Nesta página estão incluídas notas biográficas de alguns dos Faialenses que mais se destacaram de modo indiscutível, por factos e obras reconhecidamente relevantes em qualquer domínio. Agradeço a incansável ajuda de Mário Faria, sem a qual a realização desta página não seria possível.
Família Azevedo
Comerciante já instalado na praça faialense, Ernesto Lourenço S. Azevedo (20-4-1859 - 24-3-1931) possuía um bazar de artesanato no Largo do Infante (o "Bazar of Fayal manufactures & products"), que se dedicava ao comércio de produtos locais. Lá vendia bordados, rendas, chapéus e cestos de palha, flores de penas, trabalhos de crivo e muitos outros artigos do artesanato local.
E foi com esses produtos que, em 1888, participou na Exposição Industrial de Lisboa, tendo obtido, pela sua qualidade e diversidade, a respectiva medalha de ouro e diploma.
A mudança do século levou Ernesto Azevedo para a Rua Tenente Valadim, adquirindo um dos edifícios que hoje está incluído naquilo que hoje é o "Peter". Chamando-lhe "Azorean House", mantendo o comércio de artesanato mas passando também a vender bebidas, este novo estabelecimento permitia ao seu proprietário a enorme vantagem de estar mais próximo do porto e, por isso, de todo o movimento que ele gerava como único local de entrada e saída de bens e pessoas da ilha.
Já nessa altura, o estabelecimento apresentava uma característica fundamental: era um negócio familiar, ocupando o pai, Ernesto Azevedo, e dois dos seus filhos: Ernesto Lourenço Ávila Azevedo e Henrique Lourenço Ávila Azevedo (16-6-1895 - 3-5-1975), que acabaria por ser o continuador da tradição familiar e o herdeiro da "Azorean House". Em 1918, já por sua conta, Henrique Azevedo transfere a Azorean House para o edifício vizinho do lado norte, mantém o mesmo ramo de negócio e muda-lhe o nome para "Café Sport", consagrando assim, no nome do Café a sua paixão pelo desporto, pois era praticante habitual de futebol, remo e bilhar. (…)
Os primeiros anos da década de trinta haviam sido para José Azevedo os da infância e adolescência mais ou menos despreocupada, ajudando o pai no Café nas tarefas que lhe iam sendo cometidas. Mas, aos 15 anos, a Guerra levou-o a trabalhar para os ingleses. Começou executando vários serviços, desde o transporte de munições (em depósito em S. Lourenço) para os navios, passando pelo trabalho na Cantina, que fornecia víveres aos barcos de passagem até ser nomeado chefe dos pintores (um grupo de seis pessoas) que beneficiavam os navios que aportavam à Horta. O domínio da língua inglesa foi decisivo na obtenção desse cargo, pois era José Azevedo que recebia as ordens de serviço dos graduados ingleses e as transmitia aos pintores para execução.
No início da Guerra, veio para a Horta o navio H.M.S. Lusitania II da Royal Navy, que havia perdido a popa devido ao lançamento de uma bomba de profundidade que rebentou antes do tempo. O navio estacionou no porto durante todo o conflito mundial e foi utilizado como base de distribuição de comunicações para as embarcações que desempenhavam missões militares no Atlântico Norte.
Foi no Lusitania II que nasceu o nome do "Peter". Lá trabalhava um graduado, chefe do serviço de munições e manutenção do navio, que se tornou amigo de José Azevedo. Achando-o parecido com um filho que tinha ausente, o inglês passou a chamá-lo pelo nome dele, "Peter", argumentando que assim pensaria ter o filho a seu lado. Dos ingleses para os portugueses, o nome de "Peter" passou tão rápida como indelevelmente de tal forma que suplantou o nome de baptismo de José Azevedo. (…)
Em 1975, o "Café Sport" havia mudado para o edifício anexo, do lado norte, no âmbito de um acordo comercial com uma empresa da Região. Foi nestas novas e maiores instalações que se mudaram alguns aspectos do Café. Assim, a águia que estava no exterior como símbolo, passa para o interior para a parte superior e sobranceira ao balcão. No exterior, a simbolizar o Café, passa a estar uma baleia esculpida em osso de cachalote, oferecida pelo artesão M .D. Fagundes, que abastecia o estabelecimento daqueles artefactos. Foi também nestas instalações que se começou a expor e pendurar na parede as bandeiras (símbolo dos iates ou do clube a que pertencem) que iam sendo oferecidas a José Azevedo.
