LAÇOS



 
 

Por Shanty Lee

Parte II : Amizade
 

Agora sim ele me enfeitiçou. "Por favor...cativa-me!" As suas palavras ecoam em minha mente. Nunca ninguém me pediu, por favor?! Agora aquele ser de incalculável beleza e poder...Sim. Sinto um ki muito poderoso dela. Pede-me; por favor?! Não!!! Isso só pode ser um sonho. Ninguém é capaz de amar um ser impuro! Nem minha mãe pôde, por tentar foi morta. Como ela, criatura tão extasiante, pode querer algo comigo? Sou tão feio, desajeitado, e como ela mesmo disse, um youkai como tantos outros. Por que eu??? Ela conseguiu o que só o meu colar conseguia; me acalmar. Durante todo esse tempo não pude mais responder-lhe com grosseria. Onde, cada sorriso seu parecia que iria me fazer derreter. Ali bem na sua frente. Mais uma vez a minha mente repete "por favor...cativa-me!", disse ela tão amorosamente. Não, eu não posso! Por que não? ... "A sua irmã Yukina, lembra?! Ela pode estar precisando de você!" Digo para mim mesmo de forma tão baixa para que ela não me escute. Então olho para os seus lindos olhos dourados, realçados por seu lindo pêlo prateado que agora sobre o brilho da lua cheia me revelam ainda mais bonitos. Digo-lhe, com uma profunda dor em meu coração que não compreendo: "Bem quisera mas eu não tenho muito tempo. Tenho muitos lugares a descobrir e muitas lutas por enfrentar a procura de minha irmã." Então vislumbro uma pequena lágrima cair do canto do seu olho direito. Ela procura disfarçar com vergonha. Penso que foi a minha imaginação, e olhando para seus olhos angustiados ouço sua triste voz, reiniciando a sua explicação: "A gente só conhece bem as coisas que cativou. Os youkais não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram ou roubam tudo que querem, prontinho. Mas como não existe amigos como mercadoria, os youkais não têm mais amigos. Se você quiser um amigo, cativa-me!"

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Meu coração parece que vai explodir! Depois do que falei. E se ele me der as costas e ir embora? Por que me importo? Um dia da sua atenção me bastaria para ser feliz o resto da minha vida. Oh! Pequeno youkai não parta por favor. Eu vos suplico! O que será da minha vida então? Estou confuso! Antes eu sabia o que queria (ser um dos reis do Makai, sem nenhum escrúpulo), e agora?! Tive vergonha quando permiti uma lágrima cair. Fazem séculos que não choro, desde que Kuranoe se foi. Jurei jamais derramar uma única lágrima. E agora? Inari, o que faço? A verdade é que sempre achei que o ódio e a repulsa eram a maneira correta de se viver sem sofrer. Youkai, por favor!!! Responda logo ou creio que morrerei na sua frente. Então eu ouvi: "Que é preciso fazer?" Não! Como é possível? Minhas pernas ficaram bambas, e por um milagre eu não caí. Seus olhos de encontro aos meus encarando-me de forma profunda... O que digo? O que digo Inari??? Eu nunca te pedi nada mas por favor me ajude!... Respirei fundo e comecei a falar: "É preciso ser paciente. Você sentara primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e você não me dirá nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, sentara mais perto..." A explicação pôde ter sido boba mas foi a única forma que eu pensei de garantir a sua presença por mais alguns dias, pelo menos. Eu sei que ele partirá para procurar a sua irmã. O Makai é tão vasto e nem sei se em algum outro dia eu poderei encontra-lo. A sobrevivência aqui é sempre do mais forte. Ele ainda não tem o seu ki no máximo, pode alcançar ou não. Se ele ficasse comigo eu lhe ensinaria como. No entanto eu sei que ele partirá... Fiquei expectativo quanto a sua reação. Então ele deu um pequeno aceno de cabeça associado a um ínfimo sorriso, o qual só os olhos bem treinados poderiam perceber. Entendi, então, que ele retornaria e faria como eu tinha pedido. E em uma alta velocidade desapareceu sem deixar vestígios. Se eu tivesse, acho que soltaria fogos de artifícios, um artigo muito interessante encontrado no Ninguenkai, tamanha era a minha felicidade.
 

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Dei um pequeno aceno com a cabeça e sumi da frente da raposa. Não sabia se ria ou chorava, frente a tal experiência de hoje. Será que era uma armadilha? Meu coração diz que não, mas faz muito tempo que eu não o escuto. Será que ele diz a verdade? Tantas vezes me odiei e odiei a minha vida por ter sido execrado do País de Gelo. Nunca fiz nada de benéfico para mim nem para os outros. Já arrisquei tanto... na verdade desejando o meu fim. Por que não arriscar mais uma vez? Sim...está decidido, irei rever a raposa. Sei que a minha irmã não pode esperar mas quem sabe a raposa não pode me ajudar a encontra-la. Dormi próximo àquela estrada, não vendo a hora de rever a raposa. Ali era uma região bonita; sua mata, seu céu... Agora vejo as estrelas e recordo das palavras da raposa "...As estrelas me farão lembrar de ti...." com seu lindo sorriso. Essa lembrança me trás tanto conforto. É difícil de aceitar mas... é como se eu nunca tivesse sido completo e agora estou. Minha linda raposa, lógico que quero ser seu amigo. Você pode não saber mas já me cativou...
 

