A Jet-Stream: Criatividade Versus Imaginação

Fabrizzio B. Dal Piero

O mecanismo do descobrimento não é lógico e intelectual - é uma iluminação subtânea, quase um êxtase. Em seguida, é certo, a inteligência analisa e a experiência confirma a intuição. Além disso, há uma conexão com a imaginação.

Albert Einstein

Ao começar 1944, o "slogan" era: Convertei-vos em inventores! Convertei-vos em engenheiros. O Japão começará a guerra com os melhores aviões, com os melhores torpedos e com alguns dos melhores soldados. O General Tojo fez da inventiva o tema de seus discursos no Parlamento: "Necessitamos de idéias novas! A ciência do Grande Japão deve ser capaz de sobrepor-se aos obstáculos clássicos. Nada pode ser impossível para ela".

Escutai-me: outro dia chamei meu filho, que estuda engenharia, e perguntei: Pode-se projetar um avião que em duas horas me transporte a Berlim sem utilizar gasolina, carvão ou eletricidade? Meu filho respondeu que era impossível. Pois bem: Isso não é impossível. Nada pode ser impossível para a ciência japonesa, se se dispõe de suficiente criatividade. Por que é impossível inventar um aparelho que tenha possibilidade para libertar-se da atração terrestre; que em poucas horas deixe a terra girando lá em baixo e não tenha nenhum problema em pousar em Berlim, ou em outro lugar qualquer, no momento exato que se queira?

"E combustível? Será que não se pode descobrir no ar algum gás capaz de movimentar um motor?..."

Em 1932, no observatório de Takao, na ilha de Formosa, o professor Nakayama descobriu uma corrente de ar a grande altura, que ia do Japão à Costa oeste do Canadá e dos Estados Unidos. Chamou-a "Jet-Stream".

Dez anos mais tarde, em 1942, o doutor Fujiwara procurava uma maneira de atacar os americanos em seu próprio território continental. Utilizando já da criatividade que o General Tojo defendia, Fujiwara pensou em utilizar a "Jet-Stream" para transportar globos incendiários. Após observar a força da "Jet-Stream" e as condições climáticas norte-americanas nas diferentes estações, elaborou o seguinte informe:

Durante o verão, período em que a Jet-Stream é mais fraca, um globo levaria de sete a dez dias para atravessar o Pacífico. A porcentagem dos que alcançariam seu objetivo não seria superior a vinte por cento dos globos lançados.

Durante o inverno a travessia não duraria mais de dois ou três dias. Poder-se-ia calcular que sessenta a setenta por cento dos globos alcançariam o objetivo. A dificuldade era que no inverno a neve impediria a propagação de incêndios.

Na primavera e no outono o lançamento é praticamente impossível. O exército e a marinha se interessaram pelo projeto. Em novembro de 1943 efetuou-se uma primeira tentativa partindo de Osawara, mas não se pode saber o resultado.

Meses depois, em abril de 1944, tentou-se uma segunda vez. Para verificar a eficácia, um avião seguiu o trajeto; os resultados foram satisfatórios e a construção maciça dos globos incendiários foi iniciada. O exército fabricou um modelo "A" e a marinha um modelo "B". Na realidade os dois tipos eram iguais; as diferenças estavam apenas na fabricação.

Em poucos dias todo o gelo e as reservas de "konnyaku" (condimento gelatinoso para cozinhar) desapareceram de Tóquio. A explicação; o "konnyaku" servia de cola para o envoltório dos globos, e o gelo para que fossem fabricados a 55° abaixo de zero, temperatura que suportariam em vôo.

Por outro lado, como deveriam ser sólidos, requisitou-se todo o papel de boa qualidade. O exército deu ao projeto muito mais importância que a marinha: até o final da guerra lançou 9.000 globos do modelo "A" e a marimba somente 300 do tipo "B".

Os globos tinham diâmetro de 10 metros e volume de 18.000 pés cúbicos. Voavam a 10.000 metros de altura e alcançavam velocidade de trinta e dois quilômetros por hora. Transportavam um dispositivo que explodia automaticamente uma bomba incendiária.

Quando se verificaram incêndios misteriosos no Oeste americano, o FBI e os serviços de inteligência mantiveram segredo. Imaginavam, de forma correta, que os japoneses só saberiam os resultados de seu novo invento pela importância e divulgação que dessem à notícia. Este mutismo fez que o interesse no projeto decaísse consideravelmente. "Se um povo que faz grande estardalhaço por coisas simples não disse nada, isto significa que os globos não chegaram..."

- declarou um dos promotores do projeto.

Na realidade alguns globos chegaram à costa da América, produzindo incêndios isolados e ocasionando umas poucas vitimas. A 18 de fevereiro de 1945 os serviços de informações japoneses captaram através da rádio Shangai um comunicado que dizia apenas: "O FBI americano comunicou que globos com inscrições japonesas "aterrissaram" nas serras de Montana..."

Entretanto, em poucos anos tudo o que restava daquela superioridade inicial era "alguns dos melhores soldados". Após Saipan e Byak, a superioridade dos aparelhos americanos era demasiado evidente para ser ignorada. No inicio, os "Zeros", mais leves e mais ágeis, conseguiam superar os pesados P-40, mas o aparecimento dos P-38 fez as coisas mudarem rapidamente. Além disso, a superioridade aérea americana diminuíra a quantidade "dos melhores soldados" e a qualidade deles não poderia ser preenchida tão facilmente; os novos recrutas recebiam adestramento elementar pela necessidade premente de cobrir as numerosas baixas.

Seja qual for a guerra, um elemento nunca muda, o homem segue inalterável e insubstituível nos conflitos. A criatividade que os japoneses tiveram em usar os globos via Jet-Stream foi contida pela imaginação dos serviços de inteligência dos EUA em não divulgar e abafar o sucesso do empreendimento militar japonês. Não é o maquinismo que conta mas sim o sonho de homens que procuram sempre fazer algo de modo diferente.

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