A Nova Era

Em mim tu podes ver a quadra fria

Em que as folhas, já poucas ou nenhuma,

Pendem do ramo trêmulo onde havia

Outrora ninhos e gojeios e plumas.

Em mim contemplas essa luz que apaga

Quando no poente o dia se faz mudo

E pouco a pouco a negra noite o traga,

Gêmea da morte, que cancela tudo.

Em mim tu sentes resplender o fogo

Que ardia sob as cinzas do passado

E num leito de morte expia logo

Do quanto que nutriu ora esgotado

Sabê-lo faz o teu amor mais forte

Por quem em breve há de levar a morte.

(Shakespeare)

_ Margot... Margot... _ Damabiah chamou Hahael em seu quarto, batendo na porta _ Margot...

A porta foi aberta pela sonolenta ruiva. Hahael esfregava os olhos estranhando a luz. franziu o cenho quando reconheceu o alto moreno parado a sua frente.

_ O que foi? Ainda é dia _ começou. viu a bolsa que carregava e, estranhando, perguntou _ Onde você vai?

_ Pega as suas coisas e troca de lugar comigo. Fica lá com seu amigo. Ele vai precisar de você_ Damabiah falou, sem dar uma explicação a ruiva.

Damabiah não respondia nada e Hahael sabia pelo tom de voz. Seu coração falhou uma batida. Sem fazer mais perguntas, recolheu todas as suas coisas rapidamente. Temia pelo pior, mas duvidou por um instante que aquele homem fizesse algum mal a Raziel.

Correu até o quarto em que estava seu amigo e entrou sem bater. Deixou que o demonio oculpasse seu quarto.

Damabiah bateu a porta e jogou suas coisas sobre a cama. Não tinha vontade de dormir, não conseguiria. Puxou o maço do bolso da jaqueta de couro e acendeu um cigarro, enquanto olhava a cidade pela janela e pensava em seu amado anjo.

Entrando no quarto, Hahael foi supreendida pelo que vira. Raziel completamente nu sobre a cama. E uma suspeita cresceu em sua mente. Eles eram amantes. E o que teria acontecido acontecido entre eles?

Dirigiu-se até a cama e pegou o lençol jogado no chão, cobriu seu amigo cuidadosamente. Olhou o seu rosto e identificou tristes marcas de choro.

Teria chorado? Mas por que? Hahael perguntou-se admirando o belo semblante. Será que havia sido...? Não quis continuar seu pensamento. sentiria muito se soubesse que era verdade as suas suspeitas, ainda porque vira algumas marcas sobre a peles branca e delicada de Raziel.

_ Raziel... Raziel... _ cahmou-o quase num sussurro, tocando-lhe suavemente o rosto.

Raziel abriu os olhos com dificuldade. O pranto compulsivo de poucos instantes atrás deixara-os inchados e um pouco ardidos. Sentia sus cabeça dolorida, igualmente com o seu corpo. Desejava está morto naquele momento. Suspirou pesadamente ao reconhecer Hahael ao seu lado.

_ O que aconteceu? Ele te machucou? _ insistiu e outra vez foi respondida com um aceno negativo.

_ Oh, minha amiga... _ Raziel finalmente falou, segunrando o choro _ Sim, aconteceu uma coisa horrível. Eu preciso tanto de você.

_ Eu descobrir que andavamos com um demonio conosco o tempo todo. E esse demonio é o Nicolas, ou seja lá como ele se chama _ respondeu deixando as làgrimas rolarem e os soluços se libertarem.

Hahael arregalou os olhos e afastou-se de Raziel, dando alguns passos para trás. Desacreditando que pudesse ser verdade todas as suas susperitas e temores. Como Raziel pode ser tão ingênuo? Como pode ter deixado um demonio acompanhar todos os seus passos?

Raziel apenas continuou calado, deixando que o pranto recomeçasse e dominasse o seucorpo.

_ Por favor!... _ sentando-se na cama Raziel implorou por mais um perdão. Estendeu a mão para a ruiva pedido por sua compreensão _ Eu preciso de você. Preciso que seja minha amiga e me dê forças. Por favor, Hahael...

A anjo ruiva olhou sem amigo à distância, no seu sofrimento, e seu coração apertou-se no peito. Raziel estava triste e frágil, realmente precisava de seu apoio para ficar forte e enfrentar aquele demônio.

Aproximou-se outra vez de Raziel e tomou-o em seus braços, abraçando-o com piedade. Se ele havia errado não era Deus para condená-lo, então seria misericordiosa e perdoaria seus pcados. E tinha certeza que eram muitos...

Hahael e Raziel ficaram abraçados por muito tempo, a ruiva aninhara seu amigo como uma criança contra seu peito, enquanto afagava seus longos fios dourados.

