Capítulo 10 – Sobremesa
O quarto de Severus em nada se parecia com o que Harry tinha visto pela manhã, na primeira tentativa de sedução. No fundo, havia uma lareira de fogo alto e pequenas velas espalhadas pelo ambiente, bem como mais daqueles arranjos com as florezinhas arroxeadas, perfumando o local. A luz era indireta e delicada, formando grandes sombras sensuais nas paredes.
A cama agora tinha dosséis suaves e estava arrumada com um acolchoado de cetim cor vinho brilhante. Ao lado da cama, uma mesinha de canto, com um balde de gelo feito em acrílico, a champanhe já gelando, dois flûtes de cristal e tigelinhas de porcelana com morangos frescos.
Severus rapidamente sentou-se na cama, serviu duas taças da champanhe geladinha e passou uma a Harry.
– Agora sim... – comentou, naquela voz que fazia o rapaz se derreter por dentro. – Bem mais propício à sedução, não acha?
– É o que parece... – Harry olhou em volta, mal acreditando. Severus realmente o queria, ele o desejava daquele jeito.
Era um sonho se tornando realidade.
Mas o assombro de Harry foi confundido por Severus com outra coisa, e ele pousou o flûte e garantiu:
– Harry, hoje não vai acontecer nada que não queira. Se você acha que está indo rápido demais...
– Não, não – Harry se deu conta. – Não, eu só estou... embevecido. Severus, você me deixou de quatro.
– Ah, não – Ele sorriu de maneira predadora. – Isso eu espero que aconteça mais tarde. – Retirou a taça de Harry. – Incomoda se eu fizer isso?
– Não.
– E isso?
Puxou Harry contra si suavemente e fez seus lábios se encontrarem. Era um toque suave, ainda de olhos abertos. Severus mal podia sentir a maciez dos lábios de Harry, o calor de sua pele. O segundo beijo foi um pouco mais longo, e eles continuaram apenas se tocando, até que o rapaz separou seus lábios e Severus não perdeu tempo em gentilmente explorar sua boca.
Para Harry, era um beijo como nenhum outro. Havia uma língua curiosa em sua boca, provocando todo tipo de sensações que mexiam com seu corpo.
Severus não tinha imaginado que seria tanto. Os lábios de Harry eram macios, doces e tenros, a boca era um vulcão de delícias. Como não se queimar?
Harry não soube dizer exatamente como tudo aconteceu, mas de repente ele estava pressionado contra o corpo de Severus, seus corpos se tocando, levando a ele prazer num nível que ele não tinha antecipado. Logo foi a vez de Severus oferecer sua boca para que Harry a explorasse e ele sentiu o calor aumentar. Suas mãos começaram a percorrer as costas de seu jovem parceiro, puxando-o mais para perto de si, como se quisesse entrar debaixo da pele macia. Contudo, aquela pele maravilhosa estava coberta e, então, seus dedos foram para os botões da camisa elegante, enquanto seus lábios deixaram os de Harry para o pescoço comprido.
Harry tremia violentamente, excitado, arfando e pôs-se a imitar Severus, retirando-lhe as roupas. Felizmente aquela noite o sisudo Mestre de Poções tinha decidido deixar a casaca no armário, portanto Harry só teve o trabalho de desabotoar a camisa branca.
Em poucos minutos, ambos estavam nus da cintura para cima, e os beijos se intensificaram, fazendo a temperatura subir ainda mais. Severus se fartou no corpo de Harry, os lábios passeando pelo peito, até se deterem num mamilo. O botãozinho endureceu quando ele passou a língua no local, e Harry estremeceu:
– Oh, Sev...er...us...
Severus até que gostaria de responder, mas ele preferia concentrar suas atenções no segundo mamilo de Harry, enquanto manobrava seu parceiro para ficar sobre ele. Em seguida, a boca talentosa passou a se ocupar do abdômen firme do rapaz. O corpo de Harry tremia todo, e Severus abriu-lhe gentilmente o cinto. Os tremores pioraram.
Severus se forçou a repetir:
– Harry, se você não quiser... – Ele ficaria frustradíssimo se Harry não quisesse, mas ele ia dar todas as chances do rapaz recuar.
– Severus, por favor... Não pare.
Encorajado, com um sorrisinho no canto dos lábios, Severus voltou ao que fazia, beijando a barriga de Harry e retirando suas calças e cuecas. A ereção de Harry, confinada pelas roupas, saltou para fora de forma tão elegante que parecia ser até câmera lenta, e de repente ela estava cara a cara com o estóico Mestre de Poções. Ele sabia que queria fazer coisas com ela – oh, e como queria – mas por aquele momento, ele apenas a encarou, maravilhado, sentindo seu próprio membro firmar-se diante daquela visão da anatomia de Harry.
De repente, o Mestre de Poções sentiu mãos puxando-o para cima, e Harry estava tentando retirar o resto de suas roupas, arfando.
