as fragilidades do ser humano em que reconhecia um permanente desamparo fundamental, brilhante defensor da prioridade das emoções para explicar o comportamento humano, jamais se deixava desviar-se do caminho da busca das verdades; não as verdades estabelecidas, fixas e definitivas, mas aquelas que levavam a um eterno buscar, a uma investigação permanente e desafiadora, a um infinito vir a ser.
Somente sua morte interrompeu esta fulgurante e trabalhosa trajetória. Somente a morte fez cessar aquilo que se tornou a marca desta trajetória, inclusive em referência ao objetivo nuclear do trabalho clínico psicanalítico: o movimento psíquico. Em maio de 1939, alguns meses antes da sua morte, Freud escreveu uma carta ao amigo Charles Berg, na qual admitia que "a Psicanálise talvez nunca chegasse a se tornar popular, que um homem do povo não poderia compreendê-la nem ao menos aceitá-la" (Kupfer, 1989). Enganou-se. Neste mesmo ano de 1939, em 23 de Setembro, Freud morre, em Londres, aos 83 anos.
A Psicanálise
Etimologia: Psychoanalyse, vocábulo forjado por Sigmund Freud, do radical psycho-, já documentado em inúmeras palavras em grego clássico na forma psykho- (psykhogonia, 'origem da alma', psykhopompós, 'aquele que conduz a alma', psykhoedes, 'da natureza da alma etc.). Do gr. Psykhé, 'sopro de vida, alento, alma, vida, ser vivo, alma humana, entendimento, conhecimento, sentimento, desejo, e de análise, ver'. Psicanálise passou a ser então, a análise da mente. O termo psicanálise é usado para se referir a uma teoria, a um método de investigação e a uma prática profissional. Enquanto teoria, caracteriza-se por um conjunto de conhecimentos sistematizados sobre o funcionamento da vida psíquica. A Psicanálise, enquanto método de investigação, caracteriza-se pelo método interpretativo, que busca o significado oculto daquilo que é manifesto através de ações e palavras ou através das produções imaginárias, como os sonhos, os delírios, as associações livres. A prática profissional, refere-se à forma de tratamento psicológico. (a analise) que visa a cura ou o autoconhecimento. Compreender a Psicanálise significa percorrer novamente o trajeto pessoal de Freud, desde a origem dessa ciência e durante grande parte de seu desenvolvimento.
Grande parte da produção do método psicanalítico foi baseado em experiências pessoais de Freud. Para melhor compreendermos a Psicanálise, é preciso também, repetir, a nível pessoal, a primeira experiência de Freud e descobrir as regiões obscuras da vida psíquica, vencendo resistências interiores, pois, se a psicanálise foi realizada por Freud, "não é uma aquisição definitiva da humanidade, mas tem que ser realizada de novo por cada paciente e por cada psicanalista".
