O Menino e o Lobo...
Por Jou-chan


Parte II

Em algum lugar da floresta escura, recostado no tronco de uma árvore, Sanosuke lutava pra se manter consciente. Não estava nada fácil por causa das dores, da tontura e do sangue que teimava em jorrar do seu corpo, por mais de um ferimento. Mas Sano era ainda mais teimoso, e resistente como nenhum outro, ele agüentava.

"Deve ser quase madrugada", pensou ausente, sem poder ver o céu encoberto pela copa das árvores, estava muito escuro... "Não pode fazer muito tempo que eu tô aqui, aliás é melhor mesmo não fazer muito tempo..." continuou, tentando manter a cabeça funcionando.

Ficou ali pensando em como chegou a essa situação esdrúxula... começou quando decidiu que não estava nem aí pro ‘conselho’ de ficar fora do caminho da polícia, quando foi que isso o parou? Depois, estava de saco cheio de Saitou menosprezando-o como lutador. Só não entendia por que sempre que resolvia ‘mostrar pra ele’ tinha que se dar mal... Então ele resolveu topar a parada e compareceu onde tinha sido marcado. Pretendia acompanha-los ao tal navio e ver no que ia dar. Esperava que a polícia aparecesse, afinal Saitou garantiu que não ia deixar passar. Aí ele sumiria, mas não sem garantir que nenhum dos criminosos escaparia. E se não aparecesse logo, bom, aí ele dava um jeito... A primeira coisa que percebeu ao chegar era que havia mais homens do que tinha esperado, parece que tinham montado uma estrutura grande, e Sano achou que a ‘carga’ devia ser muito valiosa. Era muito numerosa... caixas e mais caixas, Estava tendo que se segurar de raiva...

Só que começou a ficar muito impaciente, por que a polícia nada de aparecer, nem Saitou. Estava demorando demais. Tinha uma idéia que devia atrasa-los bastante sem se denunciar. Resolveu fingir que estava tentando rouba-los, algo como sair correndo com uma ou duas daquelas caixas nas costas, provocar uma confusão, enrolar o máximo possível e se depois de tudo isso a polícia não desse as caras, sair no braço até aparecerem. E se não aparecessem ele se garantia, com um pouco de sorte ele mesmo dava conta de todos. Foi mais ou menos isso que ele fez. Era uma boa idéia... a não ser que não contava com certas circunstâncias... não era só ópio que tinha em todas aquelas caixas...

Na hora nem se deu conta de onde vieram os tiros. Só soube com certeza que um pegou feio. Com a surpresa e dor súbita ficou fácil caírem em cima, e ele tomou mais uns golpes, socos e lâminas. Ainda conseguiu reagir, mas contra muitos acabou sendo alvo fácil de mais disparos, vindos de outra direção. Traficantes de ópio e armas de fogo. Aqui estava, no meio de uma puta encrenca e cadê a porra da polícia? Estava bem ferrado.

É claro que esse era o momento perfeito pra Saitou aparecer... justo quando estava bem ferrado... lembrar o que exatamente aconteceu depois era pedir muito... O certo é que com a chegada dele e da polícia Sano conseguiu achar uma brecha pra se mandar dali, e conseguiu chegar até aquele canto da floresta pra esperar. Sabia que mais cedo ou mais tarde Saitou iria encontra-lo.

Em meio à escuridão ele esperava e sangrava, e num gesto distraído, meio freqüente nos últimos tempos, esfregava seu ombro com as pontas dos dedos, mais exatamente, aquela cicatriz em seu ombro, o cartão de visita do lobo de Miburo...

Sua cabeça estava girando, e apesar de não fazer realmente tanto tempo, parecia que estava ali sentado a uma eternidade quando finalmente sentiu o lobo se aproximar. Na escuridão ainda podia vê-lo, o pouco de luar pelas frestas das árvores. De pé bem à sua frente. Quase um mero vulto do tipo alto e aparentemente magro, que Sano sabia esconder uma força impressionante.

– Satisfeito agora, ahou? – parecia muito bravo...

– Só depois que você me pagar! – Sano resmungou numa voz quase débil – e quero ser muito bem pago desta vez, vou tirar uma boa folga...

– Isso se você não sangrar até morrer, é claro. Ser bem pago pelo que? Por me desobedecer, por se intrometer no que não devia, atrapalhar uma operação policial e por quase virar uma peneira?

– Quase?!! Olha, você não manda em mim – disse começando a levantar e a se sentir realmente patético – se é pra ficar aqui ouvindo você me sacanear, eu vou tomar meu rumo, aarrgh... – Saitou empurrou-o grosseiramente de volta pra árvore, abaixando-se junto dele...

– Baka. Você não vai a lugar nenhum. Sozinho nesse estado não consegue nem sair dessa floresta.

– Consigo sim! Você não ta ajudando muito. Se me deixar em paz eu posso muito bem chegar no hospital...

– Você não vai pra hospital nenhum. Além de um monte de cortes, hematomas e um raspão de bala na cabeça, uma bala atravessou seu ombro direito. E você ainda está com uma bala na coxa. Haveria perguntas demais, e aquela sua amiga médica não vai estar lá pra te cobrir, está fora da cidade há uns dias.

Sano estava pasmo: – Ah, que ótimo!!! E o que eu faço?? Fico aqui pra você poder me ver sangrar???

Enquanto ainda estava chocado, Saitou tirou a camisa dele, já bem esfarrapada, e com a manga fez um torniquete na coxa ferida, com resto dela esfregou o grosso do sangue do rosto do rapaz e depois enrolou no ombro de modo a cobrir a ferida pra diminuir o sangramento.

– Não, ahou. Você vem comigo.

