Pequenas Preocupações




Por Umi no Kitsune


Capítulo Um


"Por favor... onde fica a rua Salles Neto?"

"Você quer dizer a rua do sr. Alexandre?"

"uh... não sei, eu sou novo nessa cidade... não conheço nenhum Alexandre."

"Ah, mas se está procurando a rua Salles Neto, está procurando a rua do sr. Alexandre!"

"... pode... por favor, me dizer como eu chego até lá?"

"Virando à esquerda você chega em uma praça, é a terceira à direita. Ela é a rua mais larga da cidade, depois da avenida principal e é a mais bonita também."

"Obrigado, até logo."

"Ei, moço! O que vai fazer lá?"

"... o que irei fazer? Eu vou ver uma casa que está à venda."

"Ah... cuidado com o sr. Alexandre!"

Camilo ficou parado, meio que espantado meio que confuso com a impertinência do menino. Suspirando ele dá de ombros e segue andando na direção indicada.

Não se sentia nada confortável andando como um estrangeiro na pequena cidade de Rosa Rúbia. Rosa Rúbia... que nome mais estranho para uma cidade. Mas do que estava se queixando? Era uma cidade pequena, calma, escondida no mapa dentro do interior de São Paulo, natural ter um nome estranho., ele pensou rindo.

Curioso como era, Camilo sabia muito bem que cedo ou tarde procuraria algum museu ou a prefeitura para saber a história desse nome, mesmo não tendo tempo suficiente para fazer isso. Não poderia se dar a esse luxo com tão pouco tempo, mas era teimoso e faria de qualquer jeito.

Claro que teria que sair correndo para São Paulo logo depois... não é do seu costume deixar os alunos sem aula à toa. Sim, era professor de História, do ensino fundamental e médio. Formado na USP, com uma turma mais psicótica do que pedagógica, mas foi feliz, pelo menos.

"Vejamos... rua Alexandre Salles... será que é esta? A rua do sr. Alexandre? Mas, no endereço que eu tenho é Salles Neto. Bah! Deve ser uma família importante na cidade... melhor seguir. Rua Rúbia Salles...", Camilo parou fitando a placa com o nome da rua, "Quem será essa sra. Rúbia?"

"Senhora? Oh, por favor, eu só tenho 16 anos!", veio a voz feminina atrás de Camilo.

"Ah... er... você é Rúbia?", Camilo perguntou incrédulo, ao ver uma garota de cabelos negros e compridos, sorrindo pra ele

"Bom, que eu saiba eu sou eu, e eu sou Rúbia Salles. Muito prazer.", ela se aproximou estendendo uma mão.

"Muito prazer. Puxa, eu pensei, pelo nome da cidade e da rua, que Rúbia fosse uma senhora velha ou até já morta..."

"Meu Deus! Bate na madeira!", ela dá três batidinhas em uma árvore próxima, "Sou muito nova pra morrer, senhor..."

"Oh, me desculpe!", Camilo sorriu envergonhado, "Meu nome é Camilo de Souza Neves, sou de São Paulo."

"Puxa! Você tem as iniciais do seu sobrenome iguais as dos meu irmão! S e N!", Rúbia disse excitada, "Oh, mas o que um cara da capital veio fazer nesse fim de mundo?"

"Estou aqui para comprar uma casa para os meus pais... eles são bem velhos e querem mudar para o interior, não agüentam mais o ritmo da cidade grande."

"Bota grande nisso! Eu adoro São Paulo!!! Quando completar 21 anos me mudo para lá, sozinha se for preciso! É uma cidade que me fascina, enorme, cheia de gente, de bares, danceterias, restaurantes maravilhosos..."

"Poluição, corrupção, desemprego...", Camilo suspirou pesadamente

"Ah, mas o resto compensa esses detalhes! Oh, me desculpe! Sendo de São Paulo você deve estar atrasado, né?"

Camilo segurou uma risada após o comentário da garota.

"Não quer que eu te acompanhe até a casa que pretende comprar?"

"Muito obrigado, seria maravilhoso. A casa fica na..."

"Fica na rua Salles Neto, eu sei!", Rúbia disse sorrindo andando na frente, "É por aqui!"