Raziel chorou até voltar a dormir outra vez. O pranto e o desespero deixaram-no cansado. A ruiva olhou para o anjo loiro abraçado a si e acariciou-lhe o belo rosto com as pontas dos dedos suavemente. Sentia pena dele e sofria por ele sofrer também.

Deitou-se delicadamente na cama, com medo de acordá-lo, cobriu-o e olhou com tristeza para o seu rosto.

Andou pelo quarto de um lado para o outro, pensando, tentando arquitetar algo para aquele demonio. Sabia que quando a noite caísse a realidade iria ser bem creul, não só para ela mas principalmente para Raziel.

Finalmente sentou-se no outro extremo da cama, enquanto Raziel dormia. Olhou a janela, esperando pelo anoitecer.

Damabiah apagou seu último cigarro, suspirando pesadamente. Olhou pela janela verificando o crepúsculo crescente. A criança nasceria a qualquer momento naquela noite, podia sentir, e a luta com a criatura que mais amava começaria.

Levantou-se da poltrona em que estava sentado e fechou os olhos. Uma aura roxa envolveu-o e de repente duas grandes asas negras sairam de suas costas, rasgando sua camisa negra.

Abriu os olhos vermelhos, mostrando um outro Damabiah. O demônio cruel e frio. Olhou para o púrpura do ínicio de noite. A guerra iria começar...

_ A criança! _Raziel acordou gritando. Sentia o poder da junção dos astros dentro dele. Sabia que a criança, o novo Messias, nasceria em poucos instantes.

_ Que bom que acordou, meu caro! _ falou Hahael, aproximando-se de seu companheiro.

Hahael estava magnifica! Era a anjo fêmea mais linda de todo céu e a mais valente também.

Sua fiel amiga já possuía suas asas imaculadamente brancas. Estava pronta para a batalha. Sorriu-lhe então suavemente.

_ Como você está? Melhor? _ perguntou, tomando uma das mãos de Raziel nas suas.

_ Ótimo! Precisamos ir, a criança nascerá em breve. sinto o poder dos planetas tão forte que parece que eles estão dentro de mim.

Raziel levantou-se da cama rapidamente, mas sentia um peso enorme em suas costas. A lembrança de que o ser que mais amava era um demônio e de que lutaria com ele ainda era muito recente. Porém não se deixou abater, não colocaria a salvação do mundo em risco.

Vestiu suas tradicionais roupas, a velha calça jeans e a camisa branca. Fechou os olhos concentrando seu poder. Uma aura dourada envolveu-lhe o corpo e logo em seguinda duas asas de asas imaculadamente brancas surgiram em suas costas. Estava pronto para a luta.

Olhando pela janela do quarto em que estava Damabiah viu os dois anjos voando livremente em direção a caverna.

Engoliu em seco quando reconheceu a longa trnça dourada de seu amado bruxuleando ao sabor do vento. Sabia que tinha que lutar com ele e possívelmente um dos dois não sobreviveria para ver a Nova Era que surgiria.

Fechou os olhos e as lembranças dos dias em que passaram juntos, dos momentos de prazer e dos últimos instantes, percorreram sua mente. Sua beleza angelical, seus longos fios dourados tão sedosos, seus belos olhos azuis, seu sorriso e as lágrimas... Seu peito pesava uma tonelada. Não queria carregar esse fardo, mas não havia outra escolha.

Suspirou profundamente, sentindo a dor crescendo em seu peito. Abriu os olhos lentamente. Teria que ser frio mais do nunca fora e totalmente cruel. abriu a janela e num piscar de olhos estava planando no sombrio céu daquela noite.

Raziel e Hahael pararam na entrada da caverna. estavm tensos, não sabiam o que encontrariam, mas sentiam um grande poder sair do interior. Era o mesmo poder que sentiam em seu intímo. A mãe da criança estava ali sem dúvida e a criança estava ali em seus braços.

Ouviram um choro fraquinho de criança. entreolharam-se . Estavam perto de um final. Perto o suficiente para evitarem um confronto com o demônio. Podiam pegar o bebê e a mãe e voltar para o seu lugar.

Raziel entrou primeiro, temeroso. Ouvia o choro incessante do recém-nascido. Hahael seguia a seu encalço, olhando sempre para suas costas. Temia uma surpresa daquele demônio.

_ Shhhhhhh, Nené... Mamãe está aqui. Não vai deixar nada de mal te acontecer.

Raziel parou ao ouvir a voz da mulher que dera a luz a salvação do mundo... ou a destruição. Olhou para trás, encarando profundamente Hahael com cumplicidade. Estava perto! A ruiva apenas acenou com a cabeça.