((( | )))

– Porra Saitou, isso dói!!!

– É pra doer mesmo, e ainda é pouco. É o que você ganha por agir como um ahou. Eu te avisei pra não me atrapalhar – ele falou enquanto cuidava de terminar de tirar a bala da perna de Sano, que se cobria só com um lençol, não chegava tudo, ainda morrendo de vergonha, enquanto tocava nele com a maior intimidade... situação mais esquisita. E o pior é que se não estivesse doendo tanto... mas o que estava pensando? Era ótimo que doesse, por que se não...

– Ai! ... Você ta fazendo isso de propósito né?... ai! Eu não atrapalhei porcaria nenhuma!! eu tentei atrasar eles por que seu pessoal estava demorando demais. Quando chegassem não iam encontrar mais nem a sombra... ahn! droga, será que dava pra tirar essa merda sem arrancar a minha pele?!

Isso era na câmara particular de Saitou no Departamento de Polícia, que dava pra um corredor de acesso por uma porta e para os fundos do pela outra...

– O que você pensa que eu sou? Um amador como você? Se não tivesse criado aquela estúpida cena a bando teria sido seguido, eu teria descoberto para onde e para quem a droga seria levada...

– Mas como você sabe que...

– Eu sou policial, e sou agente secreto. Eu investigo, e sou comandante da polícia especial por que sei fazer o meu trabalho. Mandei averiguar as informações que você me deu, descobri a movimentação que estava acontecendo e soube que havia a hipótese de estarem traficando armas também, e que a carga, pelo menos em parte devia ser levada pra outro lugar, talvez pra ser distribuída ou pra ser entregue a algum comprador. Eu tinha uma estratégia montada, e essa conexão de tráfico seria desfeita, mas você tinha que achar que podia fazer meu trabalho melhor do que eu...

– AI!!!... Droga, nada disso teria acontecido se tivesse me dito o que planejava fazer – Sano estava querendo se socar. Nunca tinha se sentido tão... tão ahou em toda sua vida...

– Nada disso teria acontecido se você tivesse ficado na sua. Mas não precisa bater essa cabeça dura na parede, pelo menos não na minha parede. É claro que eu ainda posso descobrir a conexão da quadrilha, só que agora do jeito mais difícil, pelo interrogatório.

A essa altura Saitou já tinha tirado a bala, limpado, enfaixado o ferimento e acendido um cigarro. Agora simplesmente sentava numa ponta do seu futon que ficava num canto do cômodo encostado na parede, enquanto Sano sentava na outra. Saitou olhando Sano. Sano olhando pra parede e já ficando enervado com aquilo. "O que deu nesse cara hoje? Tirou o dia pra ficar me provocando!" Até que Saitou falou,

– Se você gosta tanto de caçar criminosos, Sanosuke, devia ser policial.

– COMO É???

– Por que o espanto?

– Por que? Você só pode estar tirando um sarro com a minha cara... tudo bem que eu aprontei hoje, mas você não precisa me pagar já que é mesmo tão pão-duro...

– É claro que eu vou pagar você, ahou. Eu pago só pra não ter que aturar essas suas queixas. – ele disse rindo e dando um trago. – Sempre pago minhas dívidas. Quanto ao negócio da polícia...

– Não enche! Tinha até graça...

– Não sei por que o espanto. Seria uma existência mais útil do que passar vida jogando dados e bebendo sake. – Sano olhou feio pra ele agora, não acreditando que estavam tendo aquela conversa.

– Eu sempre fui um fora-da-lei. Que sentido teria virar tira agora?? Você deve estar pirando com a idade!

– Está dizendo que eu sou velho? Hn! Eu vou lembrar disso, e aposto que você ainda vai mudar de idéia.

– Duvido muito!!

– Tudo bem ahou... Voltando ao assunto, você devia pensar nisso. Ou realmente espera viver o resto dos seus dias como um garoto inconseqüente?

– E agora você ta preocupado com o meu futuro?? Será que eu vim parar em algum universo paralelo?? E desde quando isso é da sua conta? – aí Saitou riu.

– Desde que eu sou um policial e você um fora-da-lei confesso é da minha conta, ahou.

– Não tem graça nenhuma. A troco de que eu ia deixar de ser o Zanza pra virar um guardinha qualquer, pra passar o resto da minha vida obedecendo ordens de uns oficiais de merda que vivem com a bunda atrás de uma escrivaninha?? Ou quem sabe, obedecendo ordens suas! É isso que você quer?

– Eu quero que você use a cabeça. É claro, você jamais suportaria ser um simples subordinado. Mas você se dispusesse a aprender algumas coisas que precisa, poderia até conseguir um posto na polícia especial, fazer um bom trabalho. Reconheço que tem talento pra luta, e tem sido bem razoável agindo nas ruas investigando e conseguindo informações. Claro, precisa ser menos precipitado, e treinar muito...

– Ah, meu deus... você ta falando sério!!

– Eu sempre falo sério.

– Mas nem ferrando Saitou!!! Nunca, nunca que eu vou ser um criado do maldito governo, eu, – num segundo estava sendo esmagado contra a parede, a mão de Saitou em sua garganta, os olhos dele a poucos centímetros dos seus...

– Melhor tomar cuidado com o que fala, por que se você acha mesmo que eu sou um criado do governo, então ainda falta mesmo muito pra você poder dizer que pensa... – Sano já nem se espantava mais com os ataques de brutalidade do outro, mas ainda estava pasmo, e quando ele o soltou, disse:

– É muito fácil pra você falar, afinal você é uma lenda viva, todo mundo se borra de medo de você, até os seus superiores. Eu que sou um zé-ninguém queria ver como ia ser. E bem ou mal você trabalha pro governo sim e eu nunca vou baixar a cabeça pra seguir ordens de uma corja de bandidos, de nenhum político ou oficial corrupto e nem proteger um governo que ferra as pessoas...