"Como você sabe...", Camilo perguntou perplexo

"Hehe... eu sei de tudo que acontece nessa cidade! Sei até de qual casa estamos falando. Não se preocupe..."

Rúbia e Camilo viraram em uma rua e pararam em frente a uma casa sem portão, com um jardim muito bem cuidado e paredes pintadas de cor de palha, com as portas e janelas brancas. Um caminho de pedras levava até a porta de entrada.

"... chegamos!", Rúbia tira um pequeno chaveiro do bolso e abre a porta, "Vamos entre!"

"Não me diga que... a casa é sua!", Camilo pergunta, ainda fora da casa

"Não, bobinho! É do meu irmão, ele pediu que eu cuidasse da venda. Foi coincidência termos nos encontrado no caminho."

Camilo entra na casa, observando os detalhes da sala. Era espaçosa com uma janela grande dando para o jardim e outra menor para um corredor lateral. Uma porta dava para uma sala menor que tinha uma outra porta que dava para a cozinha. Observando calmamente, eles chegam em um corredor. Do outro lado, a sala por onde entraram, no meio, uma escada e debaixo da escada, uma porta, que Rúbia mostrou ser um lavabo. No andar de cima tinha uma suíte, um quarto, um banheiro espaçoso e um escritório que também poderia ser quarto de hóspedes. Fora da casa, passando pela garagem, que era aberta, tinha um quintal e logo depois, um terreno com uma horta abandonada e duas macieiras ao fundo, com uma videira entre as duas árvores.

"Então? O que achou?", Rúbia perguntou excitada.

"A casa é maravilhosa! É confortável e bonita..."

"Vai comprar?", a garota perguntou sorrindo

"Não! Quer dizer... eu ainda tenho que trazer meus pais aqui e conversar sobre o preço... er... Rúbia, a casa está totalmente vazia, a não ser por um baú em um dos quartos. Vocês vão se desfazer dele?"

"Ai... aquele baú... é do meu irmão. Ele tem aquele treco desde pequeno... e parece que não quer jogá-lo fora por nada nesse mundo. Possessivo e teimoso que só vendo! Nem papai chegava perto dele... mas não se preocupe. Eu converso com meu irmão e ele vai tirá-lo de lá!"

"E quanto ao preço? Uma casa dessas... devo avisá-la que sou apenas um professor de História."

"Haha! Você? Professor de História? Nunca imaginaria!", Rúbia riu, "Mas não tem problema! O preço está --"

BANG! BANG!

Ao som dos tiros, que Camilo conhecia bem das escolas da rede pública da capital, ele abraça Rúbia e a obriga deitar, ficando sobre o corpo dela, com os braços sobre a cabeça da garota.

"O que foi isso?", ele perguntou com um olhar bem diferente, sombrio, que espantou Rúbia.

"Oh... isso... isso...", ela disse tentando se soltar

"Rúbia, fique quieta! Não está ouvindo os gritos e tiros? Fique aqui!", ele disse apertando-a mais

"Não! Você não entende...!", de tanto debater-se, Rúbia consegue escapar de Camilo e sai correndo para a rua

"Rúbia!!! Volte aqui, menina!", Camilo foi atrás dela, "Mas essa garota é louca?"
 
 
 
 
 
 

"Por favor... eu imploro! Não me mate! Não me mate!"

"Escória...", um homem moreno, de terno, disse enquanto caminhava com uma arma na mão.

BANG!

"Não! Não... ", um outro implora, com a perna sangrando se arrastando pelo chão

"Cale a boca...", o primeiro diz calmamente, pronto para apertar mais uma vez o gatilho

"Alex!!! Alex!!!"

"O que está fazendo aqui?", ele diz para a adolescente que vinha correndo, ainda com a arma apontada para a cabeça do homem no chão, "Pare e volte para sua casa! Já disse que não gosto quando você...", o homem, então Alex, percebe uma outra pessoa correndo. Ele alcança Rúbia e a segura firme. Alex escuta o que ele diz:

"Ficou louca? Não vê que ele está armado?"

"Me solte!!!"

"Fique quieta!", o homem aperta os braços de Rúbia que faz uma careta de dor. Alex, até então calmo, franze o cenho e grita:

"Solte-a!"

