AKAI BARA

(A Rosa Vermelha)

Por Suryia

Parte I

 

Kurama caminhou lentamente pelo pátio da escola como era de costume, sentou-se em um muro inacabado, meio inquieto, em suas mãos havia um pequeno vaso e nele uma linda rosa cor púrpura, uma rosa peculiar, talvez a mais linda que já houvesse visto em sua vida. Era grande, robusta e imponente e ao mesmo tempo suave e delicada, e ficou ali a admirá-la, sua criação, por alguns minutos quando se surpreendeu com uma presença que se aproximou dele rapidamente, foi quando observou um jovem, colega de escola, sentar-se ao seu lado num salto do chão direto ao muro:

- Que linda!- Gritou ele sem conseguir esconder o entusiasmo estampado em seu rosto –Nossa, não sei nem o que dizer! É de um vermelho hipnotizante, é grande e forte, esbanjando vida. Não é uma rosa comum, é!!?

Kurama balançou a cabeça fazendo sinal negativo e sorriu como sempre. Mas garoto pareceu não se importar, sua atenção estava presa a rosa e ele disse empolgado:

- Eu sabia! Eu tinha certeza! Tão bonita assim não podia ser mesmo comum deve ser muito rara, de algum lugar secreto onde o homem não foi capaz de destruir.

Kurama pois-se a estudar o rosto do garoto intrigado e ao mesmo tempo com um pouco de admiração, os cabelos longos e negros que lhe davam um jeito extremamente delicado e sobre tudo como poderia um humano mostrar tamanho sentimento por uma simples rosa? E ele se arriscou a dizer:

- Parece que você gosta muito de flores!

- Ah!! Sim eu gosto muito, principalmente das rosas que são tão delicadas! – O garoto riu instintivamente passando uma alegria deliciosa.

- Estou vendo. – Disse ele docemente.

- Gomen ne! Que cabeça minha dizer essas coisas, você não deve estar entendendo nada. Sinto muito, eu não devia ter te interrompido e...

- De maneira nenhuma, está tudo bem. – Kurama o interrompeu gentilmente e ele sorriu novamente.

- Será que algum dia eu conseguirei cultivar uma rosa tão linda quanto essa?

- Por que não conseguiria?- Ele sorriu

- É, tem razão!!

De repente Kurama sente alguém estapear suas costas fortemente e ouve uma voz dizendo:

- E aê? Como é que vai?!!!

Neste instante Kurama percebe que com o impacto o vaso caia de sua mão em direção ao chão.

- Não!!!- O jovem gritou atirando-se no chão a tempo de impedir que a rosa se espatifasse.- Consegui!!!

Kurama surpreendeu-se com aquela reação e correu para acudir o garoto estirado no chão.

- Está tudo bem com você?

- Hai, arigatou! Eu consegui salvá-la! Veja!

- Você não precisava fazer isso!

- Ah! Você não entenderia...

Kuwabara então observa:

- Oh ouh... Acho que fiz besteira!!!- Lembrando-se do tapa que provocara toda aquela situação.

Kurama tenta levantá-lo e percebe que o seu joelho está sangrando

- Você está machucado, deixa-me cuidar disso pra você.

- Não. Não precisa, eu já estou bem. Tome a sua rosa. Eu vou pra enfermaria, isso não foi nada.

- Tem certeza?

- Você, não precisa se preocupar. De verdade.- Diz ele levantando-se, fazendo cara de dor e se afastando em seguida.

- Arigatou...- Diz Kurama vendo sua sombra desaparecer quando Kuwabara chama sua atenção.

- Eu quero lhe perguntar uma coisa?

- Eu já sei o que é. – Kurama responde calmamente.

- Sabe?

- Sim eu sei - Confirmou ele mais determinado.

- E então? – Pergunta Kuwabara ansioso pela resposta

- Ainda não consegui.

- Como ainda não conseguiu!!? Então ainda não falou com ele?

- Ora, Kuwabara! Não pense que convencer Hiei a fazer isso seja muito fácil. Você o conhece muito bem. Sabe que ele não se deixaria persuadir por ninguém nem mesmo por mim.

- Mas você precisa tentar, se você não conseguir ninguém mais vai.

