O Menino e o Lobo...
Por Jou-chan


Parte III
 

A primeira coisa ao acordar foi conforto e calor. Depois que se espreguiçou é que Sano começou a se dar conta de outras sensações. Estava razoavelmente dolorido, em mais de uma parte de seu corpo especialmente... bom deixa pra lá, nada que não pudesse agüentar, já tinha agüentado dores muito piores, de ferimentos de verdade... Começou a contar mentalmente seus ‘ferimentos de batalha’ enquanto prestava atenção ao seu amante, que estava deitado sobre ele, entre as suas pernas e descansando o rosto contra seu peito. Apertando os braços bem suavemente ao redor dele, pensava que estava acordando da trepada dos seus sonhos, com certeza a melhor noite da sua curta vida. Além de umas marcas de chupada aparecendo agora, além dos mamilos e lábios bem mais rosados que o normal, tamanha a atenção a eles dedicada, também podia sentir quase cada dentada, cada arranhão, cada lugar onde as mãos de Saitou apertaram mais forte...

Ele não foi um amante lá muito delicado, mas nem Sano tinha esperado que fosse. Descobriu que gostava dele exatamente assim. Orgulhoso, imponente, forte, agressivo... na personalidade e no corpo... pra quem sempre gostou de uma boa briga não podia ter encontrado ninguém melhor. "Cacete, parece mesmo que eu saí de uma briga", pensou divertido. Não que estivesse reclamando, ao contrário, afinal o próprio Saitou não estava em condições muito melhores, que o garoto também tinha uma empolgação e tanto. Tinha até uma marquinha que agora podia ver no alto do pescoço do homem, Sano queria só ver como ele ia fazer pra disfarçar!

Estava de novo nos aposentos e no colchão dele, só que com ele desta vez e não podia estar mais satisfeito. Tinham voltado pra lá e o espadachim cumpriu a promessa do banho, se juntando a ele, e no fim mesmo depois de sair os dois estavam mais cheios de tesão ainda. É, foi uma noite longa. Pelo sono pesado do outro parece que ele também concordava... Mas logo ele também começou a se agitar. Sano sorriu ao ser abraçado com mais firmeza e sentir o rosto dele roçar no seu peito... roçar e farejar como um bicho faria... quando a respiração dele começou a fazer cócegas no seu peito o garoto enrubesceu, por que o biquinho sem vergonha já ia ficando durinho, querendo chamar atenção... e como isso foi a primeira coisa que Saitou viu ao abrir os olhos, ‘Saitou!’, ele aproveitou a oportunidade, claro, sugando de leve o botão rosado , mas nada de largar, devia estar pensando que fosse um tipo de café da manhã na cama, sei lá...

– Ahn, nossa, mal acordou, nem deu bom dia... – largando o botãozinho ele procurou a cicatriz no ombro, e deu ali um beijo especial – Considere isso um ‘bom dia’ ahou... – puxando ele pelos cabelos, o ‘ahou’ lhe deu um beijo longo e molhado – Isso é que é ‘bom dia’ – o garoto disse, mas... eles não podiam ficar em boa paz muito tempo...

– Saitou, você é pesado sabia?!

– Hn! Ontem você não estava reclamando – ele respondeu se sentando e fechando a cara.

– Ei, você não vai acender essa porcaria de cigarro agora, vai?!

– E o que você tem que ver com isso?

– Não é um pouco cedo pra ficar com tudo empesteado? Não tô a fim de ficar engolindo fumaça agora...

– Pois se não gosta pode ir embora.

– Ah, então é assim? Só te digo que se eu for não volto tão cedo...

– E não é um pouco cedo pra estar resmungando tanto? Você é sempre tão insuportável?

– Você se irrita muito fácil sabia?

– Só quando tem algum baka como você por perto...

– Ha! Ontem você não estava reclamando...

– Hn!... eu não estou reclamando agora ...

– Aah, Jime!! Sabe que essa foi a coisa mais bonita que você já me disse?

– E pode bem ser a última que você vai ouvir na vida se vier com deboche pra cima de mim.

– Tá, tá, não fica nervoso...

– Eu não estou nervoso, você que é irritante...

– Eu não sou irritante, você que é implicante...

– Você tá querendo, né moleque?

– Querendo?! Depende... o que você tem pra oferecer?

– Sanosuke!!!

– HaHa! Você acorda muito mal humorado Jime.

– E não me chame de ‘Jime’.

– Quando você parar de me chamar de ‘ahou’, que tal?

– Que tal eu arrastar você de volta praquele seu arremedo de casa pela língua?

– Duvido!! Você ia sentir falta da minha língua, confessa... – Saitou acabou rindo...

– Hn. Tá certo... você tem mesmo uma língua dos infernos.

– Ainda bem que você reconhece! ... Tá legal... mas e agora, o que a gente faz?

– Sei lá... podemos tomar café.

– Não é disso que eu tô falando! – respondeu malcriado, cutucando ele com a perna...

Saitou se encostou na parede. Sano foi sentar aconchegado entre as pernas dele, e deixou ele enrolar o braço na sua cintura.

– Minha vida já é bem complicada e perigosa sem casos fúteis e amantes entrando e saindo dela. Eu não tenho tempo pra isso e não sou de perder tempo com coisas sem importância.

– Nunca achei que fosse.

– Não tenho tempo pra distrações, então eu evito...

– Sei...

– Você sabe, também não pretendo perder tempo com você.

– Ahã...

– Então sua presença aqui agora obviamente significa que eu espero que você valha a pena o meu tempo. E é melhor mesmo.

Sano sorriu de orelha a orelha...

– Eu sabia. Você quase me enganou, mas eu sabia...

– Ficando inteligente, ahou? A convivência comigo, claro...

Bom, no fundo isso tudo queria dizer que Saitou o queria por perto e confiava nele, não é? Não devia mesmo ser fácil pra um cara como ele deixar alguém entrar na sua vida. Nunca pôde acreditar que estivesse brincando com ele. Só não sabia era o que esperar daí pra diante. Podia não ser fácil. Os dois eram osso duro de roer, e ás vezes eles não se suportavam. Mas e daí? Os dois também adoravam um desafio.

