Por Saechan
O restaurante da família Yukimura estava lotado, mas não
eram com os fregueses
habituais. Na verdade ele não estava aberto paro o público
e nem era mais horário de
atendimento. O que lotava o restaurante naquele horário tão
incomum era uma turma
de rapazes barulhentos. A música estava alta e a bebida rolava
solta. Era a
despedida de solteiro de Kuwabara.
Urameshi havia convencido o seu sogro a emprestar o restaurante
na véspera do
casamento já que Yukimura e sua esposa estariam fora da cidade.
Ele próprio era o
anfitrião daquela turma alegre na tradicional reunião
de rapazes antes de um
casamento.
Toda a turma estava presente, desde os fieis escudeiros de Kuwabara
no ginásio até
ocasionais companheiros de batalhas como Kaito , Anaguisawa e
Kido. Nem é
preciso dizer que Kurama também estava presente, acompanhado,
pasmem, de Hiei.
É Hiei sim!!! O koorime invocado fora arrastado pelo seu amante
para aquela
comemoração a custa de uma pequena artimanha do youko
e uma doce promessa
para o fim da noite dos dois amantes.
Hiei não havia se pronunciado sobre a cerimônia que estava
para acontecer no dia
seguinte, mas a promessa que fizera a Yukina de comparecer sem falta
já dizia que
ele aprovara a decisão de sua ainda não revelada irmã.
Talvez por reconhecer que
amor de verdade é muito difícil de encontrar em qualquer
um dos três mundos e saber
que apesar de Kuwabara ser o idiota que ele achava, não havia
como negar o amor
que existia entre os dois.
A celebração corria da forma tradicional, filmes "educativos"
no vídeo, garotas
seminuas dançando nas mesas e uma poposuda saindo de dentro
de um bolo e
fazendo strip-tease, bonecas infláveis voando pela sala...
Ninguém sabia como
Yusuke havia feito para conseguir organizar uma festa tão
caprichosa. Só Hokushin e
os tesoureiros do reino de Laizen sabiam o quanto ele tinha gastado
para promover
essa reunião tão dispendiosa.
Tinha dando um trabalhão, mas Yusuke tinha conseguido cuidar
dos mínimos detalhes.
Para ele essa festa tinha que ser perfeita uma vez que era uma justa
retribuição para
a que ele mesmo tivera quase um ano antes.
Tanto trabalho tinha valido a penas todos estavam se divertindo. Todos?
Não , havia
alguém que se esforçava para parecer contente, mas na
verdade, não estava. E esse
alguém era o próprio homenageado da festa. Kazuma Kuwabara,
pelo menos para
seus amigos mais chegados, parecia está preocupado com alguma
coisa.
- O que
está mordendo aquele idiota? Hiei perguntou curioso. Ele está
tão
estranho.
- É verdade.
Kurama concordou. Ele não está alegre em sua própria
festa. Alguma
coisa grave deve ter acontecido.
- Eu não
estava ligando pra isso porque ele parece ficar assim em despedidas de
solteiro. Na minha foi a mesma coisa. Só que dessa
vez é pior. Ele nem brigou com
o Hiei. Eu pedi para você trazer o baixinho...
Um olhar nada amistoso se seguiu a
esse comentário ... para nos diverti com as brigas
de sempre e até agora nada.
- E olha que o Hiei chegou a provocar.
- Eu queria
ver se ele reagia de verdade a alguma coisa. Ele fica com aquele
sorriso bobo e anda de lá para cá, mas não
está se divertido de verdade.
- Olha galera
o único jeito de saber o que está acontecendo e perguntando
pra ele.
E é isso que eu vou fazer. Segurem as pontas por
aqui que eu vou chamar o meu
camaradinha para levar um lero.
E o ex-reikai tentei saiu decidido em direção a Kuwabara
disposto a arranca o
problema do amigo nem que fosse na marra.
- Ei Kuwa-chan
deixa de baba encima dessa gata e vamos lá fora bater um papo.
Ele falou para um Kuwabara muito desconcertado com uma
dançarina que
rebolava a sua frente roçando em seu corpo.
Feliz por ter uma desculpa para sair
daquela situação comprometedora ele prontamente
seguiu o amigo
- É o seguinte
galera eu e Kuwabara já voltamos, continuem com animação
e não
deixem a peteca cair falou. Ele gritou para os convidados
enquanto puxava o amigo
para a saída.
Fora do edifício fazia ventava um pouco e os dois rapazes sentiram
um pouco de frio.
