Distrito 24


Por Fernanda del Rey


Parte 4

Os dias se passaram calmamente, ou melhor, o mais calmamente que se pode passar quando há Seed por perto. De qualquer modo, Viktor e Flik pegaram o hábito de almoçar juntos, de trocar caronas... coisas assim. Naquele momento, enquanto Seed lutava com a máquina de xerox ao seu lado, Flik pensava se convidava Viktor para jantar em seu apartamento ou não.

'Flik.... como eu faço essa coisa funcionar? Tem uma luzinha laranja aqui....' pergunta Seed, revoltado com o mau comportamento da máquina de xerox.

'Deve estar sem papel, Seed... você acha que eu deveria convidar Viktor para jantar lá em casa?'

'Convida ué.... mas eu pus papel na máquina...'

'Veja se há papel entalado.... e será que ele vai?'

'Tem não... eu tinha conferido.... por que não funciona? ... deve ir... ele gosta de comida... ainda mais de graça....'

'Tem toner na máquina? .... O que eu podia fazer? Frango? Carne?'

'Toner? Que é isso? Morde? .... Sei lá.... se você assar o vizinho e der pra ele, ele come feliz e ainda repete...'

'O pózinho preto que faz o xerox, Seed! ... Acho que vou fazer carne.... deixe-me ver essa máquina!' Flik se levanta e vai ajudar Seed, que descobre que na verdade ele apertou quatro botões ao mesmo tempo e travou a máquina.

'Sem comentários....'

'Bom, eu tirei o xerox, não tirei?' responde Seed.

'Depois de meia hora... era importante?'

'Naum.... era só um artigo de uma revista....' sai, feliz, e vai levar o artigo para Culgan.

'Esse menino.... ' Flik volta ao serviço, mas com a mente ainda no jantar que faria para Viktor.

***

De noite, um pouco antes de saírem do serviço, Flik foi falar com Viktor.

'Ei, Vik....'

'Que é?'

'Quer ir lá em casa jantar?'

'Opa... adoraria.... vam´lá...' levanta-se e sai com Flik. No caminho para casa, passam no mercado para comprar ingredientes.

'Você ia comprar tudo isso mesmo ou só vai comprar porque eu vou na sua casa?'

Flik fica vermelho e responde:

'Lógico que eu ia comprar! Você acha que eu comprei só para você?'

Viktor ri, apenas.

Então, Flik ouve alguém chamá-lo.

‘Flik?’

Flik virou-se para ver quem o chamava, já com o coração na boca, e ao vê-lo, exclamou, mal contendo a surpresa.

‘Clive? Você voltou?’

*

Mais tarde, no apartamento de Flik, Clive e Viktor encaravam-se na sala enquanto Flik fazia o jantar.

‘De onde você é?’ perguntou Viktor.

‘Daqui da cidade... fiquei uns meses fora em treinamento... E você?’

‘Trabalho com Flik.’

‘Mesmo? Parceiro dele?’

‘Sim...’

‘Entendo...’

Há um momento de silêncio, quebrado somente quando o gato de Flik subiu na mesinha de centro, e ainda assim, apenas o som do vaso que o gato quebrara.

Flik veio falar com eles e oferecer algo para quebrar a tensão.

‘Querem beber algo?’

‘Vinho...’ disse Clive.

‘Cerveja...’ disse Viktor, simultaneamente.

Encararam-se. Flik suspirou e foi buscar as bebidas. Começaram a ponderar um sobre o outro.

Clive : ‘ Quem é esse cara? Eu sei que eu não tinha mais nada com Flik, mas tinha esperança de reconciliação... Mas olha o tamanho dele... Será que ele e Flik têm alguma coisa? >.< Ai... se eu resolver brigar com ele, vou ter que usar explosivo plástico para derrubá-lo, porque, pelo tamanho dele, só implodindo...’

Viktor: ‘ Quem é esse cara? Eu sei que eu não tenho nada com Flik, mas... Ele é elegante... bem arrumado... bebe vinho, não cerveja... aposto que é cheio de frescuras, que nem Flik... mas... mas... será que ele e Flik têm alguma coisa? >.< Ai... se eu resolver brigar com ele, vou ter que fazer curso de etiqueta, porque eu sei que sou elegante feito um rinoceronte manco assoviando e comendo paçoca...’

Flik veio com as bebidas e sentou-se no sofá.

‘ Então, Clive... como foi seu treinamento?’

‘Foi muito interessante. Especializei-me em explosivos.... – nisso ele olha para Viktor – ... se bem que ainda quero aprofundar-me mais no assunto.

Flik sorri.

‘Que bom que foi proveitoso, Clive.’

‘Sim, foi muito mesmo...’

Mente de Viktor: ‘Fale algo que impressione Flik... depressa, burro! Fala! FALA!

‘Você quer ir à exposição de impressionismo que tem no museu municipal, Flik?’ perguntou Viktor, de supetão.

‘Mesmo? Não sabia que você gostava de impressionismo, Viktor...’

‘Ahn... é.... é.... eu… eu gosto…. Você quer ir?’

‘Quando?’

‘Er... amanhã à tarde... pode ser?’

‘Sim.. vai ser interessante...’

Antes de levantarem-se para ir jantar, Clive olha para Viktor e pensa "Você ganhou a batalha, companheiro, mas não a guerra..."

Na mesa, o gato esmera-se em tentar quebrar os copos, enquanto os três sequer percebem, cada um cativo de seus próprios pensamentos.

*

CONTINUA