Geografia
do Brasil - Recursos Naturais
Recursos naturais
brasileiros
Devastação histórica
A natureza sempre ocupou papel de destaque na história do Brasil. A idéia de
exuberância e de grandiosidade que o país sugeria representava um paraíso
infinito para os desbravadores. Essa motivação já estava presente na carta de
Pero Vaz de Caminha a Portugal. Os relatos de viagem idolatravam a natureza e
simultaneamente lançavam sobre os recursos naturais um olhar mercantilista,
interessado em explorar novas riquezas.
A primeira ação predatória foi dirigida ao pau-brasil, um recurso natural tão
farto à época do descobrimento que deu origem ao nome do país.
Essa visão se manteve por toda a era romântica, no período republicano,
encobrindo o processo de devastação e até mesmo fornecendo-lhe suporte por
considerar a natureza um recurso inesgotável.
0 desenvolvimento dos ciclos econômicos do Brasil é em grande parte a história
de uma sucessão de desastres ecológicos. 0 historiador Caio Prado Júnior
encontrou as palavras exatas para resumir o processo:
"Repetia-se mais uma vez o ciclo normal das atividades produtivas no Brasil. A
uma fase de intensa e rápida prosperidade seguia-se outra de estagnação e
decadência. Já se vira isso, sem contar o longínquo caso do paubrasil, na
lavoura de cana-de-açúcar e de algodão no Nordeste e nas minas de ouro e
diamante no Centro-Sul. A causa é sempre semelhante: o acelerado esgotamento dos
recursos naturais por um sistema de exploração descuidado e extensivo".
Ainda hoje os recursos naturais brasileiros são cobiçados internacionalmente. A
necessidade de matéria-prima abundante e a busca de novos materiais lançam os
olhos do mundo para as reservas minerais e florestais do Brasil. Em associação
com o capital nacional, os investidores estrangeiros manobram a legislação,
encontrando meios legais e ilegais para apropriar-se de uma parcela
significativa dos recursos.
Contra o poder econômico desses grupos, os críticos da devastação obtiveram
pouco sucesso até a década de 1980. Apenas com a transição democrática e a
conseqüente politização do movimento ecológico, a sociedade despertou para a
necessidade de explorar racionalmente os recursos naturais. Vários órgãos
públicos de defesa e fiscalização do meio ambiente foram criados, tanto no
âmbito federal quanto nos níveis estadual e municipal; a imprensa abriu espaço
para o assunto e os movimentos ecológicos fortaleceram-se, ganhando
profissionalismo e apoio popular. Além disso, a questão ambiental tornava-se
cada vez menos sinônimo de exuberância vegetal e animal para apresentar-se como
problema cotidiano na forma de poluição, contaminação, saúde pública. 0 desafio
dos ambientalistas brasileiros é, agora, estender esse apoio a causas menos
imediatas e palpáveis mas igualmente essenciais, como o controle da exploração
mineral e vegetal, para a preservação dos ecossistemas.
Recursos minerais: o rico subsolo brasileiro
Tendo grande extensão territorial, é natural que o Brasil seja um dos países com
maior potencial mineral do mundo, juntamente com a Federação Russa, Estados Uni
dos, Canadá, China e Austrália. Os principais minérios são: bauxita, cobre,
cromo, estanho, ferro, grafita, manganês, níquel, ouro, potássio, rocha
fosfática e zinco.
De modo geral, a produção mineral tem se ampliado desde o fim dos anos 1990,
graças a um aumento dos investimentos externos no setor. Em 1995, uma emenda
constitucional removeu as restrições impostas ao capital estrangeiro pela Carta
Magna de 1988. Com isso, multinacionais adquiriram o controle de numerosas
estatais e associaram-se a muitas empresas nacionais, alimentando com recursos
externos a atividade mineradora no país.
Incluindo petróleo e gás natural, a produção da indústria extrativa mineral
corresponde a cerca de 1 % do produto interno bruto nacional. Agregando os
valores da industrialização das matérias-primas minerais, o setor alcança cerca
de 8% do PIB brasileiro. Os gráficos a seguir apresentam a participação dos
minerais no total das exportações brasileiras e os valores obtidos com as
exportações dos principais metais e suas manufaturas.
De acordo com a Lei Maior, é obrigatória a recomposição de áreas em que a
mineração é praticada, qualquer que seja o tipo de minério. Assim, todo rejeito
sólido, não-biodegradável e estranho à biosfera deveria ser soterrado para ficar
isolado dos seres vivos e do ecossistema original. Na maioria das vezes, porém,
a lei não é cumprida e não há fiscalização para evitar a degradação ambiental
provocada pela exploração de minérios.
As grandes reservas de ferro
A mineração de ferro é a principal atividade extrativa do país. O Brasil possui
a quinta maior reserva do mundo, com um total estimado de 40 a 50 bilhões de
toneladas, e é o segundo maior produtor.
As maiores reservas estão no Quadrilátero Ferrífero, no estado de Minas Gerais,
e na serra dos Carajás, no estado do Pará. Em Minas Gerais, o ferro apresenta
altos teores e é explorado por dois sistemas independentes: no Vale do Rio Doce,
que exporta pelo porto de Tubarão (Espírito Santo), e no Vale do Paraopeba, de
onde o ferro é levado ao Rio de Janeiro para ser exportado.
Na serra dos Carajás, os recursos para a exploração do minério de ferro foram
adquiridos no exterior em forma de empréstimos, por meio do projeto Grande
Carajás. Obras como a usina hidrelétrica de Tucuruí, a estrada de ferro Carajás
-
São Luís
e o porto Ponta da Madeira, na capital do Maranhão, favorecem a exportação não
apenas do ferro mas também do manganês e do alumínio.
Cerca de 60% da produção de minério de ferro é exportada para o Japão e países
da União Européia. O restante abastece as indústrias siderúrgicas nacionais. No
maciço de Urucum, sudoeste do Mato Grosso do Sul, a produção é destinada
integralmente para o mercado interno. Os mapas a seguir mostram as principais
jazidas de ferro e de outros minerais no Brasil e, especialmente, em Minas
Gerais.
A siderurgia e o carvão
Quanto ao beneficiamento do minério de ferro e à produção de aço, a siderurgia
brasileira enfrenta um grave problema: a falta de carvão para aquecer os altos
fornos.