O homem pára, ainda com a garota nos braços, olhando-o sério nos olhos. Era ruivo... parecia que tinha os cabelos em fogo, curtos e desalinhados enfeitando o rosto moreno, bronzeado. Tinha olhos cinza... ou eram verdes? Não conseguia identificar de tão longe. Mas era lindo... lindo a ponto de...

"Eu mandei soltá-la!", Alex muda a mira da arma para a cabeça do estranho, que nem piscou, continuando a encará-lo desafiador

"Não! Alex, não faça isso!", Rúbia se põem na frente do estranho, "Ele é de São Paulo! Veio comprar a casa! Não o assuste!"

"Me assustar?", Camilo pergunta bravo

"Rúbia, venha cá.", a menina se solta e corre até Alex, que a pergunta baixinho, "O que está me dizendo é verdade? Por que ele te segurou daquele jeito?"

"Porque ele é novo na cidade! Ele queria me proteger, não sabia quem você era!", Rúbia responde no mesmo tom baixo, mas com uma nota de desespero na voz, "Por favor, esqueça ele... o que você está fazendo?"

"Ele vai se mudar pra cá?", Alex ignora a pergunta da irmã

"Não... apenas os pais dele, são uns velhos cansados da capital...", ela responde já com impaciência, prevendo o que aconteceria, "Ele é professor de História em São Paulo... e é muito simpático, não sei mais nada. Agora, me explica o que está acontecendo!"

"Eu quero que você chame o delegado. Mande prender esse homem.", ele guarda a arma na cintura, atrás, debaixo do terno, "Eu vou cuidar do resto da venda da casa."

"Alex! Não me venha com essa!", Rúbia segurou o braço do irmão, "Ele nem sabe ainda se vai comprar, quer trazer os pais para verem se gostam da casa antes. E ele também disse que não tem muito a oferecer... ele nunca conseguirá pagar os cem mil reais que você pediu."

"Rúbia...", ele afaga o cabelo da irmã, "... eu cuido das minhas coisas. Você apenas interfere quando eu permito, entendeu? Agora... vá fazer o que eu pedi...", ele se inclina e beija-a na testa, "Depois vá para casa, tome um banho e se arrume. Nós vamos oferecer um jantar para o rapaz da capital."

"Mas..."

"Sem mas, querida.", ele disse se afastando.

Rúbia suspira e puxa um telefone celular da bolsa. Enquanto isso, Alex se aproxima do estranho, que dá um passo para trás, mas sem perder a pose.

"Me desculpe pelo tratamento anterior.", Alex começou, "Eu não sabia que você estava querendo proteger minha irmã..."

"Sua... irmã?", o ruivo demonstra a primeira emoção: surpresa.

"Sim, minha irmã.", Alex se vira um pouco para trás e Rúbia acena, com o celular no ouvido, para os dois, "Eu pensei que estivesse ameaçando-a."

"..."

"Muito prazer. Meu nome é Alexandre Salles Neto, prefeito da cidade."

"... O que...?!", o estranho fica mudo diante da mão estendida de Alex, "Prefeito...?"

"Como professor eu suponho que consiga elaborar frases maiores e mais criativas... ou está assustado?", Alex pergunta sorrindo, recolhendo a mão que não foi saudada

"Não estou assustado! Estou surpreso! Surpreso por ver o comportamento descarado de um prefeito diante da cidade toda!", ele gesticula para as pessoas em volta dos dois.

"Ora, obrigado.", ele se aproxima e segura firmemente o braço do ruivo, "Sabe... nós precisamos conversar, senhor..."

"... me solte.", o ruivo tenta se soltar mas o aperto de Alexandre está muito forte

"Não quer dizer seu nome?", Alez diz sorrindo enquanto caminha com o ruivo de volta a casa, "Não quer ter... problemas comigo?"

"Não tenho medo de gente que usa de violência para comandar uma cidade!"

"Certo... então diga seu nome.", Alex solta o braço do ruivo e abre a porta, dando passagem para ele passar, "Por favor... entre."
 
 
 
 
 
 

Camilo fitou os olhos negros e frios de Alexandre. Não estava com medo, mas não queria pensar no que aconteceria se entrasse sozinho com ele naquela casa. Poderia morrer... ou apenas negar todos os seus princípios e receber o pagamento pelo seu silêncio...

