Tentações da Lua

(Cross-over de Yu Yu Hakushô e Saint Seiya Em Homenagem à Jade)



 
 

Por Pérola J.

Parte 2 - Segredos do Amor:

- Não adianta Shun! Eu não vou com você a nenhuma reunião ridícula! - Seiya agarrava bem apertado ao poste enquanto Andrômeda o puxava pela cintura. - Eu quero passear pela cidade! Faz tempo que não venho à Grécia. Você não vai estragar a minha tarde de folga. Eu vou me divertir! - mostrou a língua.

Seiya estava revoltado. Aioria, seu novo mestre, era muito chato nos treinamentos e fora difícil obter aquela folga. Não era uma folga totalmente concedida de fato. Ele aproveitara uma distração momentânea de Aioria com os outros aprendizes para gritar que precisava sair um pouco, após 15 dias de treinamento rígido, e se mandar o mais rápido possível. Aquele grunhido estranho foi um provável sim, esperava... O cavalheiro de Leão adquiria 7 novatos selecionados em combate pelo velho Shion, mestre do Santuário e a incumbência de transformar Pégasus em um exemplo aos demais. Sorte eles estarem suavizando um pouco as coisas na inexperiência e cansando o mestre, desacostumado a lidar com tantos aprendizes e novas regras. Tá certo, eles eram o principal grupo de defesa de Atena, porém ter de treinar feito mula não era prêmio nenhum. Nunca pensou que cavalheiros de ouro fossem tão exigentes. O Hyoga e o Shiryu estavam em seu meio ambiente, mas ele... Lembrou-se saudoso de como reclamava dos treinos de Marin. Era mel perto de Aioria! Acordar as 3:00h da madrugada e ter de pescar no escuro o próprio café da manhã com um simples galhinho pontudo era covardia! Ele gostaria de trocar farpas com Leão de vez em quando e não podia. Seria decepcionante para Marin saber disso. Fora uma boa mestra, estava acostumado com seus métodos. Porque não podiam continuar juntos? Porque aceitara mudar de mestre? Afinal teve votação pra isso? Tudo vinha das aborrecedoras votações ultimamente... O santuário estava ficando diferente. As mudanças ocorriam muito rápido para o seu cérebro conseguir captar. Era bom ver tantas faces infantis a admirá-lo, compartilhar suas travessuras e jogos de futebol; semelhante aos seus tempos de menino no orfanato e na mansão Kido. Era estranho ver poucas pessoas mais velhas contrastando com suas recordações do tempo de aprendiz, onde perdurava um clima poderoso e místico, amedrontador. Era ruim ter de participar das monótonas reuniões extraordinárias do Conselho de Atena. Aquilo dava dor de cabeça e as ditas resoluções tomadas eram apavorantes quando Shiryu conseguia finalmente explicar-lhe o significado. Estava pegando trauma e se sentindo ultrapassado. Queria curtir um pouco mais da inconseqüente adolescência antes de assumir atos importantes. A pior foi a última sessão... da qual saiu com o título de "cavalheiro-auxiliar" de Aioria, não perguntem como...

Último Conselho de Atena, 20 dias atrás...

Pégasus estava encostado num dos pilares da sala do mestre do santuário ao lado do Shiryu numa reunião dos Cavalheiros de Bronze com os de Ouro - o poderoso Conselho de Atena. Saori falava sem parar. Pura monotonia, não entendia uma, das palavras complicadas pronunciadas. De repente, todo mundo levanta e aplaude. Ele pulou batendo palmas mais alto ainda, todo entusiasmado, hora de ir embora, não agüentava mais. Estava cansado de ouvir a matraca cacarejar. Ia pegar Shiryu e sumir dali para um lugarzinho isolado qualquer onde pudessem se divertir juntos e curtir o final da tarde livres de toda aquela burocracia, quando inesperadamente Aioria o abraçou batendo na sua cabeça com um "vamos nos dar muito bem, os aprendizes vão adorar as novidades". Ele lhe devolveu um sorrisinho nervoso preocupado que Leão o segurasse mais um pouco com conversa fiada. Respondeu com monossílabos concordando com tudo até o outro ir embora satisfeito. O que era aquele te vejo de manhã, mesmo? Ah, deixa pra lá. Viu Shiryu com Mu próximo dali e rezou para que ele não entrasse em delongas. Graças aos deuses ele se virou neste momento despedindo-se e o puxando fora da Sala do Mestre.

- Vamos! Precisamos comemorar! - Sorriu triunfante o Dragão. - Agora tenho 2 mestres e vou poder realizar novos projetos com os aprendizes em segurança. Mu é um ótimo cavalheiro. Tem idéias brilhantes, modernas. Vamos nos dar bem! Shion é mesmo um grande líder. Nunca conseguiria imaginar uma reorganização no Santuário tão perfeita e eficaz como esta... - parou de falar ao notar a expressão azeda do outro. Esquecera totalmente do ciúme devastador de Pégasus em relação Áries desde que descobrira o antigo "affair" deles. Caso passageiro, ficaram bons amigos e tudo acabou sem complicações, pena Seiya ser cabeça-dura e não encarar a situação assim. Talvez desse tempo de evitar a briga com um bom agradinho disfarçado - Que tal uma festinha particular só; pra nós dois? Do jeitinho que você gosta... - funcionou na hora, os olhos moleques brilharam maliciosos presos naquela proposta. Seguindo o Dragão para fora da Sala do Santuário feliz como um cordeirinho.

- Por falar nisso.. como foram os acertos com Aioria?

- Aioria? - respondeu confuso no meio da animação com a idéia da festa. - É. Ele me parece um bom mestre...

- Para com isso Seiya! Nós precisamos ir. Estamos atrasados! Saori só me liberou por algumas horas.