As reservas brasileiras de carvão são insuficientes, e grande parte das que
existem são inadequadas para a siderurgia, pois nosso carvão apresenta impurezas
como pirita e cinzas. Além disso, tem baixo teor calorífico.
Energia e meio ambiente
Em virtude da utilização de recursos naturais e dos impactos ambientais causados
pela produção, transformação, transporte, distribuição, armazenagem e consumo de
energia, cada vez mais tem causado preocupação a relação meio ambiente x
aproveitamento das fontes energéticas.
No Brasil, vários são os aspectos dessa relação: aproveitamento do potencial
hidráulico em áreas de grande diversidade vegetal; grandes extensões de plantio
de cana para geração de combustível e, finalmente, o aproveitamento do carvão
pelas indústrias siderúrgicas e usinas termelétricas. Por si só a exploração do
carvão envolve desmatamento e, no caso do carvão brasileiro, seus altos teores
de cinzas e enxofre são muito poluentes. Para citar apenas um exemplo, a queima
de carvão para geração termelétrica no Rio Grande do Sul tem sido apontada como
causadora de chuvas ácidas no Uruguai.
Com exceção do buraco na camada de ozônio, os principais problemas ambientais em
escala planetária estão intimamente associados à elevação do consumo de energia:
o aumento do efeito estufa, a poluição do ar urbano, a chuva ácida e o risco de
acidentes envolvendo usinas nucleares. No caso da queima de combustíveis
fósseis, ela é a principal responsável pelos três primeiros riscos.
Nesse sentido, há que se encontrar um equilíbrio adequado entre desenvolvimento
econômico, exploração de recursos e preservação do meio ambiente.
Os países desenvolvidos já provaram que podem incrementar o seu PIB sem aumentar
o consumo de energia, basicamente graças a mudanças de hábitos de consumo e à
utilização de novas técnicas. Nos primeiros anos da década de 1980, enquanto o
uso de energia pelas indústrias dos países da OCDE (Organização para Cooperação
e Desenvolvimento Econômico) decaiu em 1,9% ao ano, o PIB cresceu em média 2,2%
ao ano.
0 Brasil ainda tem muito a caminhar nesse sentido. Entre 1980 e 1993, sua
relação entre consumo energético e PIB manteve-se praticamente inalterada.
Adaptado de: Relatório sobre o
desenvolvimento
humano
no
Brasil.
Rio
de Janeiro/Brasília, Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada/Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, 1996. p. 89-91.
Embora as maiores reservas estejam no Rio Grande do Sul, o grande produtor
nacional é Santa Catarina, certamente por ter as jazidas mais atraentes:
carvão de melhor qualidade, em parte coqueificável, e ocorrência perto
da superfície, permitindo a exploração a céu aberto. A zona carbonífera
catarinense fica no sudeste do estado, incluindo os municípios de Criciúma,
Siderópolis, Lauro Müller e Urussanga, e o produto é escoado pelo porto de
Imbituba.
Além de ser usado como coque metalúrgico em mistura com carvões importados, o
carvão brasileiro é utilizado como fonte energética em usinas termelétricas.
Futuramente, ele poderá ser mais bem aproveitado com a instalação de um pólo
carboquímico regional, que empregue tecnologias avançadas.
Assim, embora algumas usinas utilizem o carvão vegetal na siderurgia e
metalurgia, altamente condenável por estimular o desmatamento, a solução
preferencial tem sido a importação de carvão mineral.
Mesmo com essa dificuldade, a produção brasileira de ferro e aço tem aumentado.
0 país é auto-suficiente na maior parte dos produtos siderúrgicos, alguns dos
quais são também exportados.
0 grande centro de siderurgia no Brasil é a região Sudeste, pois é onde se
concentram grande fonte de matérias-primas e o maior mercado consumidor do país.
Aí
estão instaladas a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN), no estado do Rio de
Janeiro, as Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (Usiminas), em Minas Gerais, e a
Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), no estado de São Paulo. Como vimos,
todas privatizadas nos anos 1990.
Manganês: diminuem as reservas
A reserva de manganês do Brasil é a quinta maior do mundo, e o país é o terceiro
maior produtor, superado apenas pela África do Sul e pelos membros da Comunidade
dos Estados independentes. As maiores reservas nacionais estão localizadas no
Pará (serra dos Carajás), em Mato Grosso do Sul (maciço de Urucum) e em Minas
Gerais (Quadrilátero Ferrífero), mas a Bahia e Mato Grosso também dispõem desse
mineral, extremamente importante na fabricação de um tipo de aço utilizado na
indústria siderúrgica. Os depósitos de manganês da serra do Navio (Amapá) estão
em grande parte exauridos. No lugar da serra, hoje resta praticamente um grande
buraco.
Cerca de dois terços da produção brasileira têm sido obtidos no Amapá, onde
opera a Icomi, subsidiária da empresa norte-americana Bethlehem Steel
Corporation. A empresa recebeu autorização do governo para expiorar a jazida da
serra do Navio por cinqüenta anos, prazo que se esgota em 2003. Mais da
metade das reservas de minério de alto teor já foi explorada na região, restando
apenas aquelas localizadas a grandes profundidades, cuja extração requer altos
investimentos. Praticamente toda a produção é exportada para os Estados Unidos,
razão pela qual a empresa implantou e opera uma ferrovia que liga a jazida até o
porto de Santana.
0 abastecimento do mercado interno é feito principalmente pelas jazidas de Minas
Gerais, que fornecem manganês para as siderúrgicas instaladas na região Sudeste.
Na serra dos Carajás, a produção é destinada hoje ao mercado externo, mas há
projetos para o abastecimento também do mercado nacional.
No maciço de Urucum, a reserva de manganês é considerável, mas a produção é
pequena e visa ao mercado externo, em especial a Argentina e o Paraguai, para
onde o minério é levado pelo rio Paraguai, depois de embarcado no porto de
Corumbá.
Cassiterita: o país e
o segundo maior produtor mundial
0 Brasil possui cerca de 7% das reservas mundiais de cassiterita, o único
minério comercializável de estanho, utilizado na confecção de latas para
acondicionar alimentos e bebidas. 0 metal é aproveitado internamente e
exportado. Há reservas no Pará, Amazonas, Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, mas
as maiores estão localizadas em Rondônia, que também é o grande produtor
brasileiro. Na produção, o país ocupa o segundo lugar, superado apenas pela
Malásia, e tem pólos importantes
no Amazonas, no Pará (foto anterior ao lado) e em Mato Grosso.