Urameshi apontou a praça que ficava no final da esquina e os
dois seguiram para lá
em silêncio. Ambos estavam pensativos como se não soubessem
como começar a
falar. Sentaram em nos balanços e ficaram lá balançando
bem devagar. Apenas os
ruídos dos balanços quebravam o silêncio monótono.
- Urameshi. Kuwabara chamou. O que você quer falar comigo?
- Bom... é...
bem... eu pensei que talvez você é que tenha algo para me
dizer. E já
a um bom tempo. Desde o meu casamento, ou melhor desde
a minha despedida
de solteiro. Você também ficou assim nela.
- Fiquei assim como!?!
- Pensativo, paradão.
Como se tivesse com algum problema. Na época eu pensei
que você não disse nada para não
estragar a festa do meu casamento e que
depois contaria o problema, me pediria ajuda. Quando
você voltou a normal sem
me falar nada achei que o problema já havia sido
resolvido... Só que agora você
está assim de novo e eu espero que dessa vez você
não me deixe de fora meu
amigo. Se abra comigo.
- Eu não
posso Urameshi. O grandalhão falou com uma voz meio chorosa. Você
não vai entender.
- O que é
isso Kuwabara. Eu sou seu amigo, quero te ajudar. Você sabe que pode
falar o que quiser comigo.
- Não posso! Se nem eu mesmo entendo...
- Então fala. Quem sabe nós dois não conseguimos entender juntos.
Kuwabara ficou pensativo durante um tempo como se estivesse tomando
coragem em
seguida começou a falar meio hesitante.
- Olha Urameshi eu tenho a Yukina. Eu a amo desde a primeira vez que a vi.
- Eu sei disso, eu estava lá pastel. O que isso tem a ver com seu problema agora?
- Tudo!!! Eu sei o que quero, casar com ela, ter filhos... mas,...
- Mas o que? Desembucha logo!
- Eu não
consigo me livrar de uma sensação de perda. Como se estivesse
deixando
algo inacabado. Algo que eu devia ter feito mais não
fiz.
- Algo inacabado?! Que deveria ter feito? O que é?
- Nós dois. Ele falou bem baixinho com muita vergonha.
- A GENTE!?!? COMO ASSIM A GENTE?
- Eu falei que
você não ia entender. É melhor deixar para lá.
Faz de conta que eu
não disse nada.
- Mas você disse. E é claro que eu não vou esquecer. Explica isso ai direitinho, vai.
- Como eu vou
explicar se eu já disso que nem eu mesmo entendo. Só descobri
que
isso existia quando você se casou com a Keiko. Até
então eu nem tinha percebido.
- Percebido o que?
- O que eu realmente
sinto por você. Não me entenda mau Urameshi. Eu não
sou
boiola. Eu acho, uma voz completou em sua mente. Mas desde
a primeira vez que
nós lutamos eu senti alguma coisa me ligando a
você. Eu voltava sempre, querendo
qualquer coisa de você mesmo que fosse uma surra.
Quando estava com você eu
me sentia bem. Eu pensava que era o seu espírito
de luta que me atraia. Então
você morreu e eu fiquei desesperado, mesmo assim
eu não entendia o porquê.
Você ressuscitou e nós ficamos amigos. Minha
atração por você ficou mais forte.
Estávamos sempre juntos era tudo o que eu queria.
Quando você morreu de novo
e eu não agüentei o desespero foi tanto que
manifestei a espada dimensional..
Segui Sensui até o Makai mesmo sabendo que não
tinha como vence-lo. Eu queria
morrer vingando a sua morte. Morre para que a dor passasse.
A verdade que eu
descobri naquele dia Urameshi é que eu sempre te
amei.
- ... - Yusuke parecia ter perdido a fala. Sua cara de espanto era indescritível.
- Apesar de não
parecer, fiquei feliz quando você foi para o Makai. Eu tentei agir
naturalmente, mas a verdade é que eu não
sabia como continuar com esse
segredo. Eu consegui me convencer de que isso não
era nada e quando você
voltou estava tudo bem. Mas só até a sua
despedida de solteiro. Foi quando eu
senti esse vazio pela primeira vez. Eu segurei e ficou
tudo bem, mas hoje tudo
voltou. Eu sou seu amigo, você tem a Keiko e eu
tenho a Yukina tenho certeza que
vamos ser todos felizes, mas...
- Mas esse mas
ainda persiste né? Você fica na duvida, imaginando como seria
se
a gente tivesse tentado. Será que ainda existiriam
uma Keiko e uma Yukina em
nossas vidas? E se...
