Perdidos de Amor

Por Pollymele Hinode



1 - Amores Não Confessos
 
 

Após a batalha contra Hades, todos os cavaleiros, que haviam morrido em batalhas, voltaram à vida. Mas todos retornaram mudados, dispostos a serem pessoas melhores.

Shun dormia tranqüilamente em seu quarto. Ele e seu irmão, Ikki, haviam se mudado para um apartamento à beira-mar. Athena já não mais precisava dos cavaleiros, isso porque já não existiam mais inimigos. Então cada um seguiu seu caminho, mas sempre davam um jeitinho de se encontrarem para conversar.

Shun estava feliz. Aparentemente, seu sonho estava sendo muito bom. Talvez ele estivesse sonhando com um lugar ou uma pessoa especial. E assim o jovem de cabelos verdes permaneceu por toda a noite, sem perceber que alguém velava seu sono.

"Puxa, como dormi bem!" Pensou Shun, já levantando-se da cama. Neste momento percebeu que havia alguém dormindo na poltrona próxima a sua cama.

- Ikki! Ikki! Acorde, meu irmão!

- Ah? Ah! Shun...

- O que você está fazendo aí?

- Eu não conseguia dormir, então vim como você estava. Você parecia tão feliz... Isso me deixou mais calmo e acabei dormindo aqui mesmo.

Shun se senta na beira da cama, de frente para Ikki, com uma expressão séria na face.

- Estava pensando nele, não é?

- Em quem?

- Ikki, não se faça de desentendido comigo! Você acha que eu sou cego?

- Shun...

- Eu sei muito bem que você está apaixonado por Shaka! Não adianta negar! Eu vi, ou melhor, estou vendo como você ficou depois que soube que ele foi para a Índia! Você não come, não dorme, não quer sair com o pessoal, sem contar na quantidade de vezes que vi você chorando pelos cantos! Ikki! Se continuar assim você vai acabar ficando doente!

- Mas o que eu posso fazer, Shun? Ele foi embora e não vai mais voltar. Eu não consigo fazer mais nada, isso porque estou quase morrendo de saudades!

- Então não se torture mais! Vá! Vá atrás dele! Vá para a Índia e diga para ele que você o ama!

- Mas e você? Eu não posso ir pra Índia e te largar aqui sozinho!

- Não se preocupe comigo! Eu sei me virar sozinho. Além do que, no tempo em que você estiver fora, eu posso arranjar alguém pra morar aqui comigo. O que você acha?

- Tem certeza de que vai ficar bem?

- Claro! Você vai ver! Quando VOCÊS voltarem, eu vou estar arrumando o MEU apartamento. Assim você e o Shaka não vão precisar se preocupar com mais gente em casa e vão poder fazer o que QUISEREM em paz.

Ikki fica mais vermelho que uma pimenta, envergonhado com o que seu acabara de falar. Shun, por sua vez, tentava com muito custo segurar o riso diante da expressão envergonhada de Ikki. ( NA: Já imaginaram o Ikki vermelho por causa de algo que o Shun disse! ^_^ Não é uma cena NADA comum!)

- Certo então! Hoje mesmo vou comprar a passagem.

- Quando pretende ir?

- No sábado. Ah! Você já tem alguém em mente?

- Como assim?

- Pra morar com você?

- Não. Não tenho ninguém em mente.

- Bem... eu soube que o Hyoga está procurando um apartamento novo. Pro que você não fala com ele?

Agora é a vez de Shun ficar EXTREMAMENTE corado. Olhava para todos os lados, tentando escapar do olhar do irmão. Não que queria que este descobrisse seu segredo.

- O-o-o Hy-Hyoga?

- É! Tem algum problema?

- NÃO!!!

- Hn! Eu sabia!

- O que?

- Você gosta dele, não é?

Shun olha para Ikki com uma expressão chocada. "Como ele descobriu? O que eu faço agora? Já sei! Vou me fazer de desentendido" Rapidamente sua expressão passa de chocada para inocente.

- Claro que gosto! Ele é uma pessoa muito legal. Um grande amigo e companheiro. Ele sempre está pronto para ajudar os outros e...

- Não é a isso que eu estou me referindo!

- Es-está se referindo a o-o que en-então?

