O Plano Z e os Submarinos da Alemanha

Fabrizzio B. Dal Piero

Quando a Primeira Guerra Mundial chegou ao fim, em 1918, as potências participantes assinaram o Tratado de Versalhes. Suas cláusulas estabeleciam as limitações que restringiriam a Alemanha, como potência vencida, no campo das forças armadas. A Marinha de Guerra germânica, em particular, foi reduzida, em número de unidades e tonelagem, a uma força puramente simbólica. A Alemanha, pela convenção, ficava autorizada a integrar sua potência naval com as seguintes unidades:

Encouraçados:
Seis de 10.000 toneladas, com canhões de 280 milímetros.

Cruzadores:
Seis de 6.000 toneladas, com canhões de 150 milímetros.

Torpedeiros:
Doze de 800 toneladas.

Porta-aviões:
Nenhum.

Submarinos:
Nenhum.

Depois da ascensão de Hitler ao poder, em 1933, a Marinha de Guerra Alemã, sob a orientação do Almirante Raeder, iniciou um programa de construções navais, a fim de reforçar rapidamente o seu poderio. Entre os novos barcos em construção, estavam os cruzadores de guerra Scharnhorst e Gneisenau, cujas características (26.000 toneladas de deslocamento) superavam os limites autorizados pela Tratado de Versalhes. O Almirantado Britânico, ao tomar conhecimento do fato, que implicava uma violação do acordo citado, resolveu solicitar do seu governo a assinatura de um acordo com a Alemanha, tendente a impedir o perigoso crescimento da frota germânica. Aprovada a sugestão, o governo britânico iniciou as negociações, sem informar previamente à França, nem à Liga das Nações. Essa atitude teria graves conseqüências, pois, como assinalou Winston Churchill, "no mesmo momento em que eles (o governo britânico) apelavam para a Liga, solicitando o apoio dos seus membros a um protesto contra as violações de Hitler das cláusulas militares do Tratado, por um acordo separado passavam por cima das cláusulas navais do mesmo tratado".

Com efeito: em junho de 1935, pelo Tratado Naval de Londres, a Alemanha poderia aumentar a sua frota de guerra até um total de 425.000 toneladas, discriminadas assim:

Encouraçados: 184.000 toneladas.
Cruzadores pesados: 51.000 toneladas.
Cruzadores leves: 67.000 toneladas.
Porta-aviões: 47.000 toneladas.
Caça-torpedeiros: 52.000 toneladas.
Submarinos: 24.000 toneladas.

Deve-se destacar que, no tocante à frota submarina, a tonelagem total deveria consistir em 45% do correspondente na frota britânica. Podia, contudo, baseada numa cláusula que estipulava a aparição de "uma emergência que tornasse necessário" elevar essa porcentagem (45%) até 100 %, isto é, igualar a frota submarina alemã à britânica. Essa cláusula, que subentendia uma inexplicável concessão, permitiu aos alemães lançar as bases de uma frota submarina que causaria perdas devastadoras às nações aliadas. Tal fato foi logo compreendido pelo Almirante Raeder que, numa conferência realizada meses antes com Hitler, manifestou-lhe:

-A chave do poderio marítimo alemão está debaixo da superfície. Dêem-nos submarinos e teremos dentes para atacar. . .

Ao receber o Führer o telegrama de Ribbentrop, anunciando o novo tratado naval, mandou chamar Raeder e, entregando-lhe a mensagem, disse:

-Aqui tem os seus dentes . . .

Apenas Raeder teve em suas mãos a autorização de Hitler, tomou as medidas necessárias para organizar a nova frota de submarinos. Encomendou essa tarefa ao Capitão-de-fragata Karl Doenitz, que havia sido um dos mais brilhantes comandantes de submarinos do Primeira Guerra Mundial. Doenitz estabeleceu o centro de treinamento da nova força na base naval de Kiel e, antes de terminar o ano de 1935, a nova escola estava em condições de receber os novos aspirantes a tripulantes de submarinos. Nesse ano, além disso, levou-se a cabo a construção dos primeiros submersíveis. Vinte deles pertenciam ao chamado "Tipo II", de 250 toneladas de deslocamento, muito pequenos, e aptos para operar em águas próximas da costa.

Por suas características, foram denominados "pirogas". Além desses, haviam sido construídos quatro submarinos oceânicos do "Tipo VII" de 500 toneladas, que constituíam as primeiras unidades do que, mais tarde, seria a principal arma de combate submarina.

As bases de submarinos mais importantes na Alemanha e nos países ocupados eram:

Hamburgo, na Alemanha;

Brest, na França;

Lorient, na França;

Saint Nazaire, na França;

Bordeaux, na França;

Le Havre na França;

La Pallice, na França;

Trondheim, na Noruega.

O porto de Le Havre só foi eventualmente utilizado como base de submarinos.

