Conflitos
Por Senhorita Mizuki

Capitulo 3
 
 

Tire suas mãos de mim
Eu não pertenço a você
Não é me dominando assim
Que você vai me entender

Será, Legião Urbana

Durante a semana que se seguiu, os companheiros de Camus e Milo não os reconhecia mais, agiam de forma diferente, estranha à que estavam acostumados.

Para começar, a dupla não foi vista andando unidos uma vez sequer na semana, não houve uma troca de palavras. Pareciam evitar qualquer encontro casual, desviavam o olhar quando passavam um ao lado do outro.

Tomando um ar fresco em frente a Casa de Áries, sentado no topo da escadaria, Mu aproveitava seu tempo livre. Como sua casa era a primeira da série de doze, possuía a vista das arenas, de lá, podia ver todas as atividades do Santuário.

Intrigado, observava os dois cavaleiros de elite, comentados agora a pouco, um em cada canto. Treinavam seus respectivos aprendizes, Hiyoga e Shun, esse ultimo acompanhado da amazona de camaleão.

Num dado momento, começou a rir baixinho, logo desatando a gargalhar deliciosamente. Shaka, que descia as escadas, parou ao ver o divertimento de Áries.

- Ora, que alegria toda é essa, Mu? - o outro não respondeu - Do que está rindo?

Ainda rindo, apenas apontou para as duas figuras ao longe. Virgem acompanhou o movimento com o olhar, franzindo as sobrancelhas.

- Camus e Milo...Que é que tem?

- Presta atenção, não tem algo estranho?

- Agora que mencionaste, tem sim. Estão a poucos metros de distância, mas parecem que nem notam a presença um do outro. Que é isso, eles vivem trocando olhares e sorrisos!

- Tem coisa mais infantil que essa?

- Infantil?

- Vê se tu acorda, Shaka! Ta na cara que os dois estão brigados, onde é que você estava nessa semana, na lua?

- Ah...por isso que Milo tem freqüentado minha casa mais do que o costume...

- Só você mesmo para não perceber nada, Shaka...Mas é hilário, não acha?

- Hilário? Eu acho trágico! E como são orgulhosos, nenhum dos dois vai ceder e voltar atrás.

- Realmente...uma pena...

- Tire esse sorriso da cara, Mu. Camus ainda anda com uma plaquinha nas costas de "cuidado, cão bravo", ou melhor, "cuidado, escorpião bravo"...

- Ei! Mas você tem que admitir que a situação chega a ser tentadora, não me culpe!

Virgem balança a cabeça, inconformado. Continuou a descer as escadas, despedindo-se do amigo, tinha um bad boy para domar. Primeiro tinha de encontrar o desgraçado do Ikki, que estava atrasado para o treino, como sempre...Atrasado? A quem queria enganar, ele fazia aquilo de propósito!

Indo para a cena observada pelos dois cavaleiros, Hiyoga penava em uma prova de resistência. Camus estava tão frio e distante quanto um professor rígido e impessoal de um internato europeu, a expressão impassível e o repreendendo a todo minuto, apontando seus erros.

Num momento de distração, lançou um olhar discreto para onde Milo e Shun também treinavam, rendendo-lhe um braço congelado.

- Hiyoga, preste atenção! Por acaso quer morrer?

- Desculpa...

- Sua posição está incorreta, endireite essa coluna! Temos de começar de novo!

- Sim, senhor...

Estava aborrecido com Milo, mas tinha de admitir que deveria estar satisfeito com a separação. Estava sendo difícil acostumar-se com a frieza entre os dois mestres, e com a nova relação com Camus.

No outro canto, Shun não tinha as mesmas preocupações. Estava tão ocupado em agradar ao mestre, que mal notava o que acontecia bem abaixo do seu nariz. A cada progresso, por menor que fosse, Andrômeda vibrava de alegria. Milo sorria-lhe e passava a mão na sua cabeça, incentivando-o a continuar, sem vacilar.

Hiyoga chegou desanimado a uma triste conclusão, o rompimento acabou afastando Camus de si, enquanto fez Milo se aproximar mais de Shun.

- Alexei Hiyoga Yukida!

- Hã?

- Ah, eu desisto! Melhor encerrar por aqui!

O russo abaixou a cabeça e ruborizou, envergonhado ao ser repreendido em público, chamando a atenção de todos que treinavam próximos a eles, inclusive Milo e seus alunos.