Bauxita: produção e rejeitos
0 Brasil detém aproximadamente 20% das reservas mundiais conhecidas de bauxita,
o principal minério de alumínio das jazidas do país. Ocupa o terceiro lugar em
reservas, superado apenas pela Austrália e pela Guiné; é o segundo em produção.
A maior parte das reservas, com teor médio de 45%, está localizada no Pará,
principalmente nas jazidas próximas ao rio Trombetas, em Oriximiná, onde a extração mineral e o beneficiamento são realizados pela Companhia Vale do Rio Doce.
Parte do mineral extraído é primeiro beneficiada no Brasil e só depois
exportada. Para isso, a Vale associou-se a outras empresas, como a Alcan, de
capital canadense, uma das multinacionais que lideram o monopólio mundial de
alumínio.
0 grande consumo de energia elétrica envolvido no processo produtivo motivou a
construção da usina hidrelétrica de Tucuruí, que fornece energia a preços reduzi
dos, graças a subsídio do governo federal (foto abaixo).
Um grave problema relacionado ao beneficiamento da bauxita é a poluição
ambiental. Todo ano, 3,5 milhões de toneladas de rejeitos são despejadas no lago
da Batata, que hoje tem um material altamente poluído sedimentado em 20% de sua
extensão.
As reservas de bauxita no estado do Pará destinamse à exportação, e as reservas
localizadas no estado de Minas Gerais, no município de Poços de Caldas,
abastecem as indústrias nacionais.
Níquel com baixo rendimento
O Brasil tem a terceira maior reserva mundial de níquel, correspondendo a
5%
das jazidas conhecidas. Desse total, cerca de 80% estão concentrados em Goiás,
no município apropriadamente denominado Niquelândia, que é também o grande
produtor nacional. Piauí e Minas Gerais possuem reservas, embora apenas Minas
Gerais tenha uma produção de destaque.
Como o teor médio de níquel no minério não passa de
3
a 4%, o beneficiamento é realizado na boca da mina, pois o custo do transporte
encarece muito o produto. Esse fato impede o pleno desenvolvimento da produção,
que, por isso, não satisfaz integralmente a necessidade do país, embora tenha
crescido nos últimos anos.
Ouro
brilha em Carajás
As maiores reservas mundiais de ouro estão na África do Sul e no Usbequistão,
mas o Brasil ainda tem boas reservas em diversos estados, principalmente em
Minas Gerais, Goiás, Bahia, Rondônia, Mato Grosso e Pará.
Minas Gerais é o produtor tradicional e estável, onde a exploração é feita de
modo empresarial, com técnicas modernas e administradas pela Anglo-Americana, em
presa da África do Sul. Nos demais estados, ao contrário, tem predominado a
exploração cíclica ou migratória. Assim que uma jazida é descoberta, centenas ou
até milhares de pessoas dirigem-se para lá e empregam-se em mineradoras ou
trabalham como garimpeiros independentes. Esgotada a jazida, desfaz-
se a
comunidade formada em torno dela - comerciantes de ouro, restaurantes, casas de
prostituição -, e os exploradores voltam à sua terra de origem ou partem em
busca de novas jazidas.
A exploração do ouro é realizada de maneira rudimentar pelos garimpeiros, sem
cuidados com o ambiente e com a própria saúde. Para separar o ouro da rocha,
utilizam o mercúrio, metal altamente prejudicial por se acumular no organismo e
causar mutações genéticas. Primeiro, o garimpeiro lança o mercúrio na lama
recolhida do fundo do rio, para que ele se fixe na rocha que contém ouro.
Depois, aquece o bloco para dissolver o mercúrio, que, ao derreter, retira os
resíduos de rocha, deixando o minério puro. A poluição, portanto, ocorre em
vários momentos:
no rio, contaminando os peixes, no solo e no ar, em forma de vapores que o
garimpeiro aspira. Essa técnica é utilizada até mesmo pelos índios da reserva
Kaiapó, que tem muitos garimpeiros entre os seus
1 500
habitantes.
Estima-se que a cada ano os
350
mil garimpeiros que operam na Amazônia despejem mais de 200 toneladas de
mercúrio no ambiente.
É impossível calcular a real produção de ouro do Brasil, pois grande parte é
desviada para o mercado paralelo ou contrabandeada para o exterior.
A última grande descoberta de ouro no país ocorreu em janeiro de
1996,
na chamada serra do Leste, junto à serra dos Carajás, onde se estima que haja um
total de
150
toneladas. A mina foi encontrada pela Companhia Vale do Rio Doce, mas deve ser
explorada em associação com empresas estrangeiras.
Outra mega-mineradora
Em
1995,
quatro empresas de mineração se fundiram, formando o segundo maior conglomerado
do setor no país. A Paranapanema, a Caraíba Metais e a Paraibuna foram compradas
pelos fundos de pensão, liderados pela Previ, dos funcionários do Banco do
Brasil. A elas a Previ associou a Eluma, que já era de sua propriedade.
O conglomerado, que passou a explorar reservas de estanho, cobre e zinco do
país, é superado apenas pela Companhia Vale do Rio Doce.
A iniciativa é um exemplo do poder econômico dos fundos de pensão, empresas
previdenciárias que recebem contribuições do empresariado e dos funcionários e,
em troca, oferecem benefícios como complementação de aposentadoria e empréstimos
pessoais. Para isso, multiplicam seu capital investindo no setor produtivo do
país.
Cobre: aumento de produção
Embora o Brasil possua muitas reservas de cobre, a produção era insuficiente e o
país tinha de importar o metal em virtude do baixo teor de metal contido no
minério- 1,5% em média.
As maiores reservas brasileiras estão no Pará, em Goiás e na Bahia, que tem sido
o maior produtor nacional. No Pará, a jazida de Salobro é a maior do país. A
Companhia Vale do Rio Doce, associada a uma empresa do grupo Anglo-Americano,
começou a explorar o cobre em 1996, o que resultou em produção superior ás
necessidades nacionais.
Sal das minas e do mar
Mineral não-metálico, o sal é usado na indústria química, na pecuária, na
alimentação humana e para vários fins industriais.