– Não venha me falar dos defeitos desse governo Sanosuke. Não fui eu que lutei na guerra para fundar esta "nova era", nem foi a minha espada que trouxe a vitória para as tropas imperiais. Se não gosta do governo Meiji vá pedir satisfações a seu amiguinho Battousai.

Bom, isso era verdade, não?

– Nós acreditávamos que a guerra era por uma causa nobre, que podíamos construir uma nova era de verdade. Eu pirei quando o Sekihoutai foi traído e massacrado, tudo por que os canalhas do governo não queriam cumprir a promessa e jogaram a culpa da mentira em nós. Kenshin me ajudou a ter esperança de que... espera aí, se você era contra a Restauração, e se também sabe que o governo está cheio de corruptos, por que justo você foi aceitar um cargo de oficial na polícia? O próprio Kenshin se recusou a fazer isso, e ninguém tinha mais direito que ele. Pode explicar isso?

– Hn! Himura não suportou a pressão da guerra. Ele não passava de um idealista que não estava pronto pra ser um soldado. Então resolveu ser um andarilho e virar as costas para o passado, recusar qualquer privilégio de ser um herói de guerra. Claro, por isso todos louvam sua integridade. Mas eu digo que o posto que ele rejeitou possivelmente está sendo ocupado por alguém que talvez não tenha feito nada digno do privilégio, ou que se aproveita da posição pra proteger os próprios interesses. A espada de Battousai ajudou a fundar esta era, mas ele virou as costas para a responsabilidade.

– Você não tem direito de falar assim dele. Ele faz sua parte pela nova era, sua espada protege as pessoas agora em vez de matar.

– Se você pensa assim. Mas é muito pouco o que a espada de um só homem pode fazer agora que ele resolveu se tornar um ‘homem de bem’... se tivesse aceitado o ‘privilégio’, teria podido trabalhar por um país inteiro já que se importa tanto.

– E você com certeza se importa muito!!! Por isso lutou na maldita guerra do lado dos que estavam no poder!!

– Eu lutei por que era o meu dever. Mas francamente, Sanosuke, eu jamais soube de um governo ou de um país onde o povo não fosse oprimido. Você já? É muito bom começar uma guerra em nome do povo, e prometer mudanças pra que as pessoas lutem ao seu lado. Muitos entram por alguma causa nobre, mas pra alguém se dar ao trabalho começar uma guerra civil e envolver um país inteiro é por que há grandes interesses por trás disso. No fim nunca passa de um jogo de poder. Mas eu abracei um dever e ainda sigo meu código de justiça. Não estou nisso pra proteger nenhum governo. Terei sempre muito prazer em faze-los se arrepender quando acharem que podem tirar vantagem de seus altos cargos e de sua influência. Sempre que cruzarem o meu caminho...

Sano não sabia muito bem o que dizer, então só escutou... Saitou agora de pé, de costas pra ele, olhando pela fresta de uma pequena janela, não o olhava...

– Hoje cedo você me perguntou por que eu insisto em chamar Himura de Battousai. É pra lembra-lo de que ele não pode apagar o passado. Ele é muito idiota se pensa que pode simplesmente estalar os dedos e deixar tudo pra trás. É bobagem tentar virar outra pessoa desse jeito.

– Kenshin não quer mais ser aquele assassino cruel e impiedoso. Ele teve muita coragem em mudar como mudou, tem todo direito de deixar pra trás o passado e o Hitokiri!! – Saitou voltou a encará-lo.

– Ah, ele tem? Mas acontece que o passado de gente como nós sempre volta. Pense bem, não é o que tem acontecido desde o princípio? Se dividir em dois desse jeito apenas o torna mais fraco... um dia estará fraco demais pra lutar contra o passado e contra si mesmo.

– Como assim?!

– Cruel e impiedoso. Aposto que ele mesmo fez vocês todos acreditarem nisso. Quanta bobagem! Ele provavelmente nunca conseguiu ser nem uma coisa nem outra...

– Mas...

– Eu o enfrentei, e sei que ele nunca conheceu a sede de sangue. Ele era um soldado como todos, a não ser que era um espadachim mortalmente eficiente. Não importa de que lado estivéssemos, lutávamos em nome de uma causa e seguíamos nossos códigos de honra. Mas como eu disse, ele era um idealista que entrou na guerra sem saber onde estava se metendo. Agora age como se tivesse sido um psicopata e tem essa mania de ‘redenção’. Patético. Um dia o Battousai vai escapar ao controle dele, e aí será mesmo perigoso. Nesse dia, pode apostar que eu vou estar por perto.

– Você está é torcendo pra esse dia chegar.

– Eu nunca neguei o quanto quero medir forças com ele. Tudo teria sido bem mais interessante sem ele se escondendo de quem realmente é. Como ele espera defender os fracos se não lutar contra os fortes de igual pra igual?

– Você está errado sobre ele. Ele está tentando ser uma pessoa melhor. E mesmo que estivesse certo, eu sei que ele é bastante forte pra controlar o Battousai. Ele só quer viver em paz agora.

– Acredite no que quiser. Mas e você? Nunca foi tão ‘bonzinho’ ou pacato quanto ele. Pra começar, você gosta de lutar, e não se envergonha disso. E não se conforma com as coisas como estão. Prefere não fazer nada, continuar vivendo como um garoto delinqüente, você que diz que ainda tem fé nessa nova era? Olha que você ainda vai acabar como doméstica da tal Kaoru, como ele...