"Meu nome...", ele diz já dentro da casa, sentindo seu coração falhar ao ver Alexandre fechar a porta, "... é Camilo.", ele suspirou e completou, "Camilo de Souza Neves."

"Camilo... nome de mulher.", Alex respondeu rindo

"Não é. Camila é nome de mulher."

"Camilo é nome de mulher... apenas a presença do morfema gramatical "o" não muda o fato de seu radical ser sempre lembrado como um nome típico de mulher. Pode ser preconceituoso, mas a associação com o feminino ocorre mais do que com o masculino. Eu não quis dizer que mulheres usam esse nome, apenas que..."

"Pare de discutir besteiras!", Camilo quase gritou irritado

"Besteira? Seu nome pode ser estranho, mas não é besteira.", Alex se aproximou de Camilo, sorrindo, "Na verdade, é um nome muito bonito... combina com você."

"Chega disso! Não se aproxime...", ele disse dando um passo para trás, alcançando a parede. Alex se aproximou mais e ele deu um passo para o lado e para trás, entrando no corredor, "O que você quer de mim?"

"Eu quero você... morando nesta casa.", Alex sorriu, "Quero que você e seus pais sejam felizes na minha cidade... só isso."

"... impossível. Eu nunca traria meus pais para um cidade governada por um assassino! Eu escutei os outros tiros e vi os corpos no chão. Você só não matou o último porque sua irmã chegou. Saiba que se eu sair daqui com vida, irei te denunciar! E aposto que não foi a primeira vez que você matou para conseguir o que quer! Eu sinto raiva e nojo só de pensar no que você deve ter feito esse povo passar..."

"Cale a boca.", Alexandre disse calmo, mas não sorria mais.

"Eu não vou me calar! Mesmo que você me mate, meus parentes e amigos viram a minha procura! Você vai ser preso! Um absurdo... se aproveitar de uma cidade pequena...--!!"

"Mandei calar a boca!", Alexandre esbofeteia Camilo que com a força é jogado contra a escada.

Agora Camilo estava assustado, tinha que admitir. A força de Alexandre era muito maior que qualquer um poderia supor. Camilo sentia o sangue escorrer pelo seu lábio e se misturar com sua saliva dentro da boca. Com apenas um tapa! Não foi nem um soco... Camilo estava assustado, sim... mas não iria desistir sem lutar.

"Seu...", ele se levanta de repente atingindo com um soco o estômago de Alex. Este se dobra e perde a respiração, mas em menos de dois segundos, já estava bloqueando a mão de Camilo que vinha na direção do seu rosto.

"É bem forte e corajoso para um professor, não? Vamos ver o quanto agüenta... essa coragem."

Camilo nem teve tempo de ver quando um soco atingiu seu queixo lançando-o de novo para trás. Ele abriu os olhos, a imagem de Alexandre sorrindo ficava disforme, achava que perderia a consciência, pois estava tonto e não sentia força nenhuma para levantar-se.

"Não... acorde!", Alexandre deu um tapinha de leve em seu rosto, "Acorde, eu estou mandando!", ele gritou pela primeira vez, perdendo a calma.

Com muita dificuldade, Camilo não se deixou cair na inconsciência, mas sentia-se sonolento demais. Na sua mente a vergonha de ter sido derrotado por um único soco.

"Mantenha-se acordado, professor.", Alexandre disse quase com prazer, parecia que sorria, "Quero que veja como eu faço de você... meu!"

Pânico tomou conta do corpo de Camilo quando se viu, num segundo, sem a camisa, entendendo o que aconteceria se não lutasse.

"Não!", ele colocou as mãos firmemente sobre seu ventre, impedindo que abrisse sua calça.

Como um boneco, Alexandre tomou os punhos de Camilo e, retirando o próprio cinto, amarrou as duas mãos na grade da escada.

"Não! Me solte!"

"Quieto...", Alex fez um carinho no cabelo ruivo, "Você vai gostar... eu te prometo."
 
 
 
 
 
 

Lentamente, uma dor terrível começa a se fazer presente. Nos braços, ombros, rosto... doíam muito. Ao mesmo tempo, que um calor gostoso e inexplicável foi aparecendo. Em seu pescoço, sua cintura, pernas... Camilo tenta se mexer, mas a dor é muito grande e o calor é muito gostoso para que juntasse forças para sair de onde estava. Estava acordando...

