BOLETIM DA DIRETORIA DE CRIAÇÃO NÚMERO 50

1- DIROFILARIOSE CANINA (PARTE UM - EPIDEMIOLOGIA E CICLO BIOLÓGICO. EPIDEMIOLOGIA.

A dirofilariose canina é uma doença parasitária causada por um verme filarídeo denominado Dirofilaria immitis. Hoje, é considerada uma doença cosmopolita atingindo tanto as regiões litorâneas como as interiores.

Nos últimos anos, pesquisadores e clínicos têm intensificado investigações sobre esta doença potencialmente fatal. A American Heart Worm Society (AHS), criada em 74, tem organizado simpósios a

cada 3 anos, nos quais, especialistas divulgam descobertas recentes. Nos Estados Unidos poucos veterinários atuam em áreas não rotineiramente monitorizadas. A doença, originalmente observada em áreas litorâneas dos estados do Sudeste, vem se propagando para estados do Centroeste e costa Oeste, podendo ser encontrada em quase todos os estados do país e em muitas áreas do Canadá. A mesma distribuição é observada na Austrália, Espanha e áreas mediterrâneas, havendo também áreas endêmicas no Japão.

Numa revisão da literatura, Norma Vollmer Laborthe, do Departamento de Patalogia e Clínica Veterinária da Faculdade de Veterinária da UF~RJ, ao observar a distribuição da doença no Brasil, notou que a maioria das informções vem de localidades costeiras. RS, 1,1%; SC, 12%; PB, 12,4%; Pa, 8,8%; Aí, 12,5%. Em áreas não costeiras, Cuiabá, MT, 9,62% e Uberlândia, MG, quatro casos relatados. No Estado de 5. Paulo existem áreas costeiras de alta prevalência como Bertioga, 45%, Guarujá, 14.2% e Riviera de 5. Lourenço, 18%.Mairiporã, cidade do interior bem longe da costa, apresenta 17%. O Estado do Rio de Janeiro apresenta prevalência alta (1241581>, com áreas costeiras sendo reconhecidas como as que apresentam maior número de casos. Na região serrana (Petrópolis e Teresópolis) foram encontrados animais portadores em freqüência elevada (11/43>, sendo a dirofilariose considerada uma ameaça aos cães da região. A D. immitis foi encontrada em um lobo guará proveniente da região de Taubaté, SP. Também há relatos destes filarídeos em lobos guará na região do Alto Amazonas.

A habilidade do parasito em se desenvolver completamente nos mosquitos em temperaturas mais baixas expande as fronteiras geográficas da doença. A expansão da doença e o aumento do número de Cães infestados são explicados também pela mobilidade da sociedade. Os proprietários viajam com os seus Cães que ficam expostos aos mosquitos infectados e, retomando aos seus pontos de origem, podem servir como fonte de infecção.

Em regiões onde a dirofilariose é comum, todos os Cães devem ser considerados sob risco e colocados em programas de acompanhamento preventivo.

CICLO BIOLÓGICO

A dirofilariose é disseminada por muitas espécies de mosquitos (pernilongos). Há mais de 70 espécies de mosquitos incriminados como possíveis transmissores nas mais diversas regiões do mundo. As fêmeas dos mosquitos servem como hospedeiros intermediários quando ingerem o sangue de um Cão infectado contendo larvas da dirofilária em seu primeiro estágio (Li). No mosquito as larvas evoluem para ~ e, posteriormente, para L3 que é a forma infectante. Quando o mosquito pica um animal para se alimentar, as larvas L3 são depositadas, junto com a saliva, na pele do mesmo. Essas larvas penetram no tecido subcutâneo e aí permanecem por, aproximadamente, dois meses evoluindo para larvas L4 que penetram na circulação sangüínea e eventualmente na circulação linfática. À medida que migram na circulação sangüínea para o coração passam à larvas de quinto estágio ou adultos jovens, as quais, se localizam nas pequenas artérias pulmonares. Aproximadamente seis meses após a penetração das larvas na pele ocorre a primeira microfilarinemia, com a quantidade de larvas aumentando nos próximos seis meses.