– Você ainda insiste nisso! ... Pensei que você me achava um ahou...

– Ah, mas é exatamente isso o que você é! Por desperdiçar seu talento em lutas de rua estúpidas e sem sentido, por achar que não precisa se defender, que pode aparar qualquer golpe como se não se tivesse limites... podia estar morto agora. E também por passar a vida xingando o governo como se isso fosse servir pra alguma coisa. Mas se acordar pra realidade, eu diria que tem muito potencial...

Sano estava pasmo, pra dizer o mínimo. "Ele acha que eu tenho potencial?"

– Tá bom... você vai me dizer por que afinal estamos tendo essa conversa?

– Você ainda não sabe? Estou te oferecendo uma oportunidade, eu quero treinar você.

Estava ficando cada vez mais estranho, nem valia a pena se espantar com mais nada...

– Me treinar? Quer que eu entre na polícia secreta. E pra que, Saitou? Pra eu ser como você? Pra continuar sua carreira sangrenta? Ou pra ser seu capacho? Nada disso me interessa.

– Nem a mim. Eu estou acima disso e você sabe. Se quisesse perder meu tempo com um cordeirinho manso teria dúzias deles... Eu nunca tive paciência pra essas coisas de ser mestre, e não vai ser agora, mas você vai ter que aprender um bocado de disciplina se quiser treinar comigo. E eu sei que você quer.

Sim, Sano queria. Sempre quis mostrar seu valor pra Saitou, e agora o cara estava aqui reconhecendo esse valor. E falando com ele de igual pra igual, com respeito, como nunca esperou que acontecesse.

– Você tem muito em que pensar. Como não deve estar acostumado com isso vai precisar de tempo. Pode descansar aqui o quanto precisar, eu vou trabalhar. Quando tiver alguma coisa pra me dizer, me procure.

Com isso ele pegou o resto do seu uniforme e saiu, aparentemente sem intenção de voltar tão cedo. Deixou o rapaz ali, pensando que tinha sido um dia muito longo e surpreendente, desde cedo, e querendo entender o que estava acontecendo entre eles. Obviamente tinha alguma coisa, difícil ignorar agora. Mas que droga, será que o cara não podia ter escolhido uma hora melhor pra ter essa conversa? Estava mais parecendo um bagaço... Apesar disso não conseguiu dormir logo e sem pensar começou a lembrar o momento em que chegou ali com Saitou, cheio de ferimentos e se sentindo muito fraco...

((( | )))

// – Não vá me dizer que você mesmo vai me ‘costurar’?

– Exato.

– Ah, não! Qual é? Eu não acho boa idéia!!

– Você não reconheceria uma boa idéia nem que ela mordesse a sua bunda...

– Vê se não enche... e é sério, sou eu que to me acabando de sangrar aqui...

– Você não precisa de nenhuma ‘costura’, só tirar uma bala e fazer uns curativos, nada que eu já não tenha feito antes, então não seja dramático...

Sano estava um trapo... mancando, sem poder mexer direito o braço, todo dolorido, e meio tonto pelo sangramento que pelo menos tinha sido quase estancado no caminho. Deu uma olhada pra conferir o lugar. Não era muito grande. Além do futon, encostado num canto da parede, uma escrivaninha meio bagunçada do outro lado, só o estritamente necessário. E com uma porta extra para o que devia ser um banheiro, o que não deixava de ser um luxo...

– Ei, você não vive aqui né?

– A maior parte do tempo... é prático...

– Aqui?? Mas...

– Mas o que??

– E você diz que eu que vivo num buraco...

– Não abuse da sorte. Eu posso muito bem acabar de te sangrar.

– Por falar em sangrar, o que a gente faz agora?

– Hn... Você precisa se lavar... antes que tenha uma infecção...

– Desculpa, como é?? – Saitou levantou uma sobrancelha, a cara mais cínica do mundo.

– Um banho, ahou! Ou será que você nem sabe o que é isso?

Agora, isso sim era uma péssima idéia...

"Droga!", pensava Sano, "ele tá fazendo de propósito! Só pode... eu nem posso mandar ele parar, sozinho eu não consigo..." Tinha precisado de ajuda até pra entrar na banheira. Ele tinha ajudado a lavar as feridas, os ombros, as costas, agora lavava o cabelo do rapaz, empapado de sangue. Tudo isso enquanto resmungava que não era babá, que achou que Sano era capaz de se cuidar, que tinha avisado, etc, etc... e enquanto Sano estava sentado na banheira de madeira, abraçando os joelhos tanto quanto as dores permitiam, se sentindo muito constrangido, mas também muito... estranho, é, pra dizer o mínimo. Não estava fácil. Por que apesar da dor da ferida, era muito bom sentir as mãos de Saitou massageando a cabeça dele. Firmes, mas mais suaves do que achou que podiam ser, na nuca, atrás das orelhas, atrás do pescoço... já estava ficando todo arrepiado. Quando estava a ponto de perguntar se ele estava fazendo isso de provocação, finalmente ele parou e disse que com o resto já dava pra ele se virar sozinho, mas que fosse rápido... ainda bem, por que se Saitou continuasse ia ficar difícil esconder aquele pau duro. Depois que ele vestiu de novo a camiseta preta que costumava usar por baixo do uniforme ("ele tem que usar essa coisa colada?") e saiu, Sano tentou se acalmar aproveitando pra lavar a bandana vermelha, antes que ficasse dura de sangue, esperando se sentir melhor depois do banho e dos curativos... \\

Depois de um começo como esse, toda aquela conversa, todas as coisas que Saitou tinha dito, o jeito que falou com ele... aquele homem estava entrando na sua vida de um jeito que ainda não sabia explicar. Não podia dizer que foi de repente, apesar do dia de hoje... mas não podia pensar em nada agora, confuso e cansado como estava enfim dormiu, ali no colchão dele, esperando não sonhar, por que sonhos embalados no cheiro do homem que costumava deitar ali não o ajudariam a descansar...