– Severus, por favor... Por favor.
Só quando Severus já não tinha mais nem uma única peça de roupa no corpo é que o rapaz parecia ter retornado à capacidade de respirar. E então ele parecia ter se esquecido de como se respirava. Ou se falava. Porque o corpo de Severus não era nada como ele tinha imaginado. Não, não era sexy e sarado. Era de uma pele pálida, mas com uma tonalidade que era totalmente característica dele. E era magro, mas não ossudo; havia até curvinhas. A pele tinha marcas e cicatrizes, um testemunho de tudo que fazia Severus ser a pessoa que Harry amava tanto. Era um corpo e tanto. E, aparentemente, pensou o rapaz, emocionado, era *seu*.
Severus notou Harry o encarando e, por um momento, temeu que o jovem estivesse repensando tudo aquilo, ao ver as cicatrizes e marcas de sua vida de erros e enganos. Sentiu toda sua baixa auto-estima o atacar de uma vez só, ameaçando até a sua ereção. Então Harry ergueu a cabeça e seus olhos se encontraram. Cinza no verde, escurecidos de tanto desejo.
As dúvidas de Severus se dissolveram como por encanto. O ex-Death Eater sentiu sua alma se inflamar ante a visão do sorriso suave de Harry e, num impulso totalmente atípico, atirou-se nos braços Gryffindors cheios de confiança, o coração explodindo ao saber que Harry o queria tanto quando ele o queria. Eles se beijaram novamente, desta vez sem reservas, apaixonadamente, deixando que os instintos básicos tomassem controle.
As ereções se encontraram, os quadris se movimentavam, Severus e Harry pareciam espiralar de paixão e desejo.
Severus nunca tinha sentido esse tipo de atração sexual por ninguém antes.
Até aquele instante, Harry nunca soube que era possível desejar alguém tanto assim.
O clímax, portanto, estava apenas a algumas estocadas. Harry podia sentir a pressão aumentando. Era uma sensação que ele conhecia, mas, por outro lado, paradoxalmente, era totalmente estranha. Desta vez não era apenas um movimento mecânico. Era Severus que estava ali, seu Severus, o homem que amava e, de algum modo, ambos podiam sentir a conexão se aprofundando.
Severus sentiu que não ia demorar muito. Então, parou.
Harry gemeu quando o movimento cessou.
– Severus...
– Muito rápido, Harry... – Severus ofegava. – Tem que durar mais.
– Não! – Harry puxou-o para junto de si. – Por favor. Por favor, eu preciso disso. Preciso de você. Preciso gozar, preciso ver você gozar. Severus, por favor. Dentro de mim.
A voz de Harry tinha um tom de urgência, quase desespero. Era uma necessidade quase palpável que Severus podia sentir em seu amante.
– Harry, você não deve se submeter a mim. Você matou o Lord das Trevas, é óbvio que deve...
– Você não sabe há quanto tempo sonho com isso. Severus, quero você. Agora.
– Isto não é direito, Harry.
– Por favor, Severus... – Harry separou as pernas, encaixando o homem que amava entre elas. – Por favor, Severus, agora.
Como ele poderia negar o pedido de Harry? O rapaz se insinuava cada vez mais dentro de Severus, uma estranha magia à qual o Mestre de Poções não parecia capaz de resistir. Ele se inclinou, beijando os lábios macios.
– Está bem, demoninho. – Harry sorriu e mexeu-se, fazendo Severus gemer. – Só um pouco mais, moleque impaciente.
Ele sussurrou um feitiço lubrificante (não ia dar tempo para mais nada), e usou um dedo para tentar preparar o rapaz. Harry soltou um grito curto ao contato, à intrusão bem-vinda. O som excitou Severus, que teve de se segurar para não tomar Harry ali mesmo. Mas o Mestre de Poções, ex-Death Eater e ex-espião não era nada se não disciplinado. Então, ele preparou Harry cuidadosamente.
– Agora? – perguntou Harry.
– É melhor você ficar de bruços, Harry. Assim eu não o machucarei.
– Não! – Harry afastou ainda mais as pernas. – Não, eu quero olhar para você. Quero ver você, seu rosto...
– Mas Harry…
– Por favor, Severus… – Harry se esticou e agarrou a ereção proeminente de seu parceiro. – Em mim, por favor.
Severus obedeceu, guiando sua ereção à entradinha que tentou alargar. A sensação de calor e gostosa contrição o fizeram prender a respiração enquanto entrava gentilmente na passagem estreita. Harry gemeu alto com a sensação de Severus entrando, preenchendo, afundando, tornando-se um com ele. Deteve-o com um:
– Ah...!
– Harry, tudo bem? – A voz rica de Severus estava cheia de preocupação. – Se estiver doendo, me avise.
– É tão bom... – Harry arfava, os olhos revirando de prazer. – É... melhor do que... eu imaginava.
– Ah, Harry...