Esgotado, aquário desafivelou as ombreiras, soltou os braceletes e joelheiras, largando-os no chão. Pegou uma das toalhas e a jogou na cara de cisne, pegando a outro para si, e foi andando em direção das doze casas.

Continuou de cabeça baixa, no mesmo lugar, triste e constrangido por ter falhado mais uma vez, uma sucessão de distrações e erros imperdoáveis. Levantando o olhar, flagrou Milo fitar desolado a figura ao longe. O cavaleiro percebeu que era observado e estreitou os olhos para o loiro, jogando os cabelos para trás, numa atitude de desafio.

Sentindo-se incomodado com ela, Hiyoga virou-se e saiu rápido dali.

Abraçava o próprio corpo, segurando as lagrimas a todo o custo, mal percebeu que era perseguido. Foi puxado para um canto, enquanto passava entre as arvores de um bosque, e pressionado contra um tronco.

- Ei! Quem...Ikki?

- Shhhh.- colocou o dedo sobre os lábios.

- Para quê me assustar desse jeito, ta maluco?

- Há há...é divertido, num estressa.

- Divertido...só se for para um demente feito você!

O rapaz alto continuou rindo, divertindo-se ainda mais com o esforço que o russo fazia tentando se desvencilhar das mãos de ferro que o prendia. Hiyoga desistiu, olhando aborrecido para Fênix.

- Me solta, Ikki!

- Não quero, você fica melhor assim.

- Não provoca, que hoje não estou para brincadeiras estúpidas! Arranja outro idiota para atazanar!

Esbravejando, Ikki largou-o, segurando o braço dormente que Cisne havia congelado. Deixando-o no mesmo lugar xingando meio mundo, o loiro foi sentar-se na grama, com as pernas cruzadas, acompanhado pelo outro.

- Credo, Hiyoga. Para que ser tão certinho, chato, não consegue levar uma brincadeira numa boa? Precisa sair mais e relaxar, rapaz!

- Hunf!

Sair...a última vez que havia ouvido esse palerma, ficou ferido moralmente perante todos e seu mestre, e perdeu algo que nem sabia que possuía. Porquê havia feito aquilo, seria vingança?

Naquele dia, depois de ver o que não queria ter visto, e correr feito doido pelo santuário, havia encontrado Ikki pelo caminho, pulando um muro. Este dissera aonde ia, e avisara que nenhum sermão seu adiantaria, e o convidou a segui-lo, claro que brincando. Para a surpresa do colega e sua, apenas pulou o muro e concordou em ir. Na hora só pensava em sair dali, não importava para onde o levaria.

Numa mesa pequena e redonda, Ikki despejou o líquido amargo no copo longo a sua frente. Viu ele tomar tudo num gole, e o imitou, engasgando ao fazê-lo.

- Calma, vai devagar!

Bebiam todas as garrafas que eram postas na mesa, perdera até a conta de quantas tomaram. Lembrava-se que sua voz começou a ficar pastosa e que falava sem parar, mas dizia nada com nada. Conversa de bêbado, presumiu. Não recordava o que havia dito ou feito, e dava graças, seria humilhante.

A distância entre os cavaleiros era mínima, não sabia se propositalmente, Ikki roçava de leve seu dedo no seu, sobre a grama. Hiyoga franziu as sobrancelhas, desconfiado. Desde quando ele era afeito a aproximações feito aquela? Mal dera tempo para que o pensamento completasse.

Com uma habilidade admirável, Fênix havia deitado de costas no chão, ficando sobre si. Antes que sua mente processasse o que acontecia, sua boca foi coberta, invadida pela língua molhada e quente.

Em estado de choque, ficou impossibilitado de qualquer ação ante a investida ávida. Os lábios moviam intensamente, procurando arrancar uma resposta igual ou maior.

June e Shun passavam naquele instante pelo bosque, discutindo alegres. Aquele , coincidentemente, era um atalho que alguns tomavam para os alojamentos. Um belo lugar para passear, calmo e bonito.

A amazona estancou boquiaberta com a cena dos dois belos rapazes deitados na relva. Andrômeda estranhou e ia virar-se, sendo impedido por June. A moça o segurou pelos braços, ficando frente a frente com ele, e colocando-o de costas para os cavaleiros.

