BOLETIM DA DIRETORIA DE CRIAÇÃO NÚMERO 75
E VAMOS NÓS, MAIS DISPLASIA
COXO-FEMURAL.
Pensei em dar um tempo à DCF para não ficar cansativo. Como há
novidades muito objetivas, não poderia deixar de levá-las aos criadores.
Apesar de ser conhecida desde 1925, primeiramente entre os pastores
alemães nos EEUU, ainda há pontos bastante obscuros, ou pelo menos discutíveis, sobre a
DCF: qual a real incidência, qual a participação da hereditariedade e dos fatores
ambientais e a falta de um dado palpável, objetivo e prático para ajudar os criadores.
As divergências surgem, desde aqueles que afirmam ser a DCF um problema essencialmente
hereditário até os que afirmam haver 40% de herança e 60% de fatores ambientais
(exercícios ou a falta deles, alimentação, instalações,etc.). Os norte-americanos,
fiéis às leis do mercado e da liberdade individual, deixam o controle da DCF para a
consciência de cada criador e evitam obrigatoriedades. Na Alemanha, o controle é feito
em nível das sociedades, havendo legislação enérgica para o controle da doença. Os
métodos radiológicos da OFA (Orthopedic Foundation for Animals) são mais precisos que
os da SV (Schäferhunde Verein) ? E o Penn/HIP, desenvolvido na Pensilvânia, é mais
acurado que o método tradicionalmente usado ?
E tome ?????????? E nós aqui, no meio do tiroteio. Com uma criação
ainda frágil, na qual a maioria dos criadores sequer comunica os acasalamentos e
nascimentos (dificultando controles estatísticos, por exemplo, das fertilidades dos
animais), somente podemos ficar como o personagem televisivo: tô di ôio no sinhô...
Com um ôio mais atento, cheguei ao Zuchtwertschätzung (HD-Zuchtwert).
Em inglês, Breed Suitability Evaluation, que traduzo livremente como avaliação para uma
criação adequada, aceitando sugestões.
Após o sucesso inicial da obrigatoriedade da radiografia coxo-femural,
com quedas expressivas da displasia, nos últimos anos essa queda tem sido muito lenta
estando atualmente em volta de teimoso 6% na Alemanha. Atentos, os diretores da SV, na
reunião anual de maio de 1998, optaram pela adoção do HD-Z. O HD-Z, partindo do MMA
(Mixed Model Prediction) e MME (Mixed Model Estimative), métodos de previsões e
estimativas usados com sucesso na criação de outros animais, é capaz de estimar os
genes que podem ser transmitidos a outras gerações na criação de cães. Por traduzir
em números a avaliação da displasia tendo como base toda a família de determinado
animal facilita a sua compreensão e uso por qualquer criador. Todo o trabalho é
coordenado pelo Dr. Reiner G. Breuing, professor da University of Giessen, na Alemanha.
O uso do HD-Z em cães começou em 1983 para o controle da luxação do
cristalino do olho do Deutsche Wachtelhund, terrier de caça alemão, sendo seguido pelo
German Retriever Club para a DCF entre os retrievers, pelo Hovawart Breed Club e mais
recentemente no controle da DCF pelo Club Berger des Pyrennees (pastor dos Pirineus).
Todos conseguiram bons resultados.
A equação matemática do HD-Z foi calculada para 450 000 animais pela
SV, chegando a um valor médio para a raça de pastores alemães. Esse valor é de 100 e,
a partir dele, é feito todo o raciocínio da metodologia.
O HD-Z, expresso em números relativos, é atualmente 100 para a raça
pastor alemão, com desvio padrão para cima e para baixo de 10. Quanto mais o animal se
afasta para cima da média da raça, maior a possibilidade de transmitir a DCF. Pelo
contrário, quanto mais se afasta para baixo da média, menor a possibilidade de
transmitir a doença.
A partir da determinação de 100 como a média da raça pastor alemão
o criador pode programar uma criação mais confiável quanto a DCF.
Vejamos alguns aspectos práticos:
- Um animal com laudo radiológico AP, como o sieger Jeck Noricum, pode ter um HD-Z menor
(98) do que um animal com laudo N, como o VA Mark Haus Beck(101). Simplesmente porque o
HD-Z leva em conta laudos radiográficos de todos os parentes próximos e progênie, além
de outros dados concorrentes para a DCF. Portanto, leva em conta o todo e não as partes
individualmente.
- O HD-Z não é estático. O banco de dados da SV é constantemente municiado e qualquer
animal pode ter o seu HD-Z alterado, para melhor ou pior. As revisões estão sendo feitas
trimestralmente.