O ano de 1983 encerra as mudanças de instalações. Com a aquisição dos edifícios onde se tinha iniciado o Café, o "Peter" passa para as actuais instalações, com a fisionomia e a localização que hoje apresenta.
Entretanto, José Azevedo, mantendo a tradição e a feição familiar do negócio, associa o filho José Henrique Gonçalves Azevedo à gestão do estabelecimento. José Henrique já desde 1967 dedicava as suas férias ao trabalho no Café, recebendo do avô e do pai a herança, a mística e a forma do tratamento pessoal e amistoso que caracterizam o "Peter - Café Sport". Mas foi só a partir de 1978 que se dedicou a tempo inteiro à empresa e foi, em grande parte, devido ao seu empenho que nasceu, em 1986, após obras de adaptação no piso superior, o "Museu do Peter", visitado por milhares de turistas e que constitui uma verdadeira preciosidade e a "menina dos olhos" dos seus proprietários. Simultaneamente, e coincidindo com a diminuição do fabrico do artesanato em marfim e osso de baleia, foi lançada uma nova linha de souvenirs, que publicitam o "Peter" e divulgam a sua nova imagem: uma baleia. Neste conjunto de novos produtos inclui-se também um poster, reproduzido a partir de uma fotografia tirada por José Henrique durante um temporal que fustigou o Faial a 15 de Fevereiro de 1986, e na qual a rebentação das ondas junto ao Monte da Guia desenharam o perfil do rosto de Neptuno.
Extracto de "História do Peter Café Sport", da homepage na Internet do Peter Café Sport
Euclides Silveira da Rosa
As peças em miolo de figueira que se apresentam em exposição no Museu da Horta, são da autoria de Euclides Silveira da Rosa, que nasceu na ilha do Faial em 1910, e faleceu no Brasil, em São Paulo, a 16 de Outubro de 1979. Foi este o artista que mais formas modelou nesta frágil matéria, concerteza o mais paciente, hábil e tecnicamente mais perfeito, o que deu ao miolo da figueira a faceta escultórica ímpar.
Engenheiro de profissão na companhia norte-americana Commercial Cable Co. na Horta, foi, por volta de 1936, que este verdadeiro artista iniciou a construção da colecção que se apresenta a público, que é única no mundo, e que na sua origem se compunha de 70 miniaturas, contando 35.000 fragmentos de miolo de figueira e pesando tão só 1.200 gramas. Adquirida por doação feita pela viúva do autor no ano 1980, D. Leonor Rosa, desde então foi esta colecção instalada como exposição permanente no Museu da Horta.
Nota Biográfica extraída de "HORTA", edição da Publiçor - Publicações & Publicidade Lda., 34-35pp., Ponta Delgada, 1997
Marcelino Lima
Jornalista, romancista e historiógrafo, Marcelino Lima nasceu em 12 de Março de 1868 na cidade da Horta e faleceu em Lisboa, onde se fixara a partir de 1927, em 18 de Janeiro de 1961.
Como jornalista dirigiu, com Júlio Lacerda, o semanário literário O Bibliófilo (31-5-1885), a Revista Faialense (semanário literário e desportivo, 1-2-1893) e O Faialense, 2ª Série, de colaboração com Florêncio Terra e Rodrigo Guerra. Escritos seus também apareceram em O Telégrafo, A Democracia, Correio da Horta e Arauto.
Como romancista e historiador registam-se as seguintes obras: Francisco D'Utra de Quadros (1920), Famílias Faialenses (1922), A Loucura dum Ideal (1931), Uma Freira que Pecou (1931), Por causa dum Ramalhete (1933), A Discípula (1940), Anais do Município da Horta (1943), A Ilha do Faial (1943), Goularts (1952), Judeus na Ilha do Faial (1956), Teatro na Ilha do Faial (1957), Vocabulário Regional do Faial e Pico (1957) e Ermida do Pilar e de S. Lourenço, no Boletim do Núcleo Cultural da Horta.
Foi um dos sócios fundadores (18 de Maio de 1880), e mais de uma vez presidente, do "Ginásio Clube", presidente da "Sociedade Luz e Caridade" e do "Grémio Literário Faialense", e fez parte do grupo dramático "António Baptista".
Nota Biográfica extraída de "ÀS LAPAS: Contos e Narrativas Faialenses", antologia organizada por CARLOS LOBÃO, edição da Direcção Regional dos Assuntos Culturais e da Câmara Municipal da Horta, 254 pp., Horta, 1988
José Curry da Câmara Cabral
José Curry da Câmara Cabral nasceu na cidade da Horta em 1844. Pertencia a uma família de origem inglesa que, pela mão do comerciante Andrew Curry, seu tetravô, se radicara nos Açores em inícios do século XVIII. Residiu quase toda a vida em Lisboa, onde faleceu no ano de 1920.