"Ah!!!", ele se senta de repente, lembrando de tudo o que acontecera.

"... acordou?", uma voz sonolenta e rouca entrou em seus ouvidos provocando arrepios na espinha. Camilo se vira e vê deitado, ao lado dele, Alexandre.

"... meu... Deus!", ele sussurra ao notar que ambos estão nus. Não estavam mais na escada e sim em um dos quartos, deitados sobre um cobertor grosso.

Não... não é possível! Era tudo um pesadelo! Tinha que ser um pesadelo... não podia ser real! Que vergonha... que vergonha.

Ele sente seu peito doer... não era dor física. Era vergonha. Tinha vergonha de si mesmo... pois lembrava-se perfeitamente de tudo o que acontecera. E pior do que imaginar o que teria sido... a realidade do que foi dói mais, muito mais!

Não foi estuprado, não foi isso. Muito mais humilhante do que poderia supor... ele fez... sexo com Alexandre! E mesmo sexo... parecia uma palavra fora de contexto com o que acontecera. Camilo sentiu prazer. Ele foi solto minutos depois que as mãos e lábios de Alexandre começaram a provocá-lo. E mesmo solto não fugiu. Mesmo solto não lutou. Solto... ele participou.

Escondendo o rosto com as mãos, Camilo deixa escapar um soluço sufocado. Não era verdade... como isso foi acontecer? Como foi... deixar-se levar por um homem assim?! Um homem! Um gay!

"... ei... o que está acontecendo?", Alexandre perguntou sério tentando afastar as mãos de Camilo

"Não me toque!", ele deu um tapa na mão de Alexandre e se afastou, mostrando por segundos o rosto úmido de lágrimas

"Ah, homens da capital... tão modernos e tão complicados!", o moreno suspirou sorrindo consolador. Ele se aproximou de novo, abraçando Camilo por trás.

"Não me toque!", ele pediu com a voz chorosa, tentando esconder o choro evidente, "Por favor... não me toque!"

"Shh... calma, calma...", Alex reforça o abraço, "Eu disse que você ia gostar não disse?", ele sentiu o ruivo ficar mais tenso entre seus braços, "... agora se acalme, eu vou fazer você se sentir melhor.", ele levantou uma mão e começou um lento cafuné nos fios vermelhos e finos.

"Eu não quero mais sentir isso! Me solte!", o pedido veio tão fraco de convicção que Alex sorriu

"Não se preocupe...", ele disse obrigando Camilo a encará-lo, "Vou te fazer sentir melhor de outro jeito."

O professor sente o rosto ficar vermelho ao se ver sob a atenção daqueles olhos escuros e brilhantes.

"... por que? Por que fez isso comigo?", ele perguntou sentindo que iria chorar mais, abraçando a si mesmo

"Eu já disse porque. Não literalmente, mas... eu tinha que te fazer meu. Você agora é meu..."

"Você é louco...", Camilo sussurra tentando soltar-se

"Não sou louco. Sou um homem que consegue o que quer. Só isso.", sorrindo, Alex deixa que Camilo se afaste

"Você... vai..."

"O que?"

"... me matar...?"

"Te matar?", Alex diz sério de repente, "Porque eu teria esse trabalho se fosse pra te matar depois?"

"... eu... eu ainda vou te denunciar... se me deixar sair."

"Mas você vai sair. Vai buscar seus pais... vai ir e voltar de São Paulo várias vezes para concluir a mudança, se demitir, despedir-se dos amigos..."

"O que?!"

"Eu disse o que queria de você, não disse? Quero que more nessa cidade. É isso que vai fazer."

"Você só pode estar brincando!", Camilo se levanta apoiando-se no baú e trás um lençol enrolado em sua cintura, "Eu nunca irei morar aqui... na sua rua! Na sua cidade! Eu nem tenho dinheiro pra isso!", ele morde o lábio se condenado por ter falado algo tão sem relevância como a falta do dinheiro.

"Trinta mil. Esse é o preço da casa.", Alex disse calmo, ainda sentado nu sobre o cobertor, "Você tem esse dinheiro, não?"

