Penas



 

por Rinko Himura


 
 

Na grande parte do tempo, Kyo, personagem do game King of Fighters, arrumava briga com todo que encontrava nos estúdios OBA (Os Bastidores de Animes). Não importava se seus oponentes eram grandes, pequenos, mulheres ou crianças, ele desafiava quem se opusesse. Era sua grande diversão: utilizar seus poderes e mostrar o quão bom ele era. Obviamente, muitas vezes essas suas briguinhas resultavam em multas e advertências por parte da coordenação geral dos estúdios. Mas isso pouco lhe importava. Não estragaria seu passatempo por nada nesse mundo.

E numa tarde de sexta-feira, Kyo caminhava pelos corredores do OBA.Estava cabisbaixo, pois não conseguira arranjar nenhum tipo de encrenca. Sempre que tentava, algum segurança do estúdio interferia e estragava com seu entretenimento. Por isso, estava chateado. Aquele era o primeiro dia que não conseguia satisfazer sua alegria.

Dobrou a próxima esquina á direita e se encontrou em um corredor onde o levaria até uma sala de teto redondo e que estava interditada. Mas esse detalhe pouco lhe importou. Seu caminhar era pesado e sem direção. Nem havia percebido que estava indo por aquele endereço.Entrou no local e parou. Então, repentinamente, uma pena branca entrou pela grande janela ao seu lado. O lutador observou aquele elemento deslizando a sua frente e caindo delicadamente no chão. Kyo agachou-se e tocou-a com desconfiança. Apanhou-a e levou a altura dos olhos. Observou-a com mais prudência.E sua atenção naquela suave pena fora tanta que não lhe havia permitido ver que muitas outras penas haviam coberto o chão. O lutador levantou-se ligeiramente e olhou ao redor. Não compreendia de onde aquilo tudo havia aparecido. Logo, sentiu uma presença. Virou-se para a janela e apoiou-se a sua borda, como se procurasse algo. Seu olhar era afoito e vigilante. Mesmo assim, não havia nada que seus olhos pudessem ver. Entrou novamente na sala e caminhou para porta. Nesse instante, ouviu uma voz.

-Mas já vai?

Kyo voltou-se velozmente para a janela e viu um jovem de cabelos escuros, vestido com um uniforme escolar negro, que estava em pé na borda da janela. Abraçava uma espada de dois gumes que reluzia a luz.

-Mas quem raios é você?

O jovem pulou para dentro da sala. Encarava Kyo com um olhar incógnito. O bravo lutador não conseguia distinguir seus sentimentos. Não sabia se aquele olhar lhe incomodava ou se chegava a lhe agradar. Kyo sacudiu a cabeça e desviou o olhar por alguns segundos.

-Vai me responder ou não?

O jovem caminhou calmamente até Kyo. Em nenhum momento desviou seu olhar. Parou a um palmo de distância e sussurrou. –Kamui...

Kyo sentiu um estranho calafrio quando ouviu aquele nome. Imediatamente, pulou para trás.Fitava Kamui com desconfiança. O jovem por sua vez, não havia mudado sua expressão.

-Foi você quem tacou esse bando de pena aqui? –Perguntou Kyo, com um tom grosseiro, típico de sua pessoa.

-Isso lhe incomoda? –Retrucou Kamui. Pela primeira vez, Kyo se sentiu intimidado. Kamui lhe transmitia uma sensação esquisita, que jamais havia sentido anteriormente. Não tinha vontade de lutar com ele. Talvez até tivesse, mas não era tão grande quanto seu desejo de olhá-lo e ficar daquele modo durante o resto de sua vida.

Kyo sacudiu a cabeça novamente quando percebeu que seus olhos estavam fascinados pelo jovem a sua frente. Tentou não olhá-lo. Porém, sua vontade era mais forte que ele. O lutador entrou em uma luta consigo mesmo. Cobriu os olhos com as mãos. Subitamente, perto de seu ouvido ouviu uma respiração e depois um sussurro.

-As penas lhe incomodam?

O lutador tirou as mãos dos olhos e se espantou.Novamente se afastou de Kamui. Olhou ao redor e notou que as penas havia se multiplicado. Kyo estava perplexo com aquela situação. Seus sentimentos se misturavam e o confundiam mais e mais. Não conseguia pensar em nada além do olhar penetrante que Kamui lhe jogava.