A voz de Shun trouxe Pégasus ao presente. Eles tinham se esbarrado na saída da vila, quando tentava arranjar uma carona para Atenas. O dia estava quente e uma praia ia ser legal. Deveria ter desconfiado das gentilezas do irmão e recusado o convite para acompanhá-lo, mas poderia perder muito tempo, odiava esperar. O azar! Nunca escapava das encrencas! Precisava pensar melhor antes de tomar atitudes impulsivas. A menos que Andrômeda concordasse em mudar de planos, ele teria de ir à um compromisso de negócios familiares. Idéia arrepiante. Como os outros estavam sempre fora destes rolos e ele dentro? Ele não era nenhum tolo... um pouco lerdo em situações complicadas, talvez. Burro não! Se os outros se livravam, ele também podia. Êita maré de azar, precisava providenciar muitos amuletos para acabar com isso. Estava sendo uma folga ruim, nada saiu como imaginava, ele teria problemas sérios para resolver quando voltasse e precisava relaxar para encontrar soluções. Será que seu adorável irmãozinho não podia ser mais compreensivo neste momento? Era uma possibilidade em.. em... ô cabeça! Era uma possibilidade. Não desistiria. Shun era mais novo, afinal!

- Bem feito pra você, menininho de recados da Saori! Por que fica fazendo esses trabalhinhos chatos para a Fundação Graad? Ser cavalheiro não basta? - irritou-se.

- Quem é menininho de recados? E só para lembrar: a Fundação Graad é nossa também! Esqueceu do nosso pai?

- Belo pai! Abandonou 100 filhos espalhados pelo mundo em nome de uma boa causa! - respondeu em tom magoado. - Graças aos deuses encontrei minha irmã. Mas, quanto aos outros? Estão todos perdidos pelo mundo sabe-se lá como, até mortos... Só restamos 10 de nós. 10 em 100! Por mais que Mitsumasa quisesse ajudar Atena, não foi justo conosco. Poderíamos ter sido uma família feliz em vez de órfãos sofredores lutando para sobreviver! Havia outras opções, ele escolheu a mais cômoda.

- Não fala assim... ele deve ter sofrido também...

- Então me diga onde foi que o "papai querido" sofreu pela gente? Nos rígidos treinamentos diários? Nas noites solitárias? Cai na real, Shun! Nós éramos apenas crianças e ele nunca nos escreveu nem uma carta de incentivo!

Shun supirou resignado. Todos os cavalheiros de bronze tinham ressentimentos contra o Sr. Kido. Eles aceitavam o destino de servir Atena, mas não conseguiam ter algum tipo de afeto pelo pai. Saori tentara várias vezes fazê-los sentir orgulho do seu adorado avô, sem êxito. Queria demostrar agradecimento ao velho senhor e passava horas e horas em longas discussões. "Como quiser, minha senhora." a zombeira resposta geral encerrando o assunto. Seus corações estavam muito machucados, fechados a fundo. Shun era sua esperança. O doce cavalheiro de Andrômeda sempre perdoara a todos que lhe prejudicaram. Não se importava, esquecia fácil. Ele sentia pelos outros. Por Ikki ter enlouquecido. Por Hyoga ter perdido a mãe. O coração dele recusava esse homem enigmático, mas a razão o empurrava neste caminho. Para tornar a vida deles normal. Para serem família. Foi o único a participar das atividades da Fundação Graad. Não era tão inteligente como Shiryu, porém era dedicado e persistente, principalmente em relação a localizar seus irmãos. Havia um clima desagradável. Muitas vezes os olhos verdes estavam molhados diante de palavras ásperas e era duro seguir em frente. Encarou Seiya a sua frente.

- Olha Seiya, eu vou te explicar de novo. O Sr. Hatanaka é um grande empresário japonês e sócio de alguns empreendimentos da Fundação Graad. Saori quer nos dar estes investimentos para garantir o nosso futuro, sei que dinheiro não vai compensar o sofrimento, mas podemos usá-lo para melhorar a nossa vida um pouco. Pagar as faculdades, os investigadores do caso dos nossos irmãos. É um assunto importante mesmo, senão não te teria trazido comigo. Você é tão... ahn... esclarecido nesses assuntos... - não era bem verdade, mas podia colar.

Seiya bufou. Shun era um saco quando queria e o dia estava escoando pelos seus dedos. Paciência não era o seu forte, principalmente com a cabeça cheia de problemas. Se concordasse, talvez sobre tempo de ir a algum lugar. A praia tinha mixado, um filme ou um barzinho poderia rolar... Soltou-se do poste caindo em cima do irmão numa atitude inesperada, típica sua, e puxou-o correndo para um táxi.

- Vamos rápido então Shun! Eu quero sair logo de lá para ir no cinema. Vai passar Matrix! - empurrou o surpreso rapaz atrás de si no banco traseiro do primeiro taxi, sentando do seu lado.