Licenciado em 1869 pela Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, Curry Cabral foi sucessivamente, ao longo do seu percurso profissional no Hospital de S. José, cirurgião do banco de urgências, cirurgião extraordinário e director de enfermaria, e, por fim, enfermeiro-mor. Deste honroso cargo, que exerceu durante vários anos, se exonerou por motivos particularmente políticos, incompatíveis com a rijeza da sua dignidade pessoal (1). Clínico de prestígio, é hoje considerado — a par de Sousa Martins, Manuel Bento de Sousa e Oliveira Feijão — uma das figuras de grande nível da medicina portuguesa do seu tempo (2).
Como professor, chegou a lente efectivo da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, primeiro na cadeira de anatomia patológica e, posteriormente, na de anatomia operatória.
Membro de várias associações científicas, nacionais e estrangeiras, foi entre 1898 e 1900 presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa.
A obra que, no entanto, lhe conferiu maior notoriedade foi a instalação do Hospital do Rego, em Lisboa. Inaugurado em 1906, e destinado na altura ao tratamento de doentes com tuberculose, àquele estabelecimento hospitalar foi, em 1929, alterado o nome para Hospital de Curry Cabral. Justa homenagem essa ao ilustre faialense, seu fundador.
Fontes bibliográficas:
1. LIMA, Marcelino, FAMÍLIAS FAIALENSES (Subsídios para a história da ilha do Faial), Horta (ilha do Faial), Oficinas da Tipografia "Minerva Insulana", 1922, 734 p. (Título X, Currys, p. 241 a 245)
2. MATTOSO, José, HISTÓRIA DE PORTUGAL (V volume: O Liberalismo), Lisboa, Ed. Círculo de Leitores, 1993, 712 p. (Capítulo Ciências, da autoria de Ana Leonor Pereira e João Rui Pita, p. 653 a 667)
Informações adicionais foram gentilmente cedidas pelo secretariado da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa e pelo Hospital Curry Cabral.
Silvina Furtado de Sousa
Poetisa de requintado gosto. Manejou a pena e o pincel com a mesma facilidade com que, no seu piano, executava música clássica, em especial Chopin.
Modesta em extremo, conservou-se sempre no anonimato usando o pseudónimo "Iracema" (título de uma pequena novela indianista do grande prosador romântico brasileiro José de Alencar), versejando e escrevendo pequenos contos que dispersou pelos jornais do Faial ("A Horta Desportiva" e "O Telégrafo"), tendo deixado apenas um volume de versos a que deu o título de "Saudade" (1960).
O seu valor foi descrito por alguém como sendo "(…) gentil, insinuante (…), um físico delicado e frágil a suportar uma mentalidade que conseguiu, pela sua cultura e inteligente desenvolvimento, ocupar um dos lugares mais elevados dentro da Arte e da Cultura Açorianas".
Na Horta, rua Conselheiro Medeiros, num prédio dos herdeiros de José da Silva Correia, fundou o "Colégio Insulano" (onde se ministrava educação intelectual e da sensibilidade, através do ensino de várias disciplinas com destaque para o Francês, a Música - saliente-se o seu sexteto que foi, durante dois anos, dirigido pelo distinto violinista Raul de Oliveira - e a Dança) e, com sua prima Lídia Furtado, no mesmo edifício, o "Salão Teatro Eden" que, tendo sido inaugurado em 25 de Novembro de 1916, funcionou durante 25 anos (1916-1940).
Com justiça se colocou no referido imóvel uma lápide com o seguinte dizer: Silvina Furtado de Sousa "IRACEMA", aqui viveu e ensinou, 21-8-1965.
Em 28 de Agosto de 1965 recebeu das mãos do governador Freitas Pimentel, por incumbência do Chefe de Estado, as insígnias do grau de Cavaleiro da Ordem da Instrução Pública, e do então presidente do Núcleo Cultural da Horta, Dr. Linhares de Andrade, o diploma de Sócio Honorário.
Silvina de Sousa nasceu a 19 de Janeiro de 1877 na Horta, onde faleceu em Setembro de 1973.
Nota Biográfica extraída de "ÀS LAPAS: Contos e Narrativas Faialenses", antologia organizada por CARLOS LOBÃO, edição da Direcção Regional dos Assuntos Culturais e da Câmara Municipal da Horta, 254 pp., Horta, 1988