A meio caminho

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USHUAIA, província da Tierra del Fuego, Antártida e Islas del Atlántico Sur, República Argentina, domingo 1º de agosto de 2004

Resume da publicação anterior:  fui embora de Buenos Aires o 17 de março deste ano, pedalando na minha bicicleta, rumando para Ushuaia, a cidade mais ao sul do mundo, após seis meses ficando com o meu pai doente (já ele está jóia!). A doença do meu pai foi o motivo pelo qual deixei a minha viagem parada, quando eu estava em Colômbia pronto para passar à América Central: aconteceu que  quando liguei de lá para a minha irmã mais novinha e ela falou para mim  da situação do meu pai, peguei ônibus direito e após sete dias cheguei a Buenos Aires (8/9/2003). Para mais informações clickar:  publicação anterior.

Não posso acreditar: ao fim estou em Ushuaia.  É mesmo, aqui no cu do mundo. Nesse instante que estou escrevindo esta precipitando-se uma nevada, sossegada, acima duma cidade que amanheceu branca como um cartão de Natal. 

Achei que o regresso seria fácil, mas a lei do Murphy (conhecem vocês aquela lei no Brasil?) faz sempre que enquanto você mais pertinho esta do seu destinho, mais difícil fica a sua vida.

Atravessar o norte da Patagônia foi legal, mas chegando ao sul troquei as estradas pelas trilhas: peguei uma de 400 km, sete dias pedalando sozinho  no caminho de pedras e terra até chegar numa cidade importante. O trafego só era dum ou dois carros num dia todo. Foi uma experiência muito forte, e às vezes tinha a sensação de ser o último hómem da terra, o último sobrevivente duma catástrofe global. 

Enquanto mais ao sul tinha chegando, mais geada nas rodovias: chegado o momento, precisei colocar pregos nos pneus da bicicleta.

 

A CHEGADA À USHUAIA foi chéia de emoções. Prometi para mim manter a calma, mas após abraçar as minhas amizades terminei chorando como uma criança. 

Finalmente olhei o estreito de Magalhães e peguei o ferry para chegar à Ilha Grande da Tierra del Fuego... e lá sim que a coisa ficou muito complicada: passei quase uma semana pedalando com muito vento de contra, duma velocidade de 40 km/h e ráfagas de 70 km/h. O vento tinha chegando do sul, portanto a temperatura ficou em 19 ºC  baixo cero de sensação térmica. Foi a vez primeira que pensei de jogar a bicicleta e pegar ônibus, mas não fez isso e pedalei até o final: lutei até ganhar à Patagônia.

A seguir vocês estão convidados para assistir na seguinte sesão fotográfica do que foi voltar ao local do mundo aonde terminam as rodovias de América... ou aonde começam? 

PASSEANDO PELO PALEOLÍTICO

A PASSOS DA CIDADE PATAGONICA de Trelew pode-se encontrar muitos restos fóseis de animáis marinhos. Tem muitos de mexilhões y ostras, mas às vezes aparecem essos espectaculares dentes de megalodão, como os que encontraram uns amigos (aqueles que tenho nas mãos na foto da esquerda e que pode-se olhar mais pertinho acima). O megalodão é uma especie de tiburão que existiu faz 30 millões de anos, e tinha  até 20 metros de longo. Para ter uma idéia do tamanho, pode-se olhar o dente pequeno que achei,embaixo dos outros na foto da acima, que era dum tiburão branco fósil, muito parecido aos tiburões brancos da atualidade. 

DEJA VU 

A PRIMEIRA FOTO foi tirada no julho do ano 2000 durante um almoço rodoviário, quando a viagem recém começava. Quatro anos após esse dia (junho de 2004),  com quase 20.000 km nas minhas costas, tirei mais uma foto no local. O cara ficou estragado, mas muito feliz.

AS DUAS FACES DA MOEDA

EMBAIXO PODE-SE ME VER virado num senhor, durante uma conversa e amostra fotográfica de cicloturismo de aventura. A conversa foi para estudantes universitários da cidade patagonica de Trelew, mas na verdade começei fazendo isso em Equador nas universidades de turismo.

 

PROTEÍNAS, PROTEÍNAS! E agora vê-se o cara virado num Neanderthal primitivo logo após ter pegado a sua infeliz presa: um tatú ou peludo (não se o nome português). É comum mesmo vê-los nas beiras das rodovias e, se você é experto, pode pegá-los antes de eles fazer um poço para fujir. (não acreditem isso das proteínas: após  tirar a foto libertei o bicho... é mesmo!)

PRIMEIRO O NOSSO PATRIMÓNIO

NÃO MUITO LONGE dum povoado patagonico chamado Camarones, tem uma fazenda aonde o pessoal esta obtindo com sucesso lã dos guanacos. O dono comprou o local faz três anos e durante o primeiro olhou que nas suas terras tinha mais guanacos que formigas. No segundo ano, o cara pegou 60  chulengos (como chama-se aos guanacos filhotes) para obter deles 26 kg de lã na tosquia, que vendeu na Inglaterra em...120 doláres o kg! (quando o kg de lã de ovelha é apenas 3 doláres). 