O despertador apitou, às 3:00h da tarde, no quarto de Kurama. O sonolento rapaz agarrou o despertador imediatamente tentado evitar o barulho e piorar sua dor de cabeça. Dirigiu-se indisposto ao banheiro para cumprir sua rotina diária. Uma ducha quente seria um ótimo incentivo para começar o atrasado dia. Saiu alguns minutos depois em um roupão de banho, mais animado, a procura de um dos comprimidos da mãe e um copo d'água. Sentiu-se enfim revigorado e verificou o que ainda poderia fazer. Tinha perdido a visitação as ruínas e estava um pouco decepcionado com o fato. Sonho antigo de criança e a melhor parte da viagem. Gostara de ser turista, férias eram uma das melhores invenções ningen. Pena serem tão raras... Imaginou se sobraria uma brecha para recuperar pelo menos uma pequenina parcela do passeio perdido. Não. Não sobraria. Ficaria para a próxima vez, seja lá quando isso for. Suspirou. Bem, hora organizar a agenda de negócios se quisesse jantar com os pais e conhecer a noite grega. Precisava ganhar tempo e estar pronto para outra "noite de luar". Tinha um encontro com os Kido às 5:00hs, o assunto, dito trivial pela secretária, fora uma surpresa inesperada de última hora no meio da viagem, parecia ser demorado. Mandaria preparar um delicioso chá vespertino ao ar livre, perto da piscina, com bolos e biscoitos. O restaurante do hotel era bonito e a vista esplendorosa dali. Passariam uma tarde proveitosa. O padrasto teria como chegar do passeio sossegado para uma conversação final e convidá-los a jantarem todos juntos. Soava agradável e relaxante. Impressionaria a presença da família. Ótimo. Podia expor seus novos projetos até lá, em particular, de maneira informal. Os Kido eram importantes não só para os negócios dos Hatanaka como também os atuais sócios anônimos representados por ele, do Reikai e do Makai. Projetos inovadores, demorou para convencer o padrasto a lhe dar esta chance. Garantiria a segurança deles nos 3 mundos. Não podia dar-se ao luxo de alguma coisa sair errada. Refez tudo passo a passo. Finalmente satisfeito, fechou a agenda, ligou para a recepção e encomendou uma refeição simples: peixe, pão, uvas e suco de laranja. Almoçaria no quarto e depois desceria para esperar no saguão central tranqüilamente enquanto reservava quartos para os amigos. Só faltava decidir sua vestimenta. Pensou na moça dos jornais, Saori Kido, uma jovem muito chique e badalada, era a provável parenta a vir, uma total desconhecida. O pai recomendara polidez, descrevendo uma menina geniosa e temperamental, poucas vezes vista na época em que o Sr. Kido e ele se encontravam para discutir os negócios em comum. Não queria vestir terno. Ficaria deprimido num traje tão austero. Escolheu uma túnica curta e calças brancas em seda bordada complementando com uma faixa vermelha na cintura. Um dos seus exóticos gostos do Makai. Seria boa opção, realçava sua beleza natural. Não estaria extravagante demais para um turista e impressionaria, com certeza, a fútil ningen. Penteou com esmero as mechas brilhantes e prendeu com uma fita em um baixo rabo de cavalo enquanto calçava os sapatos, ambos cor de sangue, para finalizar o visual. Mirou-se no espelho, as compressas de camomila tinham dado bom efeito, não havia nem sombras das olheiras, e a pele retornara a uma textura de pelúcia macia. Bons ares gregos! Sorriu sensual. Num último toque, fez surgir um magnífico buquê de rosas vermelhas perfumadas. Sentiu-se irresistível. A conversação de negócios se prolongaria até o jantar, garantido. Bateram na porta às 4:00h. Almoço. Exato como calculara. Ele era insuperável quando queria. Riu orgulhoso de si mesmo e dirigiu-se a porta.

- Seiya! Mais uma dessas... Mais uma dessas... e eu... oh! Eu não me responsabilizo pelos meus atos! - Shun não sabia aonde esconder a cara de tanta vergonha, o Astir Palace Aphrodite Hotel era um dos mais chiques de Atenas e Seiya o estava vexando com seus modos inconvenientes.

- Afinal qual é a sua? - perguntou o outro intrigado.

- Qual é a minha? O que é que deu em você hoje? Pirou? Só chegamos a 15 minutos e você cantou 2 moças, 1 menina, 1 senhora e 1 sacerdote na cara dura! Nunca te vi fazer isso...

- E o que é que tem demais? Eu sou jovem e jovens adoram fazer tipo! Porque não podemos agir como eles? Só estou sendo simpático e elogiando as pessoas. Garanto que elas adoraram! - sorriu maroto - A loira e a morena de biqquini estavam o máximo. A piralhinha era desenvolvida pra idade. A velhota tinha uns peitos. E o sacerdote... Ahn... o último era um sacerdote? Puxa e eu nem notei com aquela saia longa... era o mais bonitinho da lista... Seja como for, se não tenho idade o suficiente para não depender de mestres e tutores, não sou velho demais para poder ser um pouco inconseqüente e azarar as garotas, oras! - ironizou.

Shun balançou a cabeça em reprovação. Ali tinha coisa. Pégasus sempre fora afoito, mas estava dando coices para tudo quanto é lado, além do normal. Não deveria ter mencionado o tutor no trajeto de taxi até o hotel. De onde tirou a idéia de que o outro compreenderia tal fato e o apoiaria? Justo ele, o mais rebelde de todos. Foi a gota d'água. Discutiram até cansar, irritando o pobre motorista. O sorridente gordo estava sério ao chegarem ao local determinado e nem ao menos lhes disse para o chamarem caso necessário, sumindo rápido na estrada. Recriminou-se por não perceber o mal-humor do outro mais cedo. Seiya não fugiria dos treinamentos sem um bom motivo - e ele sabia que Aioria não o tinha dispensado, pois viu o cavalheiro aos berros, procurando Pégasus por todo o santuário. - Só fingiu acreditar por companheirismo. Melhor seria tê-lo deixado na cidade para se distrair, em vez de envolve-lo prontamente nos seus projetos. Essa sua mania de querer ajudar os irmãos de qualquer forma estando em sua companhia de maneira integral, às vezes atrapalhava. O pior era não descobrir o problema e ter de aturá-lo de paciência esgotada. Não tinha mais como voltar atrás, juntou o restante da sua boa vontade para tentar amenizar as coisas com o irmão.

- Tudo bem... Desculpe... O que aconteceu desta vez? E não me olhe com essa cara. Eu já percebi algo no ar.

Seiya fez beicinho. Porque é que todo mundo o tratava feito criança. Antes ele era o poderoso líder dos cavalheiros e agora, o estorvo do santuário. Não conseguia esconder suas dificuldades nem do irmão mais novo.

- Porque é que eu tenho de ter um tutor? - resmungou.

- Não, Seiya. Você não entendeu. Não é um tutor só pra você e para todos nós.

- Ah, corta essa! Com certeza o tutor é pra mim! Senão porque você me traria aqui? Simples como decidir trocar Marin por Aioria. Em qual dos conselhos foi votado isso ou eu não fui convocado para este em especial?

- De novo a Marin! Eu pensei que tudo estava bem esclarecido... Marin recebeu outras ocupações, seria injusto atrapalhá-la com um treinamento que você pode fazer sozinho. Não foi você mesmo a comentar como ela anda atarefada ao extremo? Vamos, deixe de ser criança! Nós temos capacidades de luta suficientes nesta área, mas precisamos por estas habilidades em novos horizontes senão ficaremos estagnados no lugar e não teremos mais utilidade para a deusa Atena; por isso todos os cavalheiros de bronze estão auxiliando os cavalheiros de ouro. Somos muito novos. Precisamos da sábia orientação deles para nos desenvolver...

- É mesmo? Belo discurso. Então me diga quem mais perdeu seu mestre?