- Eu não disse que não iria tentar, disse apenas que não tive coragem de dizer isso a ele - Kurama continuou sem perder a calma.

- Você sabe que Yukina está muito perturbada com a procura do seu irmão eu acho que ela está perdendo as esperanças e eu não quero que ela sofra. Afinal que diabos Hiei esta fazendo, ele prometeu que encontraria o irmão pra ela.

Kurama fez uma pausa em seus pensamentos e meditou mergulhado em seu interior: "Não é tão fácil como você imagina, Kuwabara. Pra que sua doce Yukina pare de sofrer Hiei precisaria contar a ela que ele é o seu irmão e isso seria praticamente impossível, isso seria mais facilmente resolvido se tratasse apenas de uma busca à procura de alguém desaparecido, mas ele nada contara a ela, apesar de não me parecer correto esse tipo de atitude do meu pequeno yokai".

- Fique tranqüilo, eu vou falar com ele, mas antes eu preciso fazer uma coisa muito importante.- Diz Kurama levantando-se rapidamente deixando Kuwabara sozinho.

Kurama sai apressado e vai até a enfermaria, chegando lá encontra o jovem que conhecera nos minutos anteriores já pronto para ir embora.

- Você já vai pra casa? – Pergunta ele surpreso.

- Ah!! Oi!! É, eu já vou. Não é bom ficar zanzando por aí com essa perna.

- Está muito ruim? – O ruivo pergunta sendo atencioso.

- Não! Só tá doendo um pouquinho. Quando eu for para casa isso vai melhorar.

- Então eu vou acompanhá-lo até sua casa.

- Não precisa, estou bem e além do mais você vai perder a última aula!

- Não tem problema, eu insisto. Pode acontecer alguma coisa no caminho e é melhor que eu esteja por perto.

- Então tudo bem, mas eu realmente não acho que seja necessário – Diz ele com um simpático sorriso.

No caminho os dois conversam e Kurama se atenta para cada palavra dita por ele e focaliza cada expressão de seu rosto.

- Eu nunca imaginei que você faria aquilo pela flor!- Diz Kurama com um tom calmo.

- Ah!! Não liga, às vezes eu faço coisas meio malucas – Ele responde coçando a cabeça sem graça.

- Eu resolvi então dar a rosa pra você – Kurama sorri e estende o vaso para ele.

- Não, eu não posso aceitar...- Diz ele subitamente.

- Claro que pode. Eu quero dar ela pra você, é um presente – Afirma Kurama lançando seu mais valoroso sorriso.

Ele agradece e pega o vaso com um brilho radiante em seus olhos.

- Mas você ainda não me disse o seu nome – Indagou Kurama ansioso.

- É verdade! Gomen ne!! Meu nome é Keichii.

- Eu sou...

O jovem o interrompe rapidamente em um tom levemente agitado:

- Você é Shuichi Minamino!

- Você me conhece?

- Quem é que não te conhece naquele colégio?

- É, você tem toda razão! – Kurama resolve encerrar o assunto e fica meio intrigado. Ele sabia quem ele era, Kurama costumava exercer um fascínio sobre as pessoas, no entanto Keichii parecia bastante indiferente com relação a isso, mas a companhia dele era extremamente agradável.

- Minamino! Eu moro aqui. – Ele interrompe o devaneio do youko.

- Ah!! Sim, é... Tudo bem... É... Você não quer dar mais uma volta?

- Ah não! Gomen nasai! Acho melhor eu descansar. Agente se vê amanhã na escola.

- Tudo bem, mata ne!!

Kurama sai apressado indo em direção a sua casa mal querendo acreditar no que havia acabado de conhecer. Alguém havia recusado seu convite e o pior, recusara com muita naturalidade.

O dia se passou e a noite se anunciava. O youko estava sentado em sua escrivaninha no quarto, ainda se recordando das cenas daquela tarde, lembrando-se do pedido de Kuwabara e em seus pensamentos se esforçava para achar um meio de fazer o que o amigo pedia sem magoar Hiei, sem que isso atrapalhasse o relacionamento entre os eles.

- Sonhando acordado novamente, ktisuni?!! – Uma voz invadiu o quarto fazendo Kurama gelar e voltar à realidade.

