Diário de Che na Bolívia |
Aqui constam algumas partes do diário de Che na Bolívia. Após a sua prisão, o diário ficou com o presidente boliviano Barrientos que enviou cópias à CIA, ao pentágono e ao governo dos Eua, chegando também uma cópia à Cuba, mas com algumas páginas faltando. |
1966 7 de Novembro Hoje começo uma nova etapa. À noite chegamos à fazenda. A viagem foi bastante boa. Logo que entramos, convenientemente disfarçados, por Cochabamba, Pachungo e eu fizemos os contatos e viajamos de jipe. Bigode, que acabara de inteirar -se de minha identidade, mostrou -se disposto a colaborar conosco, faça o que façá o partido, mas se mostra fiel a Monje, a quem respeita e parece gostar. 8 de Novembro Passamos o dia junto ao córrego a 100 metros da casa. Fomos atacados por uma espécie de moscas que são muito incômodas, embora não piquem. São muitas as espécies de mosquitos e moscas e carrapatos que nos atacam. 9 de Novembro É dia sem novidades. Com Tumaine fiz uma expedição sequindo o curso do rio Ñancahuazú (na verdade, um riacho), mas não chegamos à sua nascente. À tarde, uma chuva forte nos obrigou a ficar em casa. Tirei seis carrapatos do corpo. 12 de Novembro Dia sem novidade alguma, fizemos uma breve exploração para preparar o terreno destinado ao acampamento quando chegarem os seis do novo grupo. (Meus cabelos estão crescendo, embora muito ralos, os cabelos tingidos de branco se tornam avermelhados e começam a desaparecer, a barba está nascendo. Dentro de uns dois meses voltarei a ser eu). 18 de Novembro Tudo transcorre monotamente: os mosquitos e os carrapatos estão começando a criar feridas graves nas picadas infectadas. 20 de Novembro Ao meio - dia chegaram Marcos e Rolando, agora somos seis. Veio com eles Rodolfo, que me causou uma boa impressão; está mais decidido que Bigode a romper com tudo. 21 de Novembro Primeiro dia do grupo ampliado. Já estamos instalados. A cobertura foi feita com a lona do caminhão que encharca, mas protege um pouco. Nós temos nossas barracas de náilon. Chegaram mais algumas armas. 23 de Novembro Inauguramos um observatório que domina a casinha da fazenda, para nos prevenir contra espionagens e visitas incômodas. Análise do Mês de Novembro Tudo tem acontecido bastante bem: minha chegada sem inconvenientes; a metade do pessoal já está aqui também, sem inconvenientes, embora tenham demorado um pouco. Os planos são: esperar o resto do grupo, aumentar o número de bolivianos pelo menos até vinte e começar a operar. Falta verificar a reação de Monje. 2 de Dezembro Bem cedo chegou o Chino, muito efusivo. Passamos o dia conversando o essencial: ele irá a Cuba e informará pessoalmente da situação; dentro de dois meses poderemos incorporar cinco pessoas, quer dizer, quando começarmos a atuar. 12 de Dezembro Falei para todo o grupo, "lendo a cartilha" sobre a realidade da guerrilha. Fiz pé firme quanto à unicidade do comando e adverti os bolivianos sobre a responsabilidade que teriam ao violar a disciplina de seu partido para adotar outra linha. 31 de Dezembro 7h30, chegou o médico com a notícia de que Monje estava ali. A recepção foi cordial, mas tensa. Flutuava no ambiente a pergunta: para que veio? A conversa com Monje se iniciou com generalidades, mas logo veio sua colocação fundamental: a direção político - militar da luta caberia a ele, enquanto a revolução estivesse em solo da Bolívia. Eu disse que não podia aceitar isso de nenhuma maneira. O chefe militar seria eu e não aceitava nenhuma dúvida quanto a isso. Análise do Mês de Dezembro Completou -se a equipe de cubanos com todo êxito. Os bolivianos estão bem, embora sejam poucos. A atitude de Monje pode, por um lado, retardar o desenvolvimento, mas, por outro, pode contribuir, ao liberar -me de compromissos políticos. |