Na Bahia e em Alagoas, o sal é extraído de depósitos minerais (o chamado
sal-gema), mas é o sal marinho que corresponde à maior parte da produção
nacional. O Rio Grande do Norte participa com mais de 80% da produção, com suas
salinas de Areia Branca, Mossoró e Macau. A concentração de sal nessa região do
país deve-se a condições favoráveis, como o domínio de um clima quente e seco
durante a maior parte do ano, favorecendo a evaporação e a ação dos ventos
alísios, que, soprando para oeste, reduzem a ocorrência de chuvas. No Rio de
Janeiro, a extração é feita por processos naturais em Macaé e São Pedro da
Aldeia, entre outros municípios (foto abaixo).
O método é rudimentar. Constroem-se valas onde o movimento das águas deposita a
água com sal, que fica a céu aberto e evapora, deixando apenas o sal acumula
do. O transporte do produto final é realizado em carrinhos de madeira
construídos pelos próprios trabalhadores das salinas. As condições de trabalho
são péssimas. Além de receberem por produção, os trabalhadores só são
contratados no período de safra, pois na época das chuvas a atividade é
interrompida. E não há qualquer proteção contra os efeitos nocivos da exposição
direta ao sol e do contato constante com o sal, que provocam danos na pele e nos
olhos. Apesar de já ter sido denunciado, principalmente no Rio Grande do Norte a
atividade persiste com a exploração do trabalho infantil.
Recursos vegetais: o extrativismo
Particularmente para a população que vive distante dos grandes centros urbanos,
o extrativismo vegetal ainda constitui uma importante atividade econômica,
apesar de o Brasil ser hoje um país urbano-industrial. Muitas vezes, o
extrativismo é complementado por outras atividades, como a agricultura e a
pecuária de subsistência. Entre os principais produtos extraídos no país,
destacam-se: borracha, castanha-do-pará, piaçava, babaçu, carnaúba, oiticica,
erva-mate e madeiras (mapa na página seguinte).
Borracha e
castanha-do-pará
Produto típico da Amazônia, a borracha é extraída de forma rudimentar, e a
atividade subsiste em condições extremamente adversas. Os seringueiros e
coletadores, muitas vezes, são explorados pelos chamados seringalistas.
Poderosos fazendeiros locais, os seringalistas se dizem proprietários de terras
que, geralmente, são devolutas, sem dono. Comandam as atividades extrativas na
área e obviamente ficam com a maior parte dos lucros. Os projetos agropecuários
e minerais são também ameaças constantes, pois as áreas dos seringais são as
mais visadas.
Em 1990, foi regulamentada a criação de reserva extrativista para exploração
auto-sustentável de recursos naturais (foto ao lado). Depois disso, seringueiros
e coletadores formaram cooperativas para comercializar seus produtos. O poder
dos fazendeiros locais, no entanto, impede a criação das reservas necessárias.
Segundo o IBGE, o Brasil tem apenas onze reservas extrativistas, entre as quais
se destacam as duas do Acre, estado que concentra as melhores terras da Amazônia
e mais de 300 mil seringueiros.
Enquanto durou, o ciclo da borracha (1890-1910) promoveu o enriquecimento da
região amazônica, na época o único produtor no mundo. A produção da borracha
correspondia a 40% das exportações nacionais.
No entanto, sementes da seringueira brasileira foram transplantadas para as
colônias britânicas do Sudeste Asiático, especialmente a Malásia, em 1876, e
logo sua produção superou a do Brasil.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a produção brasileira de borracha voltou a
crescer, pois os cultivos britânicos do Sudeste Asiático foram tomados pelo
Japão. 0 Brasil forneceu borracha para as indústrias de pneumáticos dos países
aliados, numa fase que ficou conhecida como Batalha da Borracha. Com o fim da
guerra e o desenvolvimento da produção de borracha sintética (o elastômero,
derivado do petróleo), a produção brasileira voltou a decair.
A heveacultura (de Hevea brasiliensis, nome científico da seringueira) é
praticada na Amazônia, São Paulo, Bahia e Mato Grosso. Os maiores produtores
nacionais de seringais plantados são os estados de São Paulo e Bahia, e a
maior produção de seringais nativos é a do Acre, Amazonas e Rondônia. A produção
nacional de borracha, que não evoluiu tecnicamente, não atende às necessidades
internas de consumo, e é necessária a importação.
A castanha-do-pará (foto da página seguinte), ao contrário, é exportada para
diversos países da Europa, além do Japão e dos Estados Unidos. Dela se extrai
óleo vegetal, que pode ser utilizado como matéria-prima na elaboração de
remédios, sabão e cosméticos, além do uso industrial, como lubrificantes de
aparelhos de alta precisão. É também um alimento de grande valor nutritivo.
Grandes
castanhais surgem principalmente nos vales dos rios Amazonas e Tocantins, na
mata de terra firme. Assim como a extração da borracha, a coleta de castanha-do-pará
é realizada de forma extremamente primitiva, por meio da catação, na qual o
trabalhador só retira as castanhas dos cocos que estão caídos no chão. Na
maioria das vezes, o seringueiro é também responsável pela extração da
castanha-do-pará.
Carnaúba, a árvore da
vida
Nos vales úmidos do Sertão nordestino, principalmente nos estados do Piauí,
Ceará e Rio Grande do Norte, é explorada a carnaúba, conhecida como árvore da
vida, pois dela tudo se aproveita. A cera que reveste as folhas da carnaúba tem
grande aplicação industrial, sendo usada na fabricação de ceras industriais e
domésticas e de graxas lubrificantes. É empregada, ainda, como matériaprima para
fabricação de discos, filmes fotográficos, papel-carbono e sabonetes. A
população local aproveita o tronco para construir casas, usando as folhas para
recobrir o teto; o fruto é utilizado na alimentação; as raízes, depois de
fervidas, são transformadas em remédio; as sementes são torradas, moídas e
consumidas como bebida.
O grande problema do extrativismo vegetal é a maneira predatória como geralmente
é realizado. A ervamate, por exemplo, provém de uma pequena árvore conhecida
como congonheira. A intensa exploração chegou a ameaçar de extinção as
espécies naturais no Rio Grande do Sul; por isso, hoje quase toda a erva-mate do
país é obtida de ervais cultivados.
Outros produtos
A atividade extrativa inclui diversos outros produtos, como a piaçava, fibra
usada na fabricação de vassouras; o açaí, fruto empregado no preparo de produtos
alimentares; fibras vegetais; ervas medicinais; palmito; e oiticica, da qual se
extrai óleo para fabricação de tintas, vernizes e anticorrosivos. Os maiores
produtores de óleo de oiticica são Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
No Meio-Norte destaca-se o babaçu, que consiste numa palmácea nativa cujos
coquilhos dão grande produção de óleo, utilizado nas indústrias de sabão,
margarina e produtos químicos.