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"Eu quero falar com você"

Isso foi tudo o que falou pra ele, e foi até demais. Pela sua vontade tinha dito só "Eu quero você", e pronto, fim da expectativa, sem rodeios. Mas tinha esperado até agora. "Depois. Na floresta", foi sua resposta, sem nenhuma reação a mais, e Sano soube que o outro iria ao seu encontro ali, naquele mesmo lugar onde semanas antes esteve ferido na escuridão...

Depois daquela noite, achou que seria melhor dar um tempo, esfriar a cabeça. Que precisava clarear as idéias por que tinha muito em que pensar. Quanta bobagem. Não tinha nada em que pensar. Sabia exatamente o que queria, queria aquele homem, e a espera estava acabando com ele. Sano nunca foi mesmo muito paciente. Decidiu esperar só até que os ferimentos curassem, e nesse meio tempo não teve dele uma pista sequer. Semanas, droga. Pra um cara na idade dele era suficiente pra entrar em parafuso! Já fazia uns dias que esperava encontra-lo mais cedo ou mais tarde até que topou com ele, em serviço, e foi marcado o encontro.

Aqui estava, e não estava escuro agora, só um pouco sombrio, por causa das árvores. Logo seria noite, mas ainda não. E ele chegaria logo com certeza. Ficava vermelho só de ver o jeito como agora pensava nele. Estava ansioso, cheio de tesão. Quem diria! Como isso aconteceu não sabia, mas pra que se preocupar? Pensava sobre o que esperar daquele encontro, daquele homem sempre tão distante, tão implacável, tão forte... musculoso apesar de magro, alto, o rosto de traços firmes, tão difícil de descrever, tão masculino... aquele homem de olhos frios, que não se podia dizer exatamente que era bonito mas que, tinha alguma coisa que exalava dele, nos olhos, na pele, nos movimentos que era tão atraente e magnético pra Sano, que sempre foi, e só ficou claro agora o tamanho desse desejo.

– Aí está você... O que quer de mim?

"Tanta coisa... aposto que você sabe muito bem". Quase esqueceu de falar olhando pra ele... não vestia a jaqueta azul do uniforme, que segurava sobre um dos ombros. Só as calças e a maldita camiseta preta. Sério e indecifrável, mas... diferente... Bom, começar do começo, né?

– Eu pensei sobre tudo o que você me disse. Acho que tem razão sobre algumas coisas. Sei que posso fazer algo melhor com a minha vida... e que você pode me ajudar... Mas por que você quer me ajudar?

– ...

– Então?

– Eu só vou dizer isso uma vez cabeça de galo... Você pode ser um lutador muito forte. E poderia ser um policial melhor que qualquer outro, um oficial, incorruptível, o que é algo muito necessário. Fazer um pouco de justiça. Você pode ir longe, se quiser, e eu quero garantir que isso aconteça.

– Você tá se roendo por dentro, né? – Sano falou com cara de quem estava se divertindo horrores – Desde quando você consegue falar bem de mim sem se engasgar?

– Hn. Moleque atrevido – resmungou ele, – Você aceita então? Quer treinar comigo? Espero que tenha certeza. Já disse, não vai ser como se eu fosse seu mestre, mas não vou admitir que me decepcione Sanosuke...

– Eu sei disso. E você sabe que eu não vou te decepcionar. O que eu quero saber é se a gente vai sobreviver a isso... – O homem parecia surpreso,

– É só isso?

– E você acha pouco?

– Muito pouco.

Joguinhos não adiantavam com aquele homem. Sempre tinha sido transparente pra ele, e agora mesmo era como se aqueles olhos o estivessem despindo. Com as mãos nos bolsos da blusa aberta, encostado numa árvore, Sano acabou sorrindo, o sorriso maroto que o deixava ainda mais bonito...

– Então você sabe o que eu quero...

Ele sabia. Até o ar ficou mais denso quando o lobo jogou fora o cigarro e avançou pra ele, encurralando-o, muito perto mas sem toca-lo, a não ser por uma mão firmemente trancada em sua garganta, forçando Sano a olhar pra cima, direto pra ele. Por um longo momento foi apenas assim, ele ficou lá... respirando mais fundo, observando cada detalhe daquele homem-menino, a mão firme acariciando seu pescoço, sua nuca, uma carícia muito sensual, fazendo Sano quase fechar os olhos, já excitado, já ansioso, a boca meio aberta, carnuda, por onde agora ele esfregava um polegar...

– Você é bonito demais pro seu próprio bem, ahou. Tomara que saiba onde está se metendo...

Sano não tinha a menor idéia... mas desde quando isso o parou? Respondeu colando a boca na dele, e numa reação imediata a mão em seu pescoço foi à sua nuca, agarrando seu cabelo, puxando violentamente sua cabeça pra trás, forçando a abrir a boca e aprofundando o beijo, ao mesmo tempo que um braço forte já em sua cintura, por baixo da camisa, mantinha seu corpo colado no do outro, de cima a baixo. Sem pensar em mais nada, as mãos do rapaz vagavam, subiam pelos músculos dos braços dele, se enterravam nos ombros e nas costas, no cabelo, abraçando e puxando mais apertado aquele corpo tão quente que até agora só conhecia das suas lutas...