Continuaram andando até chegarem no centroda caverna. Era um salão enorme, parecido com uma igreja, com varios desenhos quase que pré-históricos enfeitavam as paredes. Os dois anjos olharam maravilhados. Aquele lugar era mais antigo so que eles podiam imaginar... e era igualmente belo e fascinante.

Ao centro via-se uma foqueira com chamas bruxuleantes e algumas madeiras próximas. a jovem realmente fora previnida e bastante esperta. Preparara-se para o nascimento do filho.

Raziel e Hahael aproximaram-se cautelosamente da mulher sem que ela percebe-se. Viram que ela dera à luz a pouco tempo, pois um pano ensagüendado denunciava.

Como se sentisse a presença mágica, a jovem desviou o olhar da criança em seus braços e viu as duas sombras com imensas asas. Olhou para trás e lá estavam os dois anjos, com seus olhares de um azul profundo e traqüizador, olhando-a.

A menina segurou mais próximo de si o bebê e, com uma expressão de medo, balançou a cabeça negativamente. Correria e fugiria de perto deles se pudesse, mas não podia. Ainda estava muito fraca do parto.

_ Não... _ disse, sussurrando fracamente, com seus olhos enchendo-se de lágrimas.

Raziel agachou-se próximo dela e, com uma carinho mais do que fraternal, afagou-lhe os ainda úmidos fios negros. Olhou o bebê em seu braços e tentou tocá-lo, mas a jovem afastou seu filho do toque.

_ Calma, querida. _ começou falando num tom de voa doce e traquilo, queria ganhar a sua confiança _ Estamos aqui para ajudar.

A menina não pode resistir. a paz e traquilidade que aquele anjo loiro transmitia desarmara-a por completo. sabia que ele não lhe faria mal. Conhecia-o de seus sonhos. E finalmete deixou que Raziel tocasse seu bebê.

Raziel pegou-o nos braços e a criança parou de chorar no mesmo instante. Era a sua paz que provocava essa reação. Deserolou o bebê do manto branco e sorriu, quase que emocionado, ao constatar que era uma menina, depois devolveu-a a sua mãe.

_ Vamos tirar você e o seu bebê daqui. Levá-las para um lugar seguro. Você confia em nós? _ perguntou olhando profundamente nos olhos castanhos da jovem mãe.

A jovem apenas acenou com a cabeça. Sabia que podia confiar nele, que só a eles podia entregar o destino da sua filha.

Raziel tomou a mulher em seus braços, com todo cuidado para não machugar nenhuma das duas, nem mãe, nem filha. Olhou para Hahael e acenou com a cabeça para que seguissem em frente.

Seguiram o mesmo caminho para saírem da caverna. Desta vez Hahael ia a frente, sempre atenta a qualquer movimento do demônio. Estava tensa, temia por uma ataque a qualquer instante.

Na saída, Hahael olhou tudo ao redor, checando a presença do maldito ser das trevas. Nem sinal. Franziu o cenho. Ele não podia ter renunciado aquela busca, com certeza estava aprontando alguam surpresa.

Deixou que Raziel saísse com a mãe e a criança. Entreolharam-se atentamente. era impossível não percebr a tensão nos olhares dos dois. Esperavam pelo pior a qualquer momento.

Ambos olharam para o alto e levantaram seua corpos do chão. Começaram a planar pelos ares, quando a voz de Damabiah explodiu.

Os dois anjos pararam no céu, batendo suas asas suavemente. Olharam para o chão. A respiração de Raziel ficou suspensa quando reconheceu a bela figura de Damabiah. Seu amado, até poucas horas, agora... seu inimigo.

Quando percebeu Damabiah levantando-se do chão, indo na direção deles, Hahael não pensou uma segunda vez. Virou-se para Raziel, falando, enquanto ia em direção ao demônio.

Mas ele não se moveu. continuou parado no mesmo lugar com suas asas batendo suavemente, enquanto via sua fiel e valente amiga ir em direção ao seu amado.

Raziel assistiu o confronto dos dois. Viu as duas asas, a branca e a negra, chocarem-se com violência . Os socos que trocaram, até Damabiah invocar com o seu poder uma espada púrpura e cortar uma das asas imaculadas de Hahael.

Seu corpo estremeceu em desespero. hahael despencou do ar sem changes, mas antes ainda conseguiu agarrar o pé do demônio, evitando que Damabiah fosse ao encontro de seu amigo. Os dois caíram, batendo violentamente no chão e gmendo de dor.

Porém a batalha não parou. Damabiah levantou-se rapidamente, como se não sentisse nada. Hahael seguiu-o com um pouco de dificuldade. Tinha uma asa a menos e uma costela quebrada. encarou-o ferozmente.

_ Então a mocinha quer brincar? _ falou sardastcamente _ Por que você não desiste? Vai morrer mesmo. principalmente porque eu não gosto de você.