- Atualmente a SV tem somente orientado os criadores usando vários métodos: a-
Informações prestadas aos seus sócios pelos grupos estaduais (Landesgruppen) e
regionais (Ortsgruppen), muito ativos e eficientes; b- Mais ou menos do número de
registro 166 000 em diante quase todos os animais nascidos na Alemanha têm o seu HD-Z
mostrado na Internet, com mais de 4000 consultas desde setembro de 98. Endereço da SV: (www.schaeferhunde.de); b- Artigos na revista
mensal SV Zeitung; c- CD-Rom "SV-Genetics", a 20 DM a unidade; d- Uma brochura,
escrita pelo próprio Dr. Reiner G. Breuing(guardem esse nome, será o Dr. Brass do
futuro), "Breed Strategies of Cynology" e e- Listas com os HD-Z são fornecidas
aos sócios da SV mediante solicitação.
- Pelas informações que tenho, após o período de sugestões, a partir de julho de 1999
o HD-Z será obrigatório nos cruzamentos. Será negado o registro para filhos de pais com
média maior que 100. O índice médio 100 da raça pastor alemão é considerado alto
pela SV e todos esforços serão feitos para diminuí-lo.
- Na prática, uma fêmea com HD-Z 85 poderia ser cruzada com macho com HD-Z até 115. A
SV aconselha sempre procurar manter média menor que 100 para melhores resultados.
Todo criador para ter sucesso deve manter matrizes com HD-Z mais baixo
possível, possibilitando maior universo de padreadores. Quanto maior for o HD-Z de uma
matriz também será maior a dificuldade para encontrar machos adequados.
- Num futuro próximo teremos um zuchtwert para outros aspectos do pastor alemão como
potencial para transmitir boa estrutura e temperamentos equilibrados. Outras doenças
genéticas já estão sendo estudadas. Teremos grande melhoria da criação e um cão
pastor alemão na sua plenitude física e temperamental.
Será o fim de detalhismos pouco importantes, cor da moda por exemplo,
como se o pastor alemão fosse uma grife de vestuário. Ganha mais força o pessoal dos
cães de trabalho, assunto de um dos próximos boletins.
7- Como não temos controle tão sofisticado, é importante procurar
importar animais levando em
conta o HD-Z dos mesmos e dos seus ascendentes. Logo teremos uma visão
bem mais clara
dos animais com potencial para correção das coxo-femurais. Fica
obsoleto o critério de julgar
o futuro do animal na criação somente pelo resultado ainda permitido,
quase normal ou normal da sua radiografia coxo-femural.
8- Logo os alemães chegarão a duas evoluções marcantes: a- Não
levarão em conta se o animal é N, QN ou AP e sim o seu HD-Z. Não o
que ele apresenta
individualmente, mas sim o que trás dos ancestrais e o que pode
transmitir aos seus descen-
dentes. Será o fim de heresias como somente indicar para cadelas AP
machos N ou QN,
quando uma cadela AP pode ter um HD-Z baixo e um macho N um HD-Z alto;
b- Os ani-
mais com laudos radiográficos de displasia coxo-femural muito
provavelmente terão sido víti-
mas de causas ambientais e não genéticas.
- O HD-Z permitirá um controle mais confiável dos animais não radiografados, os quais,
constituem a maioria. Enquanto o controle pelo simples laudo
radiográfico individualiza o controle, o HD-Z, por sua abrangência, tem um controle
sobre o total da criação e não só dos animais radiografados. Do momento que seja
exigido média de HD-Z dos pais menor que 100, o benefício passa a ser de toda a ninhada.
Acho que aí reside a grande vantagem do HD-Z.
Portanto, amigo pastoreiro, há muita coisa no ar exigindo atenção.
Se não dermos uma guinada em nossa criação, procurando modernizá-la, cada vez maior
será a distância a nos separar dos países mais adiantados. Num futuro próximo, bem
próximo aliás, seremos fossilizados. Seremos os homens, e mulheres, das cavernas do
pastoreirismo. E modernizar não é ficar procurando cores da moda ou tipos da moda, como
se não existisse um padrão a ser seguido.
Felizmente, uma grande parte dos padreadores de origem alemã existente
no Brasil possui um HD-Z bastante aceitável para as nossas condições. Clyde Wiesenborn
tem 101 (o mesmo de Mark), melhor que seu pai, Eros Luisenstrasse, que tem HD-Z 103, sendo
que sua mãe, Holly Wiesenborn possui 93. Willy Ehrenfeste tem HD-Z também 101, seu pai
Rony Arminius tem 100 e sua mãe, Mary Ehrenfeste tem 95. Os pais de Mary, Tito
Wildsteiger Land tem HD-Z 97 e sua mãe, Quena Wildsteiger Land, tem 94. Chipp Antheus tem
HD-Z 107, seu pai, Hobby Gletschertopf, tem 98 e sua mãe, Amber Forsteck, tem 113, e seus
avós Jeck Noricum 98, Quitta Ehrenfeste 88, Kevin Assaut 88 e Manta Urbecke 118. Willy,
com grande número de filhos selecionados, portanto com RX A, é um padreador seguro com
cadelas adequadas. Clyde e Chipp ainda não podem ser avaliados. Os seus filhos não
estão em idade de serem selecionados em número suficiente. Mas, pelos seus ascendentes,
também deverão ter sucesso se bem usados.
