BOLETIM DA DIRETORIA DE CRIAÇÃO NÚMERO 64 FEVEREIRO 1998

1- APRENDIZADO.

A função do cérebro é determinada por uma finíssima camada de células de 2 a 5 mm de espessura, os neurônios, que recobre todas as suas convoluções. Numa pequeníssima área de, mais ou menos, 0.25 m2 podem ser encontrados, no cérebro do homem, mais de 100 bilhões de neurônios. Os neurônios são compostos dos mesmos elementos de todas as células do organismo, embora possuam algumas características bem peculiares: apresentam vários prolongamentos chamados dendrites, um prolongamento único e maior chamado axônio e uma grande capacidade de excitabilidade. As terminações dos axônios, bifurcando-se como os dedos de uma mão, entram em contato com os dendrites ou diretamente com a superfície celular como acontece com as células musculares. Essas regiões de contato chamam-se sinapses e constituem uma unidade hormônio-químico-enzimático essencial para a geração e transmissão dos impulsos nervosos.

Nas sinapses, os impulsos nervosos elétricos chegados pelos axônios provocam a liberação de pequenas moléculas de substâncias químicas, os neurotransmissores. Os neurotransmissores provocam a despolarização das membranas que recobrem os dendrites ou a superfície celular. A face interna da membrana celular é eletricamente negativa por possuir menor quantidade de sódio em relação ao potássio, inversamente ao que ocorre do lado externo da membrana que é positivo. No processo de despolarização, o sódio, principalmente por mecanismo ativo chamado bomba de sódio, penetra em maior quantidade no interior da célula que torna-se positivo em relação ao exterior e gera um potencial de ação elétrico. Os neurotransmissores são inativados por enzimas e, após um período refratário, a sinapse está pronta para reiniciar o processo. Assim, o funcionamento cerebral nada mais é que correntes elétricas girando em círculos e geradas e transmitidas por moléculas químicas. Através dos axônios e dos dendrites, os bilhões de neurônios interconectam-se entre si e com células efetoras e receptoras numa grandeza de fazer inveja a qualquer Eletropaulo ou General Electric da vida.

Por descargas químicas e elétricas vão sendo transportadas todas as informações responsáveis por atividades como a memória, a inteligência, a ansiedade,etc. Os peptídeos endógenos opióides, como as encefalinas,as endorfinas e as dinorfinas, presentes no hipotálamo, no cérebro e nas glândulas endócrinas são os neurotransmissores e neuromoduladores que atuam no comportamento. Exercem papel determinante em funções como a memória, o aprendizado, a resposta ao estresse, o comportamento violento,etc.

A inteligência exige a exploração de inúmeras informações olfativas, visuais, táteis, auditivas e gustativas, retendo as que julgar importantes. Para que essas informações sejam exploradas de maneira positiva há a necessidade da atenção. A vigilância é o componente da atenção que analisa os os estímulos sensoriais externos e internos e seleciona os mais importantes para a sobrevivência. Algumas vezes, há a necessidade do estreitamento do interessa numa parte específica da captação perceptiva, o foco, determinado pela concentração.

A vigilância e a concentração são básicas para a formação da memória. Sem elas não há entendimento nem aprendizado. São "abastecidas"principalmente pela visão e audição, sendo o tato, o gosto e o olfato secundários no aprendizado. A maioria das pessoas atua, durante o dia, com 75% da atenção.

Os estímulos são captados principalmente pela audição-visão, entram nos circuitos neuronais e, durante o sono, são processados pelo cérebro. Muitos são apagados e o restante entra na criação da memória permanente.

Esses conhecimentos básicos, ainda que superficiais, ajudam a entender as necessidades no ensinamento do animal.

1- É lógico que o sistema opióide varia de animal para animal e, principalmente, dentro das linhas de sangue. Os animais de trabalho na Alemanha pertencem a linhas de sangue bastante diferentes das usadas na estrutura. Os seus fenotipos são diferentes: são muito comuns os cinzas (aqueles cinzas escuros e não os amarelados que chegamos a ver no Brasil), muitos pretos, com linhas superiores nem sempre as ideais para a estrutura, cabeças imponentes com destaque para os fortes maxilares e o olhar duro, expressão de atenção constante,etc. Conhecemos Lasso Neuen Berg, sieger 97, mas não conhecemos Quaid v.d Hegewiese, vencedor da SV-Bundesseigerprüfung 97. O Uran do adestramento foi Drigon. Assim, se quisermos pensar em adestramento ou bons cães de guarda, temos que criar essas linhas de sangue específicas. Animais dessas linhas, e não os que temos, podem ser comparados aos animais tipicamente criados para guarda.

2- O local de adestramento para as aulas iniciais deve ser calmo, tanto quanto aos sons como quanto aos movimentos de veículos ou pessoas. Como a atenção (vigilância e concentração) depende da visão/audição principalmente, estímulos visuais/auditivos em demasia prejudicam a atenção no ensinado. Somente após o animal estar capacitado a concentrar-se os exercícios podem ser feitos em locais movimentados.

3- As ordens devem ser curtas, firmes, claras e repetidas para os mesmos ensinamentos facilitando a sua fixação pela memória do animal.

4- O figurante deve movimentar-se sempre emitindo sons para facilitar o animal dirigir o foco da sua atenção para ele. Por isso, o cão bem treinado jamais desvia a sua atenção do figurante por mais movimentado que seja o local das provas. Animais com sistemas opiáceos diferentes também reagirão de maneiras diferentes nas primeiras aulas com o figurante, desde a vigilância intensa até a indiferença. Aí há a distinção entre o bom e o mau adestrador. O bom adestrador é aquele que consegue, aos poucos, usar os movimentos do figurante (estímulo visual) e os sons emitidos pelo mesmo (estímulo auditivo) para conseguir a atenção do animal. Beliscar o animal (estímulo tátil) constitui heresia. Muitas outras condutas podem ser adotadas baseadas nos conhecimentos expostos.

Dr. José Carlos Pereira, Diretor de Criação.

 

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