- Foi coincidência. Você está sendo radical. - Shun estava ficando zonzo com tanto bate-boca. Lidar com Seiya definitivamente não era a sua especialidade. Nestas horas o Dragão fazia falta. - E para sua informação: ninguém votou para tutor, Saori é que está cansada de cuidar dos nossos interesses e como somos inexperientes, nos sugeriu o Sr. Hatanaka. Fui eu sozinho que decidi aceitar já que ninguém se interessa e larga tudo na minha mão. Não somos obrigados a ter tutor, porém no momento é a melhor solução. Você é o primeiro a saber, os outros nem tem idéia, pois ainda nem conversamos com este senhor. Estou indo fazer-lhe o convite. Alguma dúvida? Se não acredita em mim, pergunte para o Shiryu.

Seiya ficou quieto de cabeça baixa, aliviando o desnorteado Shun. Espantoso! Convencera o Seiya? Não acreditava! As coisas estavam melhorando...

- Esquece o Shiryu... Ele não decide mais nada por mim. Acabou. Nós terminamos. Eu não gosto mais dele. - choramingou triste.

- Como????? - Andrômeda estava espantado diante da notícia e da reviravolta na conversa. Ele esperava alguma encrenca mas não aquilo. Essa não! Ele acabara de se meter noutra briga de casal. Hyoga ficaria furioso. Havia uma regra silenciosa entre eles de não interferência desde o dia em que defendera Ikki da fúria de Shaka e saíra chamuscado e meio surdo da Casa de Virgem arrastado por um Cisne feroz rosnando palavrões, enquanto o casalzinho voltava lentamente as boas como se aquela cena horrorosa não tivesse ocorrido. E agora? O que fazer? Seiya e Shiryu eram um casal tão adorável e seus amigos mais íntimos. Não queria ver os dois separados. Será que ele não podia dar uma pequena ajudazinha? Não parecia ser pior do que as outras vezes, mas nunca se sabe. Quanto mais cedo os dois voltassem, melhor. Eles só iriam conversar um pouco e esfriar os ânimos. Hyoga nem chegaria a saber. Afinal Seiya e Shiryu não eram Ikki e Shaka... Puxou Seiya para um canto reservado. - O que aconteceu?

- Aioria me deu folga. Aí tive o tolo pensamento que Shiryu apreciaria sair para um passeio comigo, faz dias que não passamos uma tarde juntos usufruindo da companhia um do outro e resolvi ir procurá-lo nos campos próximos da Casa de Áries onde ele costuma treinar alguns dos aprendizes. Ele realmente estava lá com Mu e os meninos, todo concentrado, numa exibição de novas técnicas. A princípio, ficou animadíssimo em me ver, mas isso só durou até eu convidá-lo para passear. Precisava ver a cara azeda dele. Olhava pra mim como se eu tivesse propondo a maior barbaridade do mundo. Fez um monte de recriminações. Achava absurdo a sugestão de dar uma fugidinha para namorar e ter de parar seus importantes afazeres do dia por minha causa. Insinuou que, como primeiro cavalheiro do Santuário de Atena, deveria aproveitar o dia ensinando os novatos igual a ele estava se esforçando no momento ou, pelo menos, ajudá-lo em vez de vagabundear. Eu queria sair, aproveitar a tarde livre, não ficar de auxiliar numa ridícula demonstração ou outro treinamento cansativo. Brigamos feio. E, mesmo depois de Mu liberá-lo afirmando que estava tudo em ordem e a demonstração já fora o suficiente - provavelmente preocupado com a nossa discussão ser pública - ele preferiu ficar, dando desculpas e murmurando a maior bronca enquanto se despedia friamente de mim. Então já que era assim, eu decidi terminar em definitivo com ele! Fique com Áries o tempo que quiser. Eu sei que eles arrastam a asinha um pro outro. Caí fora. Não gosto de ser vela. - o tom magoado de Pégasus chegava as lágrimas.

- Seiya! Como pôde! Você sabia que ele tinha treino especial hoje e passou vários dias preparando a apresentação. É lógico que você deveria ter ficado para apreciar os esforços dele em melhorar. Insensível! Shiryu só queria receber um pequeno elogio da pessoa amada. Como pode fazer uma coisa dessas? Ele deve estar muito magoado...Seu bruto! Volte lá e peça desculpas neste momento! - revoltou-se Shun.

- Não, eu não vou! Cansei dessa história de treino, treino, treino toda a hora. Não sou máquina. Tenho sentimentos também sabia. Não vivo só pra treinar e servir Atena. - birrou incomodado com as palavras do irmão. Ninguém o apoiava. - E se ele gostasse mesmo de mim tinha vindo atrás e não ficado lá, treinando com o chato do Mu. Pra mim acabou e pronto! Tô livre e desimpedido!

- Mas... Mas...

- Chega Shun! Não quero mais falar sobre isso. Se você continuar a gente vai sair no pau! Imagine o Hyoga nos ver chegando inteirinhos ralados - ameaçou lembrando do caso do Ikki

- Bom... Acho que vocês se entendem depois... Não vou meter a colher. - Shun retrocedeu preocupado com as reações de seu amado Cisne. - Espera aqui que vou perguntar na recepção pelo Sr. Hatanaka, volto já! Mas não some, por favor! A gente conversa melhor quando voltarmos para o santuário... - disse afastando-se. Droga! Pégasus sempre surtava nestes casos antes de cair em si e correr arrependido atrás do Dragão, era comum os dois brigarem de dia e a noite se entenderem, mas até o surto passar era melhor ficar de olho nele.

