BOLETIM DA DIRETORIA DE CRIAÇÃO NÚMERO 69

1- MIELOPATIA DEGENERATIVA (MD). Dr.Marcos Pedro Kühn,

É uma doença neurológica degenerativa que afeta cães a partir dos 5 ou 6 anos de idade. Surge como uma ataxia (perda da coordenação dos movimentos) progressiva e paresia (paralisia incompleta, debilidade) dos membros posteriores. Os cães pastores alemães apresentam a doença com maior freqüência que outras raças de grande porte, sugerindo uma predisposição genética. Ocorre mais em machos que em fêmeas. Outras raças em que a MD foi descrita são o pastor belga, weimaraner, collie, labrador, old english sheep dog, rodesian ridgeback e grande dos Pirineus.

Em 1973, a MD foi descrita como uma doença degenerativa neurológica. Atualmente é aceito que seja uma doença auto-imune (reação do organismo contra ele próprio). O ataque imune provoca a destruição das fibras nervosas. De maneira bem simplificada, a desordem imunológica está relacionada a existência de uma proteína inflamatória e a formação de imunocomplexos circulantes que causam danos às células endoteliais dos vasos do sistema nervoso central (SNC), desencadeando todo o processo inflamatório que leva à doença neurológica degenerativa. Alguns autores afirmam ser a MD o correspondente nos cães da esclerose múltipla dos humanos.

No exame microscópico há uma desmielinização (destruição da mielina, substância gordurosa branca que envolve as fibras nervosas como a capa de um fio elétrico), a degeneração axonial (os axônios são prolongamentos da célula nervosa, neurônio, que levam os estímulos nervosas de uma célula a outra) e astrocitose (aumento das células do sistema nervoso, em forma de estrelas, chamadas astrocitos) na substância branca da medula espinhal. Estas alterações podem ser encontradas em toda a medula espinhal, sendo mais graves no segmento torácico, também podendo ser afetados o tronco cerebral e a substância branca subcortical. As lesões não ficam restritas a determinados feixes de fibras nervosas, não são contínuas por toda a medula espinhal e não são bilateralmente simétricas.

A evolução da doença é gradual, iniciando com locomoção anormal nos membros pélvicos, muitas vezes atribuída a traumatismos ou displasia coxo-femural. A ataxia e paresia pioram progressivamente, levando a maioria dos animais à incapacidade de andar num prazo de seis meses a um ano. A dor ou desconforto não são aparentes. O controle voluntário da micção e da defecação são mantidos. Os achados do exame neurológico são compatíveis com uma mielopatia transversal entre a terceira vértebra lombar e a terceira vértebra torácica.

Não há um tratamento eficaz, achando alguns autores que drogas, como o ácido aminocapróico e a n-acetilcisteína, podem retardar o progresso da doença e, em alguns casos, provocar uma regressão do quadro clínico. Alguns apregoam o uso da vitamina E por suas ações antioxidante e antinflamatória. Empiricamente são recomendadas doses diárias de vitaminas E e C como preventivas da MD, acompanhadas por um programa de exercícios, incluindo a natação e o uso de ervas naturais e extratos de cartilagens.

Somente a compreensão de toda a etiopatogenia da doença poderá levar a um programa de prevenção realmente efetivo.

 

2- NOTA DA REDAÇÃO.

Foi citado no trabalho do Dr. Marcos Kühn que alguns autores mostram algumas semelhanças entre a MD e a esclerose múltipla (EM) dos humanos. Assim, é importante conhecer alguns dados da EM, cujos estudos estão mais desenvolvidos. A EM é uma doença auto-imune iniciada por fatores ambientais em predispostos geneticamente. A reação auto-imune é mediada em parte pelos linfocitos T. Na sua etiopatogenia são citados fatores genéticos, virais e imunológicos. Estudos em animais mostram inúmeros vírus capazes de desmielinização das fibras nervosas, sendo os mais consistentes os feitos com o vírus Theiler, um coronavírus murino semelhante ao vírus do sarampo e ao vírus da cinomose. Atinge duas vezes mais as mulheres, numa idade predominante entre os 15 e 35 anos, ao contrário da MD. Mais encontrada nos climas temperados, aumentando a incidência conforme afasta-se da linha do Equador. A suscetibilidade à doença é encontrada em múltiplos locos genéticos (poligenia), predominantes nos cromossomas 6, 7, 18 e 19. Apresenta uma fase aguda, com infiltração perivascular de monocitos, sendo os mais comuns os linfocitos T e uma fase crônica com variados graus de desmielinização. Algumas vezes podem ser notadas áreas de recomposição da mielina, geralmente não muito extensas. Um exame precioso para o diagnóstico é a ressonância magnética (mais precisa se for usado o agente de contraste gadolinium), que mostra claramente as zonas de desmielinização. Não há tratamento para a cura. São usadas drogas para a profilaxia das alterações patológicas (Betaseron, Avonex, Copaxone,etc.), para diminuir os surtos agudos (prednisona, metilprednisolona e ACTH) para a diminuição da reação imunológica (methotrexate, azathioprine,etc.) e sintomáticos como o Baclofen. O interferon e o acetato de glatirâmer são capazes de reduzir a velocidade de evolução da doença. Aqui também surgem tratamentos empíricos como o uso do colostoro de vaca, altas doses de vitaminas e agentes quelantes.

Dr. José Carlos Pereira, Diretor de Criação

 

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