- Estou me referindo ao mesmo tipo de sentimento que tenho por Shaka. Amor, Shun! Você ama Hyoga, não é?

- Mas, mas...

- Não precisa Ter vergonha de falar isso pra mim, Shun.

- Eu acho... acho que gosto dele, sim, mas...

- Mas?

- Ele gosta de outra pessoa.

- Como você sabe?

- É só prestar atenção! Ele vive sonhando acordado! Parece até você quando pensa no Shaka!

- Ou você quando pensa nele. Shun, você me fez ver que eu só conquistarei o meu amado se eu lutar por ele. E agora você me diz que nunca terá aquele que ama ao seu lado sem nem ao menos Ter tentado conquista-lo!? (NA: Bravo, bravo!!! Quem diria que Ikki poderia lidar tão bem com as palavras! ^_~)

- É diferente, Ikki!

- Me diga onde está a diferença porque eu não estou vendo! Agora vamos tomar café porque 'saco vazio não para em pé'!

Ikki foi para a cozinha preparar o café. Estava se sentindo muito melhor após a conversa com Shun. Só esperava que o irmão também tivesse tomado coragem para contar a Hyoga como se sentia.

Shun aproximou-se da janela de seu quarto. Estava pensando no que seu irmão dissera. "Seria muito bom morar com Hyoga, já que poderia vê-lo todos os dias. Mas será que serei capaz de controlar este desejo se sentir seu corpo junto ao meu?" Estava confuso, mas tinha que tentar capturar o coração de seu cavaleiro de cabelos dourados e olhos de safira.

Num campo, de ficava um tanto quanto afastado da cidade, um jovem estava deitado. Seus olhos cerrados, sua respiração pausada, seu corpo relaxado, sua mente... longe. Tão longe que ele nem percebeu a aproximação de outro rapaz, o qual trazia uma rosa nas mãos.

- No que está pensando, Mu?

- Hn? Ah, é você Aphrodite!

- Sim. Posso me sentar aqui?

- Claro, fique a vontade.

- Obrigado. E então?

- Então o que?

- No que estava pensando?

- Na vida.

- Na vida?

- É...

- Coisas boas ou ruins da vida?

- Ambas.

- Ah! Então estava pensando no amor.

- Por que acha que eu estava pensando no amor?

- Simples. O amor deixa tudo mais vivo ao nosso redor, enxergamos a beleza das coisas com mais facilidade, nos faz ver a harmonia entre os seres vivos, por isso, é uma coisa boa. Mas também nos machuca mortalmente quando não sabemos se a pessoa amada nos ama ou se somos rejeitados por esta pessoa. Isso é uma coisa ruim.

- Fala como se soubesse bem o que é amar.

- E sei. E acho que você também sabe.

- Talvez. Bem... eu vou pra casa.

- OK. Agente se vê por aí.

- Até mais.

- Até.

Um foi andando em direção à estrada que o levaria até a cidade. "Amor. A única coisa no mundo que pode curar e ferir ao mesmo tempo." Pensou. Neste momento a imagem de um rapaz de cabelos e olhos da cor da mais bela esmeralda surgiu em sua mente. "Shun, se você soubesse..."

Aphrodite permaneceu olhando Mu caminhar para longe. Observava seu modo de andar, o modo como seus braços balançavam, o modo como seus cabelos voavam, soltos ao vento... "Sim Mu, eu sei muito bem o que é amar. Isso porque eu amo você." Disse mentalmente, ao mesmo tempo em que se levantava para ir para sua própria casa.

Trrriiimmm... trrriiimmm...

- Alô?

- Alô. Eu gostaria de falar com o Shun, por favor.

- É ele.

- Oi Shun! Aqui é o Seiya!

- Oi Seiya.

- Eu queria convidar você para ir na nova casa do Milo amanhã de noite.

- Por que VOCÊ está me convidando?

- Milo vai dar uma reunião com todos os ex-cavaleiros e me pediu pra ajudar a convidar todo mundo.

- Ah! OK, eu estarei lá.

- Ótimo! Não se esqueça de carregar o Ikki com você, OK?

- Irei tentar.

- OK. Nos vemos lá então.

- Certo.

- Tchau.

- Tchau.

Shun desligou o telefone e sentou-se no sofá. Ikki olhava para ele com um olhar interrogador.