Seiya odiou o último comentário de Andrômeda. Ele não iria perdoar Shiryu, estava doido de ciúmes de Mu. Não conseguia evitar de jeito nenhum. Fugira do treino pensando em arrastar o Dragão o mais longe possível de Áries. Estava inseguro, sua vida parecia confusa. Ele não queria sofrer estes tormentos, queria um pouco de tranqüilidade e muita adrenalina. Estava tudo tão chato... Precisavam de um tempo. Olhou ao redor pensando na melhor maneira de fugir de Shun e voltar ao centro, quando seus olhos caíram sob uma ruiva espetacular vestindo uma roupa um tanto exótica sentada num dos sofás da recepção espiando a porta. Estava sozinha e parecia aborrecida. Cara de quem perdeu o namorado com ele, suspôs. Sentiu o sangue ferver nas veias. Ah, aquela beldade triste estava o eletrizando em todos os seus sentidos, não podia deixá-la escapar dos seus dedos sem ao menos ganhar um doce beijinho! Podia ser um bom consolo e uma tremenda vingança contra o Dragão. Afinal, ele estava sem solteiro também. Não custava nada tentar. Analisou-a muito interessado, preparando o bote. Tinha olhos verdes magnéticos, cabelos ruivos brilhantes caindo em cascata pelas costas e uma pele de porcelana branca como neve. Divina! Uma digna serva da deusa do amor, a esplendorosa Afrodite. Se não era a própria em pessoa disfarçada. Sensualíssima. Desejo ardeu em seus olhos. Quem sabe seria até mais que consolo? Era uma tentação insuportável. Ondas de frio e calor vibravam dentro de si causando arrepios e tremores. Dava até para pensar em largar Shiryu de vez e por-se aos serviços daquela suprema diva. O Dragão estava tão chato como os outros. Só pensava em complicadas técnicas de combate. Shun chia-se o quanto for. Ele iria cantar aquela garota e sair com ela esta noite. Precisava de diversão e ser admirado. Se Shiryu podia ficar sob as "desinteressadas" cantadas de Mu sem ninguém dizer nada, ele tinha o mesmo direito! Ia dar o troco e não ia se arrepender... Aprumou-se e chegou bem devagarinho atrás da sua princesa escolhida. Estava distraída, não o percebeu. Encantadora, um anjo de candura perdida em divagações esperando seu amado cavalheiro...

Kurama olhou o relógio, 5:00h em ponto, era hora da exuberante senhorita chegar. Deixara aviso na recepção que estaria esperando-a ali depois de reservar o único quarto restante da temporada para Yuusuke. Era um quarto de casal, não tinha certeza que Keiko ou a mãe aprovariam. Se desse confusão cederia o seu quarto a amiga e dormiria com o detetive espiritual. Não seria problema, poderia ser até melhor. Teriam mais privacidade para conversar sobre o seu caso. Suspirou cansado, a longa noite deixara marcas em seu humor. Onde encontraria forças para sorrir e ser gentil durante as horas seguintes? Fechou a cara, tomara que a senhorita viesse logo, queria livrar-se logo do trabalho e relaxar um pouco... De repente uma sensação incômoda conhecida atingiu os seus velhos sentidos de raposa. Sabor de luxúria no ar. Olhou corado ao redor pensando-se observado. Teria exagerado? Sentiu um ligeiro mal-estar. Talvez não fosse uma boa idéia ficar ali sentado feito uma marmota em exposição. A Srta. Kido poderia interpretar como se ele estivesse diminuindo a sua presença e isso podia estragar as boas relações de negócios. Levantou com a intenção de caminhar até a entrada principal. Esperá-la na porta seria mais educado. Reajeitou o caprichoso arranjo de rosas e ia para a entrada quando alguém, surgindo repentinamente, acariciou seu rabo de cavalo e beliscou seu bumbum, impedindo sua passagem.

- Oi, minha deusa! O que faz sozinha aqui?

A raposa pulou assustada, ficando lívida. Kurama nunca esperaria uma coisa destas e virou-se em furiosa surpresa, corado de vergonha, para se ver diante de um rapazinho de olhos castanhos e cabelos arrepiados em uma camisa vermelha surrada sorrindo maliciosamente para si. Cantada barata e machista! Então fora isso que seus sentidos de raposa detectaram. E agora? Confundido com uma mulher de novo! E diga-se de passagem, de baixa categoria pelo tipo de abordagem. Massageou a região beliscada. Que força tinha aquele troglodita! Tinha vontade de fazer picadinho do atrevido com o seu chicote, odiava esse gracejos desavergonhados. O que fazer? Precisava tomar providências rápidas, seria embaraçoso caso a Srta. Kido chegasse e o visse em tão medíocre companhia, se já não estivessem rolando pelo chão quando o outro descobrisse que tipo de "moça" ele era. Atitude anti-ética para um sub-gerente júnior em ascensão. O padrasto nunca perdoaria. Tinha de sair logo dali sem provocar brigas e por as férias a perder. Como dizer para aquela criatura ligeiramente bronca que ele era um rapaz também sem arranjar encrenca? Engoliu o nervosismo enquanto analisava melhor do outro. Era oriental e, apesar dos modos grosseiros parecia ser boa gente. Talvez não fosse exatamente o que imaginara a princípio. Decidiu por uma explicação calma, rezando para aquele rapaz a sua frente entender a confusão numa boa e se retirar.

- Desculpe, moço. Mas acho que você se confundiu... Eu não sou uma garota. Com licença. - sorriu desvencilhando-se gracioso do cerco. Afastou rápido antes do rapaz ter chance de esboçar alguma reação negativa.

Seiya ficou atordoado com a revelação. Aquilo era um rapaz? Aquela maravilha monumental era um rapaz! Era tentador demais. Fruto proibido. Nunca vira um tão lindo em todo Santuário de Atenas, onde a beleza masculina era de secular notoriedade atraindo os mais diversos curiosos. Viu-o se afastar com passos delicados, quase flutuantes. Olhando-o temeroso por 2 vezes, com as faces rosadas, até encostar-se na porta de entrada. Imagem de uma fada etérea. Timidez? Que sabe? Os trejeitos femininos insinuavam uma tendência muito apreciada, pelo menos para o arredio Pégasus. Sentiu o sangue ferver mais forte em ousadia, alfinetando o seu coração. Sendo rapaz, a conquista tornava-se mais difícil, o outro podia fazer doce. Ahn, não! Ele chegara até ali e não ia desistir. Aquele Apolo não fora colocado no seu caminho por acaso. Aqueles olhos verdes profundos estavam prestes a descobrir porque Pégasus era o primeiro cavalheiro de Atena!

- Ei, espera aí! - gritou entusiasmado correndo em direção ao ruivo . Sem ver mais nada ao redor além do objeto do seu desejo e totalmente esquecido do compromisso e do irmão.

