Prisioneiro de Highland
por Fernanda del Rey



Flik não se conformava: como deixara-se ser capturado?

Andava de lá para cá no calabouço, pensando no que seria quando Luca Blight o viesse interrogar... ele nunca vira Luca de perto, apenas contatos visuais à distância, mas parecia que o homem não era dos mais calmos.

Ouviu passos se aproximando. Ficou à espera. Deveria ser Luca. Mas não era, era apenas o jovem general Seed, que viera fazer algumas perguntas:

"Por que estabeleceram aquele forte?"

"É um forte de mercenários! Eu posso fazê-lo onde eu quiser!" replica Flik, rudemente.

Seed suspira. Ele não estava com disposição para discussões. Só queria acabar com aquilo logo.

Porém, por mais que Seed insistisse, Flik colaborou menos que o esperado. Seed deu de ombros e disse:

"Problema seu. O príncipe Luca vai vir ele próprio interrigá-lo, e aí você vai se arrepender..."

Seed sai e vai avisar Culgan que o prisioneiro não colaborara. E fora isso, não queria ser ele a comunicar ao príncipe Luca o fracasso na interrogação...

Passados alguns minutos, Flik está sentado num canto, preocupado em saber se Viktor conseguira fugir: "Espero que eu ter ficado para atrasar o inimigo tenha ajudado... Oh, Viktor..." suspira, preocupado.

De repente, a porta se abre com um estrondo e entra o temível príncipe Luca. Flik levanta-se de um salto só, preparado para qualquer ataque.

Luca aproxima-se e pára a alguns centímetros de Flik, mas para sua surpresa, o homem esguio a sua frente não se afeta, não aparenta o pavor que todos têm quando o vêem. Pelo contrário, em seus claros olhos azuis, uma fúria impressionante, tão parecida com a sua própria. Quis ver se conseguia irritar mais ou assustar o outro, e disse:

"Você, seu porco, se recusa a responder por bem?" pega Flik pelo pescoço e o levanta do chão, jogando-o contra a parede em seguida. "Então, vai responder por mal!!!"

Flik bate na parede e cai com um gemido, tentando se levantar em seguida. Ele grunhe entredentes:

"Você acha que eu tenho medo de você?" apóia-se na parede "Eu nunca temi nada e não é agora que vou começar."

Luca ri de tal ousadia. Nunca vira ninguém se atrever a erguer-lhe a voz. Mas em algum ponto, aquilo lhe pareceu diferentemente atraente... e diz:

"Você vai colaborar depois de saber que você não tem mais que proteger aquele 'urso' idiota?" tentava arrancar alguma reação do outro, por saber de certa... relação que os dois mantinham... ótimos informantes, os seus...

Isso teve um efeito inesperado em Flik, e surpreendeu Luca. Os olhos azuis do outro brilharam com uma fúria assassina e ele pegou uma corrente do chão para agredir Luca, gritando:

"NÃO!!!""

Luca mal teve tempo de desviar e a corrente resvalou em sua testa, fazendo espirrar um filete de sangue. Isso, ao invés de irritá-lo, o fez ficar mais interessado, ao que disse:

"Você é muito interessante, Blue Lightning... nós nos veremos outra vez.."

Ele sai e dá a ordem de que levem o outro para seu aposento. Ia ser divertido tentar domar-lhe o espírito... e dessa vez, ele queria o desafio de não usar a força, mas os sentimentos... sorriu consigo mesmo. O único perogo era que isso funcionasse como uma faca de dois gumes e ele se envolve-se também... mas, ah, isso era inviável...

***

Depois de muito esforço, Seed e Culgan conseguiram levar Flik para o ricamente mobiliado aposento do príncipe Luca. Suspiraram. O que o príncipe quereria com aquele mercenário de gênio tão ruim?

Dentro do quarto, Flik tentava imaginar que idéias sujas poderias estar passando pela cabeça de Luca, para prendê-lo no quarto assim... porém, apesar de desarmado - haviam tirado sua espada Odessa ++ dele - ele não estva indefeso. Quebrou uma cadeira e pegou a perna desta. Seria sua arma.