Kamui se aproximou com suavidade. Kyo se esforçava para não fitá-lo. "O que está acontecendo comigo?", pensou o belo lutador. "Por que eu não consigo enfrentá-lo? Por que eu sinto um desejo imenso de olhá-lo?".

Quando percebeu, Kamui já estava firme á sua frente, com o mesmo olhar que lhe atraia. Kyo fechou os olhos e de sua boca saiu um grito desesperado. Assim que os abriu, Kamui e as penas haviam desaparecido. O lutador olhou ao redor, sua respiração era rápida. Uma brisa fresca entrava pela janela. Não havia sinal de que Kamui esteve ali. Logo Kyo concluiu que tudo aquilo era fruto de sua imaginação.

Kyo suspirou profundamente, como se estivesse aliviado. Caminhou para a porta e saiu da sala. Entretanto, a sensação que havia sentido com Kamui não havia lhe deixado. O olhar do jovem ainda o seguia. Estava grudado em sua mente e não iria perder aquele posto tão rápido. Resolveu ir para casa. Imaginava que para esquecer aquele acontecimento era só questão de tempo. Imaginava que tudo que precisava era de uma boa noite de descanso.
 
 
 
 
 
 
 
 

No dia seguinte, lá estava Kyo andando pelos corredores, escolhendo a dedo suas vítimas. Não havia esquecido Kamui e seu olhar arrasador, mas acreditava que se praticasse seu passatempo favorito, o esqueceria. Durante toda a noite tivera sonhos com o estranho episódio, e cada um deles era tão ou mais esdrúxulo que o próprio fato. E por isso sua necessidade de se ocupar com outras coisas era incessante.

Mas toda a sua vontade foi em vão. Os seguranças do OBA estavam em cada esquina do estúdio. Era impossível desafiar alguém com eles por perto. Kyo começou a ficar impaciente. E sua impaciência passou a permitir que voltasse a pensar em Kamui. E isso começou a lhe incomodar profundamente, chegando ao ponto de socar a parede. Muitos personagens de Animes que passavam por ali o olharam com incompreensão. A parede havia rachado com o golpe. Aquela reação fora involuntária, Kyo tinha noção de suas atitudes. Não conseguia compreender a si mesmo.

Então, ele decidiu voltar ao local onde supostamente viu Kamui. Correu velozmente ao local. A cada passo que dava lembrava do olhar do jovem estudante e a batida de seu coração aumentava inconstantemente. Kyo abriu a porta e entrou. Nada. A janela continuava aberta e o vento que dali vinha era fresco. O lutador deu alguns passos em direção a janela. Ele bufou. Saiu da sala e no corredor a direita avistou uma pena branca, aparentemente igual aquela que havia visto anteriormente. Agachou-se e apanhou-a. Olhou um pouco mais para frente e havia outra. E mais à frente, mais algumas. Era uma trilha, que seguia até o fim do corredor e dobrava a esquerda. Kyo não pensou duas vezes: Resolveu acompanhar aquele caminho de penas.

O lutador percorreu o corredor e dobrou a esquerda, que o levou a um gigantesco salão de teto alto e sem janela nenhuma. Kyo entrou e as portas se fecharam. E de repente, ouviu uma voz:

-Sonhou comigo, querido Kyo?

Kyo olhou para cima e viu Kamui apoiado no elegante lustre de cristal, com a mesma roupa, segurando a espada de dois gumes do mesmo modo e o encarando com o mesmo olhar ignoto. O lutador não conseguiu responder. Estava lutando contra sua vontade de observá-lo. Logo, Kamui pulou no chão e manteve-se parado, ainda olhando fixamente para Kyo.

O lutador se posicionou para lutar. –Seu imbecil!

Kamui sorriu. Kyo sentiu um calafrio que fez seus joelhos tremerem.

-Por que está bravo? –Perguntou Kamui, com a mesma tranqüilidade. –O sonho que teve comigo não era bom?

Kyo não respondeu. Mal conseguia se manter em posição de ataque. Evitava olhar para o jovem.

-Oh sim, eu esqueci. –Continuou Kamui. –No sonho havia penas...

Imediatamente, muitas penas começaram a cair. Kyo procurou com os olhos a origem daquele fenômeno, mas não achou. Olhou para Kamui, que continuava a lhe encarando. Outra vez, preparou-se para a batalha.

-Lute como homem, seu feiticeiro! –Gritou o lutador.

-Lutar?

-Sim! Vou acabar com você, seu cretino!

