De um lado, a eterna estrela, e do outro a vaga incerta, meu pé dançando pela extremidade da espuma, e meu cabelo por uma planície de luz deserta. Sempre assim: de um lado, estandartes do vento... - do outro, sepulcros fechados. E eu me partindo, dentro de mim, para estar no mesmo momento de ambos os lados. Se existe a tua Figura, se és o Sentido do Mundo, deixo-me, fujo por ti, nunca mais quero ser minha! (Mas, neste espelho, no fundo desta fria luz marinha, como dois baços peixes, nadam meus olhos à minha procura... Ando contigo - e sozinha. Vivo longe - e acham-me aqui...) Fazedor da minha vida, não me deixes! Entende a minha canção! Tem pena do meu murmúrio, reúne-me em tua mão! Que eu sou gota de mercúrio, dividida, desmanchada pelo chão... |
Canção quase inquieta |
Cecília Meireles |
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