Labirinto de Pandora
 
por Graciela Naguissa
  

Cap.11  - Altar e Osíris


"Você está bem, Yusuke?"

"Fei...long...!!!"

Minha voz saiu rouca, não acreditando na visão à minha frente.

Pela primeira vez, Feilong estava sem sua túnica que cobria seu corpo inteiro, deixando à mostra um par de asas gigantescas, verdes como seus olhos, parecendo-se com asas de dragões. Então assim, descobri a razão de seu nome. "Fei" "long", dragão alado...

Feilong estendeu suas mãos frente seu peito, como se segurasse entre elas uma esfera. Logo seu rosto foi iluminado com as luzes que surgiram entre suas mãos. Chamas douradas.

"Kurama está na gruta. Eu me encarrego em lutar contra ele. Vá logo e desfaça a maldição."

Disse Feilong fitando o inimigo com seus olhos expostos. Pareciam muito mais severos dos olhares quais eu tinha visto até hoje.

Sem olhar pra trás, pedi boa sorte à ele, judiando minhas pernas rumo à gruta onde Kurama me esperava.

Além das minhas costas escutei explosões, que faziam-me acelerar mais ainda. Tinha que salvar Kurama o mais rápido possível pra depois poder vir ajudar Feilong.

Percorrendo pela mata fechada por alguns minutos, até que enfim avistei a entrada de uma gruta, escorregando-me pra dentro, logo admitindo luzes azuladas emitidas pôr um circulo escrito no chão e uma sombra sentada no centro dela.

"Yusuke...!!!"

Uma voz doce invadiu meus ouvidos, dando-me uma quentura nos olhos de felicidade por poder ver o jovem de cabelos vermelhos e olhos verdes novamente.

"...!!!Você está bem?!"

Ao ver meus ferimentos, Kurama levantou-se com esforço, mais foi detido pela lei da gravidade, voltando novamente pro chão.

"Kurama!!!"

Me aprecei até ele ao ver seu estado e ergui seu corpo. Seu reiki estava fraco mostrando pra mim que sua situação não é a das melhores. Beijei seus lábios sentindo o mel que se escondiam neles. A sensação de ter realmente encontrado novamente aumentou mais ainda.

"Trouxe o sangue pra você, Kurama..."

Sussurrei ao separar das nossas línguas.

"E o Feilong? Ele saiu apressado daqui há alguns minutos."

"Ele tá lutando contra o bastardo daquele youkai. O cara tinha a habilidade de auto regeneração. Por isso que ele não morria."

Era a mesma habilidade do mais velho dos irmãos Toguro, com a diferença de não poder mudar suas formas.

Kurama franziu a testa.

"...Não sei se Feilong poderá dar conta dele."

Continuei.

"Cê sabe o quê que eu tenho que fazer pra acionar o altar?"

Perguntei à Kurama voltando meu olhar pro altar de pedra que ficava no fundo do espaço de pedras.

"...Apenas escorra o sangue dele na pedra à direita e acenda o fogo de Ashla que já está posicionado no altar colocando-me no centro dele."

Olhando pro altar, nos quatro cantos tinha quatro coisas parecidas com pedestal. Em cima delas os três elementos quais Feilong tinha citado já estavam lá.

Rapidamente carreguei Kurama ignorando a dor súbita do meu ombro.

Deixei Kurama encima do altar de pedras negras, depositando um beijo em sua testa.

Acendi o fogo queimando o óleo esverdeado que formou uma chama prateada e retirando da minha cintura um saco de couro. Retirando o fio que amarrava a boca, despejei o líquido vermelho escurecido e viscoso dentro de uma taça prateada.

Me afastei alguns passos do altar, recebendo o olhar de Kurama que mostrava ansiedade e insegurança nos seus olhos. Sorri pra ele tentando acalma-lo, quando uma luz verde começou a fluir dos detalhes esculpidos, mostrando enfim a visão de um deus cravado nas pedras atrás do altar...

Kurama foi envolvido pela luz. Seus cabelos levitaram, balançando-se, dando a mim a ilusão de um fogo que queima sem parar...Em seguida ouve uma explosão de luzes, ofuscando meus olhos que fechei por reflexo protegendo-os com meus braços que foram estendidos na minha frente.

O silêncio permaneceu no ar, mesmo após a luz desaparecer. Perdi a noção de tempo, não sabendo se passaram segundos ou horas, até que meus olhos se recuperaram.

Lentamente eu comecei a abri-los, até que dois doces lábios se encostaram nos meus, invadindo o interior da minha boca, remexendo todos os meus sentimentos. O cheiro selvagem invadiu minhas narinas, impulsionando-me a puxar para mais perto a nuca com sua cabeleira sedosa e prateada deslizando pelos meus dedos.

Nossos lábios se separaram deixando um pequeno rastro no canto da minha boca que a língua espera de Kurama lambeu para o meu deleitar...

Me sentindo dentro de um sonho, abri meus olhos que demoraram a focalizar um par de pedras douradas sobre mim...

"Yusuke..."

Uma voz levemente grave vibrou nos meus ouvidos, dando-me calafrios...

"Kurama..."

Com o mesmo fervor e paixão sussurrei seu nome, continuando a fitar os olhos mais altos que os meus...