- Quem era?

- Seiya.

- O que ele queria?

- Ele ligou pra nos convidar para ir na festa que o Milo vai dar. Você vai comigo, não vai?

- Quando?

- Amanhã de noite. Por favor, Ikki, vai comigo!

- Tudo bem, mas eu vou voltar cedo. Sábado de manhã eu tenho que embarcar no primeiro vôo para a Índia.

- Combinado! Vamos, ficamos um pouco e voltamos.

- Você não precisa voltar comigo, Shun. Pode ficar até mais tarde. E vê se aproveita e joga um charme no Hyoga.

- IKKI!!!

Ikki sai correndo para seu quarto e tranca a porta. Shun corre atrás e fica socando a porta mandando o irmão abri-la.

Sexta de manhã.

Shun sai para fazer compras. As ruas estavam cheias, como sempre. Ele para em frente a uma vitrine para olhar algumas camisetas que estão expostas. Neste momento sente uma mão ser colocada sobre seu ombro e vira-se para encarar a pessoa que estava atrás de si. Lá estava Mu. Shun abriu um lago sorriso ao ver o amigo que a tanto tempo não comparecia nas festas dadas por Seiya.

- Mu! A quanto tempo!

- Olá Shun! Faz mesmo muito tempo que não nos vemos!

- E como está você? E o Kiki?

- Eu estou bem. O Kiki está treinando bastante. Disse que um dia será o Cavaleiro de Áries. Mas isso nós só saberemos daqui a uns 5 ou 6 anos, quando fizerem um novo torneio para escolher os novos cavaleiros. Afinal, todas as armaduras estão 'desocupadas' agora.

- É verdade. Eu soube que você está trabalhando aqui na cidade. Está morando aonde?

- É, eu estou trabalhando no museu. Todos nos, Cavaleiros de Ouro, viemos morar no Japão assim que fomos ressuscitados. Eu estou morando num apartamento aqui perto.

- Kiki está treinando no Santuário?

- Não. Ele está treinando aqui no Japão mesmo. E você, como vai?

- Bem. Eu e Ikki moramos a quatro quadras daqui, mas eu vou Ter de arranjar outra pessoa pra morar comigo.

- Por que?

- Ikki vai para a Índia amanhã pela manhã. Vai atrás de Shaka.

- É verdade. Shaka foi o único que, ao invés de vir para o Japão, voltou para sua terra natal.

- Sim. Ikki sente muito a falta dele.

"Não fique com essa cara triste, Shun. Eu não gosto de ver você assim." Pensou Mu, olhando para o rosto entristecido de Shun. "É melhor eu mudar de assunto!"

- Bem... eu estou indo pra casa. Não gostaria de vir conhece-la?

- Se não for um incomodo pra você?

- Não!!! Absolutamente não! Você NUNCA incomodou, NÃO incomoda e estou certo de que NUNCA incomodará! Ao contrário, é sempre maravilhoso estar em sua companhia.

Shun fica encabulado ao ouvir essas palavras de Mu. Sua face ganhou um tom suave de rosa. "Mu é sempre tão gentil e educado! Sempre com um elogio ou palavra de apoio na ponta da língua." Pensou Shun olhando para Mu.

- Muito obrigado, Mu.

- Vamos então.

- Claro!

Caminharam lado a lado durante algum tempo. Para todos os lados que olhavam viam meninas cochichando, olhando e soltando gritinhos como "lindos", "fofos" e coisas do gênero. Os dois se olharam e sorriram. Por causa das roupas pareciam uma dupla. Mu vestia calça jeans, uma regata verde, tênis branco e tinha o cabelo preso em um rabo baixo. Já Shun vestia calça jeans, um blusa de meia manga verde, tênis branco, um colete, aberto, jeans e tinha o cabelo solto.

Pararam, repentinamente, em frente a um belo prédio, com jardim e piscina. Era ali que Mu e Kiki moravam. Mais precisamente, no sexto andar do prédio. Entraram no apartamento. Na sala haviam dois sofás de três lugares, uma mesa de centro e uma estante com uma TV, fotos, livros e um telefone. A cozinha era bem equipada, assim como a lavanderia. Haviam dois quartos, cada um com seu próprio banheiro. Um dos quartos era extremamente organizado. Tinha uma cama, uma escrivaninha, um armário e uma estante com livros revistas e um som. Era, definitivamente, o quarto de Mu. O outro estava todo bagunçado. Tinha uma cama, um armário, uma estante e uma escrivaninha. Não era possível descrever mais detalhes pois haviam roupas espalhadas por todos os cantos possíveis e imagináveis, um verdadeiro caos. Era o quarto de Kiki.