- É você, Hiei?!

- Quem mais poderia ser!! Estava mesmo distraído, nem percebeu o meu ki quando me aproximei.

- O colégio anda me deixando preocupado, é meio complicado... – Ele tenta se explicar, mas deixando transparecer um tom tremulo em sua voz.

- Hunf...!! – Resmungou o yokai fazendo Kurama entender que ele não estava muito convencido com a resposta.

Ao perceber Kurama se levantou rapidamente esbarrando em seus livros que caíram no chão.

- É, raposa! Você anda muito esquisito ultimamente!

- Eu? É impressão sua, deve ser a proximidade das provas! É deve ser isso!! – Ele tenta disfarçar abaixando para pegar os livros. E embora muitas vezes fosse fácil para Kurama mentir friamente não conseguia fazer isso quando se tratava de Hiei.

Hiei continuava sério, e sem olhar para Kurama diz em um tom irônico:

- A quem você está querendo enganar? A mim ou a você mesmo?

- Ah, Hiei. Você não muda mesmo, sempre desconfiado de tudo. Sempre a espreita, você se esqueceu que a raposa aqui sou eu. – Diz ele retomando sua calma e esboçando um largo sorriso.

- Por isso mesmo que eu digo isso. – Hiei se senta na janela perdido em seus pensamentos, querendo dizer a Kurama que sabia que ele estava mentindo, que o havia visto com aquele estranho garoto, mas ele jamais admitiria tê-lo seguido. E acima de tudo queria entender porque Kurama queria tanto esconder isso, seria por não ter importância, ou talvez fosse importante demais. De repente o ruivo quebra o silêncio dizendo:

- Qual é Hiei?! Você fala de mim, mas é você que fica ai paradão, distraído.

- Não é nada - Retruca ele quase sussurrando.

- Você não quer dizer alguma coisa?

- Não quero dizer nada. – Afirma Hiei com um tom ríspido.

- Tem certeza? Você não está escondendo alguma coisa? – Kurama insiste.

- Eu acho que você é quem está escondendo alguma coisa por aqui!! – O demônio do fogo aumenta a voz rispidamente.

Kurama olha espantado com a atitude do yokai e não consegue dizer uma só palavra.

- Por que está tão calado, Kurama? Sabe que tenho razão, não é? Acha que sou tão idiota que não percebi que algo está acontecendo??!!!

- Não, Hiei... Não é isso... Eu...

- Eu venho percebendo já há algum tempo, mas nos últimos dias tem ficado pior. – Diz Hiei retomando o tom normal de voz – Ainda insiste em dizer que não é nada demais?

- Você tem razão, Hiei! Tem algo acontecendo mesmo. Esse tempo todo eu estava tentando uma forma de lhe dizer isso.

- Disso eu já sei! Diga logo o que é!! Não há necessidade de ficar me tratando feito criança, fala logo!!!!

- É... É... A Yukina...

- O que tem ela???!!

- Ela está doente, Hiei! Muito doente.

- Nani? Como assim doente? O que ela tem?! Por que você não disse isso logo, raposa estúpida?!! – Hiei sacode Kurama desesperado.

- Acalme-se Hiei, assim não vou conseguir explicar nada!!!!- Grita Kurama a fim de fazer o yokai parar.

Hiei aos poucos foi retomando a calma, respirou fundo e foi em direção a janela para tentar evitar o olhar de Kurama, então ele diz:

- Tudo bem, estou ouvindo...

- Yukina está sofrendo muito, está muito fraca e...

- Mais que doença é essa? Me diga onde encontro o remédio que irei buscar em qualquer lugar dos três mundos!

- Sinto muito, mas não há remédio para o mal de Yukina...

- Como não há remédio? Que diabos de doença é essa?!!

- Ela está doente de tristeza.

- Tristeza? Que palhaçada é essa Kurama?!!!!!

- É sério! – Kurama se concentra ao máximo no momento que o havia atormentado por tantos dias.- Ela está triste e deprimida, não quer se alimentar e com isso perdeu todas as defesas do organismo. E se algo não for feito não sei se Yukina vai resistir. Ela está muito mal!