Não consegui o HD-Z de Mink Farbenspiel. Pelo sucesso que teve o
animal como melhorador das articulações coxo-femurais, devia ser abaixo de 100.
Realmente Mink foi um animal precioso para a nossa criação.
Timo San Marco tem HD-Z de 89, seu pai Hardy Arminius 101 e sua mãe,
Minou San Marco 90. Fica confirmado o papel desse macho como melhorador evidente das
coxo-femurais.
Zico Ca San Marco, por ser italiano, não tem HD-Z. Seu pai, Nico
Assaut tem 97 e seu avô, Natz El Tous, tem 90, justificando o número bem razoável de
filhos selecionados do Zicão.
Uran Uesener Werk tem HD-Z de 91, seu pai Cimbo Burg Reichenstein 97 e
sua mãe Quentchen Runenweg 105. Portanto, é um animal com qualificação melhor que seu
pai que é VA.
Cello Zenteiche tem HD-Z 91.
Um cão com HD-Z ótimo é Zorro Klostermoor, no momento com Cristina
Rivas, no Rio, com 78. Seu pai, o VA Hoss Hasenborn, tem 90 e sua mãe, Tinka Bergutte 82.
Boa pedida para quem necessita clarear as coxo-femurais na sua criação.
Outro cão interessante foi Único v.d. Night, com vários filhos com
coxo-femurais adequadas. Por ser argentino não possui HD-Z. Mas seu pai, Visum Arminius,
tem 96 e é filho de Jeck Noricum com 98 e Ratta Arminius com 95. Sua mãe, Pilka
Hasenborn, possui HD-Z muito bom de 88 e é filha de Eros Baiselsberg com 104 e Herta
Hasenborn com 88.
De Ali v. Kraver, seu pai Xoto Harrenstrasse tem HD-Z 100 e seus avós
maternos Jello Wienerau tem 97 e Pina San Marco 91.
Aldo Steinhägerquelle tem HD-Z 101, seu pai Ulk Arlett tem 102 e seus
avós paternos Yago Wildsteiger Land 96 e Dolly Arlett 97.
Não consegui o HD-Z de Yasmo Wienerau, presentemente em Minas Gerais,
mas seus irmãos Yarl e Yang têm ótimos 83. Seu avô paterno Hanno Wienerau tem 97 e a
avó, Sirpa Wienerau, 81. Hanno é filho de Jello Wienerau com 97 e Hexe Romerau com 94.
Sirpa é filha de Zamb Wienerau com 105 e Xila Wienerau com 101.
Hero Wutachtal tem HD-Z 85, seu pai Visum 96 e seus avós paternos Jeck
98 e Ratta Arminius 95. Sua irmã de ninhada, Hella, mãe do sieger/98 Rikkor, tem HD-Z
88. É um animal muito interessante.
Dos cães alemães residentes no Brasil que pesquisei, somente Marko
Dironca tem HD-Z 121, acima do desvio padrão. Seu pai, Tony Wienerau, tem 103 e é filho
de Zamb com 105 e Xila Wienerau com 101. Talvez o problema resida em sua mãe, Falka
Dironca, com HD-Z 144, uma filha de Briska Dironca com 123, apesar de ser filha de Fanto
Hirschel com 98 e Anschie Dironca com 90.
Para esclarecimento relato os HD-Z dos VAs da sieger de 1998, entre
parênteses são os HD-Z dos pais. O sieger Rikkor Bad-Boll 114 (Ulk Arlett 102 e Hella
Wutachtal, irmã de Hero, 88), portanto acima do desvio padrão. Karly Arminius tem 94
(Kimon 91 e Marit Wildsteiger Land 95. Leif Noriswand tem 87 (Hanno 97 e Marit Noriswand
84). Odin Hirschel tem 93 (Nero Hirschel 105 e Candie Wienerau 96). Jango Fürstenberg tem
89 (Wobo Lärchenhain 101 e Uta Fürstenberg 92). O cinza Timo Barrekasten tem 83 (Wanko
Lippischen Norden 95 e Leska Berrekasten 82). Jello Michelstädter Rathaus tem ótimo 72
(Karly 94 e Wilma Michelstädter Rathaus 83). Fello Farbenspiel tem 94 (Eros 103 e Daggi
Farbenspiel 112). Enzo Buchhorn tem 81 (Lasso Neuen Berg 99 e Tina Lechtal 80). Ursus Batu
tem 89 (Hobby, pai de Chipp, 98 e Verena Batu 91). Nota-se claramente que os criadores já
vão procurando manter a média do HD-Z dos animais acasalados abaixo dos 100.