- Não repare. Não é muito grande ou luxuoso, mas é confortável.

- Não se preocupe, eu não reparo nessas coisas.

- Sente-se. Quer beber algo? Uma água ou um suco?

- Eu agradeceria se você me arranja-se um copo de suco.

- É pra já!

Mu foi até a cozinha. Estava suando frio. A pessoa que ele mais amava estava lá, SOZINHO, com ele. Queria poder abraça-lo, beija-lo, toca-lo... De repente uma doce e calma voz fez com que Mu saísse de seu transe.

- Onde está o Kiki?

- Ele saiu cedo. Foi treinar nos campos, fora da cidade.

- A propósito, você vai na festa do Milo hoje a noite?

- Eu não sei. Kiki não quer ir e eu tenho receio de deixa-lo sozinho em casa.

- Mas ele já tem idade pra ficar sozinho! Vamos Mu! Não é todo o dia que a gente pode se reunir para se divertir.

- Você vai?

- Sim. O Ikki também, mas ele só vai ficar um pouquinho.

- Acho que também vou.

- Ótimo!

- Aqui está seu suco.

- Obrigado. Vem, agora você vai me contar TUDO que andou acontecendo neste tempo em que a gente não se viu!

Shun puxou Mu pela mão até um dos sofás. Mu estava envergonhado por Ter segurado na mão do rapaz de cabelos verdes. Começaram a conversar animadamente.

Duas horas depois...

- Meu Deus! Olha a hora! Eu ainda tenho que ir ao mercado!

- Que pena que você tem que ir tão cedo.

- Mas nós vamos nos ver na festa mais tarde.

- É verdade.

Shun despediu-se rapidamente de Mu. Mas antes de ir fez Mu prometer que conversariam mais durante a festa. Mu sorriu e fez a promessa a Shun. Ao fechar a porta, Mu começou a pular e dançar na sala tamanha era sua felicidade de Ter podido passar todo aquele tempo com Shun, sem ninguém para interrompe-los.

- Alô?

- Alô, por favor, Camus está?

- Quem gostaria de falar?

- Diga de é Milo.

A senhora de idade já avançada vai até o quarto ao fim do corredor. Ela era a empregada da casa. Uma pessoa muito séria, mas com um bom coração.

Toc, toc, toc...

- Entre.

- Com licença Sr. Camus.

- O que foi Ada?

- O Sr. Milo deseja falar com o Sr. ao telefone.

- Milo? Isso é estranho. Ele parecia preocupado?

- Não diria preocupado, mas nervoso, Sr.

- Nervoso? Milo? Será que aconteceu alguma coisa?

- Acho que o Sr. deve perguntar diretamente a ele.

- Eu irei atender aqui. Pode se retirar.

- Sim Sr.

Ada saiu do quarto, indo em direção à sala para desligar o telefone. Ela sabia muito bem o porquê da preocupação de seu patrão.

- Alô?

- Olá Camus. Como vai?

- Bem, obrigado. Por que está me ligando?

- É que... bem... você sabe que... eu me mudei e... resolvi fazer uma... 'festinha'... para os amigos. Eu queria saber se... por acaso... você iria vir.

- Quando?

- Hoje. Lá pela 19h.

- Claro. Estarei aí.

- ÓTIMO!!! Er... quer dizer... que bom!

- Nos vemos mais tarde.

- Certo. Ah! E como vai o... Hyoga.

- Faz tempo que não o vejo.

- Você gosta dele, não é?

- Na verdade, eu não sei.

- Ah...

- Bem... nos vemos às 19h.

- OK. Tchau.

- Tchau.

Camus desliga o telefone. "Eu não sei se gosto dele... ou de você, Milo." O ex-cavaleiro de Aquário se deita na cama pensando nos dois rapazes que conseguem, sem dificuldade, tirar-lhe o sono.

Continua...