Prisioneiro de Highland
por Fernanda del Rey





Parte Dois
 
 

A última coisa que Luca tinha era paciência, e esse rapaz já estava esgotando a pouca que tinha.

Flik... às vezes Luca se perguntava se capturá-lo e não matá-lo fora uma boa idéia... Nas vezes em que tivera o ímpeto de esganar o Trovão Azul e acabar com essa besteira, deixava-se desarmar pelo jeito de moleque revoltado do outro, com aquela franja loira rebelde caída desalinhada sobre os olhos azuis.

"Estou sendo um imbecil... esse Flik é teimoso como uma mula... ele NUNCA vai mudar de idéia..."

As tropas estavam se movendo em direção a Muse, e Luca, aliás, os generais de Luca, Seed e Culgan, estavam tendo um certo trabalho para conduzir Flik. Só após Seed ameaçar jogar a adorada espada de Flik num precipício, foi que este colaborou um pouco mais pacificamente.

Luca chamou Seed, que apareceu alguns minutos depois, chupando uma bala com ar displicente.

"Doce? Isso não é uma coisa muito ... 'soldadesca', é?" perguntou Luca sarcasticamente.

"Eu sei que não... mas..." parou pensativo. "O Flik gosta..."

"Como você sabe?" espantou-se Luca.

"Quando ele não está enlouquecido, até que dá pra ter um diálogo decente com ele... até que ele se dê conta que sou eu e pule a mesa para tentar me esganar..." longo suspiro. "Se bem que tenho que admitir que há toda uma... 'adrenalina' em conversar com alguém sem saber se vai sobreviver a isso..."

Luca põe a mão no queixo e fica pensativo. Será que ele tinha arranjado um meio de adoçar o Trovão Azul?

Mais tarde, no acampamento do exército de Highland, reinava relativa paz, se bem que temporária... Na barraca de Luca, estava Flik preso, com três guardas tomando conta da entrada. Flik só não os tinha matado com um pedaço da mesa porque Seed ameaçara jogar sua espada num abismo... e os guardas só não tinham tentado estuprá-lo por causa da 'promessa' de Luca em fundi-los todos num só.

Flik estava  sentado em uma cadeira, quase cochilando, quando ouviu uma pequena comoção à porta e Luca apareceu. Flik pôs-se de pé, revoltado, pronto para brigar.

"O que você quer aqui?"

"É a MINHA barraca, lembra-se?"

"... certo..." foi para um canto mantendo-se afastado de Luca.

"Você esta sendo tão arisco... Eu já não disse que não vou feri-lo?"

"É isso que me preocupa... o 'não ferir'... Você está pensando em algo pior que me ferir!

Luca enfiou a mão no bolso e tirou um pacote de balas. Flik ficou olhando desconfiado das balas para Luca, de Luca para as   balas.

"??? O que é isso?"

"O que parecem? São balas, ora! Quer uma?"

"Vindo de você? Nem morto!"

"Tudo bem...." deixou as balas sobre a mesa e saiu.

"..."

À noite, Luca voltou e encontrou Flik cochilando deitado em sua cama. Sorriu, ele era tão lindo assim, calmo, relaxado, com a franja loira caindo nos olhos e... babando em seu travesseiro???

Luca sacudiu a cabeça desconsolado... "Que coisa... o grande Blue Thunder babando no meu travesseiro... tsc, tsc"

Flik ressonou e virou-se de lado, permitindo, sem querer, que Luca apreciasse partes mais interessantes de sua anatomia.

"Bela bunda... argh, eu não quero ficar prestando atenção nisso, senão...."

Luca foi cutucar Flik, que acordou meio sem saber quem era.

"Que? Quem?" quando percebeu que era Luca ficou indeciso entre fugir ou não. "..."

"Que foi, Flik? Pensando em que?"

Flik rosnou, revoltado, alguma coisa inintelegível.

"kahrafdfterrfwermw..."

"Ha, ha, ha!" Luca riu da revolta do mercenário e tirou sua armadura, ficando apenas com uma calça e uma camisa.

"O que você está fazendo???"

"O de sempre. Vou tirar minha armadura para dormir... você não espera que eu durma com ela, não é?"

"... não."

Luca olhou para o lugar onde deixara as balas e viu que faltavam algumas.

"Então resolveu aceitar os doces que eu ofereci?"

"teeqrfadghau..."

"Você é uma graça, sabia?"

Flik revoltou-se de novo.

"Não sou! Não sou! ARGH!" jogou um sapato em Luca, mais pela força do hábito que por raiva. Já estava prisionero a três semanas, e estava até se acostumando com Luca... mas ainda estava desesperado para encontrar com Viktor... ele devia estar preocupado.

Antes que Flik se desse conta, Luca aproximou-se e segurou-lhe as duas mãos atrás das costas, imobilizando-o e ao mesmo tempo aproximando-se, ficando com a boca quase colada a orelha de Flik. Sussurrou, fazendo Flik arrepiar-se.

"Você também está aprendendo a gostar do nosso joguinho, hein?"

Flik remexeu-se revoltado e já ia praguejar alguma coisa quando foi calado por um beijo longo e quente, que impediu quaisquer palavras que pudesse ter dito.

Luca percebeu que valeu a pena aguentar os ímpetos raivosos do mercenário quando sentiu aqueles lábios macios tocarem os seus, mesmo contra a vontade do dono, e o corpo do guerreiro a sua frente relaxar um pouco em seus repuxos irados.

Flik arregalou os olhos, chocado num primeiro momento, mas quando sentiu a língua de Luca lambendo, quase discretamente, seus lábios, sentiu o corpo amolecer involuntariamente e abriu a boca, lentamente permitindo a entrada da língua de Luca por entre seus lábios. Sentiu, por um momento, vergonha de si mesmo, mas o beijo de Luca não era um beijo lascivo como ele esperava, mas quase um ritual de adoração à sua pessoa, e ele deixou levar-se, apreciando a sensação.

Quase tão subitamente como começou, o beijo acabou. Luca quedou-se admirando os lábios entreabertos do mercenário e deixou escapar um sussurro entredentes.

"Odeio aquele Viktor... ele não merece você..."

Flik abriu os olhos e ficou analisando Luca. Aquilo não parecia um bom presságio.




Aguarde a continuação de 'Prisioneiro de Highland'!!!



Data: 20/09/2001
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