Quando Luca entrou no aposento, viu que prender Flik em seu quarto não parecia a melhor das idéias. O outro agia como... um relâmpago engarrafado. E achou-o mais atraente por isso... adorava o perigo.

Aproximou-se e Flik pôs-se em posição de batalha, com os cabelos desgrenhados pela resga que tivera com Culgan e Seed. Luca riu e desviou do ataque feroz que se seguiu. Flik atacou de novo e foi seguro pelo braço e desarmado. Luca, então, abraçou-o por trás e disse:

"Você é uma fera das mais unusuais... e das mais lindas que eu já vi... "

"Seu..." Flik luta para se soltar e libertada, vira-se de frente para Luca, que apenas sorri condescendente e rosna, com a respiração alterada pala raiva. "... não me toque desse modo outra vez, senão..." a ameaça velada fica no ar.

"Só seu... 'amigo'... pode tocá-lo assim?" pergunta Luca com grandes sarcasmo e desprezo, provocados, talvez, pelos inveja que tinha em saber que o outro podia tocar o selvagem trovão a sua frente e ele não.

Flik tem uma reação violenta a tal piada, mas como não há nada em seu alcance que possa servir de arma, ele grita:

"Não diga besteiras!!!" afasta-se e fica atrás de uma mesa. "Seu pervertido! Não faça isso de novo!"

Luca ri:

"Você acha que eu vou estuprar você?" põe as mãos na cintura. "Eu apenas quero conhecê-lo melhor..."

"?"

"... e um dia você vai pedir para ser comido."

"!!!"

Essa piada ofendeu muito Flik, que correu até uma mesa ali perto, pegou um dos vasos e o arremessou em Luca, que desviou por pouco de ser acertado em cheio.

Luca senta-se em uma cadeira, alerta como quem está preso com um tigre faminto. Apoiou o quixo nas mãos e ficou olhando para Flik com curiosidade. Flik lançou-lhe um ar interrogativo:

"O que está olhando?"

"Gosto de seu corpo: esguio e bem construído..."

"Morra!"

"Gosto de seu rosto: tão bem desenhado, de traços elegantes..."

"Você é louco? Tem algum problema?"

"Gosto de seus cabelos: essa cor exótica, franja loira com o resto castanho..."

"Eu não acredito que estou ouvindo essas coisas!"

"Gosto de seus olhos: azuis como o brilho de um raio..."

"... ... Arranje uma puta e me deixe em paz!!!"

"Ha!" Luca ri."Depois de conhecer alguém com essa personalidade... como direi, 'fascinante'... e com essa beleza indômita, eu acho que nehuma pessoa me satisfará."

"..."

***

Viktor estava andando de lá para cá no escritório de Anabelle. Conseguira fugir do forte em chamas, sim, mas não conseguira levar seu relâmpago azul consigo. E reclamava agora com a prefeita de Muse, Anabelle, que o ouviu, com um indisfarçável ar de enfado:

"Mas Viktor, isso é uma guerra! E fora isso, você não tem como ir resgatá-lo! É loucura, não, é burrice tentar infiltrar-se no exército de Highland! Você sabe o quão grande é o contigente deles!!!"

"Ah, claro... e por isso, eu vou sentar e esperar enquanto eles torturam Flik!?!?" ele reclama, realmente irritado, mas sabendo que no fundo, ela tinha razão...

Ainda se lembrava da hora em que o forte de mercenários que os dois comandavam foi invadido. Os soldados atacavam por todos os lados, e os dois estavam tentando fugir, quando deram de cara com um dos Generais de Luca, Culgan!! Viktor ainda tentou dizer alguma coisa, mas Flik apenas tirou a própria espada da bainha e disse: "Evacue o forte enquanto eu tento distrair ele!!!"

Viktor, obviamente, reclamou, mas naquela situação, não havia muito tempo para tentar vencer a teimosia de Flik... e perguntou: "A gente se encontra depois, certo? Em Toto? Ou Muse?". Ao que, antes de atacar esse general de Luca que se punha em posição de batalha e esperava a atenção de Flik, este respondeu, sorrindo e tirando rapidamente sua bandana, entregando-a para Viktor: "Lógico..." E voltou-se para a batalha. Viktor saiu dali, para não distrair o outro, mas a preocupação não deixava de pesar em seu coração.