Doenitz, que desde o primeiro momento predisse que a Alemanha teria que enfrentar a Grã-Bretanha no mar, foi um decidido promotor do desenvolvimento acelerado da frota submarina, especialmente das unidades do Tipo VII, que estavam em condições de operar contra as linhas de abastecimento, no Atlântico. Em meados de 1938, a frota de submarinos, com quase quarenta unidades em ação, havia alcançado os 45 % estipulados no Acordo Naval de Londres.

Nessa época, Raeder constitui um grupo de estudos para equacionar os possíveis problemas e soluções a aplicar numa guerra futura com a Grã-Bretanha. Elaboraram-se dois planos diferentes: um deles previa a concentração dos esforços bélicos em torno do tráfego mercante, utilizando submarinos e encouraçados; o outro propunha a organização de uma frota mais numerosa, com poderosas unidades de superfície, que não somente seria empregada no ataque da navegação mercante, mas que também estaria em condições de combater as naves de guerra inimigas. Este último recebeu a denominação de "Plano Z" e foi adotado por Hitler. O ditador, ao anunciar a Raeder a aprovação do plano, comunicou-lhe que, de acordo com seus projetos, a frota não seria necessária antes de 1946. Havia, portanto, tempo suficiente para terminar as construções. O "Plano Z" previa a formação de uma frota integrada pelos seguintes navios:

10 superencouraçados de 50.000t.;

12 encouraçados de 20.000t.;

3 encouraçados de 10.000t.;

4 porta-aviões de 20.000t.;

5 cruzadores pesados;

44 cruzadores leves;

458 destróieres, caça-torpedeiros, caça-minas, etc.;

248 submarinos, de todo tipo.

Diante da magnitude do plano, o almirante Raeder emitiu ordens para que se desse primazia aos encouraçados e submarinos: aqueles, por serem os navios cuja construção demandaria mais tempo; os segundos, porque, segundo suas palavras "representavam o único meio eficiente de ataque no período da nossa debilidade".

A Alemanha reativara a produção de submarinos a partir de 1935. Os progressos técnicos acumulados durante a Primeira Guerra Mundial desenvolveram-se com algumas interferências, devido ao Tratado de Versalhes. Ao começar a Segunda Guerra Mundial, os alemães possuíam sete grandes estaleiros para a fabricação de submarinos. Os principais eram:

1. Estaleiro Howsldswerke und Blohm-Vos, de Hamburgo;

2. Estaleiro, Wesser und Deschimag, de Bremen;

3. Estaleiro Vulkan, em Dantzig;

4. Estaleiro Neptun, em Rostock;

Existiam estaleiros menores, adaptados depois do início da guerra, cuja produção era menor, em:

1. Emden;

2. Wilhelmshaven;

3. Flensburgo;

4. Kiel;

5. Lubeck;

6. Stettin.

No interior da Alemanha, havia indústrias menores que fabricavam peças avulsas e instrumental para submarinos. Essas fábricas enviavam sua produção aos estaleiros da costa e achavam-se situadas nos seguintes lugares:

1. Essen;

2. Dusseldorf;

3. Mannheim;

4. Karlsruhe.

As fábricas de motores marítimos e de acumuladores especiais constituíam outra contribuição importante. As principais fábricas de motores marítimos, na época, eram:

1. Man em Augsburgo, que fabricava a metade dos motores Diesel utilizados nos submarinos;

2. Humboldt-Deutz und Diesel, em Colônia, seguindo-se em ordem de importância à anterior;

3. Burmeister-Wain, em Copenague, incorporada à força, quando a Dinamarca foi ocupada.

Quanto às fábricas de acumuladores, destacavam-se:

1. Acia, em Hannover;

2. Hagen, no Ruhr;

3. uma fábrica instalada em Viena, Áustria;

4. uma fábrica instalada em Posen, Polônia.

Estas duas últimas fábricas foram instaladas durante a guerra e logo após a ocupação desses territórios.

Os objetivos do "Plano Z" não estavam de acordo com os pontos de vista de Doenitz, que se convencera de que a Grã-Bretanha não permaneceria indiferente ante a construção de uma frota de tamanha amplitude.

Para Doenitz, portanto, era necessário incrementar, com a maior celeridade possível, a frota submarina. De acordo com seus cálculos, somente com um mínimo de trezentas naves desse tipo a Alemanha poderia operar com êxito contra a navegação mercante britânica.

Nas manobras realizadas no verão de 1939, Doenitz conseguiu finalmente convencer Raeder da necessidade de aumentar o poderio submarino. Este último, então, autorizou a elevar para trezentos o número de submersíveis previstos no "Plano Z". A decisão, contudo, chegou demasiado tarde. Ao explodirem as hostilidades, a Alemanha contava somente com 57 submarinos em operação.

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