Um beijo que não acabava mais, por que os dois homens tinham muito fôlego, e muita fome, cada um mais ansioso pelo gosto do outro. A batalha iria longe, se Sano não escolhesse ceder de uma vez com um gemido, louco pra sentir a língua dele na sua boca. Definitivamente a nicotina estava fazendo mais um viciado... e tinha um algo mais, diferente de tudo, que queria sentir mais e mais enquanto chupava aquela língua, roçando-a na sua, convidando a explorar qualquer canto da sua boca... até que a falta de ar e aquelas mãos, subindo e descendo pela sua espinha, o fizeram separar com um estremecimento...

E quando erguia a cabeça pra respirar, foi só o tempo dos lábios dele descerem mais, e de voltar a puxar seu cabelo pra poder devorar seu pescoço com beijos quentes e molhados, enquanto a outra mão percorria suas costas e cintura, e logo chegou naquele bumbum firme e redondo se enterrando ali com vontade, possessivamente, dando um tranco e puxando ele com força contra si, esfregando num vai e vem sua ereção rija na do jovem, fazendo Sano gemer e empinar o corpo, adorando ser agarrado ali. E também fez o mesmo, agarrando com as mãos os quadris estreitos e o traseiro firme do outro, roçando-se mais nele e, enroscando uma perna na coxa agora entre as suas, reagindo instintivamente ao prazer, e gemendo mais alto enquanto Saitou marcava sua garganta com os dentes...

Com a camisa de Sano já tinha sumido, e depois dele arrancar a sua já prendeu os braços dele de volta na árvore. Um instante pra um olhar nos olhos castanhos vidrados de desejo, no corpo jovem arfante contra o seu, na boca vermelha e inchada que tomou de volta com sua, ainda mais ardente desta vez, lambendo aqueles lábios suculentos e macios, sugando cada um deles devagar entre os seus, o de cima, o de baixo, sentindo o menino amolecer sob o seu toque, abrir a boca pro seu beijo, colar e roçar mais o corpo no seu, num pedido silencioso, pra ser amado, pra ser fodido, pra ser tocado... suas mãos tratavam de atender esse pedido, percorrendo ele todo, voltando à carne macia da bunda dele, se insinuando sob as calças dessa vez... e com mais vagar, pra sentir melhor a pele, espremendo, fingindo arranhar... aos poucos seus dedos foram adentrando aquele rego apertado, numa carícia provocante desde a base da espinha, até alcançar a entradinha escondida, "AH!!"... o rapaz dando um salto com a sensação, enquanto o homem continuava a sugar seu pescoço, os dedos curiosos de vez entre as bochechas redondas, sentindo a contração involuntária do buraquinho, deslizando, rodeando, quase metendo, sentindo apertar, roçando, roçando...

Extraindo uma reação apaixonada de Sano, que grunhiu e num movimento rápido virou o jogo, o outro homem agora contra a árvore, mas retornou ao beijo, urgente, quase machucando, suas mãos cobrindo cada pedaço daquele corpo que o fascinava tanto, extraindo grunhidos dele, especialmente quando sua boca começou a descer, querendo provar mais dele, espalhando beijos e lambidas pelo pescoço e pelo peito, beliscando os mamilos, fazendo as mãos dele apertarem com mais força seus ombros e suas costas. Impaciente, deslizou logo ao chão, de joelhos diante dele, com um brilho tão faminto em seus olhos que deixou o amante surpreso com sua tamanha vontade...

Sumiu rapidamente com as calças dele, deixando-o só com uma cueca em que ele não cabia mais. Devia estar doendo de apertada, mas Sano não tinha a menor pena... encostou o rosto ali, se agarrando nas pernas dele, subindo as mãos até a bunda e voltando, provocando, esfregando o rosto, o nariz e a boca no tecido fino e úmido, mergulhando naquele cheiro, que ali era tão mais forte, mais masculino, mais Saitou... e lhe dava água na boca... ficou curtindo a sensação, até que a mão do homem em seus cabelos rebeldes o despertou, mostrando toda necessidade dele. O garoto riu gostoso, e de um golpe só tirou aquela última peça e fez o que estava louco pra fazer...

Trouxe os lábios pra provar a pele, por baixo, dos lados, as veias saltadas... beijava, lambia, misturando sua saliva ao líquido meio amargo que escorria dele... querendo mais e abocanhando aquela carne, sem vergonha e sem piedade, se deliciando com o gosto intenso, e mais ainda com a imponência daquela vara dura e pulsante, mas devagar, querendo aproveitar bem... vinha até a pontinha, chupando, experimentando e fazendo a mesma coisa na volta... Podia sentir a reação dele, em todo o seu corpo... ele respirava rápido, suava, puxava seu cabelo... Fazer aquele homem tremer, gemer, deu ao rapaz uma sensação de poder alucinante. Quando ouviu ele chamar seu nome baixinho, então começou a chupar quase com fúria, acelerando o ritmo, disposto a engolir aquele pau inteiro até enterrar o nariz nos pêlos dele...

Só não terminou por que foi literalmente arrancado de lá. Saitou o puxou pra cima e o agarrou juntando seus corpos de novo, fazendo Sano arquear o corpo num beijo quase violento... perdido na onda de sensações o garoto mal se deu conta quando Saitou o girou em seus braços, abraçando-o por trás, colando suas costas no peito dele e sussurrando na sua orelha, – Calma, ahou, não precisa ter tanta pressa...