- Eu não estou entendendo nada! Como pode, Yukina sempre tão doce, sempre sorrindo. O que estaria deixando ela desse jeito?

- Você, Hiei! – Diz Kurama friamente como se quisesse acordá-lo para a realidade.

- Eu??!! Você ficou louco, Raposa?!!!

- Não, nunca estive melhor. Por acaso você esqueceu a promessa que fez a ela?

- Não. Não esqueci.

- Você sabe que é uma promessa que não vai cumprir, não é? - Kurama continua a desferir as palavras impiedosamente, sabia que não podia perder aquele jogo.

- Onde você está querendo chegar, Kurama?!

- Você prometeu que traria o irmão dela de volta e pelo que eu saiba você não fará isso, pois não tem intenção alguma de contar a ela que esse irmão é você!

Hiei fica em silêncio cerrando os punhos a forma de controlar sua raiva.

- Pois então, Hiei. É uma promessa impossível! E no fundo acho que Yukina também sabe disso.

- Como assim?

- Ela diz o tempo que o irmão não vai mais voltar, que ela não tem mais esperanças e que quer morrer...

- Pare, Kurama!- Pede Hiei com a voz tremula, mas tentando esconder sua dor.

- Não posso parar agora, Hiei... Você sabe disso e sabe também o que é preciso fazer.

- Não, eu não sei!!! – Diz Hiei correndo para a janela.

- Então é isso, Hiei?! Vai fugir feito um covarde?! Vai deixar sua irmã morrer?!!!

- E o que você quer que eu faça?! – Diz ele extremamente irritado, com lágrimas que enchiam seus olhos, mas sem deixar que nenhuma delas rolasse por sua face.

- O que eu quero? Quero que você conte a verdade pra ela. – Diz o ruivo em um tom aparentemente tranqüilo, mas estremecendo por dentro em espera a reação de seu amado. Pois era isso o que realmente acontecia, Kurama o amava tanto que nem era possível medir a dor que ele sentia em ter que tocar naquele assunto e fazer Hiei sofrer. Como era difícil fazer isso!

- Não! Não vou fazer isso! Não posso, nunca vou dizer!

- Deixa de ser cabeça dura, Hiei!! Do que adianta guardar esse segredo se sua irmã vai morrer, Hein?! Me diga!!!

- Isso não vai acontecer! Não pode estar acontecendo!

- Baka! Acorda! Não vê que vai perdê-la!!

- Não, mil vezes não! Eu não consigo, Não posso falar!! – Hiei continuava sua teimosia.

- Eu poderia acabar com isso rapidamente, Hiei. Eu poderia ir lá e contar toda a verdade para ela.

- Você não faria isso!

- Tem razão, itoshii. Eu não faria isso sem o seu consentimento, jamais trairia sua confiança, nunca revelaria um segredo que lhe é tão importante, mesmo que fosse para salvar a vida de alguém.

Hiei começa a ficar confuso com todas aquelas palavras.

- Por isso estou lhe pedindo que conte a ela. Continua o Youko de um jeito mais doce.

- Eu... Eu... – Hiei para por alguns instantes dando a Kurama a esperança de ter conseguido.- Não posso! Chega! Pare de falar. Já disse que não vou contar nada!

- Por que você é tão teimoso? Não vê que está tomando a decisão errada.

- E porque você sempre acha que sabe de tudo!?!- Grita Hiei extremamente irritado – Sou eu que devo saber o que vou fazer ou não!!

- Eu sei o que estou dizendo. Onegai, Hiei, você precisa acreditar em mim!! – Kurama usa sua voz mais doce a fim de comover o yokai rebelde com tal súplica.

Hiei cerra os punhos com muita força demonstrando uma expressão de angustia desesperada, no fundo ele tinha vontade de dizer a Kurama que iria fazer o que ele lhe pedia com tamanha doçura, mas procurava forças pra não deixar que aquela estratégia o convencesse a fazer algo que ele não queria.

- E por que eu deveria acreditar em você, raposa?- Diz o yokai em um tom irônico.

- Nani? Do que você tá falando, Hiei?- Indaga o ruivo numa expressão de surpresa.