- Não!

- Não o que?

- Er...Não vamos por aqui, não.

- Mas já estamos chegando, para que voltar tudo de novo?

- Ahn...sabe o que é? Me deu uma vontade tremenda de comer melancia, será que não podíamos voltar e ver se na feira da cidade tem alguma?

- Melancia? Aqui? E nessa época do ano?- colocou a mão na testa da moça - Você esta bem? Não vá me dizer que...Está grávida, June?

- O quê?- fez uma cara patética - Só se for do espírito santo! Qual o problema?

- Tem certeza?

- Tenho! Deixa de ser molenga, que eu to com fome!

Puxou Shun para fora, respirando aliviada ao constatar que ele nada havia percebido.

Alheios ao que acabara de se passar, os dois jovens continuavam na mesma posição. Até que Hiyoga decidiu reagir, sentindo seus sentidos voltarem, junto com a razão. Empurrou-o bruscamente, passando as costas das mãos nos lábios, com uma expressão de nojo.

- O que está fazendo, seu idiota?

- Ora! Vai dar uma de virgem ofendido, agora/

- Como é que é?

- Não se faça de desentendido, Hiyoga. Flerta comigo e depois tira o corpo fora?

- De que diabos você esta falando, por Zeus?

- Da noite no bar, por que outra razão teria vindo comigo? Deu em cima de mim a noite inteira!

Cisne abriu a boca, estupefato, fazendo Ikki ficar mais confuso ainda.

- Ou eu entendi tudo errado?

Jogou fênix no chão com um safanão, correndo de novo, cheio de repulsa. O próprio companheiro, que praticamente crescera junto com ele. Como Camus podia sentir uma coisa dessas por alguém assim?

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Ocupava-se na sua outra atividade paralela, a de homem de negócios. Sua alma ambígua mantinha um pé no passado, sendo um cavaleiro de Athena, portanto uma lenda, e o outro no futuro, preocupado com os avanços do mundo humano moderno.

Mas ultimamente estava difícil manter a atenção nos treinamentos ou nos números. Sua mente estava cheia de coisas inúteis, que travavam sua cabeça, desconcentrando-se.

- Olá?

A palavra fora dita em som baixo, mas bem próxima ao seu ouvido, fazendo-o tomar um susto. Deixou os arquivos escaparem das mãos e as folhas espalharem pelo chão de mármore.

- Oh, não!

- Desculpa! Deixa que eu te ajudo.

O homem que o havia assustado era alguns anos mais velho, e um dia fora dono daquele templo. Saga agachou-se e começou a juntar os papéis, entregando-os sorridente para Camus, que agradeceu cortês. Ninguém poderia imaginar que aquele ser belo e simpático, um dia fizera coisas terríveis em prol da ambição de dominar o mundo.

"São as ironias da vida...", pensou aquário, intimamente. Não guardava mágoas nem raiva por ter sido um mero marionete em suas mãos, afinal, tinha que admitir que também tivera sua parcela de culpa ao deixar-se ser subjugado. Ao contrário de Milo, que parecia querer pular no pescoço de Gêmeos cada vez que o via.

"Milo..."

- E pensar que esse aposento já fora meu...

- Pois é...as coisas mudam.

O antigo mestre ajudava a organizar os papéis nos arquivos, sentado do outro lado da mesa grande. Camus apenas ouvia e sorria a cada comentário, ocupando-se em analisar os calhamaços.

- Sabe, eu lembro como se fosse ontem...Vocês eram novos, adolescentes...bom, eu também era jovem.

Terminou o que fazia e encostou-se na cadeira, olhando para a janela pensativo, com a mão no queixo.

- Havia uma coisa que eu achava engraçada...enquanto os rapazes da sua idade treinavam feito doidos nas arenas, querendo ficarem o mais forte possível, lembro-me de você vir aqui sempre, todo tímido, com uma pasta desgastada a tiracolo. Eu mandava entrar e sentar onde estou agora, e esperava curioso aquele geniozinho começar a falar.

Camus levantou rapidamente a cabeça e sorriu, mostrando que compartilhava dessas lembranças.

- me entregava a pasta e começava a expor idéias mirabolantes, ficando entusiasmado cada vez mais. Atropelava nas palavras, mas queria a todo custo fazer-se entender. Falava coisas tão complicadas para um rapazinho daquela idade...