Kurama lançou um olhar nervoso observando discretamente as pessoas ao redor enquanto via em desgosto o espevitado rapaz aproximando-se. Teve medo do escândalo e o encarou receoso seu dizer nada. Seiya percebeu o embaraço e sorriu conciliador tentando acalmá-lo.

- Não se preocupe. Não estou zangado por você ser um rapaz. Aliás quero me desculpar, deveria ter percebido logo. Só quero conversar! Você parece uma pessoa interessante...diferente do povo daqui e é muito bonito também. De onde vem? - fez charme, deixando bem claras as suas preferências.

- Ahn... Perdão. Mas estou esperando uma pessoa a qualquer momento... Acho que não vai dar... - a raposa tentou dispensá-lo com voz fria quando percebeu as intenções de continuar o flerte. O rapaz permaneceu parado no mesmo lugar encarando tudo tranqüilamente. Será possível que seus problemas nunca acabavam! A dita fulaninha, Saori Kido não chegava e ele imaginava se era bom ou ruim.

- Seu namorado? - perguntou displicente, esperando uma resposta negativa.

- Como???? - Kurama encarou-o pálido. Mas que atrevido! Não tinha um pingo de moral, não?

- Quero dizer... Alguém em especial? - Pégasus emendou, ciente da mancada. - Poderia te fazer companhia enquanto ele não chega...

- Olha... Infelizmente não dá... Estou aqui a trabalho, esperando um cliente da empresa. Por isso não posso me distrair. Compreende? Fica para uma próxima vez. Tenho certeza que achará facilmente alguém legal para te fazer companhia neste imenso hotel. - Kurama esperou que o outro se retirasse de vez em vão. Criatura teimosa! Continuou ali parado na maior cara-de-pau. Qual parte do fora não entendeu? Aquilo estava irritando-o além do limite do bom senso. Seu youki elevar-se perigosamente. Nenhum dos seus numerosos pretendentes ningens no Japão tinha tamanha indiscrição, se retirando tímidos quando pedia. As plantas se alteraram ao redor e os espinhos das rosas ficaram maiores em seus braços. Ia dizer claramente ao outro para se mandar quando percebeu um rapaz de cabelos e olhos verdes juntar-se a eles pouco amistoso e falar intimamente ao outro puxando-o de lado.

Shun virou-se desconfiado na metade do trajeto até a recepção para ver se Seiya continuava no mesmo lugar. Conhecia bem o temperamento mal-comportado do irmão para acreditar que permaneceria parado, obediente. Como previu, não estava. Droga! Chamou cortês uma das recepcionistas a qual, atenciosa diante de um rapaz tão lindo, veio voando atendê-lo, esboçando o maior sorriso quando descobriu quem aquela gracinha pedia para localizar. Nem deu tempo de recomendar nada e ela tinha partido saltitante. Shun deu de ombros sem entender. Voltou apressado procurando Pégasus por todos os lados até encontrá-lo incomodando uma linda ruiva na entrada do saguão. Essa não! A moça parecia ser fina e estava com cara de poucos amigos. Ia dar encrenca. Quando aquela mula manca ia adquirir semancol e aprender a desistir? Riu. Sabia decor a essência de Seiya: ser inconveniente e persistente. Não tinha jeito. Fazer o quê. Eles o adoravam assim mesmo. Ia chamá-lo e passar o maior sabão desculpando-se com a senhorita, quando uma energia estranha bateu em seus sentidos. Não era um cosmo, era algo bem semelhante, poderoso, hostil. Até arriscaria dizer, com um toque demoníaco. Fechou os olhos para ampliar sua percepção. Havia um perfume levemente sensual no ar. Era conhecido. Sensação de deja vu. Rosas?!?! Sim, era perfume de rosas muito forte, o mais delicioso já captado pelos seus sentidos. Não estava gostando nada disso. Rosas o faziam lembrar do fútil e luxurioso Peixes. De onde vinha? Aguçou os sentidos e espantou-se ao perceber a fonte. Era da ruiva. Ficou apreensivo. Seiya poderia estar a perigo. Caminhou tenso e devagar em direção os dois. Não conseguia evitar a sensação de estar frente a Afrodite de novo. Seu cosmo manifestava-se gradativamente induzindo a estranha energia a aumentar também. Iam duelar em pleno Astrid Aphodite Hotel? Esperava que não. O chiquérrimo hotel turístico estava lotado na temporada. Atena ficaria furiosa e os atirariam as mórbidas prisões do Santuário. Detestava publicidade desde a queima do coliseu. Repercutiu mal na época, seria ruim para eles repetirem o fato ali. Dia Maluco! Quem era aquela ruiva afinal e o que queria? Alcançou Seiya e arrastou a uma distância segura sob os protestos do teimoso.

- Para com isso Seiya! Não podemos lutar aqui dentro. Vamos sair para uma das praias desertas...

Pégasus encarou Andrômeda como se ele fosse um extraterrestre.

- Do que está falando? Lutar contra quem?

- Estou falando da ruiva. Ela é perigosa. Precisamos tirá-la daqui. - Seiya lançou um olhar atônito e começou a rir. - Do que está rindo?

- Shun... Você é uma piada! Aquele lindo ruivinho uma ameaça? Só se ele for nos bater com as rosas do bouquet! Ai que medo! - debochou, mas parou de repente sério - Você por acaso não estaria iinteressado no meu novo namorado, não é? Olha lá... Você é comprometido! Tira os olhos de cima! Eu vi primeiro. - rugiu ciumento.

- Seiya... endoidou de vez é! Não repita estas barbaridades - explodiu um Andrômeda totalmente vermelho e arrepiado até o último fio de cabelo. - Eu nem quero imaginar de onde você tira estas idéias absurdas. Eu seria incapaz de trair o Hyoga. Seu... Seu... Ei! Espera aí... aquela ruiva é um rapaz? Eu não acredito! - espantou-se observando melhor seu suposto oponente.

- É. E já aviso, é todinho meu! Espere até os outros o conhecerem... Vão morrer de inveja! - Seiya se estufou inteiro, confiante de esstar revelando a maior verdade do mundo e visualizando em especial, o despeito do Dragão.

- Esquece essas bobagens Seiya! - bronqueou fechando a cara. - Não notou nada de estranho no seu "amiguinho" não? Vamos, solte seus sentidos.