- Tentado!?!?
Tentado o que? Você está louco Urameshi. Nós somos
homens. Se
eu tentasse alguma coisa, você me daria um soco
e seria merecido. Por que você
está falando essas besteiras? Eu vi a cara de espanto
que você fez quando
- Eu sei que nós
somos homens. Mas até ai Hiei e Kurama também são
e estão
felizes juntos. Você interpretou mal o meu espanto.
Eu fiquei perplexo por você ter
a coragem de revelar algo que eu também venho calando
em meu coração durante
anos. Eu também sempre te amei. Kuwabara.
Os dois rapazes ficaram ali parados se olhando. Seus olhos mergulhados
profundamente sondando os pensamentos um do outro, tentando descobrir
os
segredos guardados, desejos reprimidos, palavras que não foram
ditas e sentimentos
trancados tudo estava ali de repente. Vindo a tona depois de tanto
tempo guardado.
As comportas haviam sido rompidas e a enxurrada varreu a sanidade.
Os sentimentos
e desejos correm livres.
Os dois rapazes se agarraram com ânsia, seus lábios se
colaram com sofreguidão e
as línguas iniciaram uma dança frenética. Mãos
ansiosas percorreram os dois corpos
unidos que se roçavam com lascívia. Como num passe de
mágica as roupas
desapareceram jogadas pelo chão. Yusuke se deitou trazendo seu
amigo com ele. O
calor dos corpos em contato aumentava ainda mais, beijos afagos e sussurros
eram
trocados. Carícias mais ousadas se seguiram até
que os dois corpos se uniram de
uma vez. Prazer e dor se misturaram enquanto os dois jovens se amavam
com ardor.
Naquele instante de loucura um experimentou o corpo do outro e juntos
foram ao auge
do prazer várias vezes. O tempo foi esquecido, no mundo só
existiam os dois dando,
finalmente, vazão a um desejo que trancaram no peito durante
anos.
*******
A cerimônia estava terminando. O jovem casal atravessou a ponte,
no jardim de Genkai, simbolizando o novo
começo de suas vidas. Yukina estava radiante enquanto Kuwabara
segurava sua mão carinhosamente. Em
seu rosto um sorriso bobo de quem não acredita na sorte grande
que havia tirado. Ele tinha tudo o que
sempre quis.
Em sua mente ficava a pergunta: O que eu fiz para merecer tanta felicidade?
Sem ter uma resposta
satisfatória só lhe restava, então, agradecer
a todo os deuses por tanta bondade.
O abraço de seu melhor amigo tirou ele de seus devaneios.
- Parabéns
Kuwa-chan. Você tirou a sorte grande meu amigo. Como se tivesse lido
o pensamento de kuwabara Urameshi expressou em voz auta
o pensamento do
amigo.
- Obrigado Urameshi. Ele sorriu vendo que a sintonia entre eles continuava forte.
Outros amigos vieram cumprimentar e eles tiveram que se afastar.
Yusuke voltou para junto de Keiko com um sorriso radiante.
- Você parece está muito feliz pelo seu amigo.
- E estou mesmo. Sei que ele será feliz. Então dando um
sorriso completou. - Como
eu.
Keiko sorriu ternamente e se aconchegou a seu marido.
Yusuke abraçou a esposa enquanto seguia Kuwabara com os olhos.
É claro que ele será muito feliz, tem tudo o que sempre
sonho: A mulher que ele
ama. E agora não há mais nenhuma sombra em seu caminho.
Nós sabemos, de
verdade, o que existe entre a gente. Uma profunda e forte amizade.
A tensão e o
desejo de ontem foi o fruto da negação de nossos sentimentos.
Agora que eles
foram saciados só a amizade ficará para sempre.
FIM
Nota: na época em que vi
YYH pela primeira vez eu nada sabia sobre yaoi. Só, muito
tempo depois, é que descobri esse universo maravilhoso. Mas
devo confessar que
embora não tenha notado nada sobre Hiei e Kurama fiquei muito
intrigada com o
comportamento de Kuwabara e Koema. Eles demonstravam, pelo menos
para mim,
terem algo mais forte do que simples amizades pelo Yusuke. Sobre Koema
e Yusuke
juntos eu já li duas fics muito legais, mas sobre Kuwabara e
Yusuke nada. Foi por
isso que tentei fazer alguma coisa. Se tiverem alguns comentários
escrevam para
mim: saechan@ig.com.br.