"Não! Eu não tenho esse dinheiro! Pra você eu não tenho dinheiro nenhum! Eu não vou morar aqui... você só me tomou uma vez, não vou deixar que brinque mais comigo!"

"Você está dizendo... que eu tenho que te ‘tomar’ mais de uma vez para ter você?"

"Eu não disse isso!", Camilo gritou bravo, "Se afaste! Eu não vou deixar isso acontecer de novo!", ele deu um passo pra trás, "Você é gay... e... e..."

"E...? Você também não é gay?"

"Eu não sou!"

"Você é!", Alexandre riu, "E eu, na verdade, sou bissexual... mas acho que por você posso mudar isso."

"Não... mmfmf!", Camilo prendeu a respiração, mesmo sem perceber, quando sentiu a boca de Alexandre invadindo a sua.

"Por Deus, respire!", Alex parou o beijo e sacudiu-o de leve.

"Me solte! Pare com isso!", Camilo o olhou bravo, os olhos mudando de verde para cinza. Suspirando, ele contorna o cobertor e sai do quarto, descendo as escadas. No corredor, ele acha sua calça e os trapos de sua camisa.

Ele não vai me seguir? Não vai descer? O que estará fazendo lá em cima? Ah... melhor esquecer tudo isso e voltar pra casa.

Já vestido, Camilo tenta abrir a porta da sala, mas lembra-se que Alexandre trancou-a depois de entrarem. Ele se vira pensando em subir e novo, mas Alex já está na sala, também vestido. Diferente da roupa de manhã, só agora também Camilo percebeu que ele não cheirava a... aquilo... ele estava perfumado, estava limpo.

"Oh, professor, por favor, não me envergonhe...", ele se aproximou e passou um braço pelos ombros do ruivo

"O que eu tenho que fazer pra sair daqui?", ele perguntou calmo e sério

"Nossa... seu humor muda muito rápido, hein? Bom, você não sai daqui sem tomar um banho e se vestir decentemente... E você não sai da cidade sem antes jantar comigo e com a minha família."

"Sinto informar, mas não tenho roupa apropriada para o nível de jantar que provavelmente ocorrerá."

"Isso não é problema. Venha...", Alex o levou para o andar de cima e, para a surpresa de Camilo, o banheiro estava equipado com toalha, tapete, perfumes, sabonetes e outras coisas.

"Alguém... esteve aqui?", ele perguntou alarmado com a possibilidade de mais alguém ter visto sua humilhação

"Sim. Como acha que essas coisas chegaram aqui?", Alex percebeu o que se passava e completou, "Não se preocupe... você é meu, ninguém além de mim tem o direito de te ver...", ele se vira e abre a calça de Camilo, deixando o jeans cair e então o abraça, "Você é lindo... mas precisa de um banho."

Dando um beijo rápido, Alexandre deixa o banheiro e desce as escadas assoviando.
 
 
 
 
 
 

"Camilo...! Er... irmão, sejam bem vindos."

"Rúbia, tire essa expressão de seu rosto. Vovô não vai gostar de te ver assim.", Alexandre disse entrando na casa sendo acompanhado por Camilo.

"Oh, foi só a surpresa, Alex. Quer que eu leve Camilo para a sala de estar?", Rúbia disse já com um sorriso no rosto

"Não, querida. Eu vou falar com vovô na biblioteca e quero que o professor da capital esteja comigo.", ele repara na expressão da irmã e sorri, "Já disse pra não fazer essa cara de assustada, fique tranqüila, vovô não vai morrer."

"Oh, Alex...", ela sussurra baixinho, preocupada

"Shhh... vá ajudar com o jantar. Quero tudo perfeito para esta noite.", ele se inclinou e deu um beijo na testa da irmã, e sussurra, "Eu te amo muito... não se preocupe."

Quando a garota se afastar, Camilo suspira e fala:

"Você é bem diferente quando o assunto é família. Nem parece que é um assassino... apenas uma pessoa sem coração."

"E isso melhora muito a minha imagem com você?"

"Você é nada pra mim. E nada não precisa ser melhorado ou piorado, é apenas nada."

"Bom... se não há nada aí...", Alexandre aponta para o coração de Camilo, "... acho que vou preencher com tudo o que eu tenho."