– E o resto? Essa coisa de treinamento e de entrar pra polícia? Eu já disse que topo, estou disposto a tentar, aliás, estou louco pra treinar, mas ainda não acostumei com a idéia. Aliás eu ainda não tô entendendo nada. De onde você tirou isso, hein? Você acha mesmo que vale a pena? O que afinal você tanto vai me ensinar, eu quero saber, por que tenho certeza que posso dar uma surra em metade desses seus tiras juntos, então...

– Você sempre fala tanto depois de trepar?

– Ora, vê se não enche!! Só estou fazendo umas perguntas, perfeitamente cabíveis, aliás...

– Como queira, ahou... Já disse que eu não vou perder meu tempo, menos ainda pra você virar um guarda qualquer. Acho que alguém como você pode ser útil na polícia secreta. É uma idéia não acha? Vale a pena tentar...

– E a gente vai deixar todo mundo saber o que tem entre a gente? Quer dizer, nós estamos aqui, em pleno Dep. de Polícia, você também não tinha outro canto pra se enfiar?

– Já disse, é prático, e estratégico. Tenho meu escritório e tudo que eu preciso aqui perto. E tenho bem mais privacidade do que você imagina. Não conheço ninguém nesse departamento que se atreva a vir me aporrinhar aqui, sabendo que eu não gosto disso. É preciso a situação ser bastante grave pra alguém bater nessa porta. E também não tenho muitos ‘amigos’ que viriam me visitar aqui. Podemos ser bastante discretos, pelo menos enquanto você continuar seu ‘trabalho’ nas ruas. Não seria saudável os vagabundos da cidade perceberem que você anda com um policial. Depois disso não me importo nem um pouco quem saiba.

– Lindo. Só tem um problema. Com você ninguém se mete, mas se as coisas forem realmente ser desse jeito, quando chegar a hora não quero ser visto como seu ‘protegido’ por ser seu aprendiz, ou pior, por ser seu amante. Isso eu não vou aturar nunca. Tenho meu orgulho e você sabe muito bem. Assim não vai dar certo por que eu não vou entrar numa dessas de jeito nenhum.

– E por que não? Francamente, Sanosuke... isso não é razão pra você desistir desde já. Sim, eu estou cansado de conhecer o seu orgulho. Você vive arrumando confusão por conta disso. Sei que se te menosprezam por qualquer motivo você não descansa até fazer todo mundo morder a língua. Eu acho que ganhar o respeito de todos seria um bom desafio pra você, não seria? Talvez eu até possa considerar isso parte do seu treinamento...

– Tá tirando uma com a minha cara é???

– Você acha que eu nunca tive que passar por isso? Eu tive que lutar muito pra ser respeitado, até pra ser temido e chegar aqui. – Saitou riu... – e depois... funcionou comigo.

– Verdade?!... Caramba... Ei!! Quer dizer que eu fiz você morder a língua? – disse com um risinho sacana

– Não abuse... eu posso querer descontar o que você mordeu minha língua ontem...

– Há!! Experimenta! Quero só ver!

– Hn! Você é mesmo um fedelho insuportável...

– Ah, bom, eu imagino que devo ser mesmo insuportável, assim, pra alguém da sua idade...

– Não adianta, que não vou aceitar provocação de nenhum fedelho. Depois eu vou ter tempo de te mostrar quem é velho...

– Polícia secreta... por isso essa história de me fazer trabalhar como informante? Estava me testando?

– Não. A verdade é que eu não planejei nada isso. Mas quando aconteceu a possibilidade começou a aparecer. O fato é que foi uma boa idéia. Você tem se saído razoavelmente... mas precisa urgentemente aprender a raciocinar e saber seus limites.

– ‘Razoavelmente’... tá bom... fica me sacaneando...

– Respondendo a sua outra pergunta...Você precisa aprender muita coisa. Refinar sua técnica de luta, aprender defesa, que você teima em se iludir que não precisa, usar decentemente uma katana, etc, etc. Seria bom aprender a pensar um pouco antes de agir, pelo menos tanto quanto possível, no seu caso...

– Resumindo, como treinador você vai ser um grande chato, e não vai perder a menor oportunidade de atormentar a minha vida...

– E quando foi que eu já perdi? Vou ser ainda pior do que você espera. Você tem muito que amadurecer...

– Ah, pronto... só falta agora você dizer que vai fazer de mim um homem...

– Hn! Você?! Nem com muito esforço... – Saitou disse, pegando seu queixo e virando seu rosto pra ele – Você vai ser sempre um moleque atrevido... – e cobriu sua boca num beijo lento, quase terno, logo correspondido.

– Bom... acho que se não fosse isso eu não teria vindo parar aqui, né?

Saitou não respondeu mais, não com palavras. Só com a boca, com as mãos explorando todo aquele corpo que se achegava mais no dele. Cansados os dois, mas aproveitando um pouco mais o ritmo preguiçoso da manhã.

– Você não tem algum trabalho super importante pra fazer, não? Parece que já ta tarde... não que eu não esteja gostando...

– É, eu tenho muito trabalho sim... mas não adianta ter pressa, então vou ficar mais um pouco e depois não diga que eu nunca fiz nada por você... – ele dizia beijando seu pescoço e tomando o sexo já inchado com sua mão, começando o trabalho de aquietar aquele fogo, até terem mais tempo – Você é um fedelho insaciável sabia, já está desse jeito de novo?

– Haha! Não tenho culpa de ser jovem e tarado...

– Hn, sabia que nos entenderíamos...

((( | )))

Sano estava aproveitando o que agora era um de seus raros momentos de folga. Ah, não tão raros assim, mas pra quem costumava ser tão preguiçoso... agora se dividia entre o trabalho nas ruas e o treinamento com Saitou. Treinamento aliás complicadíssimo, já que por mais que se esforçassem pra manter a coisa séria, vez ou outra eram derrotados pelo calor da situação e tinham que dar uma pausa. Pensa que é fácil? Então, dois caras se pegando, suando, cheios de adrenalina, quem agüenta? Sano é que não, e vez em quando conseguia quebrar a resistência do próprio Saitou também. Nem sempre, por que até mais do que ter prazer em aporrinhar o garoto, o ex-capitão era um treinador extremamente exigente.