O HD-Z médio dos VAs/98 é de 89.6, bem menor que a média dos seus
pais, 98.5, e menor que a dos suas mães, 90.3. Isto mostra uma evolução para
enquadramento no futuro HD-Z obrigatório.
Creio que os proprietários dos animais de trabalho alemães estejam
mais adiantados. O HD-Z médio dos dez animais melhores colocados na última
SV-Bundessiegerprüfung foi 87.1. Somente dois animais dos dez ficaram com HD-Z maior que
100, Nastor v. Wolfsburger Schloss 109 e Achat v. Bojaren 101. Asko v.d Lutter, Iriac
Ruhbachtal e Chavum v.Grey Power têm espetacular HD-Z de 77. Feivel v. Schelmenturm tem
82, Dasty v. Hainpark 86, Quasy v.d bösen Nachbarschaft , Oldo v.Schloss Birkenstein 87 e
Santos v. Holzwinkel 88.
Volto à mesma tecla. No Brasil teremos que fazer uma revolução na
criação. Estamos cada vez mais defasados em relação à Alemanha. Há muitos anos não
podemos acompanhá-los. Caminham a passos de gigantes e nós de pigmeus. Continuando
assim, em mais alguns anos estaremos falando línguas pastoreiras mais diferentes que o
alemão e o português.
Exagero ?
Num próximo boletim mostrarei que os criadores norte-americanos do
German Shepherd Dog Club of America, o fortíssimo GSDCA, embora muito mais sólidos que
nós, já estão pastoreiramente de orelhas em pé.
- CONGRAÇAMENTO.
A reunião de final de ano da diretoria do Núcleo de Cruzeiro foi
realizada no restaurante Tradições Tropeiras, em Lorena. Estiveram presentes José
Carlos Pereira, Canil Campo das Caviúnas, Carlos Frederico Pereira, Canil Chão de Ferro,
Antonio Márcio Ferreira Lage e Mária de Fátima Benain da Silva, Canil Colina dos
Palmares, e o veterinário Marcos Pedro Kühn.
- PRENHEZ CONFIRMADA.
Da selecionada um, Ada da Colina dos Palmares (Sel. Hudson do Vale
do Paraíba e Sel. Jinga do Campo das Caviúnas), coberta por Clyde Wiesenborn (Eros
Luisenstrasse e Holly Wiesenborn). CRO simulado dos filhotes pode ser conseguido com
Antonio Márcio/Fátima, telefax 012 532 6323 ou pelo Mail amarcio@provale.com.br. Consangüinidade em Uran,
ninhada Q Arminius, ninhada N Grafenhain e em Ira Weihertürchen.
- SELEÇÕES.
Seguindo orientação da Comissão de Criação, as cadelas do
Núcleo de Cruzeiro vão sendo selecionadas. Jinga do Campo das Caviúnas, Indra do Campo
das Caviúnas e Ada da Colina dos Palmares foram reselecionadas I , Flama do Cabana dos
Casaes foi selecionada I e Núbia do Vale do Paraíba deverá ser selecionada
proximamente.
- TREINAMENTOS.
Os cães dos criadores do Núcleo de Cruzeiro estão sendo
treinados pelo conhecido e competente João Teixeira, o Joãozinho. Uma evolução, sem
dúvida.
- COBERTURA.
Indra do Campo das Caviúnas (Toby Wienerau e Elba da Gruta dos
Lobos), reselecionada I, foi coberta por Lincoln do Bonde, sel. I QN, um bonito filho de
Hero Wutachtal e Keisy v. del Dido que veio no ventre da Argentina.
- AVISO.
A Diretoria de Criação do Núcleo de Cruzeiro avisa os seus
criadores: a- Está apta a fornecer por Mail ou fax, ou mesmo em mãos, CROs simulados
prévios dos seus cruzamentos; b- Já tem em mãos o número da SV-Verein, de dezembro,
com os resultados e dados da sieger e provas anuais de pastoreio e trabalho alemãs. Por
cortesia do Canil Campo das Caviúnas, pode ser consultada nas suas instalações, com
cafezinho e banheiro privativo, inclusive com chuveiro. Uma mordomia não faz mal a
ninguém; c- Pode fornecer dados sobre importações de cães da Alemanha, inclusive
custos aproximados.
- TUDO BEM.
Evoluindo muito bem a cadela Lolita v.d. Karthago, importada da
Alemanha pelo Canil Campo das Caviúnas. Cinza, muito bom temperamento e bem angulada.
Perguntam: será boa para a pista ? Não sei. Não veio para isso e sim para tentar
iniciar uma linha de cães de trabalho mais eficientes.
Dr. José Carlos Pereira,
Diretor de Criação |