Kamui começou a rir.

-O quê que você está rindo, seu miserável? –Berrou Kyo, ferozmente.

-Perdoe-me, prezado Kyo.

Kyo não compreendeu. Esperou pela explicação.

-Você não quer lutar comigo.

O lutador sentiu uma sensação exótica. –Como é que é?

-Sim, e você sabe que isso é verdade. Se não fosse, você já teria me atacado.

Kyo se sentiu encurralado. Seus punhos fechados agora estavam mais apertados. Não queria admitir que Kamui estava certo. Desviou o olhar, mas continuava firme naquela posição.

Kamui começou a caminhar para perto de Kyo. –Você não quer lutar comigo. Você não consegue. Afinal, como pode atacar alguém que deseja loucamente?

O jovem parou á frente de Kyo, a um palmo de distância. Incrivelmente, Kyo tentou golpeá-lo, mas seu golpe atingiu somente a espada de seu oponente. Kamui afastou-se com um salto.

-Há uma parte em você que ainda não me deseja... –Murmurou Kamui. –É sua parte guerreira, sua parte bélica.

-O que você quer?

Kamui ergueu uma de suas sobrancelhas. –Essa não é a pergunta correta, adorável Kyo. A questão está em você, não em mim.

Kyo não havia entendido. Kamui continuou com a palavra. –Você quem pensa em mim e quem me seguiu. Não fui eu quem deu início a esse ciclo.

-Você está louco... –Sussurrou Kyo, raivosamente. Mas em verdade, ele não estava possesso por ira. Aquilo era superficial, seu desejo por Kamui ainda era superior e quase irreprimível.

As penas cobriram todo o solo e exalavam um perfume de deleitável aroma. Kamui se aproximou de Kyo. Rodeou-o calmamente. Seus olhos ainda estavam sob uma expressão irreconhecível.

-Era você quem estava louco, Kyo. Acha que eu nunca reparei nessa sua atitude excessivamente agressiva? No fundo você nunca gostou de brigar. É só uma escusa para esconder sua lastimável solidão.

Kyo sentiu uma pontada no coração. Nunca ninguém havia lhe dito tais verdades. Lentamente, foi saindo de sua posição de combate. Ficou pensativo, com o olhar perdido. Enquanto isso, Kamui se firmou á sua frente.

-Não se desespere, querido Kyo. Eu estou aqui para ajudá-lo...

O lutador o olhou. –E como pretende fazer isso?

Kamui sorriu maliciosamente. Colocou sua mão direita sobre o peito possante de Kyo e deslizou-a vagarosamente. Kyo sentiu um imenso calafrio. O jovem estudante apoiou a outra mão sobre busto e o acariciou. Desceu as suas mãos para a cintura do lutador e segurou com elas a barra de sua blusa.Devagarzinho, tirou despiu o peito. Voltou a passar as mãos delicadamente sobre aquela parte. Kyo o observava, sua respiração exalava prazer.

Quando percorreu o tronco inteiro de Kyo com as mãos, Kamui se aproximou mais. Esfregou pausadamente seu rosto pelo ombro bem trabalhado do lutador, até chegar ao ponto de beijá-lo com suavidade. Ora beijava, ora passava a língua. Do ombro passou para o outro e dali abaixou-se até o tórax. Com a língua, brincava com o umbigo de Kyo; com as mãos acariciava o peito e as nádegas. Kyo estava imóvel de fascinação. Fechou os olhos para sentir com exatidão aquela sensação maravilhosa.

Cansado de se divertir com aquela parte do corpo do companheiro, Kamui começou a abrir a calça dele. Afrouxou-as usando a delicadeza de suas mãos. Assim, o pênis estava completamente à mostra e inteiramente ereto. Primeiramente, Kamui acarinhou-o com as mãos. Brincou meigamente com ele, arrancando os primeiros suspiros de excitação de Kyo. Aquele feito o inspirou mais ainda. Logo, a carícia passou a ser feita com a boca.

A princípio, o sexo oral fora lento e insinuante. Kamui sabia como estimular o lutador. Ás vezes parava de lamber o órgão dele para aumentar o prazer. Com um certo grau de leveza, massageava com as mãos as coxas grossas e as nádegas de Kyo. E nisso, deitou-o entre as penas que ainda cobriam o chão e espicaçavam o momento sexual.