Mas como nesse momento, ia no Dojo sempre que dava, ficar com os amigos, ver as crianças brincarem, encher o saco do Yahiko, e até engolir um pouco da comida da Kaoru. A essa altura era óbvio que Kenshin tinha sacado alguma coisa, pelo menos sobre seu ‘trabalho’. O baixinho parecia bem menos preocupado com suas andanças por aí e com as confusões que arrumava, sinal que sabia. Mas o quanto sabia? Bom o suficiente pra não estar mais tão preocupado que voltasse ao crime, mas não o bastante pra se preocupar sobre Saitou. Realmente não queria contar ainda. Não saberia como dizer mesmo. E tinha também a Megumi que ficava olhando pra ele com aquela cara de raposa metida que sabia que ele estava aprontando alguma. Coisa mais irritante... Ficava tentando arrastar o carinha pra se divertir um pouco, se livrar um tempo das implicâncias da Kaoru, mas fazer o que se ele parece até que gostava? Vá entender.

Ás vezes enquanto conversava com Kenshin pensava nas coisas que Saitou tinha dito sobre ele. Levava muita fé no amigo. Se ele só queria ficar em paz, Sano dava a maior força, só não podia é seguir o mesmo caminho, queria mais é ação... E se pudesse ia ser um grande lutador, também pra ele não precisar mais se meter em tanta confusão. A situação toda era meio estranha. A paz do Dojo lhe fazia muito bem e se sentia acolhido ali, mas era da ânsia de batalha de Saitou que compartilhava. Como estar no meio de dois extremos irreconciliáveis. Não chegava a se sentir dividido por que de repente era como ter mais do já esperou ter a vida toda. Tinha amigos que eram como família, tinha Saitou, tinha chance de ser mais que um rato de rua sem precisar desistir de ser o Zanza, e tinha esperança no futuro. Tinha mais do que teria pensado em pedir e só tinha muito medo de perguntar até quando poderia durar.
 
 

((( | ))) Mas, certas perguntas não calam...



– Você é muito pior do eu pensava!!

– E pode me explicar o que afinal você pensava??! No mínimo andava com alguma idéia besta sobre no fundo eu ser um cara gentil e bondoso...

– Eu só achei que...

– Talvez ‘apenas me escondendo sob uma máscara de frieza e grosseria’, não é? Isso seria tão lindo não seria?

– Não tira onda com a minha cara não!!

– Ou melhor ainda, devia estar pensando que no fundo eu fosse doce como seu amiguinho Himura...

– Não tem nada a ver com isso!!

– É isso não é? Seria tão simples pra você assim, se eu fosse mais como ele... com certeza você acha que eu devia ser... eu devia era ter esperado isso dessa sua cabecinha de galo.

– Meu único erro foi acreditar que você tinha princípios!

– Não me venha falar dos meus princípios. Eu tenho apenas um! Eu faço justiça e faço à minha maneira, quer um fedelho como você entenda isso ou não!

– Justiça?? Porra nenhuma! O seu negócio é sangue. E aquilo não passou de um massacre...

Bom, tinha sido mesmo. Usando só alguns truques sujos e ignorando um pouco as burocracias da lei, o policial conseguiu acabar com os cabeças de um importante clã mafioso. Uma caçada com direito a emboscadas, ameaças, chantagens e mortes, quase mais que prisões e julgamentos. Excesso? Saitou não pensa assim. Especialmente não sobre o trabalho magnífico que fez com o principal líder, Nakamine-sama, que além de tudo era um político razoavelmente poderoso, e que certamente contribuiu para aprofundar a lama da corrupção do governo Meiji. Afinal, se alguém é bastante ruim pra dedicar vida toda à maldade e ao crime só por mais e mais dinheiro, certamente não espera encontrar piedade pelo caminho não é? Ele não foi assassinado como outros associados seus, afinal alguém tinha que servir de exemplo e ir pra cadeia, o que não seria difícil depois de perdido todo apoio e tendo os aliados e os melhores homens mortos, presos ou mudado de lado, já não havia muito o que comandar. O principal preço que o canalha pagou contudo, foi a vida de seu principal braço direito, que era também seu único filho.

Talvez, apenas talvez, não fosse nada excepcional na carreira de Saitou Hajime. Mas acompanhar essa história de perto fez Sano entender por que tanto tempo depois da guerra, a lenda do Lobo de Mibu ainda causava tanto medo. Aos seus olhos, mais do que implacável, aquilo foi absolutamente cruel. Planejado e executado com frieza e deslealdade. Era óbvio que a maioria daquelas mortes foi desnecessária, nenhum deles seria páreo pra Saitou. Muito menos o rapaz, mesmo que não passasse de um grande filho mãe...

– Massacre?! Você ainda não me viu fazendo um massacre. Aquilo foi só fazer o meu trabalho.

– E faz parte do seu trabalho agir à traição assim? Usando armadilhas e chantagem? Com quem você andou negociando pra poder emboscar o filho do Nakamine?

– Primeiro, eu não discuto meus métodos com você, mas se quer saber dos meus negócios, só alguma chantagem com alguns covardes de rabo preso que eu ainda não posso pegar, pra chegar nos outros. E segundo, qual o problema com o filho dele? Era um criminoso como os outros, e pior que a maioria. Agora está morto, fim da história.

– O cacete que é o fim! Ele foi executado. Você matou ele a sangue frio, porra... aposto que ele não teve nem tempo de reagir, quanto mais de lutar, isso não é justiça, é assassinato! Essa é a honra do Shinsengumi??

– Eu vou fingir que você não fez essa pergunta, senão eu acabo te matando. E esse ‘pobre coitado’ de quem você está com tanta pena era um grande canalha, provavelmente até pior que o pai, metido até o pescoço em todos os crimes dele, e cheio dos próprios também. Um covarde cheio de si que agia na sombra do poder do pai. Você devia saber disso muito bem, afinal já andou em boa confusão por causa dele...

– Em muito mais confusão do que ir pra cadeia, cortesia de Isao Nakamine... você pensa que eu não sei? Você não me contou, mas eu descobri depois que o bando do tiroteio daquela noite era gente dele. Que ele acabou sabendo depois que era o Zanza lá, que por minha causa a polícia, você, estragou os planos dele, e que andava querendo meu pescoço de qualquer jeito! Pra você ver que eu não sou tão estúpido assim.