A gravidade da moléstia varia com o número de vermes adultos que o Cão abriga, podendo variar de 1 até 250. Assim, localizam-se nas artérias pulmonares caudais em infecções com baixo número de adultos. Com o aumento do número de adultos podem ocupar o ventrículo direito, átrio direito e veia cava cranial caracterizando os casos mais graves.

Texto do Dr. Marcos Pedro Kuhn, CRMV 9091, da Comissão de Criação do SPCPA-Núcleo de Cruzeiro.

Pela gravidade da doença e sua alta freqüência, procure o seu veterinário para a profilaxia, principalmente quando viajar para regiões de altas endemicidades (Diretoria de Criação).

BOLETIM DA DIRETORIA DE CRIAÇÃO NÚMERO 56

2. DIROFLARIOSE CANINA (PARTE DOIS - DIAGNÓSTICO E PREVENÇÃO)

O diagnóstico da dirofilariose é feito através da pesquisa de microfilarias e de antígenos de parasitas adultos no sangue. A pesquisa de antigenos confirma a presença de microfilárias e pode diagnosticar casos amicrofilarêmicos (sem microfilárias no sangue). Os "kits" para pesquisa de antígenos utilizam, na maioria das vezes, a técnica imunoenzimática ELISA. Apresentam uma sensibilidade praticamente de 100%, com pequenas variações entre os diversos "kits". A sensibilidade é limitada por fatores importantes:

*ldade dos vermes. Formas jovens não são detectadas;

*Sexo. Não detectam infecções exclusivamente por machos;

*Número de parasitas. Pouquíssimas fêmeas jovens podem reproduzir microfilmarias embora ainda não liberem antígenos detectáveis pelo ELISA.

Outros fatores podem influenciar a sensibilidade do teste, como o uso indevido de microfilaricidas.

Segundo Di Sacco e Vezzoni ,1992, clinicamente os cães portadores de Dirofilária immitis podem ser divididos em 3 classes:

Classe 1 (doença subclínica); Classe 2 (doença moderada); Classe 3 (doença grave).

Submetidos a exames clínicos, radiológicos, laboratoriais e eletrocardiográficos os cães podem ser enquadrados numa destas classes. Uma vez enquadrados em uma destas classes, o clínico terá a possibilidade de saber aqueles que poderiam ser tratados com bom prognóstico e aqueles que não seriam beneficiados pelo tratamento, sabendo-se que todo tratamento adulticida provoca tromboembolismo. Atualmente a droga de escolha é o dihidrocloridrato de melarsomina. O protocolo de tratamento vai depender da classe em que o cão estiver enquadrado. A confirmação da eliminação dos vermes adultos é feita 4 semanas após o término do tratamento adulticida usando também o teste ELISA.

A eliminação das microfilárias é feita com uso da ivermectina ou da milbemicina.

Os cães que receberam o tratamento adulticida devem iniciar o tratamento preventivo para evitar uma reinfecção.

Recomenda-se que todos os cães que vivam em regiões onde exista o mosquito transmissor receba o tratamento preventivo mensalmente. Os animais devem ser iniciados num programa preventivo por ocasião em que forem submetidos ás imunizações de rotina. Nos filhotes utiliza-se como preventivo a milbemicina ou a ivermectina, sendo esta aprovada para uso nos Estados Unidos pelo FDA (Food and Drug Administration)

O uso da ivermectina em formulações para grandes animais é um grande erro. Além de eliminarem a ivermectina mais rapidamente que outros animais, os cães apresentam uma biodisponibilidade da droga diferente daquela dos ruminantes. Embora não existam no Brasil estudos epidemiológicos sobre a dirofilariose com números significativos em áreas não costeiras, a tendência , como se tem observado em outros países, é que a doença aumente sua prevalência e se expanda geograficamente. Nossas condições climáticas e a distribuição geográfica do hospedeiro intermediário são fatores críticos. Uma vez que se trabalha com animais de alto valor zootécnico, e também considerando a grande mobilidade desses animais, o tratamento preventivo deve ser incluído como rotina nos criatórios. Novos animais introduzidos no plantel, principalmente quando adultos, devem ser submetidos a testes diagnósticos, ou seja, um exame pré-compra.

Trabalho do Dr. Marcos Pedro Kuhn, CRMV SP 9091, da Comissão de Criação do Núcleo de Cruzeiro.

 

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