"Espere aqui. Eu acabo com o bastardo que lhe fez sofrer."

Ao sussurrar, Kurama deu-me mais um beijo, disparando rumo a saída da gruta...

 

Por tempo indescritível não conseguia sentir meu próprio corpo.

Era como se meu corpo perdesse suas barreiras, fundindo-se ao nada e à tudo...Não conseguia saber o porque de estar lá, num lugar escuro porém aconchegante, onde um dia eu estive mas perdi ao chegar ao mundo...Até que minha a mão foi pega por alguém...

Quando voltei em si, eu estava lá, de pé, sentindo o vigor voltar ao meu corpo.

 

As auras deveriam estar visíveis à milhas de distância, como vaga-lume em noite sem lua.

"Feilong...!!!"

Estalei a língua ao sentir a força dele aumentar de nível. Se for o quê eu penso, a mais de seiscentos anos que o youki do Feilong não se manifestava, e uma liberação brusca como essa era capaz de corrompe-lo de um modo irreparável.

Ao percorrer entre as arvores, a floresta vibrou com a maça de energia que estava sendo concentrada em um só ponto, fazendo-me apressar mais ainda minhas pernas recém despertas.

Quando meus olhos avistaram uma sombra ajoelhada no chão, meu youki fluiu ordenando para que os arbustos esticassem seus galhos, bloqueando quase que por completo o golpe que iria atingir Feilong que saltou desviando-se da energia que ultrapassou a barreira.

O inimigo voltou seu olhar raivoso para o qual atrapalhou sua caça.

"Esqueceu de mim?"

Ao ironizar, da sombra das arvores surgiram inúmeros cipós que rastearam com uma velocidade assustadora avançando sobre meu oponente. Com muita agilidade este saltou para trás, usando o vento para cortar seus perseguidores.

"Então, que tal isso?!"

Obedecendo meu youki, as raízes que estavam ao seus pés seguraram suas pernas, esmagando-as sem piedade.

As raízes foram subindo pelo seu corpo como serpentes, até cobri-lo por completo.

"Esmague-o."

O som de ossos serem despedaçados ecoou pela floresta, seguida de uma rajada de sangue. Um sorriso diabólico surgiu em meu rosto frente a satisfação de ter matado em pessoa aquele que me proporcionou tamanha humilhação.

Observei o local onde o chão se tingia de vermelho até me dar como satisfeito.

"Como você está?"

Virando-me dos restos do youkai envolvido pelos cipós, caminhei calmo até o discípulo de Shenlong que estava arfando no chão.

"Isso é o que se dá quando faz algo que não é acostumado."

Ironizei parando-me perto de seu corpo que tentava amainar sua respiração. Suas asas descansavam fechadas sobre seus ombros, até que ergueu seu rosto ainda ofegante, mostrando-me um sorriso espontâneo qual eu nunca tinha visto até hoje.

"...Consegue se levantar?"

Estendi minha mão.

Feilong olhou para ela por alguns instantes, pensante, até que estendeu a sua para se apoiar.

Tudo parecia estar bem. Isso era o que dizia seus olhos vendo-me já de pé, fora do risco, quando uma sombra estendeu-se sobre nós, numa nuvem de desespero.

Virei-me com impulso sentindo o perigo logo atrás de mim, quando os braços do youkai que eu pensava ter aniquilado abaixou-se com a eficácia de uma lâmina rumo meu peito.

Vi em minha frente a foice da morte, até que um corpo estendeu-se sobre o meu. Parecia que som da carne ser rasgada estampou-se em meus ouvidos, tingindo minha túnica de um vermelho que não era meu.

Os olhos daquele que se estendeu sobre mim, protegendo-me do golpe do youkai agora sorridente, ofuscou-se do seu brilho radiante e impulsivo, dando lugar a um tirante negro, arrancando-me o ar que respirava...

"...!! Maldito!!!!"

A voz tomada pela cólera veio de trás de mim, envolvendo-nos de uma chama dourada e branda para nós, que envolveu nosso oponente com sua fúria reduzindo-o a pó, deixando apenas a lembrança de um grito cravado na garganta daquele que agora foi levado pelo vento na forma de cinzas brancas...

Essa cena marcou-se em minha retina e meu corpo, abraçando o corpo quente, ajoelhou-se, não conseguindo mais agüentar meu próprio peso.

"Yusuke...Kurama...!!!"

Segurando sua mão que sangrava por ter conduzido uma manifestação explosiva que terminou com a vida do youkai, Feilong veio até mim, largando toda a sua postura calma e serena, dando lugar à aflição e o desespero.

O golpe que o youkai nos deu atravessou o corpo de Yusuke, abrindo em mim também um grande ferimento. Um calor que me agradava à quase uma semana atrás agora me colocava num penhasco, cujo desespero me empurrava para o abismo...

"Yusuke...!!!"

Abracei sei corpo com força, como se assim o sangue parasse. Minha visão se embaçava com as lágrimas que começaram a fluir em cascata.

"Pelo amor de deus...não, Yusuke...!!!"

Meu corpo tremia apesar do calor do sangue de Yusuke que me molhava, misturando-se com o meu.

"YUSUKE...!!!!!"

  

CONTINUA