Pégasus lançou um olhar de morte elevando um pouco seu cosmo. Como ousava fazer suposições sobre o "seu" doce namoradinho dessa forma! Era inveja, com certeza. Sua princesa era mil vezes mais atraente do que o irmão. Andrômeda ignorou-o vigiando o ruivo e sentindo ser vigiado por ele também. Seiya irritou-se a sua atitude, suspirou e resolveu verificar, só para provar a Shun o quanto estava errado. Percebeu aborrecido a razão do outro, havia uma estranha energia, não exatamente um cosmo, mas uma força poderosa emanando da sua recente paixão.

- Sentiu?

- Senti. - resmungou desanimado.

- Então? O que faremos?

- Nada! - disse ao olhar assombrado do irmão - Ele não disse ou fez algo suspeitoo para nós o enfrentarmos. Só porque tem poderes não significa ser uma ameaça a nossa segurança.

- Ele recende um forte aroma de rosas. Pode ser um discípulo de Afrodite querendo revanche. O Santuário escondeu muitos mistérios na época do Mestre Ares...

- Desencana. Dá pra notar a semelhança das nossas idades, eu nunca ouvi comentários de alguém assim treinando no Santuário na minha época, e você mesmo pode ver, ele nunca passaria despercebido entre os irrequietos aprendizes. Muita gente usa perfume de rosas. Duvido que tenha alguma relação com Afrodite. Aquela piranha exibicionista não tem a mesma classe daquela maravilha ali. Só olhando dá para perceber. Como poderia ser seu mestre? "Aquilo" é o Afrodite necessário a casa de Peixes, não uma baranga maquilada. Quem sabe ele não veio se candidatar ao posto? - animou-se - E caso aquele deus grego fosse, sei lá, um vingativo herdeiro de Peixes, eu garanto, não seria você a enfrentá-lo. - os olhos de Seiya brilharam insinuantes - Além do mais, eu estarei de olho aabertos o tempo todo. Não precisa se preocupar. Vou descobrir rapidinho os segredos daquele ruivinho. Estou muito interessado em estudar o estranho "cosmo" dele. - sorriu lupino.

Shun fez cara azeda. Havia uma certa verdade nas palavras de Seiya, porém não era o suficiente para tranquilizá-lo. Principalmente se Pégasus resolvesse bisbilhotar na vida alheia de maneira tão "desinteressada". O ruivo poderia não ter vindo arrumar briga, mas com certeza estaria em maus-lençóis com o "Cólera do Dragão" ao seu encalço... Mestre Shion ficaria uma fera se arranjassem conflitos neste período de reestruturação do Santuário de Atena. Eles encontravam-se a mercê dos inimigos. Prudência era a ordem. Precisava por tudo em panos limpos bem depressa e evitar que o assanhadinho pusesse tudo a perder, não medindo as conseqüências. A questão era: fazer o quê sem dados precisos? Não conseguia associar o rapaz a nada conhecido. O tempo passava silencioso sem solução.

Kurama estava tenso. Fazia alguns minutos percebera o reiki daqueles dois jovens esquisitos ampliar junto a uma energia misteriosa impressionante a qual traduziu incerto, como sendo um raro caso de proteção divina, embora em toda a sua milenar existência nunca tivesse pressentido um, só ouvido relatos. Não, não podia ser. Guerreiros divinos estavam extintos a mais de mil anos no período do seu nascimento. Eram apenas história para amedrontar youkaizinhos pequenos. Dúvidas. Quem eram? Poder proporcional a classe S a serviço de um superior, confirmado. Seriam espíritos demoníacos escondidos em corpo ningen como ele ou servos de um poderoso demônio local a captura de escravos? A mitologia grega era tão rica, poderiam até ser medusas do modo como o encaravam fixamente. Será que Youko Kurama arrumara novos inimigos em suas crises branco ou seria antigos caçadores atrás do legendário ladrão? Bem, sua fama era grande, mas não ultrapassava as fronteiras de seu país de origem. Graças a Inari! Ali era somente um tipo desconhecido de demônio classe B superior. Em todo caso era uma situação gravíssima a ser enfrentada sozinho. 2 contra 1. Ele perderia. Seus poderes eram menores longe do Japão e do Makai. Inari não era eficaz protetor de seus súditos em território pertencente a outros deuses. Suou frio. Tinham captado a presença do youki dele, por isso conversavam em voz baixa vigiando-o. Estava frito. Sua dignidade impedia de tomar qualquer atitude agressiva do local, precisava proteger seus parentes. Iria calmamente com eles para onde quer que fossem. Aproximou-se desafiador. Não baixaria a cabeça para ninguém. Era o temido Youko Kurama e não tinha essa fama à toa. A atrasada Saori Kido teria de esperar.

- Algum problema com a minha presença aqui? - perguntou aos dois friamente.

Os dois permaneceram calados alguns minutos, encabulados. Encontro inesperado para eles também, aliviou-se. Talvez não lhe criassem problemas caso ele se comportasse, submetendo-se ao seu senhor e esclarecendo algumas perguntas práticas. Sua inteligência poderia contornar a desagradável situação.

- E então? Pensei que queriam conversar... Desistiram? - incentivou sorrindo amigável.

O rapazinho menor pareceu ter intenção de perguntar algo sério, mas foi impedido por um cutucão do seu espevitado pretendente.

- Ahá! Eu sabia que você não resistiria a uma pessoa tão simpática quanto eu!

Kurama e Shun olharam interrogativos para Seiya. Diante daquele clima tenso era isso que ele tinha a dizer? Ambos lançaram olhares zangados deixando o outro constrangido.

- Ah, tá bom! Não precisam fazer estas caras não! - mostrou a língua fazendo caretas. - Na verdade a gente estava era admirando o seu perfume. E rosas não é?

Kurama perdeu a boa. O que seu adorado perfume natural tinha a ver com a questão? Ou ele estava zoando com a sua cara ou era um completo estúpido. O que aqueles dois estavam pensando? Deu uma resposta bem definida e impensada.

- É aroma de rosas sim! Qual o problema? Seu "amiguinho" cheira a violetas e margaridas misturadas a vinho e ervas do bosque. Você parece não se importar!

