Recordação |
Agora, o cheiro áspero das flores leva-me os olhos por dentro de suas pétalas. Eram assim teus cabelos; tuas pestanas eram assim, finas e curvas. As pedras limosas, por onde a tarde ia aderindo, tinham a mesma exalação de água secreta, de talos molhados, de pólen, de sepulcro e de ressurreição. E as borboletas sem voz dançavam assim veludosamente. Restituiu-te na minha memória, por dentro das flores! Deixa virem teus olhos, como besouros de ônix, tua boca de malmequer orvalhado, e aquelas tuas mãos dos inconsoláveis mistérios, com suas estrelas e cruzes, e muitas coisas tão estranhamente escritas nas suas nervuras nítidas de folha - e incompreensíveis, incompreensíveis. Cecília Meireles (in Vaga Música) |
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