A gestação da Psicanálise
As teorias cientificas surgem influenciadas pelas condições de vida social, nos seus aspectos econômicos, políticos, culturais, etc. São produtos históricos criados por homens concretos, que vivem o seu tempo e contribuem ou alteram radicalmente o desenvolvimento da Ciência. Sigmund Freud foi um médico que alterou radicalmente o modo de pensar a vida psíquica. Freud ousou colocar os "processos misteriosos" do psiquismo, sua regiões obscuras, isto é, as fantasias os sonhos, os esquecimentos, a interioridade do homem, como problemas científicos. A investigação sistemática desses problemas levou Freud à criação da Psicanálise. Freud após terminar o curso de medicina em 1881 especializou-se, em Paris, em Neurologia (parte da medicina que estuda doenças do sistema nervoso); clinicava nesta área. Tornou-se aluno do Dr.Charcot, que acreditava que as doenças mentais eram originadas de certos fatos passados na infância, e para a cura dos pacientes ele usava a hipnose (estado de sono profundo, no qual o paciente age por sugestão externa). Charcot teria influência decisiva sobre Freud. De volta à Viena Freud se associa com Josef Breuer, médico e cientista, que também foi importante para a continuidade das investigações. Freud e Breuer hipnotizavam seus pacientes de modo que contassem fatos de sua infância. Esse relato provocava dois efeitos: fornecia dados que auxiliavam os médicos no diagnóstico da doença e na libertavam o paciente de suas angústias, agitações e ansiedades. Os doutores chamaram essa libertação de Catarse. Notaram, porém, que essa cura era transitória. Logo apareciam outros sintomas de perturbação. Freud e Breuer trabalharam juntos em alguns casos sem empregar a hipnose. Após terem captado totalmente a confiança do paciente, levavam no a relatar seu passado em estado normal. Dentre muitas observações, pode-se notar o fenômeno da transferência afetiva, ou seja, quase sempre o paciente transferia ao médico suas emoções, ora afeiçoando-se a ele, ora aborrecendo-se com ele. Durante algum tempo, os dois colegas trabalharam juntos mas logo suas idéias começaram a divergir muito e foi preciso que se separassem. Freud foi modificando a técnica de Breuer; abandonou a hipnose, porque nem todos os pacientes se prestavam a ser hipnotizados, desenvolveu a técnica da concentração, na qual a rememoração sistemática era feita por meio da conversação normal, e por fim abandonou as perguntas para se confiar por completo à fala desordenada do paciente. E com isto foi nascendo o Método Psicanalítico, que é composto por três técnicas: associação livre, análise dos sonhos, análise dos atos falhos.
O Método Psicanalítico
Técnica da Associação livre
Nos primeiros contatos com o paciente, Freud procurava ganhar confiança. Depois de algum tempo, este era submetido à associação livre, que consistia em fazer com que o paciente ficasse em uma situação de completo repouso. Geralmente, o doente deitava-se em um divã, que ficava em uma sala silenciosa, na penumbra, tendo o médico por de trás de sua cabeceira, portanto, sem encará-lo. Freud pedia ao paciente que fosse relatando em voz alta todos os fatos de sua vida dos quais podia se lembrar, sem ter que seguir uma ordem lógica ou cronológica. Esta técnica chamou-se de associação, pois Freud pedia aos seus pacientes que mencionassem os fatos conforme lhes ocorressem, conforme fossem se associando uns aos outros em suas mentes. Chama-se associação livre porque o psicanalista não sugere o assunto a ser abordado, deixa o paciente falar à vontade, livremente. Freud, ao submeter os pacientes a esta técnica, notou que estes faziam pausas no decorrer de seus relatos. A essas pausas, em que o doente parecia ter dificuldade de se lembrar dos fatos, Freud chamou de resistência e explicou resultarem do desejo do paciente de ocultar algo ao psicanalista ou a si mesmo. O estudo das resistências foi importante para a descoberta da causa de sintomas que afligiam o paciente, ou seja, para fazer um melhor diagnóstico de sua doença mental. Após submeter-se a técnica da associação livre, o doente podia sentir-se aliviado ou, ao contrário, passar por fortes crises emocionais ao reviver fatos passados de sua vida. O emprego da associação livre, portanto, oferece dois resultado: faz a catarse de alguns sintomas e auxilia o psicanalista a descobrir as causas da perturbação mental (diagnóstico).
Técnica de análise dos sonhos
Freud achou de grande importância a análise do sonho, pois poderia melhor compreender a mente de uma pessoa. Sendo assim pedia sempre a seus pacientes que lhe relatassem seus sonhos. Certos aspectos da mente das pessoas ficavam mais conhecidos pela interpretação que Freud fazia de seus sonhos. Em 1900, foi publicado o mais famoso dos livros de Freud: A Interpretação dos Sonhos. Deve-se a esta obra a introdução do método da associação, que tornou possível o estudo interpretativo do sonho, definido por Freud como a estrada real para o inconsciente. "O sonho é a realização de um desejo", Essa é a fórmula fundamental de Freud. Essa é a função do sonho.
