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    Almeida Garrett  

Almeida Garrett

HISTÓRICO
Publicada em 1998

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INFÂNCIA

João Baptista da Silva Leitão nasceu no Porto a 4 de Fevereiro de 1799. O pai era um funcionário superior da administração fiscal e a mãe oriunda de uma família de comerciantes minhotos. O exótico apelido de "Garrett", que viria a adoptar na juventude, foi buscá-lo a uma sua ascendente paterna, de origem irlandesa.

Em 1808, na sequência das invasões francesas, a família refugia-se nos Açores, na ilha Terceira. Durante a infância, ouviu contar às criadas da casa — Brígida e Rosa — histórias populares, envolvendo bruxas e fantasmas, mouras e almas do outro mundo. Naturalmente, essas contos bebidos nos primeiros anos de vida marcaram a sua personalidade literária. Em outras condições, teriam sido repudiadas na idade adulta, por impróprios. Mas Garrett nasceu e cresceu em plena época romântica, atenta às raízes nacionais e populares da cultura. Por isso essas sementes não foram rejeitadas; bem pelo contrário, iriam dar origem ao "Romanceiro" e, obviamente, ajudá-lo a ultrapassar as formas poéticas de gosto arcádico.

Não foi por acaso que a sua família procurou refúgio nos Açores, aquando das invasões francesas. Na realidade possuía aí propriedades e familiares. Um deles, bispo resignatário de Malaca, D. Frei Alexandre da Sagrada Família, homem de vasta cultura, na apreciação do próprio Almeida Garrett, terá influído fortemente na sua formação intelectual. Com ele, sobretudo, adquiriu uma sólida formação literária, de gosto clássico, naturalmente, a par de não poucas ideias conservadoras, que viria a rejeitar pouco depois. Chegou-se mesmo a pensar numa carreira eclesiástica para o jovem João Baptista, mas a notória falta de vocação levou-o a seguir outro caminho.

 

JUVENTUDE

Em 1816, de regresso ao continente, matricula-se no curso jurídico da Universidade de Coimbra. É aí que entra em contacto com as ideias liberais. Ao longo desses anos vêmo-lo envolvido em movimentações académicas contrárias à presença inglesa e favoráveis à instauração de um regime liberal. Paralelamente, dedica-se à literatura: conhecem-se dessa época vários ensaios poéticos e numerosos textos dramáticos, frequentemente incompletos. Em muitos deles é bem visível a intenção revolucionária.

Em 1818 faz representar a tragédia Xerxes, cujo texto se perdeu. Por essa altura começa a escrever a Lucrécia e O Retrato de Vénus. Os ensaios poéticos denunciam a sua formação arcádica e têm frequentemente uma temática política. Esse esforços continuam em 1919, pois nessa época escreveu parcialmente duas tragédias: Afonso de Albuquerque e Sofonisba. Escreve também uma versão reduzida da tragédia Mérope.

Em 30.06.1820 adquire o grau de bacharel em Direito. Por essa altura retoma o texto da tragédia Mérope e trabalha em outros textos de natureza dramática. É deste ano a redacção de O Roubo das Sabinas. No ano seguinte (1821), escreve a tragédia Catão, representada nesse mesmo ano. Em Novembro publica O Retrato de Vénus.

No início de 1822 publica a tragédia Catão e a farsa O Corcunda por Amor. Paralelamente responde na imprensa e em tribunal às acusações de imoralidade e abuso de liberdade de imprensa pela publicação de O Retrato de Vénus. Acaba por ser absolvido. A sua actividade política acentua-se com o triunfo do vintismo. Em 1822 encontramo-lo secretário particular do ministro Silva Carvalho. Em Agosto ingressa na Secretaria dos Negócios do Reino, assumindo as funções de Chefe da Repartição de Instrução Pública. No final do ano, casa com Luísa Midosi.

 

EXÍLIO

Na sequência da Vilafrancada (1823), e depois de uma breve detenção, é obrigado a exilar-se na Inglaterra, em Birmingham. É dessa altura o Diário da Minha Viagem a Inglaterra. No exílio começa a escrever o poema O Magriço e os Doze de Inglaterra, mais tarde perdido.

