Kokoro no Naka de
( Dentro do Coração )

Por Yukina-chan


 

 Estava entediado... O céu estava cinzento, assim como seu coração. Desse jeito, parecia que a natureza compartilhava de seus sentimentos. Por alguma razão sentia-se muito desanimado... Não que fosse um motivo qualquer.

 A primavera ainda estava por chegar e enquanto isso o frio dominava tudo. Isso também não
era exatamente a causa de sua agonia...
 

 Logo seria noite e ela traria seu companheiro.

 Um longo suspiro de exasperação escapou por entre seus lábios. Estava com saudade, mas por enquanto só poderia esperar.

 Hiei estava jogado na poltrona, seus ombros apoiavam-se a um dos braços macios e suas pernas ficavam sobre o outro. Aquela era a poltrona favorita de sua raposa e, de certa forma, sua também. Passava as vezes o dia todo ali, apenas sonhando com o momento de novamente ter o ruivo em seus braços.

 O youkai gostava dela, porque era como se estivesse aconchegado ao colo gosto de Kurama, a poltrona tinha o cheiro de flores de seu cabelo vermelho, permitindo a ele fechar os olhos e deixar sua imaginação fluir até finalmente adormecer... Só assim o tempo passaria mais rápido.

 As vezes arrependia-se profundamente por não estar no Makai, mas permanecia naquele mundo que costumava não entender e isso fazia uma pequena dorzinha chata despertar em seu coração...  Felizmente, tudo era compensado quando podia ver o mais leve sorriso de satisfação iluminando a face de Kurama.

 Hum... Aquele sorriso... Só de pensar esqueço até de respirar...

 Mais uma vez, seus belos olhos vermelhos voltaram-se para a mesinha para ver a hora.

 Constatou com certa alegria que Kurama chegaria logo.

 - Hn! - mas resmungou ao olhar para aquela maldita máquina que atendia os telefonemas - essa porcaria passou o dia todo me enchendo... Era sempre isso... Dia após dia aquela máquina torturava-o com vozes estridentes que diziam coisas desavergonhadas que mal  Hiei tinha coragem de falar a sua raposa, talvez só nos momentos mais loucos de amor.
 
 

 Os sentidos se aguçaram quando o som da chave virando na fechadura foi captado por seus ouvidos sensíveis.

 Kurama sorriu ao deparar-se com o rostinho fofo de seu pequeno koorime observando-o com carinha de criança abandonada fazendo-o sentir-se culpado por seu youkai, era culpa sua se Hiei passava seus dias entocado no apartamento ao invés de estar no Makai batalhando como gosta, por sua causa, seu fofinho resolvera ficar, pacientemente, no Ningenkai esperando-o.

 Com um sorriso, a raposa aproximou-se para beijar o pequeno demônio.

- Tadaima, sentiu minha falta, itoshii?- murmurou ao ouvido de seu namoradinho - Sabe, eu passei o dia todo pensando em voccê! - continuou dizendo enquanto descia beijando o pescoço muito pálido, então aspirou profundamente o cheirinho gostoso que só seu koorime possuía, podia sentir Hiei se arrepiando todinho até não agüentar mais e gemer baixinho.

- Raposa...

- Eu te amo muito, sabia?

O youkai escondeu o rostinho entre os cabelos vermelhos e respondeu baixinho:

- Hai...

 Kurama sorriu ternamente ao demônio de fogo, estava de joelhos, inclinado sobre o Koorime, seus braços entorno do pescoço, puxou-o mais para perto enquanto apoiava seu peso sobre o corpo menor, iniciando um braço muito carinhoso. A raposa notou que seu namoradinho não respondia com a mesma intensidade, não sabia porque, mas teria que fazer algo se quisesse saber o que acontecia.

- Quer sair para uma voltinha? Podemos tomar um sorvete... - sugeriu brandamente enquanto acariciava os cabelos negros de um modo bem lento.

 O Youkai olhou bem dentro das duas esmeraldas brilhantes. É, Kurama está falando sério... Então sorriu meio de lado. Talvez fosse isso o que estivesse precisando mesmo, já não colocava o pé fora de casa há pelo menos cinco dias...

- Certo... - deu de ombros enquanto tentava soltar-se dos braços de Kurama que lhe infligiam cócegas, apenas para provocá-lo.
 
 

*=*==*=*





O ruivo olhou seu namorado pelo canto do olho. Sabia que Hiei não era comunicativo, mas o silêncio já havia se tornado pesado. O Youkai não fizera, pelo menos, um "Hn". Ele andava ao seu lado, mas parecia estar sozinho, olhava para frente, sem expressão no rosto, as mãos dentro do bolso em uma atitude aparentemente calma...

 Não pôde deixar de soltar um suspiro desalentado. Não estava sendo como programara...

- É... Acho que não foi uma boa idéia sairmos agora, não é?

 Ele não respondeu, apenas parou de andar.

- Bebê, fala comigo!

- Falar o quê?

- Qualquer coisa... - disse dando de ombro e sem encarar o demônio de fogo.

- Não sei...

 Kurama desistiu de tentar uma conversa. Esticou o braço e segurou o ombro de Hiei fazendo-o voltar-se. Um beijo foi trocado entre eles.

- Vamos ao nosso cantinho?

 Talvez lá pudesse fazer com que Hiei revelasse a razão de seu humor.
 