"..."

"Entre, por favor.", Alex abre uma grande porta de madeira vermelha e dentro dela, Camilo se pega admirado. A quantidade de livros e a beleza da sala o impressionaram. Passando os olhos pelos livros ele se imagina lendo todos eles.

"É você, Alex?"

"Sim, vovô. Trouxe visita."

Camilo segue Alexandre que entrou por uma porta, a única coisa diferente no meio de uma parede de livros, e fica mais admirado com o que vê.

"Vovô... este é Camilo de Souza Neves, professor da capital. Veio comprar a casa que colocamos à venda."

Sentado em uma cadeira estilo presidencial, de couro marrom, com uma escrivaninha gigante à sua frente, estava um velhinho, com seus mais de 90 anos. Ele tinha os olhos fundos e manchas por toda a pele, fora uma grande cicatriz que ia da testa até a base da orelha esquerda.

"Por favor... se aproxime, sr. Camilo. Eu não enxergo a menos que você esteja a um metro dos meus olhos.", o velho estendeu as mãos no ar, esperando o convidado se aproximar.

Saindo de seu estado de transe, Camilo se aproxima e ajoelha de frente para o velho, tomando as mãos enrugadas e um pouco trêmulas nas suas, "Eu estou aqui, senhor."

"Ah... você é homem crescido! Percebi isso pela sua voz.", as mãos se soltam e Camilo deixa que ele explore seu rosto, "Você parece ser mais jovem do que sua voz aparenta...", ele retira as mãos do rosto do ruivo e as apóia no colo, sorrindo ele diz, "Mas acho que não existem professores com vinte anos de idade."

"Não, senhor... Eu tenho 26 anos."

"Sua pele e seu corpo parecem ser muito mais jovens que sua voz. Ou você pratica algum esporte que deixa seu corpo mais saudável ou você sofreu muito usando a fala para vencer e sobreviver."

"Como professor, minha voz se desgasta muito... deve ser isso."

"Então você errou em alguma coisa... porque ensinar nunca trás algo de ruim, sempre algo de bom. Quem fala é o professor Alexandre Salles, mestre de História das antigas faculdades... que eu nem sei mais se existem."

"Vovô, Camilo vai deixar a capital para morar aqui. Ele vai morar na nossa antiga casa com os pais dele que chegarão mais tarde. O que achou da notícia?"

"Oh, ótima notícia! Ótima! Camilo... eu irei adorar fazer planejamento de aula com você... se me permitir, claro."

"Se Alex permitir...",Camilo disse sarcástico recebendo um olhar de reprovação de Alexandre Neto, "Senhor... eu acho que seria bom não precipitarmos as coisas..."

"O jantar está servido!", Rúbia disse sorridente da porta da biblioteca

"Ah, minha irmã, sempre pontual e conveniente.", ele disse mandando um olhar nada amistoso para Camilo, que o ignorou, "Vamos, vovô... eu ajudo o senhor."

"Camilo, meu filho, você gosta de camarão?"

"Er... sim, senhor."

"Que bom... eu também."

"Não ligue, professor...", Alex disse ajudando o avô até a sala de jantar, "Ele sabe que não teremos camarão hoje, faz isso de propósito só para me provocar."

"Sorte dele que consegue.", Camilo disse baixinho, sem deixar o velho ouvir.

"Ah, mas isso vem só depois de anos de experiência lidando com esse garoto!", Alexandre, avô, diz sorrindo, mostrando que ouviu e dando um tapinha carinhoso na cabeça de Alex.

"Vocês não tem jeito! Sentem-se! O jantar vai esfriar!", Rúbia disse fingindo estar irritada.
 
 
 
 
 
 

Ele é estranho... deve ser porque é da capital. Num momento, chora, no outro, desafia. Consegue ficar frágil como uma criança ou petulante como meu avô. É só questão de alguns minutos. Os olhos sempre acompanhando essas mudanças. Verde e cinza, assustado e corajoso. De qualquer jeito ele é lindo.

Os olhos, a boca carnuda, o queixo bem feito. A pele dele não é morena como a minha... é dourada, de sol. Pude comprovar vendo a marca da sunga. Uma marca discreta... mas que revelava a verdadeira cor da pele dele... rosada... típico de ruivo, lindo. E sim, ruivo. Os cabelos vermelhos, finos e curtos. Lindo. Lindo...