Propriedades do sonho:
a) A facilidade com que ele é esquecido, tão logo ocorre o retorno à vigília.
b) O predomínio das imagens e, em particular das imagens visuais sobre os elementos de natureza conceitual, caracterizando-se, assim, o sonho como expressão do processo regressivo.
c) Seu conteúdo significativo redigido em nível metafórico e impondo trabalho de interpretação.
d) Nele mobilizam-se experiências inacessíveis à evocação quando em estado de vigília.
Níveis do sonho: Freud distinguiu, no sonho, o conteúdo manifesto e o conteúdo latente, isto é, as idéias oníricas encobertas. O conteúdo manifesto é o sonho tal como relatado. O conteúdo latente é o seu sentido oculto, sentido que justifica o processamento da análise interpretativa.
Mecanismos do sonho: Freud distinguiu cinco mecanismos mobilizados na construção do sonho. São eles: a condensação, a dramatização, o simbolismo, o deslocamento e a elaboração secundária. Por condensação se entende o processo segundo o qual o conteúdo latente se expressa sinteticamente no conteúdo manifesto. Por deslocamento se entende o processo pelo qual a carga afetiva se destaca do seu objeto anormal para fixar-se num objeto acessório. A dramatização consiste no processo através do qual os conteúdos conceituais são substituídos por imagens visuais. A simbolização se distingue da dramatização por dois caracteres fundamentais. Em primeiro lugar, enquanto a dramatização parte do abstrato para o concreto, do conceito para a imagem, a simbolização parte do concreto para o concreto, da imagem para outra imagem. E por fim, a elaboração secundária se revela como o processo, pelo qual, à medida que se aproxima a vigília, se introduz nas produções oníricas uma lógica mais ou menos artificial, que visa a preparar o reajuste do indivíduo às condições da realidade.
Técnica da análise dos atos falhos: Freud e outro psicólogos denominam de atos falhos os esquecimentos, os lapsos de linguagem, enfim, certos atos que praticamos sem que tivéssemos a intenção de praticá-los. Estes atos são atribuídos simplesmente ao acaso, mas neles percebe-se um significado, negando-lhes a condição de acidentais. Foi proposto por Freud a classificação dos atos falhos em três grupos: (a) atos sintomático; (b) atos perturbados; (c) atos inibidos. Por ato sintomático entende o ato que se cumpre sem recalque. O ato perturbado caracteriza-se como aquele que só se cumpriu parcialmente, em face de um recalque incompleto. Finalmente, o ato inibido é o que resulta de uma situação de conflito, na qual ocorre recalcamento total ou completo.
Dentro da perspectiva psicanalítica que sustenta a continuidade entre o normal e o patológico, afirma-se que os atos sintomáticos são freqüentes no homem normal. Os atos perturbados resultam de uma intersecção de forças. Estes atos podem ser de visão, de audição e de gesto. Cabe ressaltar os erros de memória. Já o ato inibido tanto se manifesta no domínio cognitivo (esquecimento) como no domínio motor (paralisia). Sobre o esquecimento, a originalidade de Freud consistiu em propor a tese do esquecimento ativo, isto é, de um esquecimento estratégico, envolvendo material dotado de alto poder de erosão.
Ab-reação, Insight, Repetição
O progresso através da terapia psicanalítica é habitualmente atribuído a três experiências principais: ab - reação, insight das dificuldades e as constantes repetições de seus conflitos e de suas reações a eles. Um paciente tem ab - reação quando exprime livremente uma emoção reprimida ou torna a viver uma experiência emocional intensa, como se fosse uma espécie de limpeza emocional uma catarse. Um paciente tem insight quando entende quais são as raízes do conflito. Às vezes, chega ao insight ao conseguir lembrar-se de uma experiência reprimida, mas é errada a idéia de que a cura psicanalítica resulta geralmente da recordação repentina, de um único episódio dramático Insight e a ab - reação devem atuar simultaneamente: o paciente precisa compreender seus sentimentos e sentir o que compreende. A reorientação nunca é apenas intelectual. Pela repetição o paciente fica suficientemente forte para enfrentar sem deformação a ameaça de toda situação original de conflito e a reagir a ela, sem uma excessiva angústia. O resultado final que se exige de uma boa psicanálise é uma modificação profunda da personalidade, que permita ao paciente enfrentar os seus problemas com um fundamento realista, sem lançar mãos dos sintomas que o fizeram iniciar o tratamento e que lhe permita uma vida mais agradável e mais rica. Em vez de depender do comportamento defensivo, o paciente passa a depender do comportamento adaptativo.