O palmito é um exemplo de extrativismo vegetal, que se faz também de forma
extremamente predatória. Condena-se a derrubada das árvores para obtenção do
miolo, pois o tempo de reposição das palmeiras é longo e elas demoram de sete a
oito anos para se desenvolverem. A extração indiscriminada ameaça de extinção as
espécies juçara e açaí.
Apesar disso, nenhuma atividade extrativa concorre com a da madeira em termos de
devastação e prejuízo ao ecossistema.
Madeira: muita mata
devastada
Originalmente, quase toda a extensão do planalto
Meridional era recoberta pelo pinheiro da espécie Araucaria brasilienses.
Hoje, ela está reduzida a 5% de sua área primitiva. A maior parte do pinho que
se encontra no Sul do país provém de espécies plantadas. No Espírito Santo, um
terço do jacarandá foi eliminado.
A madeira extraída tem vários destinos. As vezes, é utilizada como lenha, na
forma de combustível simples; outras vezes, é queimada para o preparo de carvão
vegetal. Finalmente, a maior parte é utilizada para a fabricação de móveis, no
país ou no exterior.
As madeiras de lei, duras e resistentes, são as mais valorizadas no mercado
internacional. Por isso, são, em sua maior parte, exportadas. Ocorrendo
dispersas nas florestas pluviais, em meio a um sem-número de outras espécies,
elas rapidamente se esgotam na área em que estão sendo exploradas, impondo um
caráter itinerante à atividade extrativa. O mogno, por exemplo, teve seu pólo
extrativo na região de Paragominas, no Pará. Durante a década de 1980, foram
extraídos anualmente cerca de 2 milhões de metros cúbicos, até que a preciosa
madeira se esgotasse na região. Nos anos 1990, a atividade extrativa foi
transferida para o Acre e para a região de Itacoatiara, no Amazonas.
As vezes, na ânsia de encontrar a madeira desejada, as empresas extrativas,
muitas estrangeiras e outras tantas clandestinas, não preservam a mata que
envolve as espécies procuradas, procedendo um desflorestamento generalizado.
Para isso, usam indiscriminadamente a moto-serra, quando não possantes tratores
e grossas correntes.
Recursos hídricos: disponibilidade e consumo
São múltiplos os usos da água: atividade pesqueira, navegação, geração de
energia elétrica, irrigação, uso industrial e consumo urbano, sobretudo
doméstico.
A pesca é uma atividade tradicional no país e é praticada em muitos rios com um
caráter de subsistência. Apenas no litoral tem destaque a pesca comercial,
realizada em escala empresarial (mapa ao lado).
Quanto à navegação fluvial, além de ser tradicional na Amazônia, ela tem sido
impulsionada nos últimos anos graças à construção de grandes hidrovias, como a
do Tietê-Paraná e a do Madeira. No que diz respeito à geração de energia, basta
lembrar que mais de 90% da eletricidade produzida no país provém de geradores
hidráulicos.
O Brasil possui a maior reserva mundial de recursos hídricos. Abriga em seu
território uma das maiores redes hidrográficas do planeta - metade de toda a
água dispo nível da América do Sul -, além de extensas reservas de água
subterrâneas. Apesar de todo esse potencial, o país não está livre do problema
da escassez de água.
Uso predatório dos recursos hídricos, poluição, assoreamento dos rios e
desperdício são os principais responsáveis pela escassez de água. Segundo o
IBGE, as empresas brasileiras de abastecimento de água apresentam índices de
perda do produto de até 50%. Nos países desenvolvidos, esses índices não atingem
20%.
Para enfrentar esse problema, o governo federal lançou, em 1997, o Programa
Nacional de Combate ao Desperdício de Água. No mesmo ano, entrou em vigor a lei
de Recursos Hídricos, que fixa as normas para que se
possa assegurar a disponibilidade de água e sua utilização racional. No ano
2000, foi criada a Agência Nacional das Águas (ANA), destinada a pôr em prática
e monitorar as ações e políticas públicas na área dos recursos hídricos.
A disponibilidade e o consumo de água apresentam grande desigualdade regional no
Brasil, conforme se pode ver no quadro da página seguinte.
Verifica-se que quase 70% das águas correntes do país estão na região Norte,
onde naturalmente ocorre o menor consumo regional com irrigação (17%). Por outro
lado, na região com menores recursos hídricos -o Nordeste, com apenas 6 metros
cúbicos por segundo -, 70% da água consumida destina-se à irrigação. Aliás, como
conseqüência da modernização do campo, a irrigação tornou-se o maior consumidor
de água no país (59%), superando o consumo urbano (22%) e o industrial (19%).
Muito significativo é o índice dado pela relação entre disponibilidade e consumo
de água. No Brasil, para cada dez mil litros disponíveis, consome-se 65 litros
de água. Na região Norte, diante da abundância de recursos hídricos, o pequeno
consumo regional é de apenas um litro para cada dez mil litros disponíveis. De
outra parte, no Nordeste, esse índice é de 420 litros, diante da modesta
disponibilidade regional. Mas o índice mais elevado ocorre no Sudeste - 467
litros -, muito mais em função da elevada demanda de água do que de uma limitada
disponibilidade de recursos hídricos.
ÁGUAS CORRENTES:
DISPONIBILIDADE E CONSUMO
BRASIL |
|
|
Regiões |
|
|
|
Norte |
Nordeste |
Sudeste |
Sul |
Centro-Oeste |
Disponibilidade |
(mil
m'/seg) |
178 |
122 |
6 |
10 |
12 |
28 |
Litros
consumidos por 10 mil |
|
|
|
|
|
|
litros |
disponíveis |
65 |
1 |
420 |
467 |
304 |
17 |
|
Urbano |
22 |
58 |
17 |
29 |
12 |
35 |
Consumo (%) |
Industrial |
19 |
25 |
13 |
30 |
7 |
12 |
|
Irrigação |
59 |
17 |
70 |
41 |
81 |
53 |
Fonte: IBGE. |
Anuário |
estatístico |
do Brasil
1999. |
Rio
de |
Janeiro, 2000. |
|
|
Poluição e abastecimento
Os habitantes das grandes cidades, sobretudo os das regiões metropolitanas, por
enquanto são os afetados com a escassez de água. Os mananciais estão sendo
prejudicados principalmente por resíduos domésticos e industriais. Até as
indústrias, grandes consumidoras, têm se ressentido da falta de água.