Deitou Kyo de costas e insinuou uma penetração anal. Somente insinuou, pois ainda estava trajado, embora não pudesse esconder sua ereção. Beijava as costas do lutador e ás vezes dava indolores mordidinhas. Suas mãos corriam loucamente pelo corpo de Kyo.

Depois, Kamui achou que estava na hora de mostrar o verdadeiro prazer. Abriu os botões da calça e a abaixou um pouco. Ergueu as nádegas de Kyo e as apartou, penetrando lentamente seu pênis no ânus do lutador. Kyo gemeu de dor, mas brevemente o gemido fora tomado por prazer. Kamui guiava o sexo de uma maneira instigante, e não deixava de acariciar o órgão de seu companheiro. Kyo colocou-se de joelhos. As penas começaram a se movimentar em círculos. A penetração começou a ficar mais veraz. Quando estavam prestes a atingir o orgasmo, Kamui interrompeu a relação.Kyo o olhou sem compreensão, seu rosto repleto de respingos de suor.

-O que foi? –Perguntou o lutador, sua respiração era rápida.

Kamui o deitou novamente, desta vez de barriga para cima. –Vamos acabar com isso de uma forma diferente... –Murmurou o jovem, que desceu para o sexo do parceiro e continuou a estimulá-lo com a boca. E desta forma graciosa, os dois chegaram na turgescência, entre altos gemidos, movimentos ligeiros e penas voando ao seu redor.

Kamui se levantou. Kyo tentava entender como aquilo ocorreu, como ele fora tomado pelo desejo. O jovem estudante fechou a calça e apanhou sua espada, dirigindo-se á porta. Kyo o observou. –Mas já vai?-Disse ele.

Kamui não respondeu, somente se retirou do local. Num piscar de olhos, todas as penas sumiram. Kyo estava sozinho naquele salão, completamente sem fôlego e nu. Ficou sentado no chão por alguns minutos. Estava confuso e ao mesmo tempo aliviado. E não sabia a razão. Talvez Kamui estivesse com a razão: Arrumava encrenca para camuflar sua solidão.

Kyo olhou para o lado e viu uma pena. Involuntariamente, sorriu.
 
 
 
 
 
 

Na noite do dia seguinte, perto da escada do segundo andar dos estúdios OBA, estava Kamui sentado na borda. Parecia estar esperando alguém. Não havia mais ninguém ali, somente alguns seguranças que, provavelmente, não haviam visto o jovem ali.

Então, um segurança entrou no OBA, passou pela recepção e rumou para as escadas. Kamui o observou. O segurança subiu até o segundo andar e se aproximou do jovem estudante. Logo, sentou-se ali do lado.

-Você demorou, Yomi.

O demônio começou a rir e tirou a boina. –É que foi meio complicado colocar minhas orelhas nessa boina! –Olhou para Kamui. –E aí?

-Kyo agora me persegue. Acho que se apaixonou por mim ou coisa parecida.Vive passando pelo mesmo corredor que me encontrou pela primeira vez.

-Mas você conseguiu consumar o fato?

-Claro que sim.

-E como o fez?

Kamui o fitou. –Inventando uma desculpa qualquer. Kyo tem fama de valentão. É só usar uma psicologia errada que tudo se resolve.

Yomi sorriu. –Você iludiu o pobre coitado...

-Foi preciso. Além do mais foi você mesmo quem me ensinou isso.

-De fato. Mas ensinei-o a tirar lasquinhas, não para fazê-los se apaixonar!

Kamui riu. –Desculpe. Vou tomar mais cuidado da próxima vez.

-E já tem alguma vítima em mente?

-Talvez sim...Talvez não...

Yomi o abraçou. –Você é um grande pupilo!

-Sim. Sou um grande conquistador. Serei tão bom quanto você, ou até melhor!

Yomi fechou o sorriso. –Não exagere. Você é bonitinho e tal, mas o quê que você tem de mais?

Kamui sorriu pelo canto da boca. –Eu tenho penas...

Yomi não compreendeu, mas admitiu que Kamui era um grande pupilo. "Penas...", pensou.
 
 


Fim

OBS: Dedico essa Fics a minha amiguinha Kyn! Finalmente consegui acabar uma fics com nossos queridos pets! E para variar, tia Sandy, mestra Sandy... Usei o Yomi mais uma vez, huahuahuahua! Sorry...É mais forte do que eu!
 
 

Fim



Por Rinko Himura rebi_zinha@yahoo.com.br
Fevereiro de 2002