Em 1824, depois de passar por Londres, transfere-se para França (Havre), como funcionário da casa bancária Lafitte. Redige então os poemas Camões (publicado em 1825) e Dona Branca (editado em 1826). Ao mesmo tempo, vai dando forma àquilo que virá a constituir o Romanceiro. Redige também o ensaio Da Europa e da América, sobre a revolução vintista em Portugal e a independência do Brasil. Mas no fim do ano vê-se sem emprego e em dificuldades financeiras. Em consequência disso, no início de 1825 transfere-se para Paris, onde publica Camões. Não tendo conseguido autorização para regressar a Portugal, volta ao Havre e reingressa na casa Lafitte. Ensaia algumas tentativas novelísticas, que ou ficaram incompletas ou se perderam.

No ano seguinte, as dificuldades financeiras acentuam-se. A mulher regressa a Portugal e ele consegue empregar-se na Livraria Aillaud, em Paris. Aí publica Dona Branca e o Bosquejo da História da Poesia e da Língua Portuguesa. A meio do ano, após a outorga da Carta Constitucional por D. Pedro, regressa a Portugal e retoma o seu lugar na Secretaria dos Negócios do Reino. Publica de imediato a Carta de Guia de Eleitores. Simultâneamente envolve-se no jornalismo político com a edição de "O Português". No ano seguinte (1827), aparece ligado à publicação do semanário "O Cronista". A colaboração em "O Português" leva-o á prisão, tal como aos demais redactores, e só consegue ver-se definitivamente livre do processo em 1828.

Com regresso de D. Miguel vê-se obrigado a um segundo exílio, dirigindo-se inicialmente a Plymouth, na Inglaterra. Nesse ano publica anonimamente, na Inglaterra, o poema Adozinda. Em 1829 publica a Lírica de João Mínimo. Assume o cargo de secretário do Duque de Palmela no governo liberal no exílio. Participa na edição do jornal "Chaveco Liberal". Em Novembro edita a primeira parte do tratado Da Educação. No ano seguinte, no decurso de uma longa convalescença, redige o tratado Portugal na Balança da Europa. Em 1831 colabora nos preparativos da expedição liberal aos Açores e continua a actividade jornalística em "O Precursor" e "O Pelourinho".

 

TRIUNFO DO LIBERALISMO

Em 1832 parte para os Açores como soldado, juntamente com Alexandre Herculano, Joaquim António de Aguiar, futuro ministro, e outros. A partir de Maio colabora com Mouzinho da Silveira na reforma administrativa do país. Em Junho, novamente como soldado, desembarca no Mindelo. Durante o cerco do Porto pelas tropas miguelistas, começa a redigir a novela O Arco de Santana. A seguir, passa pela Secretaria do Reino e pela dos Negócios Estrangeiros. No fim do ano, em Novembro, é incumbido de missões diplomáticas em Londres, Paris e Madrid. Nessa altura, num naufrágio ao largo do Porto, perde muitos dos manuscritos redigidos ao longo dos anos.

Durante o ano de 1833 vê-se abandonado pelo governo no exterior. Com o triunfo dos liberais consegue regressar a Lisboa e é de imediato integrado na Comissão para a Reforma Geral dos Estudos. No início de 1834 é nomeado cônsul na Bélgica e aí fica votado ao abandono durante algum tempo. Nessa fase familiariza-se com a língua alemã e alguns dos seus autores (Herder, Schiller, Goethe)

Em 1835 separou-se amigavelmente da mulher, Luísa Midosi. Mais tarde, em 1837, inicia uma relação amorosa com Adelaide Pastor, de quem terá dois filhos mortos na primeira infância, e uma filha que lhe sobreviverá. Ainda na Bélgica, enfrenta dificuldades financeiras, já que entretanto fora substituído no cargo diplomático sem seu conhecimento prévio. De regresso a Portugal (1836), funda o jornal "O Portugal Constitucional". Com a formação do governo setembrista de Sá da Bandeira, passa a colaborar com ele e apresenta em Novembro o projecto de criação da Inspecção-Geral dos Teatros, do Teatro D. Maria II e do Conservatório de Arte Dramática, aprovados de imediato: Naturalmente é nomeado inspector-geral dos teatros.