- Você sabe do que muito bem do que eu estou falando, Kurama. Estou falando de todas as mentiras que você me contou, de todas as promessas que você me fez e o pior, você tá sempre dando mais valor a esses humanos idiotas. Acho que de tanto conviver com eles você acabou ficando hipócrita como eles.

- Por que você está falando essas coisas?! Não tem necessidade de todas essas acusações, eu nunca menti pra você, Hiei!!!!

- Se alguém tivesse me dito eu não teria acreditado. – Diz Hiei baixando um pouco a voz.

- Eu ainda não estou entendo onde você está querendo chegar, Hiei!! Acho que você tá querendo um motivo pra fugir do assunto!!- Diz Kurama tentando aparentar calma.

- Talvez eu esteja mesmo. – Diz Hiei voltando ao tom irônico.

- Seja lá o que você esteja querendo dizer, não é hora de discutimos isso. O caso é sério e Yukina precisa de sua ajuda!!- Diz Kurama tentando um último apelo, usando suas últimas esperanças. Sabia que se as coisas não saíssem como ele queria, muita coisa mudaria de ali por diante, mas o ruivo não sabia se estava preparado para isso.

Kurama tinha razão, e Hiei podia entender, mas estava muito confuso para decidir fazer alguma coisa naquele instante.

- Eu sinto muito, Kurama. Eu realmente gostaria de fazer o que você está me pedindo, mas algo dentro de mim... É mais forte do que eu.

O youko sentia a dor e o pesar na voz do pequeno yokai, entendeu então que havia perdido aquela batalha. Percebeu que aquele algo que Hiei falava era o "medo" e como lutar contra um inimigo tão covarde? Mesmo assim decidiu a não perder a guerra.

Hiei seguiu até a janela num movimento rápido. Kurama então o chamou:

- Hiei... Eu... – Kurama virou-se de costas para não encarar o rosto de seu companheiro.- Eu disse que não falaria nada a Yukina sem pedir sua permissão, sem antes falar com você, para que você não se sentisse traído. Mas agora as coisas mudaram, é você quem está irredutível e eu... Farei o que for necessário. Pense melhor sobre isso, mas cedo ou mais tarde isso vai acontecer.

- Hn...Faça o que você quiser!! Eu já esperava por isso... Raposa estúpida!!

Kurama sente apenas o deslocamento do vento movimentar seus cabelos, e a sensação do yo-ki de Hiei desaparecer rapidamente. Uma lágrima escorre dos lindos olhos verdes que agora estavam tristes. O ruivo deitou-se na cama, olhava para o teto, mas sem a nada observar, havia apenas um olhar distante, acompanhado de uma ou outra lágrima que insistia em rolar na pele clara do rosto de Kurama. Sabia que seria uma longa e dolorosa noite. Por que ele tinha que fazer aquilo? Porque tudo aquilo estava acontecendo?

*********

O dia amanheceu Kurama não queria levantar da cama, mas os gritos insistentes de sua mãe o obrigaram a levanta-se. Desceu as escadas de vagar.

- O que você tem meu filho? Está doente? – Pergunta Shiori preocupada vendo a expressão cabisbaixa do filho.

Ele costumava sorrir em um caloroso Bom Dia, mas naquela manhã não houve mais que um meio sorriso pálido. Tomou o café em silêncio e seguiu o caminho da escola no mesmo passo. Bem devagar. Entrou na sala, mas não conseguiu prestar atenção em nenhuma das aulas. Seu pensamento vagava em busca de respostas. O que aconteceria dali pra frente? Onde será que estaria Hiei naquele momento? O que o yokai estaria pensando? Ele sabia que depois da discussão da noite anterior Hiei ficaria muito tempo sem procurá-lo. Era horrível pensar nisso! Sentia-se sozinho...O sinal do intervalo tocou. Kurama saiu da sala em silêncio e a todos que se aproximavam apenas esboçava um sorriso frio e social e um mero pedido de desculpas. Seguiu para o pátio e foi se refugiar no muro em construção como fazia sempre quando queria ficar em paz sem ser importunado. O garoto sentou-se ao lado dele devagar e também permaneceu em silêncio como se soubesse que o ruivo queria ficar quieto. Os dois olhavam para o chão. Kurama continuou em silêncio por mais alguns instantes até quebrá-lo com uma pergunta?