Na noite seguinte, ele viajava em direção a Toto, e parava às vezes, olhando para trás e esperando... mas a mancha azul que ele esperava nunca se aproximava.

Depois de alguns dias de viagem, ele chegou a Muse, a capital de Jowston, que estava mais movimentada que nunca, porque a notícia do ataque de Luca já tinha chegado até lá. Ele dirigiu-se para o hotel-taverna da cidade, e teve a grata surpresa de encontrar Leona, a dona da taverna no forte deles, e amiga dos dois, ali.

"Leona, você não imagina como é bom ver você!!!" ele senta-se em uma mesa e pede uma cerveja, e então olha ao redor, esperançoso: "E Flik?"

Leona suspira e aproxima-se trazendo um caneco de cerveja. Senta-se ao lado de Viktor e diz: "Ninguém viu ele sair do forte, Viktor..."

Viktor deixou-se quedar congelado, olhando fixamente para Leona, uma parte dele não acreditando, outra apenas aceitando: "Co... como assim?"

"Nenhum dos mercenários que conseguiu fugir encontrou com Flik... talvez ele tenha ido para Radat, ao invés de..."

"Não! Ele disse que me encontraria aqui! Ele... ele..." Viktor olhou para o copo, sentindo uma dor indescritível corroendo sua alma "ele estaria aqui... ele devia estar aqui... Leona..."

Naquela noite, Viktor deitou-se em sua cama do hotel e ficou por longas horas fitando o teto... às vezes olhava para a cama vazia ao seu lado e soluçava: 'Ele não fez isso comigo... ele NÃO pode ter feito isso comigo... Baby Blue...'

***

Viktor estava sentado no bar de Leona, pensando no que teria acontecido a Flik... teria morrido? sumido? sido capturado? Nenhuma hipótese lhe parecia boa, mas a menos pior, por assim dizer, era a de ele ter sido capturado... talvez estivesse vivo ainda... Suspirou profundamente e voltou a pensar na vida enquanto bebia sua cerveja. Não podia distrair-se tanto... tinha batalhas a lutar e...

Anabelle entrou no bar e sentou ao lado de Viktor. Olhou bem para o rosto do outro e suspirou. Sabia o quanto Viktor gostava de Flik... e não podia esconder os ciúmes que tinha. Viktor... sempre o achou tão... atraente... tão simpático, amigável... alegre... detestava-o vê-lo triste assim por causa daquele... 'menino azul'. Ela nunca se dera muito bem com Flik, muito provavelmente porque este sabia dos sentimentos que ela nutria por Viktor e tinha ciúmes dele... que coisa é a vida...

Pediu uma cerveja para si e disse: "Viktor, tudo bem com você? Eu não queria parecer rude, mas nós temos algumas estratégias de batalha a discutir e..."

"Eu sei... essas coisas não podem ser adiadas..."

"Eu sinto muito... eu..."

"Não fale como se ele estivesse morto!" ele eleva o tom de voz, um tanto irritado pelo modo como ela fala. Põe a mão no bolso e acaricia a bandana que Flik lhe dera naquele dia, antes que fugisse. "Eu sei que ele não morreu... eu sinto... em algum lugar... eu sinto..." Baixou a cabeça e ficou olhando para o copo.

Anabelle deixou-se ficar em silêncio. Não havia muito o que dizer. Ela queria consolá-lo, mas em algum ponto de sua mente, alguma coisa egoísta queria que ele esquecesse o guerreiro e procurasse consolo nela. Pensou, pensou e uma luz acendeu-se em sua cabeça. Disse:

"Você já pensou que ele pode ter ido de boa vontade com eles?"

"Como assim?" ele olhou para ela com incredulidade em seu rosto.

"Não sei... sabe, apesar de louco, Luca não deixa de ser um homem atraente..." bebeu um gole de sua cerveja e esperou para ver que efeito sua frase inacabada teve. Não foi dos melhores. Viktor levantou-se e gritou, dando um tapa na mesa, que fez com que a caneca de cerveja dele virasse.