Sano derreteu todo com aquela respiração quente na sua orelha, logo seguida pelos lábios, pela língua, pelos dentes... deixou ser abraçado com força, e gemeu ansioso quando sentiu seu corpo sendo explorado... as mãos ásperas subiam e desciam, pela sua barriga, pelas suas costelas, pelo seu peito, sentindo os músculos e brincando com seus biquinhos até ficarem muito duros... ele que já estava delirando acabou de se perder ao sentir a mão de Saitou em seu próprio sexo, agarrando com firmeza e se movendo pra cima e pra baixo, numa lentidão torturante, ao mesmo tempo que sentia a dureza dele se esfregando na sua bunda, através apenas do tecido das calças brancas, uma mera prévia do que logo viria... a essa altura Sano não se sustentava mais nas próprias pernas e se apoiava só no corpo de Saitou, dizendo o nome do amante entre gemidos, inclinando a cabeça sobre o ombro dele, expondo o pescoço que foi logo tomado pela outra mão do homem, que subiu todo o caminho até lá enquanto ele devorava o ombro do rapaz, acabando por dar ali uma mordida que o fez se retorcer inteiro... nessa esfregação gostosa, um vai e vem, seu sexo ficando mais duro, latejando, aquela mão...

Ele não entendeu muito bem como foi que de repente estava deitado de costas no chão, sobre as roupas jogadas deles, já sem as calças, ‘vestindo’ só a bandana vermelha... mas também não tinha muita importância agora, com Saitou deitando sobre ele, beijando seu pescoço, cheirando sua pele, esfregando o pau dele no seu, os dois se acariciando com dentes e unhas, confundindo pernas e braços, num entendimento perfeito...

Quando Saitou se moveu pra ficar entre as suas pernas, Sano percebeu o braço dele procurar alguma coisa, alcançar a blusa e tirar de lá o que parecia um vidrinho de óleo... sempre galo de briga, num instante ficou puto e tentou levantar... o cara estava planejando aquilo?

– Ora seu... você trouxe isso pra cá? Vai me dizer que anda sempre com um desses? mmmph... – mas foi parado pelo braço forte de Saitou em seu ombro, e pela mão dele em sua boca.

– Não comece. Você mesmo disse, ahou, eu sabia o que você queria. Acho que pode ver que eu quero tanto quanto você. – sorriu malicioso, agarrando com os punhos os braços que se debatiam contra ele numa teimosia infantil, tão própria do garoto, e prendendo esses braços na terra, acima da cabeça dele, fazendo-o seu prisioneiro, – e eu tenho você exatamente onde eu quero...

Nada como um bom desafio, e agora foi Sano quem riu, numa fração de segundo levantando os quadris e usando suas pernas pra prender as dele, engatando-se nas coxas e puxando, forçando ele a ficar não mais deitado, mas agachado, meio de joelhos entre suas próprias pernas, o puxão repentino provocando um empurrão contra a ereção de Sano, extraindo do homem um gemido pela brusquidão do contato...

– Viu? Te peguei. É você que está onde eu quero agora... – disse baixinho e maroto...

– Sanosuke...

Seu nome... a voz rouca dele dizendo seu nome, dizendo que o queria, os olhos sempre tão frios agora cheios de desejo, o corpo tão poderoso em cima do seu... Sano esqueceu todo o resto, mergulhando na chama daquele olhar que era só pra ele lhe dando mais um beijo...

Seus braços ficaram onde estavam, mesmo depois de largados seus pulsos... Saitou observava o corpo rendido sob o seu, mas não se enganava... sabia que não era a rendição da derrota, sabia que aquele menino era derrotado apenas pelo próprio desejo, tão forte e poderoso quanto ele mesmo... estava preso pelo encanto daqueles olhos que não sabiam esconder nada dele, daquela boca inchada dos seus beijos, daquele corpo que lhe exigia sem vergonha nenhuma o que queria, e queria logo...

Saitou voltou a cobrir esse corpo com mãos e lábios, e Sano sentia seu sexo latejar a cada ponto sensível que o habilidoso espadachim descobria... a língua molhada e as mãos ásperas não esqueciam nenhum pedacinho dele... agarrou punhados de cabelo da nuca dele quando ele lhe alcançou o mamilo, abocanhado de repente, fazendo-o abrir a boca num gemido mudo ao sentir ser sugado com a paixão do homem e então mordido com a fome do lobo, e lambido carinhosamente depois pra aliviar a dor, não tendo nem tempo pra respirar antes de ele ir lamber e beliscar o outro também...

– Aaahnn... droga, Saitou... vai me fazer esperar a noite toda?

– Eu não tenho pressa nenhuma, ahou... – respondeu voltando pra uma rápida mordidinha num lábio inchado. E não tinha mesmo, ele queria o garoto a tempo demais pra deixar de aproveitar cada momento... então sem mais, tratou de cobrir com a boca aquela vara deliciosa e empinada que exigia atenção.

Sano gritou seu nome e enterrou as mãos em seu cabelo, extasiado ao ser envolvido na boca quente e molhada, ser engolido inteiro, depois largado, depois sugado devagar e com força desde a pontinha e então pedacinho por pedacinho, aquela boca praticamente mamando o leite que escorria dele... tentava rebolar pra se enfiar mais, só que Saitou segurava seus quadris com força bastante pra deixar a marca dos dedos... cada respiração sua era um gemido enquanto, por reflexo, imprensava o homem com as coxas... pensar direito era impossível, e ficou mais ainda quando sentiu de novo a carícia dos dedos dele entre suas bochechas... logo depois, quando sentiu os dedos lisos de óleo roçando nele, perdeu até as forças pra manter as mãos no cabelo do homem, os seus braços caíram de volta ao chão e perdeu até a noção das reações do próprio corpo quando o primeiro penetrou nele...