Levantou-se e caminhou lentamente para o outro lado, postando-se atrás de Aquário, apoiando-se no encosto alto da poltrona.

- Era encantador...Aquele sotaquesinho francês, que por causa dele acabava embolando tudo, a pose de intelectual, mostrando sua educação diferente da maioria dos cavaleiros daqui...

Inclinou sobre ele, aproximando a boca da orelha, Camus estremeceu ao sentir a respiração próxima a sua face esquerda.

- Às vezes eu nem prestava atenção no que dizia, mas fingia estar interessado, só para vê-lo ali e daquele jeito. Tinha de me segurara para não pegá-lo no colo e beijá-lo, mas era tão inocente...

Depositou um beijo estalado na bochecha rubra do francês, afrouxando a gravata sisuda e desabotoando a camisa branca, para depois passar a mão por dentro dela, sentindo a maciez da pele. Mordiscou a cartilagem delicada da orelha, antes de sussurrar nela.

- Cadê aquele menino precoce que eu adorava, Camus?

- E-eu n-não...não estou entendendo...

- Eu interrompo a reuniãozinha particular?

Rapidamente, Saga retirou as mãos e endireitou-se ao reconhecer o intruso, deixando Camus ainda mais vermelho.

- Kanon? O que faz na Grécia?

- Tenho assuntos a tratar com Camus, Saga.

Olhou para a camisa aberta de Aquário, de peito à mostra, com uma sobrancelha levantada. Envergonhado, percebeu sua situação e tratou de se recompor, ajeitando a gravata.

- Negócios? Mas já não acertei tudo com você por telefone? Creio que está tudo pronto para a inauguração da fábrica dos Kido e dos Solo.

- Não, não é nada com Saori, isso esta resolvido. Julian quer falar com você, pessoalmente.

- Problemas?

- Ele não disse nada, só mandou buscá-lo. Tem um jato pronto para partirmos.

- Não disse é? Que milagre...se bem que eu não acredito...Certo, vou arrumar uma mala, volto já.

Saiu, fechando as duas imensas portas. Saga olhou furioso para o irmão, que devolveu com uma risada sarcástica.

- Eu estava quase conseguindo, seu estraga prazeres!

- Sei...e você acha mesmo que ele ia deixar barato assim? Bateu a cabeça ou coisa parecida?

- Muito engraçado, Kanon. Não...Camus e Milo estão brigados, acho que romperam, pensei que poderia ter alguma chance.

O gêmeo piscou os olhos várias vezes, ficando alerta.

- Como é? Verdade? Que notícia boa está me dando!

- É, mas não fique tão animado. Fique com sua versão francesa mini, que é mais garantido.

- Isso eu decido. Romperam mesmo, tem certeza?

- Faz uma semana que não andam juntos, que não se falam...

- Puxa...

As portas foram escancaradas por um Camus de olhos arregalados, os dois pularam de susto.

- Vocês sabiam?

- Sabiam do que?

- Não se façam de tontos!

- Bem...er...assim...- Saga ficou sem graça, não sabia como responder.

- Mais bandeira, só se vocês dois saíssem gritando aos quatro cantos, Camus...- Kanon interrompeu impaciente o irmão.

- Sério? Como assim? TODOS sabiam?

- Sinto confirmar...mas sim.

O francês exclamou frustrado e saiu arrastando os pés, tivera tanto esforço para nada no fim. Quanto tempo foi obrigado a se abster da companhia de Milo para não levantar nenhuma suspeita de serem mais do que meros amigos?

Gêmeos socou o braço do irmão, assim que ficaram sozinhos.

- Ai! Porquê?

- Tinha de dizer de chofre? Viu como o coitado saiu daqui?

- Mas ele perguntou, eu não podia mentir...

Saga cruzou os braços aborrecido, ficando de costas para Kanon. Revirando os olhos, o cavaleiro marinho o abraçou por trás, beijando a nuca dele.

- Não fica bravo comigo...

- Hunf!

Começou a fazer cócegas nele, fazendo-o rir e quebrar sua defesa.

- Pára com isso! Camus pode voltar a qualquer momento.

- Oh, então teremos que ser rápidos!

- Haha...você não tem jeito...

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N.A.: Ta...eu admito, ficou horrível e curto, feito às pressas, no próximo eu tento melhorar...