- Oi, Keichii. Como você está?

- Eu estou bem. – Respondeu o garoto ainda olhando pro chão, mas de repente seu rosto se voltou para Kurama numa enorme careta.

- Blaan unh blar...

Kurama soltou uma enorme gargalhada ao ver a careta do menino:

- Hahahah... O que você tá fazendo?!?

- Eu sabia! Hahaha... Eu sabia que conseguia fazer você rir.

Por um instante os olhos de Kurama retomaram a alegria, achara muito interessante à tentativa tão sincera do jovem em fazê-lo sorrir. Mas a tristeza era forte, tentou então disfarçar:

- A sua perna melhorou?

- Ah sim. Melhorou.

- Que bom! Eu fico feliz em saber!!

- Não. Você não está feliz. Na verdade você está muito triste.

O youko olhou para ele espantado. Mas o sorriso do garoto era tão calmo quanto os seus próprios sorrisos que ele estremeceu.

- Por que você está tão triste, Minamino?- Perguntou ele docemente, mas Kurama não pode encará-lo permanecendo calado.

- Não se preocupe, ele vai voltar!!! – Diz keichii oferecendo um sorriso iluminado.

Kurama gelou e gaguejou:

- E... Ele?

- Sim, esse alguém que você ama tanto, que você se preocupa tanto. Essa pessoa se foi, não é? Mas ela vai voltar.

Kurama continuou a olhá-lo assustado. Como aquilo poderia estar acontecendo?

- Como é que você sabe disso?

- Eu posso sentir uma enorme tristeza dentro do seu peito. É uma dor muito forte... – Revela o jovem colocando a mão no peito de Kurama e fechando os olhos como se estivesse lendo seu interior.

O ruivo não se mexeu, não tinha o que dizer naquela hora, era uma situação um tanto o quanto inusitada.

- Bom, eu acho que já vou embora e parar de te perturbar.- Ele ameaçou descer do muro, mas Kurama segurou-a pela mão.

- Não! É... Fique mais um pouco...- Pediu ele com os olhos verdes brilhantes, Kurama achava aquele garoto muito estranho, mas não podia negar que gostava muito de sua companhia.

- Tem certeza? – Questionou ele, Kurama balançou a cabeça assentindo – Então tá, mas depois não vai ficar reclamando que das minhas tentativas de fazê-lo rir - Fez ele mostrando a língua enquanto ouvia a risada gostosa de Kurama.

O dia havia passado, Kurama já estava se sentindo melhor depois das insistentes piadas e gracinhas ditas por Keichii, não podia negar que o menino era muito divertido. Era bom ouvir a sua voz doce que parecia uma calma canção de ninar, seu sorriso era largo e belo e podia negar menos ainda que ela era muito bonito. O ruivo chegou a retomar o sorriso nos lábios e por vez ou outra sobressaía à expressão de tristeza quando em sua mente se recordava de Hiei, mas se esforçava para que isso não passasse de um breve instante. Afinal Keichii o havia convencido que ficar choramingando não adiantaria nada!!! Podia lutar contra a tristeza, mas não podia esquecer o rosto de Hiei na noite da horrível discussão e nem mesmo a doença de Yukina, tudo estava li bem mais próximo do que ele podia agüentar...

- Minamino!! Minamino!!- O jovem chamou insistente a fim de tirar Kurama da espécie de transe em que se encontrava – Já tocou o sinal. Agente precisa ir!

- Ah!! É verdade, eu nem percebi!!- Ele respondeu meio sem graça.

- É, eu vi!! –Disse ele escondendo o riso com a mão.

Eles atravessaram o pátio e caminharam juntos pra casa, ora em uma conversa bem animada ora em minutos silenciosos e intermináveis. Mas mesmo assim se sentiam bem.

- Bom eu já vou... – Diz keichii parando lentamente em frente sua casa e continuando calmamente – Procure não pensar muito sobre tudo isso... Não fique se torturando tanto...

O confuso Kurama o contemplou com admiração. Como um garoto humano podia ser tão adorável? Como ele podia compreender seus sentimentos? Ele parecia ser tão puro, tão delicado como uma verdadeira rosa, como a rosa púrpura que fora salva da destruição...Keichii fez uma reverencia e virou-se rapidamente para entrar em casa, mas foi impedido por Kurama que o puxou fortemente pela mão.

