O significado dos pequenos porta-aviões na prática

Fabrizzio B. Dal Piero

O interesse em pequenos navios-aeródromos (com deslocamento oscilando entre 10.000 e 40.000toneladas, projetados para operarem aeronaves V/STOL (Vertical/Short Take-Off and Landing – Decolagem curta e pouso vertical) é crescente nas nações pertencentes à OTAN.

Sua utilização começa durante a Segunda Guerra Mundial. Em certos lugares do Atlântico, a despeito da proteção das escoltas, as travessias eram sumamente perigosas; as perdas causadas pelos submarinos continuavam sendo vultosas. A solução do problema foi devida, em parte, a uma mudança de orientação na construção de porta-aviões.

Ao começar a Segunda Guerra Mundial, os únicos porta-aviões aliados eram gigantes do mar, com cobertas de vôo medindo mais de 200 metros de comprimento. Mas o número disponível para patrulhar grandes extensões do Atlântico era limitado, visto que eram necessitados com urgência no Pacífico, e se requeriam anos para construir uma frota desses gigantes.

A necessidade de solucionar o problema da proteção aérea aos comboios, para enfrentar, nos vastos espaços dos oceanos, os devastadores ataques dos submarinos germânicos, levou os britânicos e norte-americanos a estudarem a possibilidade de construir porta-aviões menores e rápidos, com tripulações de aviões navais aperfeiçoados e que pudessem decolar em pistas reduzidas. Um dos recursos foi fabricá-los tendo por base os cascos de navios mercantes comuns aos quais se adaptou uma curta coberta de vôo, introduzindo-se, também, na sua estrutura interna as modificações necessárias com o objetivo de torná-los aptos para sua nova missão.Por outro lado, aperfeiçoaram-se notavelmente os processos de construção.

Nos Estados Unidos, começaram a ser construídos em grandes quantidades. Os porta-aviões pequenos cumpririam, então, o papel de navios-escoltas, atacando os submarinos que se encontravam fora do alcance dos aviões com bases na costa. Uns cinqüentas, integralmente fabricados nos estaleiros americanos, ganharam alto-mar em comboios, e seus aeroplanos, com a ajuda dos destróieres, diminuíram em muito as perdas no Atlântico.

Essas naves desempenhariam um papel decisivo na guerra anti-submarina, pois prover os comboios de sua própria cobertura aérea era armar uma barreira inexpugnável. O primeiro porta-aviões de escolta foi utilizado pelos britânicos em 1941. Foi o Audacity. Era um navio mercante alemão capturado (o Hannover), cuja conversão se efetuou rapidamente. Deslocava 5 537 toneladas e desenvolvia uma velocidade de 15 nós; era impulsionado por dois motores Diesel que alcançavam uma potência de 4 750 HP; armado com um canhão de quatro polegadas e seis peças antiaéreas de 20mm; dotado de seis aviões, estacionados permanentemente na coberta de vôo, pois, dada a rapidez da sua transformação, o Audacity não foi provido de elevadores, nem de hangares sob a coberta.

O Audacity interveio rapidamente na luta contra os submarinos. No mês de dezembro de 1941, seus aviões, em união com os destróieres Blakeney e Exmoor, as corvetas Stork e Pentstemont deram caça e afundaram com bombas e cargas de profundidade o submarino alemão U-131 (do tipo IX C), com 1.120 toneladas de deslocamento e 48 tripulantes, perto do cabo São Vicente.

Também em 21 de dezembro de 1941, os aviões do Audacity atacaram o submarino U-451 (do tipo VII C), com 769 toneladas de deslocamento e 44 tripulantes, e o puseram a pique nas proximidades de Gibraltar. Por sua vez, o Andacity foi torpedeado e afundado nessa mesma jornada por outro submarino germânico.

Já os norte-americanos completaram o seu primeiro porta-aviões de escolta no mês de junho de 1941. Foi o Long Island, construído com o casco do navio mercante Mormacmail e adaptaram para a marinha britânica um porta-aviões gêmeo (o Archer), com o casco do cargueiro Mormaclan. Essas naves tinham um deslocamento de 11 300 toneladas e desenvolviam uma velocidade de 18 nós. Possuíam como armamento um canhão de cinco polegadas e dois de três. Sua guarnição: 21 aviões; tripulação: 950 homens.

Posteriormente, numerosos porta-aviões de escolta foram construídos e passaram a desempenhar um decisivo papel na batalha do Atlântico, que culminou com a derrota total das forças submarinas alemãs.

Um desses navios, que protegia um comboio no Atlântico, atacou com seus aviões durante a travessia seis submarinos. Dois foram a pique e outros quatro fugiram avariados. O primeiro ataque ocorreu ao amanhecer. Um piloto lançou bombas de profundidade contra um submarino que avistara na superfície, mas não pôde constatar se o afundara ou avariara.

Nos dias seguintes, dez ataques se efetuaram. No primeiro dia, pela manhã, um aviador atingiu em cheio um submarino, que permaneceu à deriva durante uma hora, até que foi ao fundo; mas não havendo por perto navios de guerra que atestassem o afundamento, não pôde ser considerado oficialmente destruído.

Dois mais foram a pique antes do meio-dia e, à tarde, outro mergulhou, seriamente atingido pelas cargas de profundidade.

A tripulação jogou-se ao mar e foi recolhida por um navio de guerra aliado. No dia seguinte, outro explodiu, salvando-se o capitão e dezessete tripulantes. Nesses combates, o porta-aviões perdeu cinco aviões, porém o comboio chegou intato ao seu destino.

Atualmente, nos EUA, existe um acirrado debate, tanto no Congresso quanto na imprensa, entre os defensores dos grandes NAe nucleares da classe "Nimitz" e os ferrenhos apologistas dos pequenos e econômicos NAe que, em função de seu baixo custo, poderiam ser adquiridos em muito maior número. Na Europa, as Marinhas da Inglaterra, Espanha e Itália já operam navios desse último tipo.

Dentre os navios de superfície, os pequenos navios-aeródromos parecem constituir-se em um bom investimento. Marinhas que possuam missões que transcendam a defesa local ou costeira poderão aumentar grandemente as suas potencialidades com a disponibilidade de umas poucas aeronaves V/STOL no mar.

Todavia, o equilíbrio de gastos no que se relaciona com o investimento em submarinos ou em navios de superfície deve ser cuidadosamente examinado por todas as marinhas e cada qual utilizar os recursos mais disponíveis à sua força armada.

Voltar para Página de Artigos