– E desde quando você é tão bonzinho assim?! Você cruzou duas vezes o caminho dele. O suficiente para atrapalhar toda a operação de expandir os ‘negócios’ da quadrilha para essa região, operação da qual ele era responsável. Você desmoralizou ele duas vezes e se ele queria vingança antes, depois muito mais. Só mesmo um ahou como você pra se meter em dois rolos seguidos com um cara dessa laia sem nem saber! E eu também sei umas coisinhas... sei que você andou investigando essa história pra poder revidar. Por isso também não me contou nada. Há! Parece que estamos tendo uns problemas de comunicação, não é? Agora todo esse barulho por que eu matei o safado? Um traficante, assassino e conhecido estuprador também. E obcecado com você. Eu não preciso explicar o que ele ia fazer com você se te pegasse, e com ajuda dos amiguinhos dele. Que merda passa nessa sua cabeça, afinal?

– Eu nunca tive medo dele!

– E eu preciso te lembrar como sempre acaba essa estupidez que você chama de coragem?

– Eu queria dar uma lição nele, porra! Mas não queria matar ele!!

– Mas eu queria!!! Isso me basta!

– Você não entende nem se importa, né?? Eu não quero nenhuma morte na minha consciência. Você sabia que eu ia me sentir assim...

– Não está na sua consciência, ahou, está na minha.

– Você não tem consciência! Vai pro inferno!!!

– Hn. Qualquer dia desses eu vou... mas por enquanto não quero saber de ninguém me exigindo explicações de como eu cuido dos meus assuntos. Se a sua estupidez é tanta a ponto de lamentar ou se sentir culpado pela morte daquele idiota, não precisa se preocupar tanto. Além de se vingar, ele achou que poderia usar você contra mim, e depois me tirar do caminho, o inspetor da polícia. Isso é bastante pra eu querer ter a cabeça dele e do resto. Um verme como ele não brinca comigo.

– É fácil pra você não é? Se fosse só isso. Você passou por cima de mim pra poder derramar mais sangue, sempre procurando mais matança... nunca chega pra você??

– Já está me irritando Sanosuke... por que essa tempestade agora? Por causa de um bando de vermes mortos?

– Por causa de muita coisa. Por que você não liga pra nada. Eram homens droga! Alguma vez já parou pra pensar nesse tipo de coisa? Por exemplo que muitos tinham família...

– Famílias da máfia, que vivem para a lei do crime... e sem seus cabeças não podem mais agir.

– Merda, você não se importa mesmo com nada...

– Nem um pouco. E se eu me importasse, eu seria apenas inútil...

– Sempre isso... nada dessa história explica nem justifica o que você faz... esses ‘seus métodos’... Não pensei, não queria pensar que fosse seu costume descer tão baixo pra fazer isso que você chama de justiça – a mão enluvada esmagando seu maxilar mostrou que o comentário não foi muito inteligente...

– Isso que eu chamo de justiça, ahou, nunca pedi pra você entender, e nunca disse que estava em discussão.

– Eu não me importo se você quer discutir ou não – respondeu, soltando-se – eu to cheio de ignorar isso e participar do seu jogo sujo, sujo sim. Você faz propaganda desse seu maldito código de honra, mas age como um assassino sujo. Eu não trapaceio nem nos dados, não quero ser usado por você como fui nessa história.

– Não tem nenhum jogo nisso. Eliminar o mal de imediato. É simples. E não estou pedindo sua permissão.

– E quem é você pra decidi, hein?! Não estamos mais na droga da guerra, quem é você pra julgar e condenar?

– Com certeza, não sou um idiota qualquer com uma espada. Com certeza melhor que algum juiz corrupto ou cego. Eu sei muito bem o que faço. E com certeza, estamos em guerra, nem você pode ser tão idiota assim, por que agora é pior que antes. A porcaria da sua Nova Era só fez trazer mais lixo pra misturar com o que já tinha... um governo fraco, políticos e embaixadores corruptos, tanto tráfico que logo esse país vai estar tão cheio de drogas e armas que vai ser pior que estar em guerra, e blá-blá-blá... eu só jogo o lixo fora, e gosto disso, e se pudesse faria ainda mais. Pra que deixar esses tipos continuarem por aí rindo na cara da porcaria da polícia, da justiça e do governo que não pode com eles?

– Isso é bem conveniente pra você, não? Bom pra usar sua influência e seu cargo pra sentir o gosto de manipular o sistema. Pra ficar acima da lei e ver todo mundo se mijando de medo de você e da sua ‘justiça’. Pra saciar essa sua maldita sede de sangue, isso é o interessa pra você não é? Não sei pra que me quer aqui, mas não vai poder me manipular! Por que não diz de uma vez? É isso mesmo que você é? Um manipulador filho da mãe e sanguinário?

– Você tem andado demais com o Battousai, sabia?

– Acho que eu tenho andado demais com você...

– ‘Andado’ comigo?? Devo deduzir que anda dormindo com ele também?

– Vai a merda! Eu tinha que ter muito nojo de dormir com um carniceiro feito você!

Bom... Depois disso a integridade física do lugar estava seriamente ameaçada. A tensão e a raiva acabaram numa explosão de violência de dois lutadores extremamente poderosos, embora ambos tentassem conter o ruído. Se a câmara não fosse afastada e se todo mundo não se pelasse de medo de incomodar seu ocupante ali, teria chamado muita atenção... felizmente ou infelizmente, o departamento era bastante grande e o movimento se concentrava nos outros prédios...

Nesse tempo que estiveram juntos, na verdade desde que conheceu Saitou, Sano começou a sentir um monte de coisas sobre ele que nem podia explicar direito. Respeito pelo guerreiro que mesmo tendo lutado do lado derrotado sobreviveu e encontrou um lugar no meio de todas as mudanças. Admiração pela perícia quase sobrenatural do espadachim, e um fascínio imenso pelo homem que ele é. Mas tinha também esse lado dele, de homem sem coração, obscuro e inescrupuloso, cruel, que nunca poderia aceitar. E que não era só um detalhe sobre ele, mas que ele praticamente transpirava e era parte de por que era tão fascinante. Podia mesmo acreditar que um homem como Saitou se importasse com alguma coisa, com proteger as pessoas, com justiça? Com ele? Mas assim mesmo foi para ele como um mosquito pra chama. Aí tentou entender, tentou ignorar, tentou até aceitar, por que não queria mais ficar sem ele, e queria acreditar nele.