"QUE TIPO DE HOMEM VOCÊ PENSA QUE ELE É???" sentou-se de novo, tentando controlar a irritação, e ignorando as pessoas no bar que o olhavam como se ele fosse louco. "Ele JAMAIS faria uma coisa dessas... se ele foi capturado... e está preso agora... deve estar como um tigre numa caixa..."

***

Viktor não estava de todo errado. Luca se perguntava se teria paciência em esperar a colaboração do loiro a sua frente. Nunca vira alguém TÃO teimoso! Ou irritado! Ou... ou... chato daquele jeito!!!! Suspirou e disse para o outro, que tentava arrancar um pedaço de uma mesa para atacá-lo:

"Quer parar com isso? Você já está me irritando... Faz três dias que eu só venho conversar e tudo o que você faz é destruir meu quarto e jogar pedaços dele em mim..."

Aproximou-se de Flik, perigosamente. "Estou ficando tentado a jogá-lo na cama e fazer o que quero, de uma vez..."

Flik deu um chute na mesa, que virou, e gritou: "Tente! Tente! E eu arranco seu pinto fora, para você nunca mais tentar porra nenhuma como essa!!!!"

Luca põs a mão na testa e sussurrou: "Meu Deus... espero que ele valha a pena..." saiu do aposento e disse: "Seed virá fazer-lhe companhia... espero que se tornem amigos... " termina a sentença com tom sarcástico e sai.

Alguns minutos depois, muito relutantemente, a porta se abre e aparece a cabeça vermelha de Seed: "Paz?"

Ele tem como resposta um pedaço da mesa voando em sua direção.

"Argh! Pare com isso! Lord Luca vai me matar se souber que eu deixei você destruir... mais... o quarto dele!!!" Seed desvia e se defende. Fecha a porta a seguir, para evitar qualquer idéia do mercenário a sua frente.

"Que mate! Eu não me importo!!!" Voa na direção de Seed, pronto a esganá-lo. Seed corre para o outro lado do quarto e fica na defensiva. Ele era um general, e como tal, não estava tão fora de forma... mas o outro era mais alto... e mais forte... e parecia louco!! Ele nunca se dera bem com loucos...

"Calma!! Eu não vim aqui com más intenções! Lord Luca só me pediu que lhe fizesse companhia!!!" disse Seed, fugindo o mais que podia do mercenário enlouquecido.

Flik parou e ponderou: "Certo... você não parece ofensivo... e estou ficando cansado mesmo..." Senta-se na cama, já que todas as cadeiras do quarto ele destruiu para atacar em Luca ou em qualquer outro que entrasse.

Seed senta-se também, mas bem longe de Flik. "uff... eu acho que você deveria acalmar-se... sabe..." Diz com tom de segredo "se ele quisesse, já teria te estuprado há muito tempo... ele só não fez porque não quis..."

"Eu sei... e é isso que me preocupa mais... ele quer me comer, isso eu sei..." põe a mão no queixo, pensativo. "Mas não fez ainda... logo, ele deve estar pensando algo MUITO podre..."

"Como assim?" Seed pergunta. Enquanto arruma a bota.

"Não sei... aposto que o infeliz quer fazer com que EU goste dele... e com que EU peça para ele fazer isso..." levanta-se, irritado. "Mas ele vai MORRER SENTADO, se for esperar que eu faça isso algum dia!!!!" grita.

Seed olha de rabo de olho para Flik e pensa: "Esse cara não bate muito bem não... é melhor eu ficar atento... Culgan sempre me disse que loucos são mais fortes que o normal... e eu não quero morrer esganado com o lençol..."

Flik senta-se de novo, bufando de ódio. Seed pergunta: "Por que você não... quer fazer isso com ele? Não por nada, é claro..."

Flik tenta pegar Seed e socá-lo, mas Seed pula da cama. "PORQUE EU O ODEIO!!! MUITO!!! MESMO!!!!!!!!!!!"

"Eu entendi! Eu entendi! Calma, calma..." vai para o outro lado do quarto e pensa: "Socorro... socorro... estou preso com um psicopata..."
 


Aguarde a continuação de 'Prisioneiro de Highland'!!!


Data: 30/05/2001
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