- Minamino-sam?!? O que foi? – Perguntou ele com olhos assustados, mas ainda assim graciosos.

- Keichii... Arigatou.

O menino retribuiu com mais caloroso sorriso, livrou-se das mãos de Kurama e entrou rapidamente. O ruivo suspirou e continuou a caminhada solitário.

Keichii subiu as escadas rapidamente adentrando o quarto, e inclinando-se na janela ainda em tempo de ver Shuichi se afastando, com um terno brilho no olhar. A mãe do menino abriu a porta e então se aproximou.

- Meu filho, o que está acontecendo? Você nunca esteve agitado desse jeito.

- Não é nada, minha mãe. – Diz ele sem deslocar os olhos do ruivo que já quase sumia no horizonte.

- Você não está arrumando idéia, não é?

- Não mãe, eu sei muito bem o que não devo fazer! – Responde ele baixando a cabeça, mas sem deixar de sorrir.

- Meu filho, acredite... Assim será melhor pra você.

- Melhor pra que eu me conforme, não é? Melhor pra que eu não faça ninguém sofrer. Essa é a única verdade...

- Keichii, você sabe que...

Mas o jovem levanta a cabeça e interrompe sua mãe energicamente, mas ainda assim com delicadeza.

- Eu já sei mãe, você não precisa me dar outro sermão sobre como minha situação é delicada... Que eu não devo me apegar às pessoas pra que isso não seja mais difícil quando chegar a hora de ir... Essa estória eu já sei de cór. Não precisa repetir que estou aqui apenas por um breve instante... Que sou... um condenado... que logo eu vou...

- Meu filho, onegai, não fale desse jeito!! Isso me magoa muito... – Diz a mãe abraçando-o fortemente com lágrimas nos olhos.

- Mãe, pare de chorar... Eu só estou encarando a realidade. Eu não posso fugir do meu destino! E não tenho armas pra lutar contra a doença... A única coisa que posso fazer é tentar viver melhor, é viver feliz pelos dias que ainda me restam...

- Não, filho. Eu não quero perder o meu menino... – Diz a mulher se agarrando ainda mais em Keichii.

- Mãe, eu sempre vou estar com a senhora. Agora pare... Entenda que eu não estou triste. Eu prometi fazer o melhor de mim até o fim e é o que vou fazer. Vou ser firme e serei um bom filho até que chegue a hora.

- Desculpe sua mãe tola, eu é que deveria secar suas lágrimas. – Diz a mãe obtendo de Keichii um lindo sorriso

- Não se preocupe...

- Ainda sim eu me preocupo. Quem era aquele rapaz? – Indaga a mulher.

- Era só um amigo

- Um amigo? Quantas vezes conversamos sobre isso?! Eu...

- Mãe, fique calma. Já disse que não vou me apegar a ninguém, mas não posso evitar me aproximar das pessoas. Mesmo porque no caso dele isso seria inevitável.

- Como assim?

- Ele não é uma pessoa comum... Eu sinto lá dentro de mim que preciso estar perto dele agora. Ele realmente é especial, possui um turbilhão de sentimentos dentro de si. É inacreditável.

- Como você sabe disso, filho!?

- Eu apenas sei. Senti isso desde o primeiro dia que olhei em seus olhos, por mais que ele tenha uma enorme facilidade em ocultar isso, de mim ele não conseguiu E quando toquei seu peito tive ainda maior certeza.

- Você sempre teve essa facilidade de perceber o sentimento das pessoas...

- Mas nos últimos tempos tem ficado mais forte... Será que é um sinal que a morte está chegando?

- Não fale besteira, menino!! Isso é só impressão!! Tome um banho e desça que já estou quase terminando o jantar.- Diz a mãe rindo

- Tá certo, eu já vou. – Diz ele olhando a mãe sair do seu quarto, mas esta ao virar- se de costas e passar pela porta não consegue evitar que uma lágrima escorra por sua face.


Enquanto Keichii continuava a observar a paisagem longínqua através do vidro de sua janela...

 

CONTINUA...