Mas chegou a gota d’água, e os dois estavam aqui, no meio maior briga que já tiveram, querendo descontar cada questão mal resolvida, a raiva a e frustração. Nunca foi mesmo fácil entre eles. Se se entendiam, de vez em quando se detestavam ainda mais, e nenhum dos dois era de baixar a cabeça. Sem contar que os dois eram bem o tipo que acabava as brigas na cama ou na porrada... Essa luta agora era como antes, quando a distância entre eles ainda era intransponível e cada um colocava todo seu orgulho em jogo. As duas primeiras lutas que Sano perdeu por que nunca poderia vencer. Por causa delas tinha uma cicatriz pra sempre e depois arriscou a vida pra aprender o Futae no Kiwami em uma semana, e ainda sim, não podia ser páreo pra Saitou. Agora não era mais assim. Depois de meses treinando com o próprio lobo, com certeza dessa vez estava muito longe de ser um simples lutador de rua e só queria saber se essa era a hora da retribuição.

Um corpo se chocou contra uma parede, outro é arremessado por uma porta, a briga agora do lado de fora, já esquecendo qualquer preocupação com qualquer covarde que não teria mesmo capacidade ou coragem de interferir. Até ficar pra observar também não valeria o risco, os dois tão rápidos que mal a vista acompanhava a luta brutal. Estranhamente a vida continuou enquanto a tensão dessa luta transtornava até o ar em volta. Uma sucessão de golpes, ataque e defesa, choque de ossos e sangue. Ambos eram fortes...

– Você vai parar com essa besteira ou quer mesmo que eu te mate?

– Não é mais fácil como antes me derrotar!

– Isso, ahou, é graças a mim! Não esqueça disso

– O que eu não esqueço é que você não passa de um assassino sem honra e chantagista! Que diferença entre você e os outros canalhas que você persegue??

– Você quer que eu te mate.

– Quero saber o que você quer de mim!! Pra que brincar com a minha cabeça desse jeito porra!

– Eu nem podia querer muito. Parece que pedir que você seja um pouquinho inteligente é pedir demais.

Uma ‘conversa’ entrecortada no meio da fúria. Entre cair e levantar, entre recuar e cuspir um pouco de sangue, entre provocação e novo ataque. Se Saitou estava totalmente fora do sério, Sano estava fora de si de ódio, se sentindo tão traído, tão estúpido. Mas treinou tanto, melhorou mais do que sonhou que poderia... Lutava com todas as forças, sem tréguas, quase com a alma nos punhos, sem sentir dor... qualquer coisa, mas não podia perder de novo, não assim. Agora finalmente era um adversário à altura.

Claro que sim. Mas ainda não era páreo pra um lendário Shinsengumi. No fim das contas foi tudo muito rápido. E no momento exato uma aproximação letal, um joelho no estômago, um cotovelo nas costelas e então na nuca, golpe violento e seco. E então estava no chão e sabia que não podia mais continuar. Como não conseguiu evitar? Tão forte, tão rápido... ‘depois’ não tinha importância, por que, se ele quisesse, estaria morto agora. Mas será que não queria mesmo? Então por que ele estava pegando a espada? Esta não era uma luta de mãos limpas? Por que arrancou Sano do chão e carregou de volta pra dentro, por que jogou ele contra a parede e o prendeu lá com um braço em seu peito e a espada na sua garganta? Ah, dane-se... já tinha ido longe demais com Saitou pra ter medo dele agora...

– Grande merda você é! Um assassino imundo e não passa disso!

– Não é a melhor coisa pra me dizer agora, moleque... eu posso acabar de perder o controle...

– É assim que você gosta de matar? Com suas vítimas encurraladas e indefesas?

– É. Exatamente assim. – respondeu ele tenso e com a respiração pesada – Pra falar a verdade, é como eu mais gosto! Mas eu não costumo fazer isso... pra não acostumar, sabe como é...

– Não sei de porra nenhuma, seu cínico – disse já sem poder conter as lágrimas, que não sabia se eram de medo, de dor ou de raiva, não queria nem saber – não sei o que eu estou fazendo aqui nem como alguém pode ser assim, não sei nem o que você quer de mim. Tem que ter um motivo, Saitou, pra que??

– E o que eu podia querer de um ahou como você?! É o que você quer saber, o que quer ouvir? Nunca quis porcaria nenhuma... – possesso ele estava, transtornado...

– Alguém como você sempre quer, sempre cobra depois, sempre está planejando alguma coisa...

– Meus únicos planos pra você nesse momento incluem provar um pouco do seu sangue...

– Como é??

– Você pediu por isso ahou... – estreitando os olhos ferozes disse pra Sano, à sua mercê, olhando bem pra ele, farejando ele, quase sentindo o gosto... – Está querendo fazer isso por mim? Ser minha presa especial?

– Não!!! – ele quase gritou, quase, por que não tinha forças, cansado e fraco, com a mente embaçada, sem poder reagir e... estava fascinado, mais do nunca, pelo homem ali com ele. pelo homem... ou pelo lobo? – Me solta, eu não quero morrer!

– Então, – veio o rosnado baixo em seu ouvido – não me desafie! E não me tente.

– Eu não vou, eu... eu... porra, eu não quero mais nem olhar pra você...

– Ah, mas você vai! Vai olhar pra mim e vai me escutar! Seu pescoço ainda depende disso... OLHA!!

– O que é, droga!! – olhou naqueles olhos sentindo a espada na garganta.

– Quero que olhe bem pra mim. Está vendo? É isso que eu sou, goste você disso ou não. Eu não fujo nem me escondo do que eu sou. Eu não me arrependo de nada e com certeza não vou passar uma vida ridícula com medo de mim mesmo. Eu sou forte assim. E qualquer um que tenha metade dessa força não precisa temer nada de mim.

– Há!! Você deve estar se divertindo muito comigo, me enganando direitinho esse tempo todo. Mas pode me matar aqui se quiser, por que não vai ter mais nada de mim

– Você vai continuar me provocando até eu fazer isso não é?

– Eu acreditei em você, droga... que no fundo...

– Que no fundo eu fosse bom e doce como Battousai, eu já sei!!

– Não fala assim dele! ele pelo menos se importa comigo, AAHR...

– Vá trepar com ele então!! – ele vociferou enterrando mais a lâmina, mas Sano não seria Sano se não persistisse no desafio, mesmo quase sem poder falar...

