As operações navais na luta contra a URSS

Fabrizzio B. Dal Piero

Ao emitir a diretiva do plano que determinou a invasão da Rússia, Hitler salientou o caráter totalmente secundário que as operações navais teriam na luta contra a URSS. Posteriormente, destacados chefes navais germânicos lamentariam o erro dessa política. Um deles, o Almirante Ruge, expôs claramente as vantagens que se teria podido obter de um maior aproveitamento do poderio naval; "a guerra num país pobre em estradas e vias ferroviárias, como era a Rússia, consistia, antes de mais nada, num problema de transporte. Por que não se aproveitaram as vantagens do transporte marítimo para realizar o avanço? A distância em linha reta da fronteira da Prússia Oriental a Leningrado era de 800 quilômetros, da fronteira a Moscou era de 1000 quilômetros, e de Leningrado a Moscou era de 600 quilômetros. Por que se renunciou, diante disso, à eficiente via marítima que, dos portos germânicos de Lubeck, Stettin e Koenigsberg levavam diretamente aos portos soviéticos de Reval e Leningrado?... Os finlandeses eram nossos aliados; podíamos, portanto, dispor de toda a costa meridional da Finlândia como ponto de partida.

As ilhas do Báltico, o porto de Reval e, naturalmente, também a frota russa se ofereciam como objetivos favoráveis para um ataque de surpresa. Depois do afundamento do nosso encouraçado Bismack ficaram livres as unidades designadas para sua escolta, e podiam ser utilizadas no Báltico, sem prejudicar sensivelmente a guerra contra a Inglaterra. Mesmo empenhando na luta contra os britânicos todos os submarinos e cruzadores auxiliares necessários, ainda nos restariam forças suficientes para agir de surpresa, e com a maior agressividade, nos golfos de Riga e na Finlândia...".

Essa estratégia não foi adotada. A Marinha, tal como Hitler determinara que somente iria ser realizada ações de caráter fundamentalmente defensivo: distribuição de minas, patrulhamento, etc. A 20 de setembro de 1941, quando as forças terrestres germânicas alcançaram os subúrbios de Leningrado, Hitler decidiu formar uma "frota do Báltico" com o encouraçado Tirpitz, o encouraçado de bolso Scheer e naves de escolta, com a intenção de bloquear a possível fuga dos barcos de guerra russos para os portos da Suécia.

Este fato não se produziu. O grosso da frota russa permaneceu em refúgio na base de Krondstadt e Leningrado, e seus pesados canhões colaboraram na defesa da praça contra o assédio germânico. Assim, a campanha inicial contra a URSS concluiu-se sem que a frota russa do Báltico fosse destruída nem suas bases conquistadas. Com isso, Hitler perdeu uma oportunidade que não voltaria a se apresentar: assestar um golpe decisivo no poder naval soviético e, paralelamente, facilitar a penetração das forças terrestres sobre a retaguarda russa, mediante o desembarque maciço de tropas e material nos portos do norte.

A guerra naval no Báltico, a partir desse momento, se reduziu a escaramuças entre unidades menores. Um extenso campo de minas, espalhado pelos germânicos, fechou o golfo da Finlândia, impedindo assim as operações em grande escala. Alguns submarinos russos, porém, conseguiram abrir caminho e afundaram sete barcos mercantes germânicos, danificando outros cinco. No decorrer dos anos 1942-1943, os alemães perderam mais seis unidades de guerra menores.

No Oceano Glacial Ártico as operações terrestres, efetuadas pelos germânicos contra o porto de Murmansk, foram apoiadas por um débil destacamento naval constituído por cinco caça-torpedeiros e alguns caça-minas e naves de patrulhamento. Os russos, por sua vez, dispunham nessa zona de quatorze caça-torpedeiros, vinte submarinos e outras unidades menores. Não houve maiores choques entre ambas as forças navais, porém os submersíveis soviéticos, apoiados por submarinos britânicos, realizaram ataques eficientes, afundando sete barcos mercantes alemães e um caça-submarino.

Em princípios de 1942, e depois do fracasso da ofensiva terrestre germânica contra o porto de Murmansk, Hitler ordenou a colocação de grandes forças navais ao norte da Noruega, ante o temor de que os britânicos realizassem ali um desembarque para apoiar a Rússia. Estas forças, também, teriam como missão interceptar o trânsito de comboios aliados ao porto de Murmansk. Travou-se então uma série de intensos choques entre as forças navais e aéreas germânicas e os comboios aliados. Estes sofreram graves perdas. Algumas unidades germânicas, como o Admiral Scheer e o Hipper se internaram no Oceano Glacial Ártico, onde atacaram barcos russos e suas bases.

Em setembro de 1943, a luta naval no Ártico sofreu uma reviravolta decisiva, quando o grande encouraçado Tirpitz ficou inutilizado pelas cargas explosivas, colocadas no seu casco por um submarino de bolso inglês. A este episódio somou-se, pouco depois, no mês de dezembro, o afundamento do Scharnhorst, em um combate com barcos de guerra britânicos. Em conseqüência dessas ações reativou-se intensamente o trânsito de comboios aliados, que daí por diante sofreram poucas baixas.

