"Atraques" da Polícia

Quem usa algum tipo de droga ilícita provavelmente passou ou vai passar por "atraques" da polícia. Você não precisa necessariamente estar fumando ou estar com droga na mão para ser abordado pelos "homens".

Grande parte dos usuários já tiveram a oportunidade de ser abordado pela polícia. A primeira vez é mais estressante, mas nas próximas acaba se aprendendo como tudo funciona.

A maioria dos usuários que eu conheço compram a droga em vilas. Porto Alegre, como qualquer cidade brasileira, é cheia delas. A coisa funciona da seguinte maneira: Existem os grandes traficantes, que tem um estoque grande de drogas; outros, que normalmente vendem na mesma vila, compram deles só o necessário para vender em 1 ou 2 dias; e daí por diante... até chegar no seu vizinho que compra R$10,00 e revende por R$20,00.

Que tipo de policial pode abordar você? O tipo mais perigoso é a POLÍCIA CIVIL. A POLÍCIA DE CHOQUE também mete muito medo. Os mais "na boa" são a galera da BRIGADA MILITAR (são os que hoje em dia mais abordam o pessoal no RS - particularmente Porto Alegre).

CONFISSÕES:

A primeira vez que fui abordado pelos "cumpridores da lei" foi em Porto Alegre, na vila perto do DADO BIER, uma badalada cervejaria. Eu e um amigo fomos comprar o produto num sábado à noite. Passamos pela rua de vendas, encontramos um dos fornecedores e fizemos a encomenda. Como de praxe, eles falam: "dá uma voltinha curtinha aí..." (eles não carregam nada consigo, depois da encomenda eles pegam o produto e voltam para entregar). Dei a volta curta, quando íamos pegar e pagar (nunca pague antes, principalmente se você não conhece quem está vendendo), percebi que um carro grande descia a rua com os faróis desligados em nossa direção. Interrompi a negociação ao mesmo tempo que o carro da POLÍCIA DE CHOQUE acendia os faróis em luz alta. Tentamos seguir adiante mas o carro interrompeu a nossa passagem. Nesse momento desciam vários policiais, com revólveres e tudo que é tipo de arma grande que dá medo, gritando e ordenando que saíssemos do carro. O que podíamos fazer? Ainda bem que a gente não comprou nada. Saimos do carro, como ordenado, com armas apontadas para a gente. Me encostei no carro, mãos no teto, pernas abertas, quando percebi que o policial que me revistava tinha "cheirado" pelo menos uns R$10,00 de cocaína. Ele tinha uma arma bem grande apontada para mim, foi muito estressante. Como posso saber isso?? Veja bem, meu caro websurfer, se você convive com o tipo de gente que usa esse tipo de coisa, fica na cara. Como diz Gilberto Gil: "a minha alma clara só quem é clarividente pode ver." É, eu sou clarividente e não tenho dúvidas que o policial usou cocaína. Deve ser maravilhoso ser da Polícia de Choque, passam a noite procurando e consumindo o pó encontrado. Eu não acreditava naquilo! Poxa, eu não sou nenhum marginal, estudo, trabalho, gosto de me divertir, nunca fiz nada de mal para ninguém. Vem então um cara completamente "cheirado", com uma arma na mão (e pela lei ele pode fazer isso), e põe a minha vida em risco. Ele nem sabia direito o que fazer. Olhava para dentro do carro, me revistava, revistava o extintor de incêndio, me revistava de novo, fungando sempre... Não encontraram nada com a gente, nos liberaram. Nós fomos para casa enqüanto a POLÍCIA DE CHOQUE continua "a sua noite".

O e traficante? Pelo que percebi, não prenderam ele. Ou ele atirou em alguma casa o "produto" ou o mesmo foi "apreendido".

Depois desse dia vi que o maior perigo nas vilas não são os traficantes. Porquê eles vão roubar você? Perder o cliente? Ficar com má fama? Deixar o seu ponto de venda com fama de perigoso? É claro que existe muita gente que vende serragem/maizena como maconha/pó, o que se pode fazer é comprar sempre da mesma pessoa, conhecer quem vende para não ser enganado.