Sem dúvida são as camadas mais pobres as mais afetadas, pois sua renda não lhes
permite habitar áreas urbanas mais valorizadas, com melhor infra-estrutura de
abastecimento e qualidade ambiental. Em um ciclo vicioso, por falta de
saneamento, essas camadas são responsáveis, em grande parte, pela poluição
hídrica e, por sua vez, sofrem mais com a própria degradação ambiental que
causam.
Apesar de as cargas de resíduos domésticos serem percentualmente as maiores
responsáveis pela poluição dos recursos hídricos urbanos, já que sobre as
indústrias incide uma fiscalização mais eficiente para que realizem tratamentos,
os dejetos industriais são diversificados e causam grande prejuízo à saúde. Seu
tratamento requer técnicas mais avançadas e caras. As indústrias teriam que
gastar aproximadamente 2,1 % do PIB do setor para tratar toda a sua carga
poluidora.
Em todo o país, cerca de 20% dos domicílios não estão ligados a rede de
abastecimento de água; grande parte deles está na região Nordeste e na periferia
das grandes cidades. É necessário reverter esse quadro, principalmente porque
estudos recentes revelaram a grande correlação existente entre a maior oferta de
água potável e a queda da mortalidade infantil.
No aspecto ambiental, a preservação dos rios não atrai tanto interesse quanto as
florestas, a não ser quando causa sérios danos às populações urbanas, como é o
caso do rio Tietê em São Paulo. Depois de provocar muitas enchentes e já sem
praticamente nenhum resquício de vida, o Tietê ganhou um projeto de despoluição,
financiado por capital estrangeiro. A demorada e dispendiosa despoluição do rio
poderá resgatar a original utilidade de suas águas.
Para alguns especialistas, o problema da falta de água na Grande São
Paulo poderia ser resolvido pelo subsolo. Estima-se que um sistema
descentralizado de
poços
espalhados pela região metropolitana permitiria captar um volume de água quase
três vezes maior que o déficit da região.
Aqüífero Guarani, um mar potável subterrâneo
Denominam-se aqüíferos as reservas de água subterrâneas, que representam uma
alternativa estratégica ao problema da falta de água. No Brasil, o principal
deles é o aqüífero Guarani, maior reserva subterrânea de água doce da América do
Sul.
A formação do aqüífero está ligada à ocorrência do arenito Botucatu, rocha que
aflora na depressão periférica da bacia sedimentar do Paraná, da qual compõe uma
das camadas recobertas por basalto (resultante de derrames de lava vulcânica).
Durante milênios, águas de superfície foram se infiltrando na rocha, graças à
permeabilidade do arenito, até inundar grande extensão da camada e formar,
assim, um imenso reservatório hídrico.
Esse verdadeiro mar potável subterrâneo estende-se por cerca de 1,2 milhão de km,
dois terços dos quais em território brasileiro, onde atinge oito estados do
centro-sul do país. O restante prolonga-se por Uruguai, Argentina e Paraguai.
Por isso, foi apelidado de aqüífero gigante do Mercosul.
O aqüífero Guarani tem capacidade de fornecer 43 bilhões de metros cúbicos de
água por ano, o suficiente para abastecer uma população de 500 milhões de
habitantes. Para aproveitar esse potencial, no entanto, é preciso que seja
explorado de forma sustentável, sem desperdício ou contaminação. No estado de
São Paulo, por exemplo, onde se acham cerca de 18% do aqüífero, é possível
encontrar poços abandonados e que não foram fechados, criando o risco de
contaminação por acidente ou mesmo sabotagem.
Adaptado de Aureliano Biancarelli para o jornal Folha de S.Paulo,
19 maio 1996.
As fontes de energia
O processo de industrialização envolve a produção e o consumo de produtos
energéticos, uma vez que a indústria é a atividade econômica que mais consome
energia. Por isso, está muito subordinada a ela, particularmente à localização
dos recursos energéticos, à viabilidade de utilização econômica das suas fontes
e, sobretudo, à contabilização dos custos - aspectos essenciais do projeto de
industrialização do país.
Dependendo do tipo de indústria, a localização da fonte de energia pode
determinar a concentração ou dispersão dos parques industriais.
Entre as diversas fontes de energia utilizadas - o vento (energia eólica), as
águas (energia hidráulica), os raios solares (energia solar), etc. -, as mais
usadas são as geradoras de
energia
térmica
e
de
energia
elétrica. No primeiro caso, as principais fontes são o petróleo e o carvão,
combustíveis de alto potencial energético; no segundo, os geradores das usinas
são acionados por água(hidreletricidade) ou pela própria energia térmica
(termeletricidade), por meio da queima de carvão ou óleo. Há, ainda, a fissão
nuclear, liberação de energia pela divisão do núcleo do átomo, aproveitada para
movimentar geradores de eletricidade nas usinas nucleares.
Entre as chamadas fontes alternativas, opções que se apresentam mediante a
perspectiva de esgotamento do petróleo, destacam-se: o álcool; a biomassa',
principalmente um subproduto da cana - o bagaço; e o xisto betuminoso, rocha que
contém uma substância semelhante ao petróleo. A energia primária tem como fonte
os produtos energéticos derivados diretamente da natureza - petróleo, gás
natural, carvão, energia solar, energia eólica. A energia secundária é resultado
do processamento de energia primária nos centros de transformação, como óleo
diesel, gasolina, querosene, etc.
Observe os gráficos abaixo. O primeiro mostra a distribuição do consumo de
energia por setor da economia brasileira; o segundo representa a participação de
cada fonte no consumo de energia do país.
Em defesa da energia solar
Segundo o presidente de uma das setenta empresas brasileiras fabricantes de
coletores de energia solar, o Brasil poderia aproveitar uma riqueza abundante
em um país tropical e economizar no consumo de eletricidade.
O emprego de energia solar para aquecer, por exemplo, os chuveiros elétricos,
reduziria a demanda em 2 650 megawatts, potência equivalente a cinco usinas
nucleares do porte de Angra I. A energia que incide sobre o Distrito Federal em
um ano corresponde à energia gerada por 162 usinas como Itaipu.
A falta de ação do governo em promover campanhas e programas de estímulo ao uso
de energia solar pode explicar o número ainda insignificante de consumidores.