– Ahrn... Vai me degolar devagarinho é? Pois se me deixar viver eu posso pensar seriamente nisso, eu devia mesmo AAH...

– E sabe o que eu devia fazer, ahou? Garantir que você não vai... – ele imobilizou ainda mais o corpo machucado com o seu próprio, e desceu a espada até a altura do membro do rapaz, e os olhos dele ficaram largos em pânico...

– Você não vai fazer isso!!! Mas que merda, você ta cansado de saber que o Kenshin é meu amigo!

– Sorte sua! Por que aquele lá não é homem bastante pra você. Aliás, aquela ruivinha não tem a mínima, a menor idéia do que você precisa! – a essa altura finalmente Sano dava sinais de tentar reagir, a situação já tinha ultrapassado os limites...

– E que porra você sabe sobre o que eu preciso?!

Oh, oh! Pergunta idiota... Um brilho perigoso nos olhos do lobo...

– Ah! Você quer que eu mostre?

... que só precisou de um tranco mais forte pra imobiliza-lo de novo e então cedeu à vontade que o estava atiçando faz tempo...

– AAHN... Não!! Pára!

... trouxe a boca ao queixo do garoto, sugando o sangue acumulado que escorria ali, e arrastando a katana entre seus corpos pela pele dele, devagar, deixando o aço acariciar a pele e a lâmina uma ameaça sutil, provocando um sério arrepio, e um esforço de protesto...

– Me larga!! Eu não tô a fim disso, não depois de...

No caminho da espada um corte raso e ligeiro, mas ainda doído, parou esse protesto, enquanto uma mão enluvada continha dois pulsos e a boca provava a mistura de sangue e lágrimas daquele rosto tão bonito;

– Eu já te disse muitas vezes... o quanto você é gostoso... mas... nunca pensei... que pudesse ser tão delicioso assim...

– Você é doente... – Sano disse baixinho, tentando ignorar a língua em sua pele, em sua orelha...

– Não mais do que você, provocando desse jeito alguém como eu...

Ele deixou a espada, certamente sedenta de mais sangue, continuar seu passeio pela carne jovem assim à disposição, explorando cada ponto fraco daquele corpo que conhecia tão bem, sentindo cada arrepio e gemido que o menino quase conseguia esconder, e conseguiria se fosse qualquer outro e não ele, embora pudessem bem ser mais de medo que outra coisa... e quando mergulhou no pescoço lambendo o fio de sangue que a katana tinha deixado, sentiu também aquele abdômen estremecer sob a lâmina fria...

"droga, droga, droga... por que ele tem que ser tão bom em tudo?!" Sano se perguntava isso enquanto tentava recobrar as forças e pensava que devia tomar alguma atitude. Mas que Sano era teimoso e obstinado Saitou já sabia, então nada surpreendente a resistência encontrada sobre esse novo ataque também. Ele não cederia fácil, não com esse monte de coisas na cabeça. E Saitou precisava disso, quase desesperadamente, então, era preciso insistir mais...

– Você não vai admitir não é?

– Admitir o qAAHR – impossível conter o som estrangulado com o aço frio sobre os mamilos, os dois ao mesmo tempo.

– Você ainda pergunta? Quem está sendo cínico?

– Isso é sacanagem, me soltAHN

– Sssh... Se fosse você eu ficaria quieto... Eu lamentaria isso, você sabe, mas se respirar do jeito errado pode se machucar feio.

Verdade. Não podia se mexer muito nem continuar tentando soltar os braços, não com a espada passeando sobre seu peito, arrastando, quase arranhando, pra cima, pra baixo, deslizando, ou beliscando, suavemente, ou pressionando com força muito bem calculada, e sabendo que bastaria um nada pra lâmina afiadíssima... Ah, não!! Era demais, era apavorante, e era uma delícia. Não podia reagir nem que fosse bastante doido pra tentar, estava paralisado, queimando e suando frio, com respiração difícil e olhos fechados, e foi esse momento vulnerável que escolheu pra beijar sua boca, agressivamente, de um jeito que não podia deixar de responder, ainda que pudesse sentir nele o gosto do próprio sangue.

Seus beijos eram um capítulo à parte em sua história, mas esse tinha uma urgência e um desespero como poucos... o tempo de um beijo pra esquecer tudo que estava errado, então que durasse o mais possível... A espada continuava implacável em seu trabalho, enlouquecendo Sano e querendo marcar os biquinhos carnudos, com certeza mais rosados e duros que nunca na vida, fazendo ele grunhir no beijo, e se contorcer quando deslizou por ele e, com mais cuidado dessa vez, encontrou o sexo inchado de puro prazer entre suas pernas...

O choque da sensação quase quebrou o beijo, Sano derrubando e batendo a cabeça contra a parede, mas Saitou o acompanhou logo, chupando e mordendo os lábios entre os seus, descansando a espada de leve de volta ao pescoço, pra poder pressionar mais seus corpos, um instante esfregando a própria ereção na dele.

Só que a sobrecarga de sensações e sentimentos fez Sano despertar. Se libertou do beijo, virou a cara e tentou empurrar Saitou de novo, à toa, serviu só pra provocar de novo a ira dele.

– Pára! Você não entende... eu não posso mais, e você não tem mais o direito...

– Vai continuar com essa frescura...

– É frescura eu não conseguir mais estar com um cara nojento feito você?

– Não consegue? Hn. Não é o que seu corpo está dizendo...

– E daí? Só por que eu fiquei de pau duro não quer dizer que eu mudei de idéia sobre você! Eu mal consigo olhar pra essa sua cara cínica! – Saitou riu na cara dele, com a expressão mais estranha em seu rosto...

– Tsc, tsc... sempre subestimando as suas capacidades! Então eu sou um ‘assassino imundo’? Tudo bem , que seja...

Em um grito Sano soube que estava tudo acabado, no instante em que Saitou, furioso, empunhou a espada em sua direção e desferiu o violento golpe sem pensar duas vezes e com um estrondo assustador. Depois disso, sendo arrastado dali, mal teve tempo de perceber a espada cravada na parede bem ao lado da sua cabeça, deixando as duas mãos dele livres pra arrancar a bandana vermelha da sua testa e usá-la pra amarrar seus pulsos nas costas...

– Ei! Não! O que você tá fazendo?!