Ao ver que os dois continuavam a batalha, Raziel resolveu descer. sabia que Hahael morreria se lutasse sozinha, então decidiu que iria ajudá-la.

Pousou perto de umas árvores próximo de onde os outros lutavam. Viu quando Damabiah lançara contra o belo rosto de Hahael um violento tapa, fazendo-a cair.

Depositou a jovem mãe e a criança no chão perto de uma árvore. Virou-se rapidamente a tempo de ver a anjo ruiva partir para cima de demônio com toda fúria que seu corpo podia suprotar. Tentou correr e evitar que a bela amiga se sacrificasse, mas não conseguiu.

Viu seu ex-amante fechar um punho e num soco forte enterrar sua mão no peito de Hahael. O sangue espirrou no rosto e na camisa do demônio, enquanto a ruiva olhava descrente a prórpia morte. Damabiah retirou a mão, trazendo o coração, ainda pulsante, da valente anjo.

Raziel deixou um grito dolorido sair de suas entranhas. Não acreditava no que via. Oh, Deus, or quê? Era algum castigo? Alguma maldição? Caiu de joelhos, enquanto as lágrimas marcavam seu belo e alvo rosto.

Damabiah deixou o corpo de Hahel cair inerte e sem vida no chão. Jogou o coração da ruiva sobre o seu corpo e virou-se para Raziel. E o anjo não reconheceu seu amante nele. Era outro ser. Um demônio frio e cruel.

Damabiah lambia os dedos, saboreando o gosto do sangue, enquanto olhava Raziel por sobre os olhos. Sentia seu coração apertado no peito, mas não iria deixar que seus sentimentos atrapalhassem-no. Ignoravam o apelo de seu coração.

_ Agora só falta você, meu anjo... _ falou friamente com um sorriso nos labios de puro sarcasmo.

Raziel parou de chorar. Damabiah ter chamado-o de "Meu Anjo" de modo tão sarcastico, magoou-o profudamente, fez seu coração congelar. Levantou-se e encarou-o, ainda com lágrimas em seu rosto. Não sentia mais nada por aquele demônio maldito a não ser ódio, o mais puro e cruel ódio.

Foi em direção dele, concentrando toda a sua energia. Cobrindo seu corpo com uma aura dourada. Seu coração explodia de dor pela morte de Hahael, queria vingá-la.

Logo em sua mão surgiu uma luminosa espada, como um relâmpago dourado. Iria matá-lo. Matar aquele demônio que ludibriou com os seus sentimentos, só para chegar mais perto da criança e matou a sua mais fiel amiga e companheria.

Correu até Damabiah, gritando toda sua dor. Não conseguiria prendê-la mais. Damabiah também partiu para cima de Raziel. E, ao mesmo tempo, espada e punho feriram o peito de ambos.

Entreolharam-se sentindo a dor física fundindo-se com a sentimental. Raziel deixou que novamente as lágrimas brotassem de seus olhos azuis e inundassem seu rosto.

Sem conseguir mais segurar sua tristeza e sentimentos, Damabiah deixou que, pela primeira vez em sua existencia, lágrimas surgissem em seus olhos e traçassem umidos caminhos em seu belo rosto de demônio. E também pela primeira vez ceixara que tais palavras saíssem de sua boca:

Raziel sorriu sofridamente. A sua vida estava no fim. Fechou os olhos azuis e lentamente entregou-se a morte.

Damabiah também seguiu o exemplo de seu amado, fechando seus olhos e morrendo. Os dois corpos caíram um sobre o outro, frios, inertes e sem vida...

Uma voz grave gritou o nome do belo anjo morto. Era gabriel. Ele vira quanro o corpo de Raziel desfaleceu no chão. Não acreditava que o seu melhor aluno morrera bem na sua frente. pousou no chão, junto com o seu exercito e correu ao encontro do belo anjo.

_ Oh, pobre Raziel... Por que, Deus? _ lamentou-se pela sorte do anjo, mas não por muito tempo. No céu uma revoada de demônio com suas asas negras, anunciava sua chegada, parecia aves de mau agouro. Era Leviah com seu seu exército. A guerra realmente iria começar.

Aproveitando a confusão e o ínicio da guerra. A jovem mãe conseguiu reunir forças suficientes para fugir dali, levando consigo seu bebê. Suas previsões estavam acontecendo bem diante de seu nariz. Sumiria antes que algo de ruim acontecesse com ele e sua filha.

A tal esperada Nova Era não aconteceu. tudo continua exatamente com Raziel, Hahael e Damabiah deixaram.

Gabriel venceu aquela batalha, mas a guerra contra o bem e o mal permanece até os nossos dias e parece que não terá um fim. tudo vai depender da criança e que caminho ela seguirá...