As últimas vezes que fui abordado: (1) estava com mais 2 amigos. Dessa vez foi na vila Cruzeiro, zona sul de Porto Alegre. Chegamos na rua de vendas e perguntamos se tinham o produto. O pessoal avisou que estava "sujo", que tinha uma viatura da polícia no fim da rua, etc... Tudo bem, então vamos embora. Eu imaginei que a polícia estivesse no fim da rua que eu estava e decidi sair da vila por uma rua lateral. Virei à direita e após 100 metros encontro a viatura da polícia. Ainda bem que era a galera da Brigada Militar. Eles mandaram a gente parar o carro, com revólveres apontados para nós. Desliguei o carro, mandaram a gente sair. "Mãos no carro", "o que estavam fazendo aqui, pegaram o quê?" (até hoje não entendo porquê eles nos abordam com tanta raiva, não precisa ser assim). Eu ficava quieto para a maioria das perguntas, quanto menos se fala é melhor. Revistaram o carro, acharam um COLOMY. O chefe deles pergunta: "acharam alguma coisa?" - "só palheiro", respondem. Eu olhava eles e eles ve encaravam com raiva, ódio. Poxa, porquê?? Eles sabem que todo mundo fuma... Então começaram a nos dar um sermão: "o fumo não leva a nada", "eu poderia prender vocês" (o cara até era legal). "Vão embora e nunca mais apareçam aqui".

Meus amigos entraram no carro e eu comecei a conversar com eles: "eu só queria dizer que entendo o seu ponto de vista, mas olhe para a gente, ninguém aqui é vagabundo, a gente não é marginal". E batia com a minha mão no seu ombro, com respeito e carinho, mostrando que estavamos entendendo que eles faziam o seu trabalho e a gente vivia a nossa vida sem prejudicar ninguem. Eles pareciam entender, mas parece que faz parte do trabalho deles a agressão, fazer cara de mal. Não devia ser assim.

(2) Outra vez foi no dia da final da copa do mundo, à noite. A frota de carros da brigada militar (aqueles Vectras BRIGADA-POLÍCIA TOTAL) estão por toda a cidade. Confiante e conhecendo bem a vila não tive medo, fui lá assim mesmo - hoje em dia não é tão fácil como à alguns meses atrás. Fiz a encomenda, dei a volta curta, quando fui pegar o produto, veio um carro no fim da rua, o traficante correu para o meio da vila e eu segui adiante. O carro começou a fazer sinal de luz. Eu fiz que não entendi, fiz sinal que o cara podia me ultrapassar. Ele continuava fazendo sinal de luz e tive que parar. Nos revistaram, nao encontraram nada. Fizeram um jogo psicológico, perguntaram se eu tinha bebido, que iriam me levar para a delegacia, fazer exames de álcool, drogas. Eu falei que tudo bem, que não tinha consumido nada. Bem, o principal é você mostrar que não tem medo, e ao mesmo tempo respeitar a galera que está trabalhando. Eles acabam desistindo de você.

E entendo mesmo a polícia. Não se pode enfrentar esse tipo de gente (traficantes) se for muito diferente deles. Quem leva a pior é a gente que depende de traficantes e todo o tipo de gente que só pensa em dinheiro. Eu entendo porquê a maconha é considerada ilegal, mas será que quem dita as leis conhece como é violento o mundo real? É claro que a lei não reflete a realidade. Muitos inocentes continuam morrendo por dia e a lei não ajuda em nada para isso acabar.

De outro lado tem as pessoas que não sabem nada do submundo: maconha faz mal, tem que ser proibido o uso. Eu digo que não é tao simples assim. Não acredite no que você vê na TV. Entenda a realidade. É facil aceitar os fatos. O difícil é achar uma solução. Não é proibindo o uso que as pessoas vão parar de consumir.