Em Israel, 70% das residências utilizam energia solar. Na Alemanha existe um
programa de incentivo ao consumidor: mil dólares para quem compra quatro metros
quadrados de coletor solar e mais 250 dólares para cada metro adicional. Diante
do inconveniente céu nublado, os fabricantes respondem: os equipamentos possuem
uma resistência elétrica que é acionada nesses casos.
Adaptado de:
ScHoLz,
Cley.
Associação defende energia solar.
0
Estado
de S. Paulo, 11 ago. 1996.
Petróleo
Nossas reservas de petróleo conhecidas são modestas, embora a
maior parte do território brasileiro seja formada por bacias sedimentares, que
outrora foram depressões favoráveis ao depósito de matéria orgânica.
O primeiro poço de petróleo do país, denominado Poço Lobato, foi
instalado em 1939, no Recôncavo Baiano. No entanto, a produção comercial só
começou efetivamente em 3 de outubro de 1953, com a criação da Petrobrás,
empresa estatal que exerceu, até 1997, o monopólio da pesquisa, lavra, extração,
refino e transporte do óleo e seus derivados e que representou um dos
principais projetos de infra-estrutura do Estado brasileiro.
Até a década de 1970, a limitada produção nacional era obtida de
poços terrestres, a maior parte localizada no Recôncavo Baiano. Hoje, a
principal fonte são os poços submarinos da plataforma continental,
principalmente na região vizinha ao estado do Rio de Janeiro. Do total
produzido no país, mais de 70% são originários da plataforma continental.
A produção dos demais estados é muito inferior à do Rio de
Janeiro; vindo em seguida a do Rio Grande do Norte, que assumiu o lugar da
Bahia como segundo maior produtor nacional, ambos explorando principalmente
poços terrestres. Destacam-se ainda os estados de Sergipe, com significativa
produção em poços terrestres, e Ceará, que produz principalmente em poços
submarinos.
A produção nacional tem aumentado e já corresponde a mais de 70%
do consumo interno. Mas a meta é a auto-suficiência, pois a importação tem
grande peso na balança comercial do país.
No ano 2000, as reservas nacionais eram de 1,3 bilhão de metros
cúbicos de petróleo, enquanto a produção anual andava ao redor de 50 milhões de
metros cúbicos. Mantendo-se esse quadro, é fácil calcular o tempo em que as
reservas conhecidas estariam esgotadas.
Quanto aos derivados de petróleo, a produção nacional satisfaz
integralmente as necessidades internas. A Petrobrás processa 98% do petróleo
refinado no país, cabendo o restante às refinarias particulares (piranga (Rio
Grande do Sul) e Manguinhos (Rio de Janeiro).
Como se pode observar no mapa abaixo, a Petrobrás tem várias
unidades de refino em funcionamento, além de exercer o controle acionário da
Refinaria de Ma naus e da Refinaria Capuava, em Mauá (São Paulo). Veja também a
foto abaixo.
A localização das refinarias é determinada pela proximidade dos
centros de consumo e, na medida do possível, do litoral, uma vez que, até
alguns anos atrás, a
dependência do petróleo importado era muito maior, e o sistema de oleodutos era
menos eficiente. Apenas no caso da Refinaria de Mataripe, na Bahia, o critério
foi a proximidade de uma zona produtora.
A matéria-prima fornecida pelas refinarias abastece a indústria petroquímica
brasileira, que se concentra em três pólos: Cubatão, em São Paulo; Camaçari, na
Bahia; e Triunfo, no Rio Grande do Sul.
Gás natural
O gás natural é uma fonte de energia que, no Brasil, ocorre geralmente associado
ao petróleo. Se comparado aos dos demais combustíveis fósseis, é mais barato, é
facilmente transportável em dutos e sua queima, que libera boa quantidade de
energia, polui menos a atmosfera. Por esses motivos, seu consumo é estimulado
pelo governo e vem aumentando; é usado em altos-fornos de indústrias e nos
transportes e, brevemente, será utilizado em aparelhos domésticos.
Na atual matriz energética do país, o gás natural representa menos de 3%, mas o
governo pretende que essa percentagem chegue a 12% em 2010. Para isso, a
Petrobrás tem investido nessa fonte energética, em parceria com a iniciativa privada, e, conseqüentemente, a produção nacional tem
aumentado. Os grandes produtores são Rio de Janeiro e Bahia, seguidos de longe
por Sergipe, Rio Grande do Norte e Amazonas.
Paralelamente, o Brasil importa gás natural da Bolívia através de um extenso
gasoduto, que vai de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, a Guararema, em São
Paulo, e daí à região industrial de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Nesse
estado, outro gasoduto permite a importação de gás natural da Argentina.
Carvão mineral
Diante da carência de petróleo, poderíamos imaginar que o Brasil há muito tempo
estivesse aproveitando intensamente suas reservas carboníferas, as quais, embora insuficientes, constituem a principal fonte de energia térmica do país.
Entretanto, a preocupação com o aproveitamento do carvão é recente.
As reservas estão depositadas em terrenos sedimentares antigos, na borda
oriental da bacia do Paraná, no baixo Amazonas e na bacia do Parnaíba, mas
apenas o carvão do Sul é explorado. Veja mapa e gráfico a seguir.
Em Santa Catarina (foto abaixo), o carvão aparece a pequena profundidade, mas no
Rio Grande do Sul está a mais de 30 metros, e a exploração é feita por meio de
poços e galerias.
A produção é insuficiente para atender à demanda interna, razão pela qual a
indústria siderúrgica do Sudeste importa coque, resíduo da destilação do
carvão, usado na indústria metalúrgica. Além disso, o carvão é do tipo
betuminoso e sub-betuminoso, que têm baixo teor calorífico, e apresenta outros
fatores negativos, como umidade, cinzas e sulfeto de ferro.
Apenas parte do carvão catarinense é coqueificada e remetida para a Companhia
Siderúrgica Nacional, em Volta Redonda, no estado do Rio de Janeiro. E só tem
uso siderúrgico depois de lavado e misturado a carvões estrangeiros, pois,
mesmo após o beneficiamento, continua com 18% de cinzas, contra 4 a 5% dos
carvões norte-americanos de alta qualidade.
No Rio Grande do Sul, cerca de 50% da produção é aproveitada; em parte para a
fabricação de aço, que é feita com o uso de moderna tecnologia.