Já no Mar Negro, quando se iniciaram as operações, não existiam ali forças navais germânicas. A Wehrmacht só podia contar com o apoio de quatro caça-torpedeiros, um submarino e algumas lanchas-torpedeiras romenas.

Então os russos puderam valer-se da sua superioridade naval para transportar forças e abastecimentos ao porto de Sebastopol, na Criméia, quando esta praça foi sitiada pelos alemães.

Estes fizeram um esforço para aumentar os seus efetivos e levaram ao Mar Negro, por via férrea, embarcações desmontadas. Construíram também alguns pequenos barcos em estaleiros russos capturados. Desta forma chegaram a contar com uma flotilha integrada por dez lanchas-torpedeiras, vinte e três caça-minas, seis submarinos, três lança-minas, oito caça-submarinos, treze barcos de transporte e numerosas naves auxiliares. A essas forças se uniram barcos italianos (seis M.A.S.(1), seis submarinos de bolso, dez lanchas de assalto).

A intervenção, também, da força aérea germânica permitiu equilibrar a situação frente à marinha soviética. Desta forma, os russos se viram obrigados a suspender o envio de abastecimentos e reforços para Sebastopol por meio de navios-transporte, e tiveram que fazê-lo empregando submersíveis e velozes destróieres que operavam de noite. Depois da queda de Sebastopol, as flotilhas alemãs e italianas conseguiram afundar numerosas unidades menores russas.

A luta se deslocou depois ao setor oriental do Mar Negro, onde ocorreram numerosos encontros entre as embarcações menores de ambos os lados, apoiadas pelas respectivas aviações.

A conclusão é que a falta de poderio naval germânico, tanto de guerra como de transporte, no Mar Negro, influiu decisivamente no curso das operações terrestres na região do Cáucaso. Na verdade, as tropas alemãs que avançavam pelo Cáucaso eram obrigadas a receber a quase totalidade de seus abastecimentos pelos longos e primitivos caminhos terrestres.

Os soviéticos, ao contrário, puderam manter-se sobre as costas do Mar Negro e utilizar em seu proveito os seus portos.

Apesar de sua debilidade marítima, os alemães, depois da derrota de Stalingrado e Kursk, completaram, sem maiores perdas, através do Estreito de Kertsch, a evacuação de quase
200 000 soldados, 35 000 veículos, 1 200 canhões e 3 000 toneladas de material, retirando-os da região caucásica para a Criméia.

Nota:

(1) Quando os técnicos navais italianos se viram diante do problema de desenhar uma embarcação capaz de enfrentar com êxito os submarinos inimigos, traçaram os planos e executaram uma pequena nave rápida e muito maleável. Foi chamada "M.A.S.", abreviatura de "Motoscafo Anti Scmmergibili" (Lancha antisubmarina).

Posteriormente, comprovado e experimentado o seu verdadeiro poder combativo, a M.A.S. demonstrou ser uma peça bélica de capacidade muito maior do que se supunha. De fato, a lancha podia enfrentar não só submarinos como também unidades de superfície, de maior peso e dimensões, como também de armamento superior. Por isto, foi decidido ser utilizada em qualquer situação e diante de qualquer adversário. A construção da M.A.S. é anterior ao começo da Segunda Guerra Mundial. O inicio das hostilidades encontrou a força naval italiana provida de um grande número de M.A.S.

As lanchas M.A.S. atuaram de preferência no cenário de luta do Mediterrâneo. A frota inglesa, em conseqüência, foi obrigada a suportar seus constantes ataques e, mais notadamente, os comboios que abasteciam o Mediterrâneo foram atacados e prejudicados por sua ação. O modelo clássico M..A.S. consistia numa embarcação de 29 metros de comprimento e deslocava 36 toneladas. Era, evidentemente, uma unidade leve e muito maleável. Essas duas características permitiam-lhe atacar inesperadamente e afastar-se quando o inimigo ainda estava organizando sua defesa. Sua marcha rápida dificultava a ação dos artilheiros ingleses e sua capacidade de manobra permitia que ziguezagueasse durante ao retirar-se. Era, de fato, um barco difícil de combater. A velocidade, que alcançava os 40 nós, era obtida graças a dois poderosos motores ISOTTA FRASCHINI, de 1.500 HP, cada um.

A tripulação era integrada por onze homens no total. O armamento consistia em dois tubos lança-torpedos de tipo pesado. Levava montada na popa uma metralhadora pesada, destinada à defesa antiaérea, marca BREDA. Uma das mais brilhantes ações da guerra das lancha M.A.S. teve lugar em 26 de abril de 1941, na ilha de Creta. Transportadas a bordo de destróieres, seis M.A.S. foram conduzidas até a entrada da baía de Suda, onde se achavam ancoradas numerosas naves inglesas. Lançadas ao mar, as M.A.S. internaram-se a toda velocidade na baía e atacaram inesperadamente os barcos britânicos, afundando o cruzador York e dois navios-transporte.

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