A escrivaninha caída durante a briga foi levantada, e Sano foi jogado com o peito sobre ela, batendo o rosto na madeira e sentindo Saitou sobre o seu corpo...

– Então eu não tenho o direito? Pode ser... mas não vai acabar assim.

– Isso é uma tremenda covardia Saitou, você agora é covarde também?

– Covardia?? Mas eu até larguei a espada...

– Vá se foder!!

– Ah, não. Quem vai ser fodido aqui é você. Mas não se preocupe... você vai ser muito bem fodido...

– Me solta!

– Por que você mesmo não se solta?

Não, isso não podia fazer, e o canalha sabia muito bem. Por isso mesmo usou a bandana pra prendê-lo, por que sabia o quanto era especial pra ele, a última coisa que guardou do Sekihoutai, que usava desde criança em honra da sua tropa e seu capitão Sagara, sua única família. Poderia até reagir se não fosse isso... podia lutar contra correntes, porra, mas não ia destruir sua bandana por causa do Saitou, nem por causa do seu próprio orgulho ou teimosia, ou fosse o que fosse...

– O que eu disse? Você pode até querer que eu pare, mas não tanto assim... – disse a voz em sua orelha...

– Como se você desse a mínima pro que eu quero! Eu nunca pensei que pudesse ter tanta raiva assim de você! – sim, pura verdade...

– Ah, fica quieto, ou pego minha katana de volta...

... apesar de que não era fácil soar sincero com Saitou se esfregando nele, e lambendo seu rosto. Empurrando-o contra a mesa, com as mãos em suas costas, o tórax sobre seus braços amarrados; a língua quente de novo em sua orelha, então os lábios na sua nuca; com aquele pau se roçando bem no seu... ah, mas que droga! Não era um estranho nem era qualquer um, era Saitou! Em cima dele, encaixado nele, tocando-o em toda parte sem permissão, e amarrado ele com sua própria bandana!! Era tão pervertido que ficava difícil... Não queria!! Realmente não queria, estava ferido demais, de jeito nenhum, mas... ah, estava tão quente... e tão duro que doía. O resto era confuso demais nesse momento, mesmo enquanto Saitou puxava suas calças e agarrava um dos seus joelhos, pondo uma perna sobre o canto da mesa, deixando-o todo aberto e vulnerável... e sentindo os olhos sobre ele... quase deixou escapar um gemido alto.

– Você pediu por isso, Sanosuke. Será que você agüenta?

Ouvindo a voz rouca e ameaçadora, Sano concluiu, "Puta merda... ele tá irado, isso não vai ser fácil". Agora teve medo.

Ele então não fez mais que esfregar um pouco a ereção já pegajosa, enquanto Sano tentou com todas as forças ficar relaxado. Depois disso, com uma mão forte plantada em suas costas prendendo-o, e usando a outra pra afastar um lado de carne firme, Saitou se enfiou de uma vez nele. Suas pernas tremeram violentamente e fraquejaram e ele descontou a dor absurda nos próprios lábios, com os dentes. "Eu não vou gritar! Eu não vou chorar! Eu sou mais forte que isso!" Saitou ainda esperou um tempo, se refazendo ele mesmo, mas não muito, pra começar o ir e vir dentro de Sano, que continuava se controlando. Quase devagar, até estar inteiro dentro. Então, já tonto de prazer, se debruçou de novo sobre o garoto;

– Sempre corajoso o meu ahou...

Nesse momento a raiva de Sano era imensa... mas contra toda a lógica seu corpo ia se deixando levar e estar sentindo o homem sobre ele era uma espécie de conforto, bem como a boca molhada em seu pescoço. As palavras sussurradas soaram quase ternas... Ia morrer, sabia que ia. Só não sabia se do coração acelerado, se da respiração rota, das dores ou do prazer das investidas de Saitou...

Ele não estava sendo nada delicado... não que de costume ele fosse muito, talvez só às vezes... mas estava sendo deliberadamente lento. No princípio Sano chegou a esperar que pudesse acabar aquilo rápido, mas não... Saitou não abriria mão da sua tortura. Vinha uma estocada com força, rasgando... saía devagar, dava um tempinho e vinha de novo... e outra... e outra... mais uma... aah... queria deixar ele doido, só pode ser... queria fazer durar. Uma das mãos ainda em seu quadril, a outra em sua garganta, ameaçadora... mas,

– AAHN, AH! – agora não deu pra segurar... Ele queria mesmo deixá-lo doido, ou acabar com ele de vez... estava se mexendo em círculos dentro dele, dando voltas mais e mais largas, a cabeça daquela tora tocando partes dele que nunca pensou... cacete, isso ele nunca tinha feito...

– Sabe o que eu vou fazer? Eu vou arregaçar você, vou te arregaçar tanto que vai ficar com vergonha de andar por aí...

Uma ameaça rouca, quase estrangulada... um choramingo de Sano e então começou o ritmo forte, tão deles. A mesa rangendo alto, os dois mais ainda... Muito intenso... forte, rápido, fundo... Sano tremia inteiro e voltou a morder o lábio, que escorria sangue como o pênis escorria sêmen, seu corpo acompanhando o ritmo do dele apesar de tudo, sentindo ele... Saitou rosnava, grunhia, agarrava ele com muita força, e cerrou os dentes na sua nuca, pra imobiliza-lo mais, pra arrancar um pedaço do seu pescoço, sabe deus... animalesco, doeu horrores, e chegando no limite com a mente embaçada o menino ainda pensava ausente: "É assim que os lobos fazem?"

Acabou. Há quanto tempo? Segundos, minutos, horas... ah, dane-se. Ainda se odiava por ser tão fraco, como pôde? Mas primeiro como ele pode ser tão cruel?

– Por que fez isso? Pra me humilhar, me machucar? Está satisfeito?

E ele conseguiu não? Por que foi humilhante... não querer, querer, e não poder reagir... ter que agüentar toda raiva e decepção do mundo e ainda ceder pra ele, tudo bem que foi meio forçado mas, não era tão simples assim... ainda podia sentir tudo, e foi tudo muito brutal. No fundo sempre esperou que ele fizesse algo assim... sempre um risco estar com ele, não? Agora sabia melhor do que nunca e era demais pro seu orgulho estar ali onde estava. Além de ter perdido outra luta pra ele, mais uma... ainda por cima não ter resistido aos toques que nem podiam se chamar carícias, os dedos ásperos cravando em sua carne como se não tivesse importância sua dor ou como se, ah, merda... como se fosse a última vez... com esse pensamento o garoto precisou esconder o rosto contra a mesa, pelo menos tentar esconder as lágrimas... "Termina assim então?"

