O resultado de uma guerra naval

Fabrizzio B. Dal Piero

O mar é, indiscutivelmente, uma imensa via de trânsito. A guerra no mar sempre foi, portanto, uma luta pelas comunicações marítimas, e os fundamentos da sua estratégia permaneceram imutáveis ao longo dos tempos. Entretanto, o rápido progresso da técnica exerceu um notável influxo sobre a tática e as operações.

Durante a Primeira Guerra Mundial, os poucos barcos alemães destinados a operações de longo alcance foram fortemente obstaculizados em seus movimentos pela necessidade de freqüentes reabastecimentos de carvão. Os submersíveis dotados de motores diesel, não obstante sua pequena tonelagem, foram as primeiras naves de guerra realmente oceânicas, visto que podiam permanecer no mar durante muitas semanas.

No caso da Alemanha, a dependência das unidades maiores das bases e a situação geográfica obrigaram esse país a realizar ações isoladas e a desenvolver novos meios técnicos, em lugar de grandes operações. O maior interesse se concentrou nos submarinos, que se haviam revelado o maior e quase único perigo para o tráfego marítimo de qualquer potência.

Outro ponto de relevância foi a liderança política da Alemanha que acreditou poder furtar-se à influência do mar para o seu crescimento. Esse concerto, equivocado, não tardaria a manifestar suas conseqüências; logo, a Alemanha se viu obrigada a assegurar a posse de determinados elementos minerais de importância vital, mediante arriscadas operações marítimas. Porém, mesmo depois dessa experiência, não se constituiu numa verdadeira concentração de forças que ameaçasse a potência marítima mais perigosa.

Entretanto, a marinha reclamou, constantemente, uma atenção preferencial para esses fatos, porém não chegou a fazer triunfar seus pontos de vista. Em conseqüência, não obteve nem uma adequada arma aérea tática, nem um forte apoio para o desenvolvimento da arma submarina. Esse apoio foi concedido quando o desastre começou a se delinear. Então, já era tarde, Haviam-se perdido dois irrecuperáveis anos.

A Itália, por sua vez, tinha uma frota relativamente forte, com objetivos muito claros. Sua sorte, efetivamente, dependia do domínio do Mediterrâneo. A liderança política, no entanto, não pensava assim. Ao começarem as hostilidades, a frota mercante italiana, distribuída pelos portos do mundo, perdeu-se em grande parte. Desapareceu, assim, nas mãos do inimigo, uma imensa tonelagem que posteriormente seria vital para garantir o transporte.

A arma submarina em geral, também numericamente forte, revelou numerosas deficiências, e a colaboração vital entre a marinha e a aeronáutica foi extremamente insuficiente. Com sua velha experiência marítima, a Grã-Bretanha concentrou imediatamente todas as suas forças na proteção do seu tráfego naval. Em relação à guerra submarina, a Grã-Bretanha não estava suficientemente organizada nos primeiros momentos e encontrou-se em grandes dificuldades. No entanto, defendeu com tenacidade suas posições no Mediterrâneo e logrou, paulatinamente, eliminar a ameaça da arma submarina.

Com referência à perda de navios, todos os tipos de barcos de guerra foram consideravelmente atingidos, em proporções muito superiores às da Primeira Guerra Mundial. A frota inglesa perdeu 62% dos seus cruzadores, contra os 22% da Primeira Guerra, e 90 % dos seus destróieres, contra os 29 %.

As perdas de submarinos foram particularmente elevadas para todas as nações: a Alemanha que, durante toda a guerra, pôs em serviço mais de 1.100 submersíveis, perdeu mais de 800; a Inglaterra perdeu 77 unidades sobre 235; a Itália, 86, de 160; os Estados Unidos, 52 de 290; e o Japão 127 de 190 unidades.

As frotas mercantes foram quase totalmente destruídas: os japoneses perderam 82 % da sua tonelagem total; os italianos, uma cifra quase igual; os alemães, perto de 70 % da tonelagem inicial; e os Aliados, cerca de 21.000.000 de toneladas (a tonelagem total da marinha inglesa ao começar a guerra).

A maioria das perdas se deveram aos submarinos. Pela sua ação foram perdidos aproximadamente 14.000.000 toneladas de navios mercantes aliados e cinco dos 8,2 milhões de toneladas perdidas pelos japoneses. A arma aérea, seja com base em terra, seja embarcada em porta-aviões, exerceu uma grande influência nas operações navais. De particular importância foram os novos aparelhos utilizados, como o radar, que, para as unidades de superfície, anulava a proteção da escuridão da noite ou da neblina e assinalava a aproximação de aviões inimigos a centenas de quilômetros de distância.

Os detetores empregados em operações submarinas, fundamentados no emprego do ultra-som, deram resultado menos satisfatório, porém, mesmo assim, bastaram para converter em inócuos os submarinos lentos e desprovidos de "Snorkel".

As unidades maiores, por sua vez, viram-se particularmente ameaçadas nas cercanias das costas, pela ação das minas, lanchas-torpedeiras, aviões. Essas zonas se converteram em campos de luta com características especiais e foram teatro de operações de numerosos desembarques.

A técnica destes últimos, constantemente aperfeiçoada, tornou possível ao atacante passar do mar a terra, sob a proteção de sua frota naval e aérea, mesmo em presença de uma sólida defesa.

Desse modo, os progressos técnicos permitiram concentrar forças extraordinariamente grandes em pontos decisivos, mesmo a grandes distâncias. Isso quer dizer que a Segunda Guerra Mundial foi decidida pelo domínio das comunicações marítimas. Contudo, a decisão final da vitória ou da derrota dependerá sempre do homem. E, sem dúvida, os melhores resultados táticos e operativos, a maior coragem, ou o maior sacrifício serão inúteis se a estratégia for inadequada. E a estratégia é ditada

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