 

Nesse ano, o terceiro, que foi quando eu passei lá, o dono teria pegado mais 112 chulengos e ainda tinha os 60 do ano anterior (pode-se vê-los no fundo da foto, acima). Eu fiquei muito feliz  quando conheci o local e vi que, finalmente, o pessoal da Argentina estava utilizando os recursos regionáis como coisas próprias, ajudando ao tempo na proteção do meio ambiente e na conservação, nesse caso do guanaco: a gente precisa se lembrar que as ovelhas e vacas foram introducidas durante a colonização das Américas pelos europeos. A úmica coisa que deu para mim um pouco de tristeza foi um pequeno detalhe...

O dono da fazenda é inglês.

ALOJAMENTOS INUSUÁIS

NO LADO CHILENO da Ilha Grande da Tierra del Fuego pode-se encontrar aproximadamente a 25 km cada uns destos refugios construídos pelo governo de Chile na beira da rodovia para os viajantes. São muito legáis, bem feitos, com fogão de lenha e leito. Os refugios estão sempre pertinhos das fazendas, aonde os viajantes podem obter água e lenha. 

NO LAGO FAGNANO, já do lado argentino da ilha, os policiáis marítimos (Prefectura Naval)  tem essa "casa tubo" aonde usualmente os viajantes que gostan da aventura e natureza podem passar a noite e ao dia seguinte chegar ao destinho final da viagem: a cidade de Ushuaia, afastada só 60 km do local. 

CAMINHO AO COSTADO DO MUNDO...

 

O GOROSITO É o monumento que faz honra ao trabalhador do petróleo,  na cidade de Caleta Olivia, na Patagônia. É a foto de cartão postal típica que representa ao local.

 

NO CORPO DE BOMBEIROS da cidade de de Río Grande, na Tierra del Fuego, o pessoal tem um livro muito particular onde os viajantes do mundo todo, de bicicleta, de carro, de moto, etc, que chegam para ficar ali alojados no quartel, assinam e também colam as suas fotos e deixam mensagens de lembrança. Eu só olhei mais um livro assim no Corpo de Bombeiros da cidade de Ambato, no Equador.

APENAS 20 KM de distância de Ushuaia a neve vira-se abundante, e para pedalar pela branca estrada você precisa ter pregos nos pneus.

O ESPERADO SUCESSO de ter chegado no portal da cidade, após 4 anos dum jeito de viver totalmente doido! A placa fala o seguinte: "BEM-VINDO À CIDADE MAIS AO SUL DO MUNDO".

Falou pessoal... É aqui o final? quem sabe... Enquanto eu estava voltando agora à Ushuaia, prossegui mesmo na procura de patrocinantes, porque fiquei com vontade de começar a viagem mais uma vez, porque ficou detida, cheguei até Colômbia mas faltou América Central e América do Norte.  Com certeza vou tentar a viagem novamente; estou mais velho mas sou agora mais experto.. No entanto, enquanto eu estiver aqui no fim do mundo preciso baixar os meus pés na terra: agora começei na procura de serviço (é duro mesmo, não tem) e também estou escrevindo muito, porque estou com a cabeça chéia de idéias doidas, dessas que quando você fala o pessoal fica olhando para você com faces de preocupação, quiça pensando que você precisa atenção médica e até um tratamento de electroshock ou uma lobotomia.

Se Deus quiser, talvez o ano seguinte vou começar novamente. O projeto agora é outro: chegar à cidade de Tijuana, México, na baixa California e dali voltar para Ushuaia... de bicicleta, é mesmo! Os planos são subir América pelo Atlántico e baixar pelo Pacífico. Vocês podem se perguntar porque não esta Estados Unidos no meu roteiro. Têm dois importantes motivações: 1) Não poderia nem sonhando dar certo com os requerimentos para obter a visa; 2) Agora perdi interesse de conhecer esse país, portanto não vou siquer tentar viajar lá. 

É verdade que têm muitos norteamericanos que são legáis (eu sempre fui da certeza do que o mundo todo é a mesma coisa; podem mudar as costumes do pessoal, mas o mundo tudo precisa usar do banheiro, ne?), mas também têm aqueles norteamericanos muito nefastos, que tem uma visão da vida e do mundo muito longe da realidade; e a cultura que eles oferecem pela média é horrível: pareceria que aquele pessoal acha que as coisas importantes da vida são ter muito dinheiro, comprar doidamente e ser sempre o primeiro em tudo para não ser chamado perdedor. Personalmente, eu estou mais interessado na autosuperação; é melhor ter amigos que competidores.

Já foi muito de filosofía barata: amigos, muito obrigado pelo seu apoio e tenho a esperança de voltar a contatar-me com vocês pelo meio ciberespacial, desenvolvido pelos nossos amigos estadounidenses para fazer a guerra (quem tenha dúvidas, tem tareia escolar: pesquisar da história da internet) mas agora usado pelos caras tão simples como eu sou para se comunicar pelo mundo todo. Não deram certo na sua procura. 

Chaucito pué! (Ah! tô maluco!!!)

Adrián, de América Latina.


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