Saitou ainda em cima dele quando sentiu a bandana ser desamarrada. Estava livre, mas não tinha forças agora pra ir a lugar nenhum. Soluçou só uma vez, o bastante pra sacudir o corpo todo e sentir cada centímetro do lobo ainda profundamente enterrado dentro dele... e então estava vazio. Sentiu ele pôr suas calças de volta no lugar, com cuidado.

– Você está me gozando não? Isso até podia ser interessante, mas acontece que eu não posso te humilhar ou machucar, por que no fim das contas eu só acabei fazendo justo o que você queria... talvez eu deva contar isso como um dos meus fracassos pessoais... E quanto a estar satisfeito, você sabe muito bem que eu nunca estou, igualzinho a você.

– Sem essa! Eu não gosto nem um pouco de ser forçado a fazer coisa nenhuma...

– Não brinca! Pois pra quem estava sendo forçado você reagiu muito menos do que eu esperava...

– Você vai ficar me jogando isso na cara??

– Não, só essa vez já chega. Olha aqui, você gozou não foi? – disse ele finalmente levantando e tirando as mãos de Sano, depois de ainda cheirar o cabelo rebelde uma última vez, fechando as próprias calças e indo procurar uma camisa – Aliás, nós dois, juntos, e como poucas vezes na vida com certeza. Então do que está se queixando?

– Mas eu não queria, – ele respondeu baixinho, ainda com pouco de levantar – eu não queria mais e você sabia, e fez isso só pra mostrar que estava se lixando pra tudo...

– Ora, dane-se! Talvez tenha sido, e daí? Não tenho paciência pra isso. Você tem duas opções: lembrar disso como um estupro ou coisa parecida ou lembrar como uma das melhores transas da sua vida. Escolha. Não é problema meu, mas se tiver a cara de pau de ficar com suas queixas inúteis pra cima de mim eu juro que prego seu outro ombro na parede mais próxima.

– Tudo bem, – Sano falou, já de pé embora se sentindo um bagaço – não tem mesmo importância. Eu não nego que é uma escolha difícil.

O ambiente pesou por um bom tempo, um peso quase intolerável. Assim do nada era como se houvesse de novo um abismo entre eles, depois de tudo que foi feito pra se aproximarem. Como se estivessem mais uma vez prontos para o confronto e nenhum quisesse começar o primeiro ataque. Saitou começou, pra que terminasse logo:

– Imagino que esteja indo embora?

– É...

– Pra nunca mais voltar, com certeza?

– O que você acha?

– Só acho que você continua tão ahou quanto sempre, crista de galo – Saitou acendia seu cigarro agora, e tinha as costas voltadas pra ele.

– O que eu mais eu posso fazer? Você não vai mudar, não quer mudar e não dá a mínima pra minha opinião. E eu também não tenho mais estômago pra ficar com você assim. Então que se dane.

– Eu não pretendo te obrigar a ficar, você é livre pra ir, se acha que não tem nada pra você fazer aqui.

– Queria ver dizer isso na minha cara... era eu quem devia estar de costas, você não vai nem olhar pra mim?

Ah, não! Isso nem pensar...

– Pra que? Já sei o que vou ver, aliás sei que na verdade você não quer olhar pra mim. Nesse exato momento está pensando sobre como eu o usei, e que planos tinha pra você. Está querendo saber se estou tramando alguma coisa, querendo descobrir o quanto eu te enganei ou menti pra você, ou o quanto se enganou comigo. Você não confia em mim e não quer mais ficar. Por isso acho mesmo que deve ir o quanto antes.

... Sim, o quanto antes, por que até alguém como ele tinha limites, sabia disso muito bem. Podia agüentar a raiva, a fúria, a decepção, a estupidez, até o desprezo. Mas não ia ficar ali parado olhando o garoto chorar.

– Tem toda razão... então já vou indo.

– Leve isto. – ele jogou pra Sano uma capa, pra esconder o estado estranhíssimo que ele estava, e devolveu a bandana dele. Não era bom que deixasse pra trás nada importante.

– Obrigado... e falando nisso, onde está a minha camisa?

– Eu que sei? Deve ter caído ou rasgado enquanto lutávamos.

Sano não disse mais nada. Apenas saiu. Sem olhar pra trás.

Saitou ficou fumando seu cigarro. O lugar ficou mais escuro e frio, podia sentir. Paciência. Estava olhando sua velha escrivaninha agora, pensando ausente que deveria trocá-la. Mas achando que talvez não precisasse realmente trocar. Só por causa de umas manchas a toa de esperma e de sangue, e de... o que era isso mesmo? Lágrimas, saliva, suor? Difícil saber... ah, quem se importa. Só umas manchinhas... talvez ficasse algum cheiro esquisito também. Bobagem. Não ia jogar fora sua mesa preferida por causa disso, por causa daquele ahou teimoso e cabeça de vento e idiota...

Já era noite alta quando Sano saiu, talvez madrugada. Nenhum problema pra sair furtivamente pelo muro do Departamento. Não voltou ainda pro seu miserável quartinho alugado, nem foi pro Dojo, que ia ser um deus nos acuda se aparecesse lá arrebentado desse jeito, nem foi se embebedar em alguma espelunca, como bem seu estado de espírito estava pedindo. Só andou a toa, até encontrar uma sarjeta que parecesse apropriada pra sentar e morrer... nem que fosse de vergonha. Bom, mas pra isso era preciso que tivesse alguma vergonha na cara né? E se tivesse não teria chegado a esse ponto. Ou teria? Bom, deixando isso pra lá, apenas sentou, desabou ali... dolorosamente;

– Maldito!! Me deixa ir numa boa mas me deixa com a dor pra eu não poder esquecer...
 
 

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Por Jou-chan: omikoshi01@yahoo.com.br

Julho de 2002

Para quem quer que não tenha cansado de esperar, eu tenho que me desculpar pela demora absurda em entregar essa parte. Espero que pelo menos tenha ficado legal.