Severus continuou entrando, entrando, até sentir que estava todinho enterrado naquele local quente e apertado, convidativo e confortável. Logo ele recuou para entrar de novo, desta vez não tão gentil. Repetiu o gesto e o movimento irradiou ondas e ondas de prazer nos dois corpos. Eles gemiam juntos, Harry apertando os olhos. Severus repetiu a invasão mais uma vez, e outra, e as estocadas passaram a ser insistentes, tentando encontrar um ritmo.
Para aumentar a sensação, Severus então segurou a ereção de Harry, bombeando-a em sincronia com as estocadas. Aí Harry se deu conta de que estava perdido. Perdido em seu amor por Severus, agora amigo, amante e muito mais. Ele se sentia entregue, muito além do ponto de retorno. Seu corpo vivia as sensações intensas e seu coração se comprometia como jamais antes em sua vida.
O ritmo cresceu, as estocadas ganharam vigor e velocidade. Severus estava concentrado em dar a seu amante o maior prazer possível e Harry tentava acompanhar a rápida sucessão de sensações no rosto de Severus. Mas ele mesmo estava perdido, enquanto a ereção de Severus fazia seu caminho para dentro e para fora de seu corpo. Harry viu uma fina camada de suor no rosto pálido, o jogo de luzes no quarto brincando com suas feições. Jamais o rapaz o vira tão atraente, tão... seu. E quando Severus encontrou a próstata de seu parceiro, Harry não teve a menor chance: arqueou o corpo para trás e urrou, num orgasmo longo e intenso, que o fez lambuzar toda sua barriga e a mão de Severus.
Sentindo o corpo de Harry reteso à sua volta, Severus pôs-se a sentir a explosão inevitável queimando suas veias e ele uivou um som inarticulado, despejando sua semente dentro do corpo trêmulo de seu amante.
Severus caiu ao lado do corpo de Harry, os músculos transformados em borracha, os pulmões buscando ar. Harry não estava muito melhor.
Levou ainda alguns minutos até Severus retomar o controle sobre seu próprio corpo. Ele sentiu o corpo quente de Harry a seu lado e não pôde resistir a beijar aquele rosto plácido. O jovem tinha os olhos fechados, a cabeça rodando, a respiração lutando para se normalizar.
– Sev...er.. us...
– Oh, Harry… – Ele ajeitou o rapaz para perto de si.
De repente, Harry passou os braços em volta de Severus de maneira possessiva.
– Sou seu para sempre, Severus. Vai ter que ficar comigo agora.
– Eu fico. Desde que me prometa uma coisa.
– O que é?
Olhos negros solenes encararam os verdes.
– Nunca me deixe ir. Eu nunca vou querer ir, mas, por favor, não deixe isso acontecer. Porque agora eu sei que viver sem você será... penoso.
Harry produziu um daqueles seus sorrisos mais brilhantes e tranqüilizou seu novo amante:
– Eu também não posso mais viver sem você, Severus, então não precisa se preocupar.
– Então é uma promessa.
– Uma promessa.
Eles ficaram em silêncio por alguns instantes, diante da solenidade das palavras. De repente, Harry começou a rir. Severus ergueu uma sobrancelha.
– Que estranho. Eu quero fazer amor de novo, mas estou pregado. Foi muito... intenso. Acho que por isso meu corpo está pedindo um descanso. Mas não quero dormir – bocejou ruidosamente. – Parece um desperdício querer dormir quando tenho você todinho para mim, finalmente, depois de tanto tempo.
Severus riu suavemente.
– Eu não vou a lugar nenhum, Harry. Pode dormir tranqüilo. E, quando acordar, podemos exercer nossa criatividade com aqueles deliciosos chocolates e morangos.
– Eu ia adorar. – Harry sorriu e ergueu os olhos para Severus, que viu adoração neles. – Eu amo você.
– E você não percebeu as flores na casa, não é?
– Essas flores roxinhas? – Os olhos de Harry brilhavam, excitados, na luz bruxuleante da lareira. – Elas têm uma mensagem? Qual?
– São lilases. São mensagens de "primeiras emoções do amor".
– Oh, Severus. Sabe o que isso faz comigo? – Ele o apertou entre seus braços. – Não quero mais soltar de você.
– Nem eu. Você... – Severus tinha dificuldade de dizer essas coisas. – Bom, como eu disse antes, não vou a lugar nenhum.
– Promete?
– Prometo. – E deu-lhe um selinho, afetuoso e casto, para que o jovem pudesse descansar.
Sorrindo, Harry se ajeitou nos braços de Severus, que acolchoou a cabeça do rapaz em seu peito. Satisfeito, feliz, Harry deixou-se escorregar para um sono, embalado pela promessa solene de Severus. Mal sabia ele.
Antes mesmo do amanhecer, Severus iria quebrar a palavra.
P.S. aos curiosos - Sim, as flores desse papel são lilases.