 

*=*==*=*

 Os olhos verdes encararam o céu como se buscando uma resposta, quando sentiu o koorime se achegando junto ao seu peito. A raposa não pôde deixar de sorrir e passou o braço sobre os ombros menores, puxando o corpo pequeno para junto de si. Inclinou-se para frente tentando ver o rostinho de seu namorado.

O cabelo negro caía sobre os olhos impedindo que Kurama pudesse vê-los e descobrir o que realmente acontecia com seu fofinho.

 Estavam sentados em um banco, sob uma enorme árvore, aparentemente morta que amparava em seus galhos retorcidos a neve que enfeitava tudo com seu branco e dava uma atmosfera diferente àquele passeio de fim de tarde.
 

 De repente a voz grave interrompeu o silêncio pesado.

- Raposa... Já estamos juntos há muito tempo, não é?

- Sim, meu amor... São cinco longos anos... - suspirou nostálgico.

- Você ainda me ama? Digo... Daquele mesmo jeito...

- Hiei, não acredito que está me perguntando isso... É lógico que eu te amo! Por favor, nunca mais pergunte uma coisa como essa! - respondeu indignado com aquele conversa - Nunca mais, entendeu, itoshii? - segurou o youkai pelos ombros numa tentativa de conseguir ver seus olhos e entender o que se passava.

 Mas não conseguiu.

 Hiei apenas ficou quieto. A cabeça baixa o cabelo preto cobrindo os olhinhos vermelhos

 O Youko não sabia o que fazer... Estava perdido, Hiei nunca agira daquela forma, parecendo tão inseguro, vulnerável. Fez a única coisa que lhe ocorrera pela cabeça: Puxou o koorime para junto do peito enquanto acariciava as costas. Assim, talvez acalmasse seu bebê.

 Minutos se passaram até que o silêncio fosse novamente quebrado.

- Mas acho que estou perdendo você...- murmurou baixinho, junto ao pescoço do ruivo.

- Bem... Eu...

- Não é só isso... Sabe, a vezes eu queria que você fosse só meu!

- Mas eu sou!!

- Não, deixa eu terminar! - fungou esfregando o nariz rudemente - Queria que você não visse maiis outra pessoa além de mim, que escutasse só a minha voz... Que todas as palavras que saem de sua boca fossem para mim... Queria me trancar em um lugar onde só nós pudéssemos entrar e ficar abraçando um ao outro.

- Mas, meu amor, o que está pedindo é realidade! - Kurama segurou o rosto de Hiei com as duas mãos protegidas por luvas - Isso acontece todos os dias, o tempo todo, entende?

- Mas você ainda me ama?

- Amo! Amo muito... Não entende? Esse lugar existe!

- Como?

- Aqui, itoshii, aqui no meu coração! Ele só tem olhos, ouvidos e boca para você! Agora entende? É todo seu!

- É... é mesmo! - os olhos de Hiei  brilharam - Você sabe o que eu sinto por você, não sabe?

- Eu nunca duvidei do seu amor... - sorriu brandamente piscando uma esmeralda - Eu também tive culpa... Eu forcei a barra! Eu sei que forcei, eu nem mesmo preocupei saber se estava pronto ou não para receber os sentimentos que depositava sobre você...

- Raposa... - Hiei abraçou o youko pelo tórax com desespero, puxando-o para si, querendo acabar com essa situação, com a sensação de aperto no coração.

- Vou fazer tudo para que nunca se esqueça que há um lugar só nosso nos nossos corações - pensou um pouco - Vou fazer meu melhor, eu prometo!

- Certo! Eu também vou fazer... - fungou - Nunca vou esquecer que o que sinto está aqui, guardado no meu peito...

- Sem dúvidas, sem inseguranças ou mal entendidos, tá?

- É tudo o que eu quero! Raposa...

 Kurama levantou-se, então estendeu a mão ao pequeno koorime que não a aceitou. Aquela mão ficou no ar a espera da outra que não veio. O Youko virou na direção do banco já sentindo-se meio ressentido pela recusa, quando deparou-se com Hiei em pé sobre o banco.

- O que foi?

 Mas ele não respondeu. O Youko aproximou-se e de repente o pequeno demônio abraçou-o com todo amor. Kurama apenas abandonou-se naqueles braços, sentindo o calor do youki de Hiei envolver a ambos em uma carícia boa. O koorime estava um pouco mais alto que seu ruivinho e com um olhar extremamente sexy...

- Eu te amo, raposa...

- Ah... - ficou sem palavras, há tempo havia perdido a esperança de uma dia escutar essas palavras juntas.

Cinco anos... Cinco anos e suas esperanças se perderam no tempo... E de certa forma, na certeza do que Hiei sentia por ele... Mas mesmo assim aquelas palavras fizeram falta... Muita falta apesar de tudo.

- Amo muito! Vou guardar esse sentimento no meu peito, mas não de você. Finalmente eu consigo dizer que te amo, raposa...

Eles ficaram apenas ali, naquele abraço gostoso, trocaram uns beijos, mas as declarações, ainda mais importantes que aquelas palavras, foram feitas no silêncio até que a neve começasse a descer suavemente do céu, avisando que era hora de voltar ao apartamento e desfrutar de outras juras de amor...
 


Yukina-chan  / Jan-02

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