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Eu não podia ficar muito tempo no mesmo lugar. Os caçadores poderiam me encontrar. Mas eu não posso partir sem olhar mais uma vez para o meu pequeno youkai. No dia seguinte, o fico esperando embaixo do carvalho no qual conversamos pela primeira vez. Ele aparece do nada com sua incrível velocidade. Estava tão contemplativo, pensando nele, que nem o vi chegar. Meu coração quase saiu pela boca, se fosse um caçador eu já estaria morto. Com meus olhos arregalados e minha respiração descompassada, devido ao susto, o observo. Ele mantinha-se ereto, sem nada dizer me encarava, seu rosto não expressava nenhuma emoção. Quando decidi falar: "Teria sido melhor ter voltado à mesma hora. Se você vêm por exemplo, às 4 da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro então, estarei inquieta e agitada: Descobrirei o preço da felicidade! Mas se você vem a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração...É preciso ritos."

Se ele ainda quisesse se encontrar comigo pela menos dessa maneira ele não me pegaria tão desprevenido. E ele indagou: "Que é rito?" Não conseguia parar de ri com tamanha pureza. Como é possível um pequeno assassino ser tão puro? A vida é realmente misteriosa. "É uma coisa muito esquecida também. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Preparam suas espingardas, limpando-as e colocando pólvora antes de me caçarem. Esse é o instante maravilhoso dele! Se ele não fizessem isso eu não os perceberia. E bem ... eu não teria férias!" Disse rindo.

A partir do dia seguinte ele começou a chegar na mesma hora; eram as horas mais felizes da minha vida de Youko. Ele não falava muito mas sempre era muito observador. Seus comentários se limitavam a : "Sim." "Não." "Hn!" Esse último principalmente. Contei-lhe como fora alguns dos meus roubos mas a maior parte do tempo ficávamos um olhando para o outro, sem nada dizer. Até anoitecer e ele partir. No quinto dia, desde a sua aparição, me pegou desprevenido fazendo-me uma pergunta: "Como você consegue roubar tantos tesouros nesta forma?" É verdade, até tal momento eu nunca havia me apresentado no forma de Youko. Tinha medo dele repudiar a minha forma humanóide e ir embora. Não sabia como contar sem perdê-lo, logo hoje que eu o pediria para dormir em meu esconderijo...
 

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Fique embasbacado com tantas aventuras que aquela raposa tinha vivido. Mas como uma raposa tão pequena e com tantos rabos conseguia realizar diversos feitos?! Aí tinha algum segredo! Quando resolvi pergunta-lhe ela ficou temerosa e muito insegura em responder-me. No início desconfiava mas eu sempre pude deslumbrar a sinceridade em seus olhos. Então decidi encoraja-la: "Não importa qual seja a resposta eu continuarei sendo o seu amigo." Ela me fitou por alguns minutos que mais me pareceram uma eternidade. Senti que tinha se acalmado e decidido contar-me o seu segredo, quando percebi uma poderosa energia nos envolvendo. Quero dizer, nós não...apenas a pequena raposa. Uma nuvem cinza a cobriu, onde, ao mesmo tempo que a nuvem dissipava, a energia diminuía.. Revelando para mim uma incrível figura; alta, cuja pele era tão pálida como o gelo, de cabelos compridos até a cintura, assim como a calda, prateados. Usava sapatilhas e uma roupa inteiramente branca. Mas seus olhos, apesar de maiores e compridos, ainda eram dourados e me fitavam com indizível ternura e receio. Como pode um ser por demais poderoso ter receio de mim? Será que é o medo de que eu vá embora? Hn! Impossível... Ouço então o sussurro de sua voz: "Eu não tinha lhe dito antes porque...tive medo que fosse embora." Fico atônito sem saber o que fazer. Vou embora? Que faço? Deuses ou demônios o que faço? E mais uma vez ela fala ainda mais baixo como que temendo a minha reação: "Se você quiser eu vou embora." Grito interiormente: "Não!!! Eu não sei o que fazer mais também não quero vá embora!!!" Ela começa a se virar lentamente; abatida, isto é, abatido. Pois, a raposa não era fêmea e sim um macho. Meu coração aperta ainda mais, o meu estômago contrai-se. O que faço? E uma voz no fundo da minha consciência dizia: "Você sabe o que fazer, faça antes que seja tarde!" Sim...antes que seja tarde... Em um ato impensado, seguro o braço da raposa e digo: "Você ainda é meu amigo." Ele vira o seu rosto para mim; sorrindo. E ainda acrescento "fique". Seus olhos brilharam ainda mais concordando com um aceno de cabeça, senta-se e fica olhando para mim.

Desde que nos conhecemos sempre fora ele que se encarregava da conversação, mas desde a revelação ele não disse mais nada apenas me fitava. E quando as primeiras estrelas do céu surgiram, momento no qual eu sempre partia, ele fala timidamente: "Não vá! Fique comigo essa noite...não me deixe só." Eu não queria partir, queria estar com ele, bem próximo. Não tenho coragem de dizer nada, com medo de minhas palavras denunciarem a minha hesitação. Apenas fiquei. Até ele se levantar e falar: "Venha comigo, vou leva-lo ao meu esconderijo." Apenas o sigo, e após andarmos um pouco ele para de frente a um monte de plantas cheias de espinhos. Sorrindo diz: "É aqui." Arque-o as sobrancelhas analisando: "Ele quer que nos furemos nos espinhos?" E como que achando graça da minha confusão, ele faz as plantas regredirem de tamanho revelando a entrada de uma caverna; dizendo: "Entre." Hum...que dizer que ele controla vegetais. Entro e ele em seguida, jogando sementes no chão as quais rapidamente brotam, iluminado a caverna.

Da entrada, as plantas com espinhos voltam a crescer camuflando mais uma vez a caverna. Esta era muito espaçosa e arejada, devido a uma pequena abertura do alto. Tenho que admitir; um excelente esconderijo e muito apropriado para uma raposa. Sento-me encostado na parede com ele observando-me até pedir: "Posso sentar-me no seu lado?"
 
 

CONTINUA....
 



Por Shanty Lee
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