A Doutrina Psicanalítica
Durante o período de doze anos Freud foi o único que usou, para tratamento de distúrbio nervosos, este método especial de que é autor. Tal método exige muito tato, penetração de julgamento, calma e paciência. Trabalhando com dedicação e persistência, cuidando de seus doentes e observando pessoas sãs, Freud tornou-se um grande conhecedor da mente humana, sobre a qual reuniu uma vasta documentação. Julgou-se, pois, capacitado para publicar uma doutrina psicológica completamente nova, explicando o funcionamento da mente humana e o desenvolvimento da personalidade. Atualmente, a palavra Psicanálise é mais empregada neste sentido- como a doutrina freudiana que explica o funcionamento da mente humana. A doutrina psicanalítica deriva todos os processos mentais (exceto os que dependem da recepção de estímulos externos) de um jogo de forças psíquicas instintivas representadas por imagens ou idéias e suas respectivas cargas emocionais, além de enfatizar os aspectos psicossexuais. A princípio sua doutrina foi mal recebida, e suas obras passaram despercebidas. Porém, aos poucos o número de pessoas interessadas em suas descobertas foi aumentando até ser fundada a Associação Psicanalítica Internacional, chefiada por Jung. Sua doutrina difundiu-se por todo o mundo, mesmo antes de seu falecimento em 1939, em Londres onde Freud se refugiara quando perseguido pelos nazistas, por ser judeu. Atualmente notamos que a Psicanálise influência vários campos da atividade humana, principalmente a Psiquiatria (ramo da medicina que trata das doenças mentais). É grande também o número de psicanalistas dedicados a aplicação da Psicanálise á educação da infância. É comum imaginarmos a Psicanálise acontecendo num consultório com um paciente deitado num divã, até porque esta tem sido tradicionalmente, a sua prática. Porém, coexistindo com isto, é possível observar o esforço de estudiosos no sentido de ampliar o raio de contribuição da psicanálise aos fenômenos de grupos, às práticas institucionais e à compreensão de fenômenos sociais, como a violência e a delinqüência, por exemplo. Portanto, além das contribuições para a revisão de práticas profissionais, buscando, por exemplo, um atendimento ao doente mental que supere o isolamento dos manicômios, a maior contribuição da Psicanálise é indicar que o mais importante na sociedade não é a representação que ela faz de si, ou suas manifestações mais elevadas, mas aquilo que está além dessas aparências. Isto é, a angústia difusa, o aumento do racismo, a vitimização das crianças, o terrorismo. Em sua, a Psicanálise nos faz ver aquilo que mais nos incomoda: a possibilidade constante de dissociação dos vínculos sociais. Muitos adeptos da teoria psicanalítica, deram continuidade aos seus trabalhos sem modificar os ensinamentos de Freud. Estes são chamados de psicanalistas ortodoxos como: Ana Freud, Ernest Jones, Karl Abraham etc. A maioria, porém, mantém-se fiel em alguns pontos, alterando outros. Estes são chamados revisionistas ou neofreudianos como: Erich Fromm, Harry S.Sullvan, Karen Horney, etc.
A Libido
Observando seus pacientes, Freud pode constatar que a causa da doença mental neles apresentada era sempre provinda de um problema sexual. Observou, também, as personalidades normais, podendo assim concluir que "o comportamento humano é orientado pelo impulso sexual". A esse impulso Freud dá o nome de libido (palavra feminina que significa prazer). A libido constitui uma força de grande alcance na personalidade humana; é um impulso fundamental ou fonte de energia.