Estava pirando, balbuciando a toa, e não era pra menos... um dedo, dois... impacientes, penetrando mais fundo, ‘Ahn!!’, esticando mais, se remexendo dentro dele, ‘AAHHN!!’, enquanto a boca ficava mais ávida, uma hora chupando como se quisesse sugar até sua alma, depois quase largando, ou quase parando, empurrando a língua na pontinha, fazendo o menino gemer de desespero... Ele nunca ia deixar Sano chegar lá, não ainda, queria mesmo era ver ele estremecer e se retorcer todinho, ouvir ele gemer daquele jeito devasso, um som tão erótico que Saitou mal se aguentava de tesão... não resistiu, diminuindo bem o ritmo das duas carícias, aproveitou pra raspar suave os dentes na carne ‘Saitou!!!’, pra uma mordidinha bem de leve ‘Ha... Hajime!’, e mais outra ‘Jime!! Ah...’

Não agüentando mais, largou o garoto e voltou a sua posição original, agachado entre as pernas dele. Inclinando-se pra beija-lo encontrou os olhos cerrados e úmidos, e beijou aqueles olhos também. Sano então olhou pra ele, segurou o seu rosto e pediu com voz trêmula mas decidida,

– Para de me torturar... me fode de uma vez...

Em resposta imediata Saitou arreganhou mais as pernas dele, agarrou aquela bundinha gostosa e o puxou contra si, roçando um pouquinho o pau melado no reguinho, fazendo o rapaz fechar os olhos de novo, numa nova onda de prazer e expectativa... então se posicionou bem na entrada do buraquinho apertado, pressionando mais e mais um pouco, dando só um instante pra Sano se perguntar se aquilo cabia mesmo nele, e então enfiou com tudo, com um rugido selvagem, e tirando da garganta de Sano um grito que, felizmente não havia mais ninguém por perto pra ouvir, fazendo o menino se agarrar a ele com braços e pernas, enterrando as unhas em suas costas como quem se agarra à vida... por que doeu, e não foi pouco, mas também foi a coisa mais deliciosa que já tinha sentido... pelo menos até agora...

Só com seu imenso autocontrole pra não gozarem na mesma hora... Saitou tinha metido quase tudo, e tentava recuperar a consciência quase perdida com a sensação torturante de ser envolvido tão apertado, de estar praticamente preso ali, de ter na verdade todo o seu corpo dentro do abraço daquele garoto, escondendo sua cabeça no pescoço dele, largado no chão... Sano também precisava se recuperar do choque inicial, a sensação inesquecível de dor e prazer... seu quadril encaixado no dele, o bumbum sobre as coxas, seu sexo contra a barriga dele, a mão dele na curva das suas costas, pra não escorregar pro chão... sentir o amante tão fundo... isso foi só um segundo, e já ouviu o rosnado em sua orelha,

– É bom você estar pronto...

– Pode apostar que sim...

Primeiro veio a intensa sensação de vazio, que causou em Sano um quase choramingo... mas com a primeira estocada ele gritou e viu estrelas, e depois da primeira Saitou não podia mais parar... ele metia, metia, metia, mais fundo e com mais força, e Sano respondia com a mesma paixão, vindo ao seu encontro, seu corpo se abrindo pra ele, enlouquecido de ser martelado por dentro, de novo, de novo, e por fora ter o membro esmagado entre seus corpos, enquanto Saitou se esforçava desesperadamente pra se perder dentro dele. Já não podia pensar, mas teve que gritar quando foi tocado num ponto que fez seu corpo inteiro se retesar de prazer e sua cabeça e braços amolecerem sem forças de se sustentar, e teve que soluçar quando o amante diminuiu o ritmo, entrando e saindo tão devagar, sempre pressionando ali...

Não que Saitou estivesse com os pensamentos em ordem... sua mente tinha embaçado do mesmo jeito... era só o animal nele que ditava suas ações agora, prolongando o momento por puro instinto... mas a calmaria durou pouco, por que era demais pra ambos... ofegavam, suavam, tinham a garganta em carne viva... e mergulhados no cheiro dos dois misturados, voltaram com mais intensidade que antes... Saitou levantou o rosto do seu esconderijo, agarrou o queixo de Sano pra obriga-lo a olhar pra ele, e voltou a martelar nele com fúria e rapidez redobrada... os olhos do menino vidrados e escorrendo, as estocadas tão profundas e brutais que não podiam ser de verdade, mais, mais, mais, aahrn, mais... sentindo-se possuído e quase rasgado, gozou violentamente, o corpo todo sacudindo com a quantidade de semente que jorrou dele, banhando a ambos... Saitou encontrou o limite da sua resistência vendo o gozo do jovem amante, e ao sentir a contração violenta do canal onde estava enterrado até o talo, encheu ele com o próprio gozo, sendo literalmente drenado pelo prazer, e deixando seu corpo esgotado cair sobre o dele...

Pra Sano, naquela hora foi como se tivesse vivido a vida toda pra ver aquele rosto transfigurado de paixão, aquele homem finalmente perder o controle, tudo por ele... sentindo o líquido quente preenchê-lo e escorrer um pouco, o corpo pesado sobre o seu, com um último espasmo quando Saitou puxou seu membro de dentro dele, cedeu ao cansaço, tão ou mais sem fôlego que depois de uma boa luta... Ficaram os dois ali largados por um tempo, até o vento frio da noite fazer arrepiar os corpos suados. Quando Saitou levantou, Sano virou de bruços e assistiu ele se vestir,

– Vai ficar aí jogado a noite toda, ahou?

– E pra onde você sugere que eu vá? – Ele sorriu petulante, como sempre:

– Sugiro que venha comigo de novo. No mínimo, você precisa de outro banho...
 

Continua...


Por Jou-chan: omikoshi01@yahoo.com.br
Março de 2002