Todos ficaram estáticos e Kurama recriminou-se. Tinha posto tudo a perder e estava preparando-se psicologicamente para a batalha a seguir quando ouviu o riso escancarado.

- Oras! Então você e o Hyoga foram realmente passar a noite no bosque depois do festival regados a vinho! Não acredito. Deixa o Ikki saber. Imagine a cara dele ao descobrir o que seu queridinho anda aprontando misérias por aí. Vai ter cisne assado no jantar. - Seiya abraçou-se divertido a estátua branca de Shun em choque. - Oba! Ganhei a aposta com Jabu! Vou querer tudo em dinheiro, ele não enrole não... Obrigado pela informação, ruivinho. Que olfato você tem! Eu nem havia percebido. Você vale o ouro de uma armadura! - Piscou.

- Olha... eu não queria causar atritos... perdão... eu posso estar enganado. Vocês dois não levem em consideração as minhas suposições. - Kurama sem graça, não entendia nada do diálogo daquela criatura doida. Sentia-se constrangido por ter sido indiscreto, aquela figura atentava um lado seu odiável.

- Não esquenta! Ele é "amiguinho" do Hyoga não meu! Eu sou irmão dele. - esclareceu. - Mas eu tô sozinho se você quis...

- Cale-se Seiya! - Shun raivoso tentava abafar as debochadas risadas de Pégasus pisando no seu pé e tampando sua boca. - Olha pelo que eu percebi você parece ser uma pessoa fina e educada, que não deve nos conhecer ou querer confusão conosco. Nós também não. Estou errado? Com certeza não. - Kurama assentiu perdido. - Acho que j&aaccute; esclarecemos todas as nossas intenções aqui e não existe mais nenhum assunto a "discutirmos" entre nós. Portanto que tal nos comportamos como cavalheiros e encerar esta conversação amigavelmente. Sei o quanto desagradável meu irmão pode ser. Desculpe-nos. - respondeu sem graça.

- Você está certo. Estou aqui apenas por alguns dias para resolver alguns negócios particulares. Não quero causar problemas. Podem ficar tranqüilos. - Kurama afastou-se envergonhado. Esperava nunca mais cruzar com aqueles dois, em especial com o tipinho desbocado e inconveniente. Tomara sumissem logo da sua vista, senão poderia não controlar o youko dentro de si e acabar muito mal aquela história sem um pingo de nexo. Voltou a esperar a senhorita na porta.

Shun estava prestes a chorar, nunca imaginara ter sua intimidade exposta ao deboche deste jeito no meio de estranhos. Iria voltar imediatamente a vila do Santuário trancando-se em seus aposentos até ter coragem de por a cara para fora. Puxou o braço de Seiya quase arrancando, rosnou um "se você contar prá alguém..." dirigindo-se a saída e atropelou literalmente a pequena recepcionista próxima a si. A moça lançou um incomodante sorriso do chão e levantou rápida.

- Peço mil desculpas, não queria assustá-los. Vejo que foi mais eficaz em localizar o Sr. Minamino. Perdoe-me por não ter podido ajudar. Só vim avisá-los que a mesa do chá encontra-se pronta como pediram. Espero esteja a seu gosto. Qualquer coisa mais, meu nome é Alícia.

Shun olhou-a confuso até cair em si. O Sr. Hatanaka é claro! Tinha pedido a Alícia para procura-lo. Não podia sair dali sem falar com ele. Seria falta de educação.

- Desculpe Alícia, mas acho que se enganou estou procurando o Sr. Hatanaka e não este senhor mencionado. Pode tentar localizá-lo de novo? E rápido, por favor, estamos atrasados...

- Engano? Não. O Sr. Minamino é o filho dele e deixou recado na recepção para chamá-lo assim que chegassem. Como conversavam animadamente pensei que se conhecessem. Está os esperando a um bom tempo. Reservou uma mesa no restaurante do hotel para recepcionar os parentes do Sr. Kido. Um verdadeiro cavalheiro. Quer que eu os apresente?

Shun não sabia mas a cor adquirida pela sua pele ao perceber com qual pessoa tinham discutido e, antes de poder dizer alguma coisa a recepcionista ou qualquer um, Seiya gritava "vivas" escapulindo das suas mãos e correndo em direção ao ruivo para bater um tapinha levado em seu traseiro chamando sua atenção. O rapaz voltou-se furioso para estar novamente diante do ser mais detestável existente na face da Terra, cujo mórbido prazer parecia ser atormentá-lo em tempo integral até o fim dos dias. Andrômeda, por um breve momento, teve a impressão dos cabelos ficarem brancos e os olhos dourados. Ilusão de Ótica. Era só fúria incontrolável. Bom, ele também desejava ardentemente picar o irmão em pedacinhos. A idéia de juntar-se ao ruivo e dar uma lição em Seiya reluziu em meio aos seus pensamentos agressiva. Pena sua honra não permitir.

Pégasus segurava uma de suas macias mãos velozmente erguida com algo verde em seu interior entrelaçando seus dedos e, com outra, contornava a cintura delicada divertido com os olhos assassinos sobre si. Riu feliz. Eles tinham um encontro escrito nas letras do destino! Poderia admirar aquela beleza espetacular um pouco mais. Os deuses estavam sendo bons para este cavalheiro.

- O que é que você quer agora? - sibilou Kurama espantado com a habilidade do rapazinho.

- Ai! Nossa fofinho, você é estressado hein? Veja só o que fez, despedaçou sua linda rosa e ainda nos espetou com estes espinhos enormes. Você deveria reclamar na floricultura. - Seiya olhava sua mão e a do outro expelir um fino fio de sangue enquanto seguravam uma haste comprida de rosa.

- O-que-é-que-você-quer? - repetiu mordendo os lábios de raiva - Será que não dá prá me deixar em paz não?

- Adivinha só! - sorriu ignorando de propósito, as palavras ásperas - É seu dia de sorte! Você tem um encontro conosco. Somos os Kido do seu compromisso.

Kurama sentiu o chão faltar aos seus pés. Eles eram os Kido? Teria caído no chão caso o outro não estivesse segurando sua cintura. A voz sumiu. Essa não!
 

FIM



Por Pérola J.  perola.azul@uol.com.br
fevereiro de 2002