Ele está tão errado ao meu respeito tanto quanto está certo. Eu não deixei de matar aquele peão por causa da minha irmã. Foi por causa dele. E eu não o quero só uma vez. Eu o quero sempre!

"O que está achando da comida, Alex?", Rúbia interrompeu seus pensamentos

"Humm... muito boa. Você caprichou, está de parabéns."

"Bem... quando você disse que Camilo iria jantar conosco, eu imaginei que teria que ser algo a altura do convidado!"

"Imaginou certíssimo, querida."

"Obrigado pelo elogio, Rúbia, mas acho que não precisava...", Camilo diz, ficando levemente embaraçado. Alex percebe e o interrompe.

"Claro que precisa. Você já é da família, não é... Camilo?"

O ruivo quase deixou o talher cair. Era a primeira vez que Alexandre o chamava pelo nome. E ainda mais desse jeito... cheio de raiva. Camilo não soube explicar o que isso fez com ele, mas não devia ser nada bom, porque sentiu-se mal no mesmo instante.

"Ah... com licença.", ele pediu levantando-se

"Aonde vai?", Alex perguntou autoritário também se levantando

"Preciso ir ao..."

"Você está bem, Camilo?", Rúbia perguntou preocupada

"... eu vou levá-lo ao toalete.", Alex disse ajudando Camilo a andar

"Gostei desse rapaz, Camilo. Trouxe um pouco de movimento a essa casa!", Alexandre, avô, comentou enquanto continuava a comer tranqüilo.

"Vovô!", Rúbia o reprimiu
 
 
 
 
 
 

"Tudo bem?", Alex perguntou passando uma toalha úmida no rosto de Camilo

"Sim...", ele respondeu tentando se afastar do contado físico com o outro

"O que aconteceu? Foi o tempero?"

"Não foi isso...", Camilo fica vermelho e desvia o olhar.

"... me desculpe.", Alex disse baixinho

"O que...!"

"Me desculpe, eu fiz você passar por muita coisa em um só dia... foi isso, não foi? Você está estressado, me desculpe, não devia ter te chamado daquele jeito..."

"... do que você está falando?", Camilo perguntou mais vermelho, tentando esconder que passara mal por causa de uma palavra de Alex.

"Não seja teimoso, é óbvio que estourou alguma coisa dentro de você quando eu te chamei pelo nome...", Alex disse meio irritado, "Eu fiquei com raiva de te ver ficar vermelho por causa da minha irmã... E usei o seu nome como um xingamento. Você não agüentou e passou mal."

"Não foi por causa disso! Eu não tenho razão pra passar mal por sua causa."

"Certo, então... engane a si mesmo.", ele disse suspirando impaciente, "Olhe, vamos pra casa... você tenta descansar um pouco e de manhã ou de tarde, quando estiver melhor, volta pra São Paulo."

De novo... agora foi uma simples frase... Por que meu coração dói tanto? Não era pra eu me sentir assim! Ele é um assassino, um ditador, um tarado... louco! Por que meu coração disparou quando ele disse ‘vamos pra casa’ e parou quando disse ‘volta pra São Paulo’, por quê?

Eu não quero isso. Eu não quero!

"Que cara é essa?", Alex pergunta se fazendo indiferente

"... nada..."

"Eu sei o que você está pensando. Não sabe o que está sentindo. Porque está... gostando de mim.", ele abraça Camilo prendendo-o contra a pia, "Eu vou te contar uma coisa que vai te deixar feliz...", ele se inclina e sussurra, com a voz rouca, no ouvido do ruivo, "Vamos dormir juntos hoje. Quem sabe você não consegue identificar o que sente de noite na cama?"

"Seu... seu... gay! Me solta!!!", Camilo quase gritou, ficando vermelho

"Mas se eu te soltar você cai! Não vai conseguir andar!", Alex disse rindo, ainda abraçando o ruivo

"Eu faço qualquer coisa sem você! Me solta!"

"É como eu já disse: homens da capital, tão modernos e tão complicados..."
 
 
 
 
 
 

Continua....