Um dos maiores problemas da utilização do carvão como combustível é a agressão
ao ambiente. A fuligem polui o ar, e os resíduos desprezados são levados pelas
chuvas e poluem os rios. Apesar disso, o carvão mineral tem sido adotado por
algumas indústrias como alternativa para o elevado preço do petróleo.
Energia elétrica
A rede hidrográfica do Brasil é a mais densa do mundo, com enorme potencial
hidrelétrico. Isso explica por que mais de 90% da potência instalada nas usinas
provêm de geradores hidráulicos, cabendo aos geradores térmicos apenas 8%.
Somente no Sul a termeletricidade é significativa, contribuindo com cerca de 15%
do total da região. No entanto, as maiores usinas termelétricas são as de
Piratininga, em São Paulo, e de Santa Cruz, no Rio de Janeiro.
Desde a década de 1950 até 1995, a energia elétrica no Brasil foi quase
totalmente gerada e distribuída por empresas públicas, tanto estaduais quanto da
União. Nos anos 1960, criou-se a Eletrobrás, encarregada do planejamento e da
execução de uma política de energia elétrica para todo o país. A partir dessa
época e sobretudo na década de 1970, condicionado pela crise do petróleo, o
governo federal pôs em prática um plano de construção de grandes usinas
hidrelétricas, como infra-estrutura básica para a industrialização.
Todavia, o ritmo de investimentos e a geração de energia diminuíram já no final
dos anos 1980, deixando de acompanhar o ritmo de expansão das necessidades de
consumo nacionais. Em 1995, teve início a privatização do setor elétrico no
Brasil, após a promulgação da chamada Lei de Concessões, com base na qual foram
sucessivamente vendidas inúmeras empresas até então estatais.
Isso, no entanto, não foi suficiente para a retomada dos investimentos no
montante que se esperava, tendo em vista garantir o suprimento da demanda em
expansão. Assim, em 2001, quando baixou o nível da água dos reservatórios de
grandes hidrelétricas, em conseqüência de chuvas aquém do normal, o Brasil
viu-se obrigado a racionar o consumo de energia elétrica. Para escapar do
racionamento e de suas desastrosas conseqüências, bem como para haver menor
dependência da pluviosidade que enche os lagos das usinas, impõe-se a
necessidade de acelerar a construção de termelétricas.
Tanto a potência instalada quanto o consumo de energia elétrica são importantes
indicadores das desigualdades regionais do país (gráfico abaixo).
O Norte, representado principalmente pela bacia hidrográfica Amazônica, é a
região que possui o maior potencial hidrelétrico nacional -
46%
(incluindo a bacia dos rios Araguaia e Tocantins) - mas seu
aproveitamento ainda é restrito. Destacam-se as usinas de Balbina, nas
proximidades de Manaus, e de Tucuruí, no rio Tocantins, construída para
alimentar a produção de alumínio realizada na região de Belém e que fornece
energia para outras regiões do país.
Em São Luís, planeja-se construir uma usina hidrelétrica em função da
exploração mineral, no caso o processamento dos minerais da serra dos Carajás,
principalmente o ferro.
As regiões Sudeste e Sul apresentam grandes empreendimentos hidrelétricos,
como, por exemplo: o com
plexo de Urubupungá, localizado no rio Paraná, entre São Paulo e Mato Grosso do
Sul, e formado pelas usinas de Jupiá e Ilha Solteira; as hidrelétricas do rio
Grande; a usina de Três Marias no rio São Francisco, e a usina de Itaipu.
Com a usina de Itaipu, na fronteira com o Paraguai, a bacia do Paraná é a que
tem o maior aproveitamento do potencial hidrelétrico em todo o país, abastecendo
a região Sudeste, que produz somente
49%
da energia que consome. A região Sul, tomada isoladamente, não
utiliza toda a sua capacidade elétrica instalada.
Na região Nordeste destacam-se as usinas do rio São Francisco, como Sobradinho,
Moxotó e Paulo Afonso, construídas como parte do projeto de desenvolvimento da
região nas décadas de
1960
e
1970.
Na década de
1980
foram construídas as hidrelétricas de Itaparica e Xingó,
necessárias para atender à maior demanda de energia, sobretudo com o avanço do
processo de desconcentração industrial do país.
No mapa a seguir, podem-se observar as bacias hidrográficas e as principais
hidrelétricas brasileiras.
No total, o Brasil só aproveita 30% de seu potencial hidrelétrico, e esse é um
poderoso argumento dos ambientalistas contra o uso de energia nuclear para
gerar eletricidade - embora se critique a inundação de áreas florestais para a
formação do lago de uma usina hidrelétrica e o fornecimento seja irregular em
épocas de poucas chuvas.
Na década de
1970,
o governo elaborou uma ambiciosa política de energia nuclear. A
primeira usina atômica construída no Brasil foi Angra I, na praia de Itaorna,
município de Angra dos Reis, no Rio de Janeiro. Entrou
em operação em 1984 e tem sido alvo de críticas tanto por parte
da comunidade científica e dos ecologistas quanto da população em geral, pelos
riscos que representa, pelos custos elevados e pelas constantes panes. A seu
lado foi construída uma segunda usina atômica, Angra II (foto abaixo), e está
prevista a construção de Angra III.
Álcool
O álcool pode ser produzido de numerosos vegetais, como
cana-de-açúcar, batata e cevada. Diante da perspectiva de esgotamento das
reservas de petróleo e de carvão, tem sido valorizado como combustível
alternativo.
A Rússia, por exemplo, desenvolve grandes plantações de
eucalipto especialmente para esse fim, e o Brasil produz álcool combustível da
cana-de-açúcar. Nos anos 1970, com o aumento dos preços do petróleo no mercado
internacional, foi criado o Programa Nacional do Álcool (Proálcool), que
recebeu incentivos governamentais e desenvolveu tecnologia própria, apresentando
grande produção em menos de dez anos.
No fim da década de 1980, contudo, os principais motivos que
determinaram a criação do Proálcool deixaram de existir, pois os preços
internacionais do petróleo se reduziram e o aumento da produção interna diminuiu
a
dependência do produto importado. Além disso, as possibilidades de produção de
álcool combustível se mostraram limitadas, pois, para produzir uma quantidade
razoável do produto, é necessário cultivar grandes extensões de terra. Sua
utilização restringe-se sobretudo ao setor de transportes, mais especificamente
aos automóveis.
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