 

RENOVAÇÃO DO TEATRO PORTUGUÊS

Eleito deputado, durante o ano de 1837 envolve-se em intensa actividade parlamentar e é um dos principais redactores do projecto de nova Constituição, que virá a ser aprovada no ano seguinte. Entretanto publica "Entreacto", jornal da actividade teatral. Garrett revela-se, de facto, o principal renovador do teatro português. Nesse sentido, escreve e faz representar Um Auto de Gil Vicente. Pela mesma altura colabora na redacção da comédia O Camões do Rossio, ao mesmo tempo que redige A Sobrinha do Marquês e inicia a redacção de Inês de Castro, que nunca seria concluída.

Entretanto, vai sendo sucessivamente reeleito como deputado, mantendo uma actividade política intensa. É nomeado para novo cargo — Cronista-mor do Reino. Nessa qualidade organiza um Curso de Leituras Públicas sobre História, que se inicia no ano seguinte (1840). Em Maio escreve e encena o drama D. Filipa de Vilhena. No final do ano aparece como um dos principais redactores do novo Código Administrativo.

Em 1841 Um Auto de Gil Vicente e Mérope aparecem publicadas em livro; no prefácio à edição traça a história do teatro português. Nesse mesmo ano escreveu O Alfageme de Santarém e O Entremez dos Velhos Namorados, que ficou incompleto. No Parlamento critica duramente o ministro António José d'Ávila e passa para a oposição, sendo de imediato demitido dos cargos que ocupava: Inspector dos Teatros, Presidente do Conservatório e Cronista-mor. Com diferença de dias vê morrer a mãe e a mulher Adelaide Pastor, que lhe deixa uma filha.

 

MATURIDADE LITERÁRIA

No início de 1842, na sequência do golpe cabralista, manifesta-se com outros deputados a favor da Constituição de 1838, que havia sido substituída pela Carta Constitucional. A sua oposição prolonga-se durante todo o governo de Costa Cabral. Entre Março e Abril de 1843 escreve Frei Luís de Sousa, pouco depois representado pela primeira vez. Logo a seguir, inicia a redacção das Viagens na Minha Terra e a recolha de material para o Romanceiro, cujo primeiro volume virá a ser publicado no final do ano. Pela mesma altura surge o "Jornal de Belas Artes", sob sua inspiração.

No início de 1844, sente-se ameaçado pela repressão cabralista, apesar da sua condição de parlamentar, e acolhe-se à residência do embaixador brasileiro. É por esta altura que conhece a Viscondessa da Luz, inspiradora das Folhas Caídas.No final do ano surgem as primeiras edições de Frei Luís de Sousa. Termina nesta altura a redacção da primeira parte de O Arco de Santana, publicada no início de 1845. Participa no lançamento do magazine "Ilustração" e inicia a publicação das Viagens na Minha Terra na "Revista Universal Lisbonense". Representa-se pela primeira vez a comédia Falar Verdade a Mentir e As Profecias do Bandarra. Ainda nesse ano de 1845 publica Flores sem Fruto.

Durante o ano de 1846 continua firme na oposição ao cabralismo, ao mesmo tempo que não descura a actividade literária. Saem em livro As Viagens e um volume de teatro. O retorno de Costa Cabral ao poder implica o seu afastamento político durante vários anos, que só terminará em 1852, quando é novamente eleito deputado. No final de 1847, escreve O Noivado do Dafundo. Em 1849, redige a segunda parte de O Arco de Santana.

Em 1851, com o triunfo do movimento da Regeneração, para que contribuiu, volta a envolver-se na actividade política. É neste ano que recebe o título de visconde e publica o 2º e 3º tomos do Romanceiro. Em 1852 adquire de novo a situação de deputado, sendo de imediato nomeado Par do Reino. Durante duas semanas, de 4 a 17 de Agosto, assume o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros, mas demite-se por divergir do Tratado de Comércio e Navegação com a França.

Em 1851 fora nomeado para a comissão de reforma da Academia Real das Ciências e agora vê os Estatutos que ele redigira serem aprovados. Pela mesma altura tinha sido nomeado vogal do Conselho Ultramarino, de que fora um dos promotores, e é nessa qualidade que, em 1853, tem um papel importante na Organização e Regimento da Administração da Justiça nas Províncias de Angola, S. Tomé e Príncipe e suas dependências. Manifesta-se um dos activistas pela libertação dos escravos.

Em Abril de 1853 edita as Folhas Caídas. Começa a redacção da novela Helena, que não chegou a completar e só viria a ser publicada em 1871.

A 9 de Dezembro de 1854 morre em Lisboa.